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Notícias da Guarda e região | Reportagem | Crónicas | Entrevistas | Apontamentos | Registos
O despovoamento do interior do nosso país é um drama. Realidade em relação à qual não tem havido estratégias adequadas, contínuas e consequentes de modo a evitar o contraste profundo com os territórios do litoral e grandes centros urbanos.
Os fenómenos resultantes do despovoamento conduzem a graves consequências para as populações (sobretudo para as mais envelhecidas) que continuam a viver afastadas dos centros com maiores índices demográficos. Diminui, progressivamente, a população ativa; acentua-se o decréscimo da natalidade e o número de jovens; desaparecem profissões e atividades ligadas à agricultura.
Nas últimas décadas, a tragédia dos incêndios na nossa região tem tornado ainda mais percetível o silêncio sepulcral de muitos povoados, o abandono de terrenos outrora cuidadosamente cultivados e rentabilizados, onde havia o colorido dos ciclos agrícolas e a policromia provocada pelas estações do ano.
Defrontamo-nos, atualmente, com a completa obliteração de antigos espaços de vida e trabalho, com uma progressiva e preocupante degradação ambiental, diminuição da qualidade de vida, com o aumento de pessoas solitárias nos espaços rurais, com a saída de gente para outros lugares, com cenários de ausências definitivas…
E o que vemos por montes e vales do interior, pelos caminhos esquecidos? Desolação, habitações à venda, casas vazias, degradadas, portas encerradas ou esventradas pela destruição do tempo e pelo instinto de vandalismo de alguns forasteiros; muros derrubados, janelas quebradas, telhados caídos, interiores habitacionais transformados em montes de escombros…imagens cruéis de um presente transformado em tristeza e solidão. “O nosso passado como que se amesquinha na indiferença do presente”, escrevia Miguel Torga.
Importa, pois, que saibamos assumir o nosso papel enquanto cidadãos ativos e protagonistas permanentes de uma intervenção cívica, sem tibiezas, em prol de uma luta pelo equilíbrio entre meios rurais e urbanos, num caminho orientado para a sustentabilidade dos nossos territórios.
Hélder Sequeira
A Associação Move Beiras vai promover no próximo dia 14 de setembro uma viagem de comboio, fretado especialmente, à Gare do Oriente, em Lisboa. De acordo com a informação divulgada por aquela associação, pretende-se proporcionar uma visita diferente à “população das beiras.”
A viagem contará com animação a bordo, convívio e partilha de farnel entre os participantes. Esta atividade inclui a viagem em comboio especial, visita livre ao Oceanário de Lisboa, passeio de ida e volta no teleférico do Parque das Nações,
Atualmente, a Move Beiras conta já com a parceria de várias associações dos concelhos da Guarda, Sabugal, Belmonte e Covilhã, tendo mais de 10 pontos de contacto para inscrições. A informação poderá ser encontrada nas redes sociais da associação Move Beiras e parceiros.
Recorde-se que a Move Beiras é uma associação sem fins lucrativos e foi criada com o intuito de valorizar as pessoas e os territórios percorridos pelas linhas ferroviárias de Beira Baixa e Beira Alta, através da utilização do comboio; pretende, assim, divulgar e valorizar o território, promover e realizar ações de cooperação com outras entidades que possam contribuir para a realização dos objetivos da associação.
Anualmente, a Move Beiras promove uma atividade de maior escala, que procura abranger vários territórios da Beira Interior. No ano passado, essa atividade levou meio milhar de Beirões ao Jardim Zoológico de Lisboa num comboio especial, proporcionando um dia diferente, em comunidade.
“Todos, formamos a Beira Interior! Há linhas que nos unem e uma região que nos move!” Sustenta a Move Beiras.
No Fundão vai decorrer no próximo dia 4 de maio, a partir das 10 horas, a quarta sessão do Fórum Património, Cultura e Turismo, promovido pelo Departamento do Património, Cultura e Turismo (DPCT) da diocese da Guarda.
“À semelhança das sessões já realizadas na Guarda, Covilhã e Seia, o DPCT, para além de dar a conhecer a nova orgânica criada na diocese nas áreas do património, cultura e turismo, irá apresentar um conjunto de comunicações que visam evidenciar a importância dos bens culturais da Igreja, a sua preservação e divulgação”. Afirmou Dulce Borges, Coordenadora do DPCT, a propósito desta iniciativa.
Segundo Dulce Borges, “a descentralização deste tipo de ações na área geográfica da diocese, visa sensibilizar os atores locais da importância que existe na criação e desenvolvimento de redes colaborativas entre as autarquias, populações e academias na defesa na prossecução daqueles objetivos”.
Após uma intervenção do Bispo da Diocese da Guarda, D. Manuel Felício, o programa deste Fórum integra uma comunicação subordinada ao tema “O Departamento do Património, Cultura e Turismo: objetivos e desafios”, por Dulce Borges; “Salvaguardar e valorizar os bens culturais da Igreja: estratégias e dinâmicas na Diocese de Viseu”, é o título da intervenção que será feita por Fátima Eusébio (atual diretora do Secretariado Nacional dos Bens Culturais da Igreja), enquanto Hélder Sequeira fará uma comunicação sobre “O papel da comunicação na defesa do património religioso diocesano”; “Entre o passado e o futuro: o lugar do Património na Igreja de hoje”, será o tema a desenvolver por Carlos Caetano.
Neste Fórum, Aires Almeida apresentará uma intervenção sobre o “Porquê um Regulamento para a gestão e proteção do património e bens culturais da Diocese da Guarda” enquanto Gonçalo Fernandes irá falar de “Itinerários turísticos e património religioso. Desafios de valorização territorial”.
Recorde-se que o DPCT tinha participado, no passado dia 16 de março na sétima edição dos “Itinerários do Sentir”, em Alcongosta, onde a criação de redes colaborativas entre as autarquias, populações e academias com a diocese da Guarda da Guarda foi defendida pelo Presidente da Câmara Municipal do Fundão. A referida iniciativa, sob “O património religioso numa comunidade aldeã: que sentires, que futuro?” foi dedicada à visitação ao património religioso de Alcongosta (Fundão), localidade integrada na diocese da Guarda.
Paulo Fernandes, Presidente da Câmara do Fundão, considerou que as redes colaborativas devem visar o “bem maior que é a inventariação, o estudo, a preservação e a divulgação do património religioso móvel, imóvel e imaterial.”
O Fórum, que vai ter lugar no Salão Nobre da Câmara Municipal do Fundão, (com entrada livre a todos os interessados) inscreve-se também nesse objetivo e procura ampliar a ação de sensibilização de párocos, investigadores e comunidades locais iniciada a 17 de novembro de 2023 na Guarda, aquando da primeira ação do DPCT.
Este departamento tem já pronto o Regulamento de Gestão e Proteção do Património e Bens Culturais da Diocese da Guarda que em breve será apresentado publicamente.
Por outro lado, o DPCT tem agendadas outras iniciativas que pretendem dar prossecução aos objetivos traçados pela sua equipa de trabalho.
Avelãs da Ribeira. Guarda.
A valorização da oliveira e do azeite de territórios como o do Vale da Teixeira, nas proximidades da Guarda, tem sido defendida em diversas iniciativas, algumas das quais recentemente realizadas.
Como foi sublinhado, nomeadamente nas Jornadas do Azeite que no passado mês foram realizadas na Vela (Guarda), a riqueza desta zona continua a estar nas suas terras, no fruto das suas oliveiras de onde é extraído o “ouro líquido”, cartaz de outras freguesias do Vale da Teixeira.
A oliveira, que tem já um dia no calendário, é indiscutivelmente, um ex-libris deste território do interior. O Dia Internacional da Oliveira foi assinalado a 26 de novembro, na sequência da recomendação da UNESCO (organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), na sua 206ª sessão realizada em Paris, no ano de 2020.
A importância do Dia Internacional da Oliveira vai muito para além do aspeto cultural, acentuando também o papel desempenhado por essa árvore na proteção ambiental; a sua presença no solo evita a desertificação, protege contra a erosão e aumenta a fixação do dióxido de carbono na atmosfera, contribuindo para proteção da camada de ozono.
É uma árvore cultivada em vários continentes e contribui, diretamente, para o desenvolvimento económico de 57 países, assim como para preservação de recursos naturais. De recordar que os ramos da oliveira estão presentes na bandeira da ONU, como simbolismo da união das nações.
Na Grécia antiga, a oliveira era respeitada como árvore sagrada, carregando significados como paz, sabedoria, abundância e glória dos povos. Em Portugal a oliveira mais antiga do país está situada em Mouchão, Mouriscas, perto de Abrantes; calcula-se que tenha cerca de 3350 anos.
A oliveira é uma árvore com história, marca de uma zona onde se cruzaram vários povos e civilizações, estando mesmo presente na heráldica, nomeadamente da Ramela, uma das freguesias envolvidas nas recentes atividades da sua evocação e do azeite.
Riqueza de um território onde podemos aliar a história, a tradição, uma cultura secular que encontra aqui novos desafios e caminhos. Estudos recentes indicam que Portugal pode ser uma referência na “olivicultura moderna”, estimando-se também que possa alcançar dentro de uma década o estatuto de terceiro maior produtor mundial de azeite. Importa, pois, ganhar o futuro e trabalhar em cooperação, sem adiamentos. “As pessoas e as ideias, como as árvores, são uma harmonia com a hora e o lugar”, como escrevia Vergílio Ferreira.
Dar continuidade a iniciativas como as que decorreram sob o signo da oliveira e do azeite, ampliando outras ações embrionárias e materializar projetos que não tiveram a desejada aplicação prática, mormente na área da olivicultura, é fundamental; sensibilizando proprietários, produtores, populações, instituições, associações com vista à valorização da origem do azeite, da salvaguarda e reforço da tradição, da defesa da qualidade e autenticidade, estimulando a produtividade, implementando plataformas e circuitos de comercialização. Estas iniciativas podem e devem articular-se com as outras atividades (aliadas a uma multiplicidade de ações culturais que se podem juntar, convocando os vários escalões etários e instituições públicas ou privadas), sempre num trabalho em rede. Há que ter determinação. “Tudo é ousado para quem a nada se atreve”, como escreveu Pessoa.
O Azeite é um elemento fundamental na “Dieta Mediterrânica” que recuperou as tradições alimentares dos habitantes da bacia do Mediterrâneo (Portugal, Espanha, França, Itália e Grécia, entre outros). A investigação feita aponta para as vantagens de uma dieta rica em azeite, que pode explicar os baixos níveis de colesterol no sangue e reduzidos índices de doenças cardiovasculares dos povos mediterrânicos, comparativamente aos habitantes da América do Norte e da Europa Central. O azeite atua positivamente contra a gordura, diminui o risco de enfarte cardíaco, contribui para a prevenção de doenças cancerígenas; é importante para um bom equilíbrio alimentar.
Neste território de proximidade vivemos sob o signo da oliveira, árvore sobre a qual António Manuel Gomes escreveu um belíssimo texto, dado a conhecer num espetáculo integrado nas Jornadas do Azeite, realizadas na Vela. “Venho dos lugares mais distantes da memória. Agarrei-me à terra com uma esperança sem fim (…). Seguro uma identidade sábia e serena que retira a pressa ao tempo.” Uma localidade que teve e tem o seu tempo, páginas de história para conhecer.
A Vela já foi uma vila, ainda que por escasso tempo. Fez história, é história. Sucintamente, anotamos que em 2 de janeiro de 1459, D. Afonso V outorgou a jurisdição civil e criminal da Vela a Álvaro de Sousa, mordomo-mor do rei, como já o fora seu pai (Diogo Lopes de Sousa), e elevou esta localidade à categoria de vila.
“Esta prerrogativa concedia-lhe o direito de a ter a “per si forca, picota como villa per si issemtamente a nenhu luguar sobieita”. Determinava o monarca que Álvaro de Sousa poderia colocar na nova vila os tabeliães que lhe aprouvesse e “que eles se chamem seus”, apesar de existirem algumas ordenações do reino que afirmassem encontrarem-se esses funcionários dependentes directamente da coroa. Este privilégio tinha apenas um carácter vitalício (…)”, como descreveu o historiador Humberto Baquero Moreno. “(…) A reação da cidade da Guarda à elevação da Vela à categoria de vila e à perca da jurisdição sobre a mesma, não se fez esperar por muito tempo. Representou uma viva e imediata contestação à deliberação tomada pela coroa (…)”, acrescentava num trabalho publicado sobre esta aldeia do concelho da Guarda.
Em 6 de junho de 1459 o Rei promulgou um diploma que anulou o documento assinado em 2 de janeiro de 1459. “Ficava assim a Vela privada da sua categoria de vila, situação em que permaneceu teoricamente durante uns escassos seis meses (…)”. E o referido investigador evidenciava que a reação das gentes da Guarda muito tinha a ver com a “riqueza do solo da aldeia (…). A emancipação da Vela conduziria inevitavelmente a um despovoamento da Guarda, na medida em que a maior parte dos residentes desta cidade possuía os seus bens nessa aldeia, sem os quais não poderia subsistir.”
Retomando as palavras iniciais, acrescentaremos que na zona referenciada, há vários caminhos para o desenvolvimento económico e social deste nosso território, onde existem potencialidades, condições climatológicas privilegiadas, campo para linhas de investigação histórica, sociológica e cultural.
Este é um território de esperança em que devemos acreditar, que devemos valorizar, que devemos viver e fruir sob o signo da oliveira, num cenário de harmonia entre passado, presente e futuro…
Hélder Sequeira
In O Interior | 20 dez 2023
No Sabugal inicia-se hoje, e prolonga-se até amanhã (5 de novembro), a quarta edição do Naturcôa, um evento dedicado à fotografia de natureza.
Como é sublinhado pela organização, a iniciativa "assenta numa lógica de sustentabilidade ambiental, onde se pretende a partilha e a valorização das grandes riquezas naturais e culturais do território.
Este ano a iniciativa terá como oradores Joel Santos, Mario Duaréz Porras, Fernanda Botelho, Ricardo Lourenço, Ângelo Jesus, Carla Mota, Rui Pinto, Rui Bernardo, Ricardo Brandão e Cláudia Costa.
“A imprensa regional terá de ser criativa para se poder continuar a afirmar”. A afirmação é da jornalista Elisabete Gonçalves que em 1997 não hesitou em trocar Lisboa pela Guarda, onde exerce, desde então, a sua atividade profissional.
Reconhecendo que está numa zona com potencialidades, considera, em entrevista ao CORREIO DA GUARDA que é “preciso evidenciar o que tem de melhor o nosso território e criar riqueza na região. Devíamos ser mais ambiciosos e mais reivindicativos”.
Natural da Guarda, estudou na Escola Secundária Afonso de Albuquerque, no Instituto Superior de Administração Comunicação e Empresa (ISACE) e na Escola Superior de Jornalismo do Porto. Iniciou a profissão no Grupo Fórum Estudante, em Lisboa; passou pelo Grupo Ferreira & Bento e regressou à Guarda para integrar a equipa do Jornal Terras da Beira (em 1997). Em finais de 1999 participou na fundação do jornal O Interior, mas ainda nesse ano regressou à redacção do semanário Terras da Beira, onde continua a trabalhar.
Como ocorreu a sua entrada no jornalismo?
Os primeiros contactos aconteceram ainda estava a estudar jornalismo no ISACE. Tinha um professor que era chefe de redacção do jornal Terras da Beira e comecei a colaborar com pequenos trabalhos.
Foi uma experiência gratificante que me deu ferramentas para ingressar no mercado de trabalho. Tive grande ajuda da parte dos jornalistas que na altura estavam no Terras da Beira.
Quais foram as dificuldades iniciais?
Não consigo identificar grandes dificuldades. Quando fiz o estágio profissional no Grupo Fórum Estudante já tinha noções de como me movimentar para procurar informação. As publicações onde eu colaborava lidavam muito com jovens, alguns pouco mais novos do que eu, e com instituições de Ensino Superior. Conhecia um pouco do meio académico e sentia-me segura.
Ainda que estivesse na cidade grande onde quase tudo era desconhecido, o meu espírito explorador e a vontade de conhecer o meio que me rodeava permitiram-me estar bem à vontade.
A experiência foi tão positiva que acabei por ficar a trabalhar por lá.
O que acha do atual panorama da imprensa regional? A imprensa regional tem vindo a perder a influência?
Nos últimos anos, a imprensa regional perdeu um pouco do seu espaço. Não só pela evolução do mundo digital, mas também porque fruto das condicionantes económicas tem havido menos investimento nos recursos humanos e materiais dos órgãos de comunicação social. As redacções são cada vez mais reduzidas.
O mercado da publicidade também se alterou e em vez do investimento ser feito na imprensa aposta-se noutro tipo de plataformas. A imprensa regional terá de ser criativa para se poder continuar a afirmar. De uma maneira geral, os mais novos não têm o hábito de ler jornais e muito menos regionais.
As redes sociais desviam as atenções tradicionalmente centradas na imprensa?
Sim. A informação está disponível de forma quase instantânea nas redes sociais. Não há que procurar muito. É o facilitismo que afasta os leitores.
Os cidadãos são pouco exigentes e não filtram o que lhes chega através do ecrã. Além de que hoje qualquer pessoa publica informações e não há cuidado de ver se a origem é fidedigna.
Quais são os principais problemas com que se debatem os profissionais que trabalham na imprensa regional?
A falta de meios e de recursos humanos impede os profissionais de se dedicarem de forma mais profunda a determinados temas.
Há poucas pessoas nas redacções e são necessárias para assegurar aquilo que é essencial nas publicações.
Tem havido, em sua opinião, um rejuvenescimento das redações dos jornais?
Não tanto como seria desejável. São necessárias novas ideias, novas perspectivas para que os jornais também acompanhem a realidade e possam ir de encontro às expectativas de outros públicos.
Quais os melhores momentos, da sua atividade jornalística, que recorda? E os piores?
Os melhores momentos são sempre aqueles em que vemos que o nosso trabalho tem algum impacto e é reconhecido. Ter a noção de que o nosso artigo suscitou alguma discussão ou contribuiu para que determinado problema tenha sido resolvido é sempre gratificante.
Vivi os piores momentos quando já estava na imprensa regional, mas a experiência ainda era pouca. Na investigação que fazia sobre o caso do falecimento de idosos num lar sem que fosse dado conhecimento aos familiares, acabei por ser eu a dar a notícia a uma das famílias do sucedido.
Outra situação esteve relacionada com maus-tratos a crianças que residiam numa instituição de acolhimento do distrito. Tocou-me muito ouvir o relato das vítimas. Confesso que guardei aquelas lembranças por alguns dias.
E qual o trabalho jornalístico que mais gosta de fazer?
Gosto de fazer reportagens. De andar no terreno e de ir à procura de informação sem ter um guião. No meu dia-a-dia gosto especialmente de abordar temas da área da sociedade, nomeadamente as áreas da saúde e da educação.
Houve algum projeto que idealizou e não concretizou ainda? E novos projetos?
Tenho alguns sonhos, mas fora da área do jornalismo. O turismo e a natureza são dois temas que me têm suscitado grande interesse nos últimos anos.
Gosta também da fotografia. Esse gosto era anterior à entrada no jornalismo ou iniciou-se com a atividade informativa?
Nunca tinha pensado nisso. Mas de facto o meu interesse pela fotografia está ligado à profissão. Quando comecei a fotografia que acompanhava os trabalhos era da responsabilidade de fotógrafos.
Tanto no Grupo Fórum como depois na imprensa regional as tarefas estavam completamente separadas. A partir de certa altura e fruto também da redução de meios humanos, comecei também a ter de tirar as fotografias para acompanhar os meus artigos.
Qual o tipo de fotografia (para além da fotografia documental relacionada com o seu trabalho profissional) prefere?
Gosto de fotografia de paisagem e de património. A natureza e a história são dois temas pelos quais tenho especial interesse.
A fotografia para mim é uma paixão, mas não tenho conhecimentos técnicos. É o gosto genuíno de registar aquele momento, que me parece perfeito e depois também poder partilhar o que vi.
Que análise faz do trabalho da comunicação social sediada na região?
Acho que devia ser mais provocadora.
O que tem faltado? E o que tem sido positivo?
A comunicação social tem tido um papel importante em determinados assuntos relacionados com o quotidiano das populações do distrito. Trazer à discussão temas esquecidos pelos governos e pelos políticos tem ajudado a pressionar para a sua resolução.
Que conselho daria aos jovens que queiram seguir a atividade jornalística, mormente no interior?
Devem seguir essa vontade, tendo a noção de que vão encontrar alguns constrangimentos a nível de recursos. Mas podem também contar com uma actividade gratificante porque vão exercer um jornalismo de proximidade e vão sentir que podem fazer a diferença na vida das populações.
Eu vim de Lisboa para exercer a profissão no interior. Na altura, em 1997, pareceu-me a melhor opção em termos pessoais. Reconheço que poderia ter tido outras oportunidades na carreira, ou não, mas em ponto pequeno acredito que tenho dado o meu contributo.
Gosta também de fazer caminhadas. Isso tem levado à descoberta de recantos e encantos da nossa região?
A nossa região tem trilhos e locais fantásticos. É só ter vontade de explorar. A natureza é um bom local para nos ouvirmos. A nós próprios e aos outros. E há sempre algo para descobrir.
No tempo da pandemia a zona do Castro do Tintinolho era das minhas favoritas. Descer a calçada romana desde o Chafariz da Dorna, passando pela nascente do Rio Diz e subir até à zona das eólicas. Depois descer até ao Castro, podendo fazer algumas variantes.
Às portas da cidade é uma óptima área para explorar. É pena que os percursos não estejam devidamente identificados com informação sobre os espaços e locais, nomeadamente sobre o Castro e os troços da calçada romana que ainda existem.
Poderia criar-se um trilho histórico muito interessante. A zona de Vila Soeiro é outra das zonas fantásticas. Nem seria necessário a existência dos Passadiços do Mondego. Os caminhos existentes levam-nos a locais recônditos, encaixados na rudeza do granito e envolvidos pelo curso do rio Mondego.
No distrito há um grande conjunto de locais que merecem uma visita. Entre as novidades está o Miradouro da Faia, no concelho de Pinhel e os Passadiços do Côa, junto ao Museu do Côa. Em Seia, a zona da Mata do Desterro e a praia fluvial dr. Pedro, bem como a zona da Lapa dos Dinheiros são áreas em que a natureza nos envolve em absoluto.
Que sugestões, ao nível de caminhadas, gostaria de deixar?
Infelizmente, os incêndios de Agosto causaram estragos na paisagem da região e alguns trilhos tornaram-se mais tristes.
Dos trilhos que fiz recentemente destaco a Rota do Vale da Cadela, em Gouveia. Um percurso de experiências diversificadas, que se desenvolve na natureza e que atravessa a malha urbana.
Sugiro também a subida ao baloiço da Rapa pela Serra da Lomba. A paisagem tanto para o lado de Celorico da Beira como para o lado da Guarda é soberba. É das melhores opções para se apreciar o Vale do Mondego. Nesta altura, a paisagem está negra pelo incêndio que ali lavrou recentemente, mas a natureza não tardará a recompor-se.
Com o aproximar do Outono, a Rota das Faias em Manteigas é passagem obrigatória para os amantes das caminhadas e da natureza. O incêndio de Agosto afectou a zona, mas as faias ficaram intactas.
A Serra da Estrela oferece uma panóplia de percursos com variados pontos de interesses, ambientais, históricos e paisagísticos.
Como vê o futuro da Guarda e região? O que falta?
Quero acreditar que há futuro. Creio que falta pensar o futuro de uma maneira diferente. É preciso reinventar. Não podemos aspirar a vida de grandes empresas para fixar pessoas. Não se pode projectar o futuro como se projecta para outras zonas do país. Temos de fazer diferente e ser criativos para que os jovens de cá queiram ficar e se fixem novas pessoas.
As nossas aldeias estão a ficar desertas e perder-se muito do património. Não só o construído. A bandeira tem de ser a qualidade de vida. Se há muitos estrangeiros a fixarem-se na região atrás da qualidade de vida que o território oferece por que é os portugueses não podem seguir o exemplo.
Não temos sabido “vender” as qualidades da nossa região. É preciso evidenciar o que tem de melhor o nosso território e criar riqueza na região. Devíamos ser mais ambiciosos e mais reivindicativos. Somos muito comodistas com aquilo que nos atribuem. Esta região tem valores e devemos não só protegê-los mas também promovê-los. Nós, os que estamos por cá, somos os melhores embaixadores do território.
Embora o trabalho na Rádio não tenha sido a sua atividade principal, Carlos Martins não esquece a marca que as emissões radiofónicas lhe deixaram. “Na rádio fiz sempre o que gostava de fazer. Senti-me realizado. A grande marca teve a ver com as pessoas que faziam a rádio… uma grande família.” Hoje, afastado desse meio, considera que “uma rádio sem pessoas que a escutem é uma rádio com fim à vista”.
Natural da Vela (concelho da Guarda) veio estudar para a cidade quando tinha dez anos; no final da década de 70 iniciou a sua colaboração na Rádio Altitude (RA) , antes de, no início dos anos 80, ter começado a sua atividade profissional no ramo dos Seguros. “Atualmente continuo a exercer a minha atividade como independente e acumulando a situação de pré-reforma [da companhia a que esteve ligado]”, disse-nos Carlos Martins.
Olhando para a cidade onde reside, diz ao CORREIO DA GUARDA que “é urgente fixar empresas na Guarda para criarem empregos fixando os que cá estão e trazer outros do litoral.”
Como surgiu a Rádio na tua vida?
Era presidente da Associação Estudantes da Escola Secundária Afonso Albuquerque e na altura decidimos propor à Rádio Altitude um programa semanal de 30m onde abordaríamos a actividade estudantil e outros assuntos de interesse para a classe.
Eram colaboradores habituais a Fátima Vitória, a Hermínia Whanon, o Américo Rodrigues e eu. Após um ano de emissões o programa “Rádio Estudantil” termina.
Algum tempo depois, e algures na cidade da Guarda, encontrei o Dr. Virgílio Arderius, elemento da direção da RA, que após uma troca de palavras me propôs fazer um programa sobre livros e literatura. Numa conversa, de corredor, (na Escola Secundária Afonso Albuquerque) com o António José Fernandes e com o António José Teixeira (actual diretor da Informação na RTP) abordei a proposta que me tinha sido apresentada; o António José Teixeira ficou entusiasmado com a ideia e assim, os três, decidimos fazer o programa “Nós e os Livros”.
Como tudo tem um fim também o “Nós e os livros” acabou, sendo que foi um projecto interessantíssimo que nos motivou e de que maneira… A partir daí eu passei para as emissões regulares e o António José Teixeira enveredou pela informação da Rádio Altitude.
Como foram as primeiras experiências radiofónicas?
Nas emissões regulares da Onda Média, do Altitude, lembro-me que o primeiro programa que coloquei no ar foi um espaço radiofónico com muita audiência e patrocinado por uma marca de automóveis. Os ouvintes pediam para ouvir as suas músicas preferidas através do telefone 232.
Quem recordas desses tempos? E como era o ambiente de trabalho?
Nos anos 70 e 80 a rádio era tão importante como qualquer outra instituição da Guarda. O Altitude estava lá e tinha a informação pretendida.
A camaradagem, as relações pessoais eram como a de uma grande família.
Os colaboradores da RA eram convidados, com frequência, para apresentação de espetáculos no distrito. Que lembranças dessa experiência?
As Festas da Cidade da Guarda, os Festivais da Canção de Manteigas, Festivais de Folclore e muitos outros espectáculos contaram com a minha colaboração e de muitos outros colegas da rádio. Ter um apresentador que fosse locutor da Rádio Altitude, na opinião dos organizadores, era sinal de um bom espectáculo em perspectiva.
Recordo aqui uma das peripécias com a “nossa 4L”… fazíamos uma deslocação a Manteigas para mais um festival. Na ida a viagem correu mais ou menos bem (?). No regresso, a altas horas da noite, a viatura movimentava-se, mas a uma velocidade reduzida na estrada sinuosa e em mau estado. Estávamos todos apreensivos com o facto de a gasolina estar a baixar muito rapidamente no reservatório estarmos longe da Guarda.
Depois de 2 horas de viagem conseguimos chegar à entrada da cidade e aí ficou o veículo sem pinga de combustível. No dia seguinte o Antunes Ferreira foi com a Renault 4L ao mecânico e este verificou que a mesma apenas estaria a trabalhar com um ou dois cilindros. A “máquina” tinha razão para não andar e gastar muito combustível...
Qual foi o período mais desafiante na tua passagem pela RA?
Com a OM e com o FM nos anos 90, depois de ter passado algum tempo pela F, já com a direção do Helder Sequeira; acumulei as funções comerciais e as de locutor (animador de emissão).
A parte técnica era também uma das tuas preferências. Colaboravas, com frequência, com o Dr. Martins Queirós, sobretudo a partir de 1990, e também com o Antunes Ferreira. O que recordas? Que episódios gostarias de recordar para os leitores?
Com a frequência modulada no ar, o Dr. Martins Queirós entendeu que a mudança do emissor de Onda Média para um local mais próximo da antena era mais que urgente.
À noite, e depois das 21h, acompanhava o grande obreiro da RA nos trabalhos técnicos para a mudança do emissor. Este trabalho nocturno demorou alguns meses.
Finalmente foi possível mudá-lo e colocá-lo num local amplo e adequado para o efeito. Na altura estava apto a construir um emissor de raiz, tal foi a formação ministrada pelo médico Martins Queirós.
Que marca te deixou a Rádio Altitude?
Na rádio fiz sempre o que gostava de fazer. Senti-me realizado. A grande marca teve a ver com as pessoas que faziam a rádio… uma grande família.
Qual o programa que te deixou mais saudades?
Não podia ser outro, senão o “Sons da Madrugada”. Diariamente das 7 às 9h, inicialmente com o João Logrado, Helder Sequeira e eu, mais tarde o João foi substituído pelo Albino Bárbara.
Era o nosso despertar…
Achas que hoje é difícil fazer rádio no interior? E nos tempos da onda média?
As ferramentas atuais são outras. Tudo é mais fácil. O problema está na publicidade, fonte de receita das rádios; esta é cada vez mais diminuta e os pequenos empresários estão com dificuldades económicas.
Não é de estranhar que algumas rádios tenham fechado.
Nos anos 70 e 80 a concorrência era menor. O Altitude não tinha dificuldade em encontrar clientes para publicitar. Em qualquer loja ou casa era a rádio preferida. Existiam audiências consideráveis das emissões.
Que desafios se colocam, atualmente, às rádios locais?
Os custos com o pessoal são o maior desafio, as taxas, os custos da energia e a falta de apoios também não ajudam.
Muitas são as rádios que tiveram de reduzir o pessoal, funcionando a maior parte do tempo de forma automática. O contacto com o ouvinte deixa de existir e como tal as audiências evaporam-se. Há tanto por onde escolher…
Achas que rádio, em geral, tem futuro?
Tudo irá depender da ligação rádio/ouvinte. Uma rádio sem pessoas que a escutem é uma rádio com fim à vista.
É importante prender os ouvintes às emissões, ouvi-los e ter uma programação virada para os temas do quotidiano.
O que gostarias de ouvir nas rádios da região?
Pessoalmente gosto de estar informado. Gosto de uma informação credível, de qualidade.
O que fazes atualmente?
Afastei-me por razões pessoais da rádio. Depois de trinta e tal anos nos seguros, estou actualmente na situação de pré-reforma.
Como não sou pessoa para ficar parado, abri um escritório de Mediação de seguros na Rua Francisco Pissarra de Matos na Guarda, com a marca da empresa onde trabalhei a Ageas.
O que representa para ti a Guarda?
Desde os meus 10 anos que estou na Guarda. Foi aqui que fiz os meus estudos e desenvolvi a minha actividade profissional na área dos seguros. A rádio completava-me.
As pessoas da região cativaram-me. Apesar de fria, o calor humano, as amizades, os desafios, marcam-nos para sempre.
Como gostarias de ver a Guarda do futuro?
No futuro imediato é necessário criar condições para a fixação dos nossos jovens. Se estes forem embora para o litoral e para as grandes cidades, a Guarda fica a perder.
É urgente fixar empresas na Guarda para criarem empregos fixando os que cá estão e trazer outros do litoral.
A localização da Guarda, as duas auto estradas e as duas linhas férreas fazem da cidade um ponto estratégico de desenvolvimento, para isso o governo central tem de olhar pelo interior ou não fosse a Guarda a Porta da Europa!
O CORREIO DA GUARDA deseja-lhe um Feliz 2022.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.