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A falta de participação efetiva e de transparência do processo de elaboração do Programa de Revitalização do Parque Natural da Serra da Estrela foi denunciada, em carta aberta, por 28 associações cívicas e ambientais. O Movimento Associativo da Serra da Estrela questiona assim o Governo sobre o Programa de Revitalização do Parque Natural da Serra da Estrela.
Recorde-se que na sequência da Resolução do Conselho de Ministros de 8 de fevereiro, foi anunciado um investimento total de 155 milhões de euros no âmbito do Programa de Revitalização do Parque Natural da Serra da Estrela (PRPNSE).
As associações do território solicitaram o acesso ao Programa aprovado e denunciam várias falhas no seu processo de elaboração, sublinhando que “o instrumento tinha sido anunciado pela Ministra Ana Abrunhosa, como um plano que partisse do território, envolvendo as entidades e populações locais, o que acabou por não acontecer.”
Assim, 28 associações da Serra da Estrela e de âmbito nacional uniram-se “para partilhar preocupações e formular exigências relativamente ao que foi anunciado pelo Governo e pelos Municípios da Guarda e da Covilhã.” Como foi referido, “do seu conhecimento do terreno e do historial da gestão do Parque Natural, ressalta a indignação com a falta de modelos de participação, a falta de transparência e uma tendência para uma aposta que foca o investimento público na Serra da Estrela em projetos avulsos em vez de desenhar um plano resiliente, partindo de uma visão de longo prazo.”
Manuel Franco, presidente da Associação Guardiões da Serra da Estrela criada após os incêndios de 2017, considera que “houve uma auscultação inicial para a qual algumas associações foram convidadas de forma aleatória, mas não foi um processo abrangente nem suficientemente participado.”
A este propósito acrescentou que foram “confrontados com um comunicado que fala em grandes obras sem uma palavra dirigida à conservação ou resiliência, completamente desligado das verdadeiras origens das catástrofes cíclicas que assolam este parque natural.” Na referida carta aberta, as associações acrescentam que a “falta de transparência manifesta na definição e aprovação do PRPNSE impossibilitou a sua avaliação e discussão pública atempada, isto é, enquanto era possível colaborar na elaboração de uma estratégia conjunta para a Serra da Estrela.”
Os autores da carta aberta partilham o “receio de que o Programa não esteja realmente centrado na urgência de revitalização da paisagem destruída pelos incêndios, uma vez que a maior parte de possíveis projetos entretanto comunicados” pelo Ministério e pelos Municípios focam em grandes obras e infraestruturas, há muito reclamadas pelos poderes locais.
Na perspetiva dos signatários, “este programa deveria ter como principal preocupação a sustentação e regeneração de um território de conservação e de prestação de serviços de ecossistema, nomeadamente ao nível da água e dos solos, do carbono e da própria biodiversidade.”
Joana Viveiro, do Movimento Estrela Viva, criado também em seguimento da calamidade de 2017, afirmou que “as associações da Serra da Estrela depositavam neste ‘Plano Marshall’ para a Serra da Estrela, alguma esperança. Mas o processo começou mal, com a falta de envolvimento efetivo da sociedade civil e a pouca transparência na elaboração do documento, que não foi alvo de qualquer consulta pública. Para além disso, este programa deveria ter como principal preocupação a regeneração de um território de conservação e a remuneração justa pelos serviços de ecossistema, e parece-nos que não será bem essa a prioridade.’’
Essas preocupações comuns e a vontade de contribuir para uma regeneração efetiva da maior área protegida do país, levaram os signatários a solicitar uma audiência, com carácter urgente, ao Ministério da Coesão Territorial e à CIM-BSE.
Assinam esta carta aberta A Geradora - Cooperativa Integral, CRL; Acréscimo - Associação de Promoção ao Investimento Florestal;
Associação ALDEIA / CERVAS - Centro de Ecologia e Recuperação e Vigilância de Animais Selvagens; Associação Guardiões da Serra da Estrela; Associação Veredas da Estrela; Campo Aberto - associação de defesa do ambiente; CIDAMB - Associação Nacional para a Cidadania Ambiental; Coletivo à escuta; Ecoativo - Associação de Protecção e Conservação da Natureza; FAPAS - Associação Portuguesa para a Conservação da Biodiversidade; FOLGONATUR - Associação Sem Fins Lucrativos; GEOTA - Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente; GO Romaria - Associação Cultural Gouveense; Grupo Lobo - Associação para a Conservação do Lobo e do seu Ecossistema; IRIS - Associação Nacional de Ambiente; LPN - Liga para a Protecção da Natureza; Milvoz - Associação de Protecção e Conservação da Natureza; Movimento Estrela Viva - Associação Cívica pelo Desenvolvimento Sustentável e Integrado da Serra da Estrela; Núcleo Regional da Guarda - Quercus A.N.C.N.; Palombar - Associação de Conservação da Natureza e do Património Rural; ProTejo - Movimento Pelo Tejo; QUERCUS- A.N.C.N. - Associação Nacional de Conservação da Natureza; Rewilding Portugal; SPBotânica - Sociedade Portuguesa de Botânica; SPEN - Sociedade Portuguesa de Entomologia; Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA); URZE - Associação Florestal da Encosta da Serra da Estrela e ZERO - Associação Sistema Terrestre Sustentável.
O Centro de Estudos Ibéricos (CEI) vai promover a partir de hoje, e até 22 de abril, a sexta edição dos Encontros Imagem & Território.
Este evento decorre do projeto “Transversalidades – Fotografia sem Fronteiras” e do compromisso do CEI para com “os territórios de baixa densidade, onde relevam os transfronteiriços”, refere uma nota divulgada pelo Centro de Estudos Ibéricos.
Tendo como mote “Memória, Coesão e Literacia Visual” o 6º Encontro I&T integra exposições, debates, mostras e oficinas de fotografia, lançamento de publicações, maratona e roteiro fotográfico.
“Através do poder comunicativo que a fotografia encerra, as atividades deste 6º Encontro visam estimular um debate crítico sobre os espaços onde nos inserimos, procurando gerar uma dinâmica de desenvolvimento que reverta o ciclo vicioso em que mergulharam os territórios de baixa densidade.” Adianta o Centro de Estudos Ibéricos.
“Procura-se, a partir de novos olhares, uma (re)interpretação do Interior com uma consequente renovação imagética, enaltecendo sinais emergentes suscetíveis de fazer renascer um horizonte de esperança”.
À semelhança dos anos anteriores, os Encontros contam com o envolvimento da comunidade da Guarda, através de atividades em escolas, instituições sociais, de saúde e freguesias, visando levar esta arte a novos públicos, numa perspetiva de democratização cultural.
O programa integra a exposição “Rumores do Mundo”, Coletiva dos Concorrentes do Concurso Transversalidades, a inaugurar hoje pelas 18 horas na Galeria Evelina Coelho (Paço da Cultura).
No Bar do Pequeno Auditório, Teatro Municipal da Guarda, será realizado hoje pelas 21h30 um debate sobre “Imagem e coesão territorial: a Terra, as Gentes, o Interior emergente”, com a participação de Henrique Cayatte, Alberto Prieto, Rui Formoso, Fátima Gonçalves, Duarte Belo, Moderação. O debate será moderado por Valentín Cabero.
Amanhã, dia 15 de abril, será inaugurada no Mercado Municipal da Guarda, pelas 10 horas, a exposição “Terra e as Gentes, Coletiva do Fotoclube da Guarda”. No Museu da Guarda, a partir das 14h30, vai abrir a exposição “Memoria en la Raya”, de Victorino García Calderón. Pelas 15 horas será inaugurada, também no Museu da Guarda, a exposição “Reflexões em Preto e Branco: A Jornada de um Cine Teatro no Tempo”, de Pedro Carvalho.
Inauguração de Exposição.
Na Sala Tempo e Poesia, Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço terá lugar pelas 16h30 a inauguração da exposição “A face dos livros”, da Associação Cultural Ephemera, seguindo-se um debate sobre a “Imagem e Memória: A face dos livros” com José Pacheco Pereira e Carla Pacheco.
Para o Café-Concerto do Teatro Municipal da Guarda está agendada, pelas 21 horas, a inauguração da exposição fotográfica de Pedro Baltazar subordinada ao tema “100gentes”.
No mesmo espaço do TMG decorrerá a partir das 21h30 o debate “Imagem e coesão territorial: ecos e memórias da fronteira”, com intervenções de Álvaro Domingues, María Isabel Jiménez, Helder Sequeira, e Valentin Cabero. O debate será moderado por Lúcio Cunha).
No domingo, dia 16 de abril, decorrerá a partir das 9 horas a maratona fotográfica “Imagem & Território: Aldeias do Vale do Mondego”.
O Núcleo Regional da Guarda da Quercus manifestou, numa nota distribuída à comunicação social, “uma profunda preocupação sobre o incêndio” que continua a deflagrar na Serra da Estrela.
O incêndio, é referido, “já destruiu mais de 3 mil hectares de áreas florestais e habitats do Parque Natural da Serra da Estrela, também na Zona Especial de Conservação da Rede Natura e do Estrela Geopark da UNESCO.
Parte da área tinha ardido no ano de 2005 e estava a evoluir a sucessão da vegetação que agora foi afetada. Para além dos pinhais, urzais e piornais, também foram afetados teixos, árvore ameaçada que tinha sido alvo de projetos de conservação.”
Neste comunicado, o Núcleo Regional da Guarda da Quercus sublinha que “a realidade do mundo rural tem vindo a ser alterada, com o abandono das áreas agrícolas e florestais, que acarretam riscos sobre o território e sociedade e provocam enormes prejuízos económicos e de depreciação natural e paisagística”.
Acrescenta que “uma vez mais a Serra de Estrela é primeira vítima, agravado por ser Parque Natural, mas com ela também somos nós todos, com a perda de biodiversidade, a redução dos serviçosecossistémicos, menor capacidade de retenção de carbono, com afetação nos produtos endógenos e na pequena economia local, que deixam profundas chagas acelerando um maior abandono das atividades tradicionais e o consequente despovoamento já se si tão significativo.”
O Núcleo Regional da Guarda da Quercus defende que é preciso “ganhar massa crítica que estimule novas formas de ação coletiva, recriar novos modelos comunitários de gestão de recursos naturais, de modo empenhado e participativo”.
O interior, enquanto território, é particularmente enfatizado em períodos de ambiente eleitoral, no decorrer dos quais são lançadas expetativas e reeditadas promessas.
As suas características e potencialidades são, repetidamente, evidenciadas, mas os sublinhados feitos esmorecem rapidamente com o avanço no calendário dos decisores. Há exceções, mas ficam subtraídas no confronto com a análise e implementação global de projetos anunciados, ou na morosidade do seu desejado desenvolvimento.
Têm sido vários os contributos – vertidos em textos e publicações – em distintas áreas de intervenção e saber que apontaram ideias, caminhos, planos, soluções para a rentabilização e promoção das nossas multifacetadas realidades.
Desde logo para a identidade e perfil da mais alta cidade de Portugal, lembrada pela sua história, pelos seus monumentos, por instituições marcantes no seu desenvolvimento, pela pureza do seu ar, pelo clima ou por personalidades a ela ligadas, que se distinguiram/distinguem na ciência, literatura, arte ou pensamento.
Contudo, muito pouco se tem falado na geologia da Guarda e no campo de conhecimentos que se abre nesta matéria e pode/deve ser mais um relevante meio de atrair as atenções sobre a cidade e região. Daí que seja oportuno, e justo, falarmos do artigo publicado por Elsa Salzedas no último número da revista “Praça Velha”, editada pela autarquia guardense.
Começando por lembrar que a Geomorfologia “foi, desde sempre, um elemento de destaque na região da Guarda, tendo condicionado a sua localização e o povoamento que foi sendo feito a partir da zona de maior altitude”, a autora elucida que “ao explicar-se aos cidadãos a geologia num contexto urbano, pretende-se valorizar a pedra, a partir do conhecimento científico e destacar a sua enorme importância para a natureza e para a humanidade”.
Elsa Salzedas argumenta que “a rocha local é um bem extremamente valioso, não só do ponto de vista científico, mas ainda arquitetónico, económico e histórico”.
Com conhecimento e objetividade, a articulista interpela-nos se esta “dura” realidade tem sido devidamente valorizada. A resposta não é difícil…Não temos dado a importância devida ao nosso granito, suporte de uma perene identidade, marca de um território.
“A Guarda é – escreve Elsa Salzedas – uma enorme pedreira de granito, de onde se extraiu a pedra utilizada nas construções antigas e recentes, nos monumentos medievais, barrocos e modernos, nos edifícios públicos, no castelo, nas muralhas, em estátuas, em pavimentos, etc.”. Deixa, seguidamente, uma interessante e exequível proposta que deverá merecer a devida atenção por parte das entidades e serviços em cuja área de influência se enquadre esta ideia; ou seja a definição de vários percursos geológicos urbanos que “seduzissem todos os cidadãos, pela partilha do conhecimento simples, mas com rigor científico, levando-os a amar a sua região e a admirar a evolução da utilização do granito ao longo dos estilos arquitetónicos, numa abordagem integrada e holística”.
Deseja-se, assim, que (escreve a concluir o seu artigo) o cidadão seja despertado e levado a “amar mais e proteger esta região, das mais exclusivas do país, sentindo-se fortemente identificado e orgulhoso com o seu território”.
Este orgulho no espaço geográfico onde vivemos, alicerçado num permanente empenho da valorização das nossas terras e suas especificidades, é fundamental para o desenvolvimento de uma intervenção cívica, para uma postura de eficaz crítica construtiva e espírito reivindicativo, balizado pelo interesse coletivo.
A proposta atrás referida é mais um interessante caminho para partirmos à (re)descoberta da cidade, conciliando-a com outros roteiros citadinos em torno de referências/ligações com ilustres figuras da literatura, da arte, da ciência, religião, vida militar, saúde e solidariedade social; será um encontro com a Guarda culta, de que falava J. Pinharanda Gomes num dos seus livros, esclarecendo que “a culta é de certo modo oculta, porque a imediateidade quotidiana nos inibe de viajar para além do visível”.
Haja determinação, planificação responsável, cooperação, rentabilização dos recursos humanos e financeiros, aposta nas capacidades existentes e estratégias claras para incrementar o estudo e a divulgação da cidade e do território onde se insere.
Uma desejada evolução que terá de contar com a predisposição e disponibilidade de todos, que sintam e vivam a região, pois não haverá novas realidades se continuarmos “socialmente, uma coletividade pacífica de revoltados”, na elucidativa expressão de Miguel Torga.
Sejamos, pois, firmes como rochas (lembrando a conhecida divisa ostentada por uma antiga unidade militar que aqui esteve sedeada) na defesa, estudo, desenvolvimento e promoção da(s) nossa(s) terra(s).
Hélder Sequeira
(in O Interior, 19|jan|2022)
Na Casa da Cultura da Mêda está patente até, ao próximo dia 31 dezembro, uma exposição dos trabalhos vencedores do Concurso Internacional de Fotografia “Douro Património Contemporâneo – 2020”.
Trata-se de uma iniciativa bienal do Museu do Douro, que conta com o apoio mecenático da EDP e, nesta edição, com a parceria do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto.
O tema proposto foi “Douro: Memória com Futuro”, desafiando os participantes a registar a memória secular da Região Demarcada do Douro, as suas gentes, as suas arquiteturas e os artefactos associados à produção do vinho. “Este registo temporal da atualidade constitui-se como uma memória futura de um território em permanente construção”.
O conjunto de imagens expostas, que corresponde aos três primeiros prémios e a uma menção honrosa, fixou mais do que instantâneos de realidade. Entre a estética, os gestos e as pessoas, observam-se fragmentos de tempo. «Foi com esse olhar e com uma sensibilidade extrema» que os fotógrafos vencedores «captaram o presente e guardarão para o futuro o que no Douro não é imediato e repetido».
Fonte: Câmara Municipal da Meda
Na Guarda vai decorrer amanhã, dia 16 de outubro, a partir das 9h30, mais uma atividade do ciclo de eventos “Abeirar” que, desde a Primavera, está a percorrer os 15 concelhos da Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela (CIMBSE). Esta iniciativa é desenvolvida está a ser desenvolvida numa sequência de três temporadas, cada uma dedicada a um tema central para este território: água, céu e rocha.
À Guarda, através da Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço (BMEL), foi atribuído o tema “A Rocha”, desenvolvendo-se o projeto da BMEL ao longo de um percurso que se iniciará na Torre de Menagem a partir da qual será percorrida, em observação, a sua envolvente “e entender que fenómenos naturais estiveram na origem da ocupação humana através dos diferentes aspetos geológicos e geomorfológicos, históricos e literários.
“Este Roteiro – como foi referido pela Organização – pretende introduzir pela primeira vez, de forma simples e acessível a todos, uma primeira abordagem da Grande História da Guarda, contando acontecimentos importantes, muito antes da existência da Humanidade e até dos Dinossauros no Planeta que explicam a razão da Guarda estar onde está e ser como é. O percurso culminará no cemitério local, onde se irão identificar e compreender as diferentes rochas utilizadas na construção dos jazigos. Serão também homenageados poetas e escritores e abordada a história recente da cidade. Durante a caminhada seremos sempre inspirados por excertos literários de autores locais, pela observação e explicação da envolvente geológica do percurso e pela interpretação histórica dos espaços a percorrer.”
O roteiro será orientado por Anabela Matias, Dulce Helena Borges e Elsa Salzedas, tendo um número limitado de inscrições.
De referir que o ciclo “Abeirar” é um “convite à curiosidade, à exploração e à descoberta dos recursos do território das Beiras e Serra da Estrela. É um trilhar pelo território, no cruzamento entre a literatura e a ciência. É um apelo à participação conjunta de cidadãos/ãs, artistas e cientistas, pela construção de conhecimento e pela preservação e valorização do território com o objetivo de transformar cada cidadão em embaixador e promotor de um bem comum, que é o território.”
IHoje assinala-se o 724º aniversário da assinatura do Tratado de Alcanices, ocorrida 12 de Setembro de 1297 naquela localidade espanhola. O Tratado de Alcanices é considerado “um dos suportes da identidade de Portugal”, assumindo um particular significado para a região raiana de Riba Côa.
Com a assinatura deste importante documento passaram para o domínio português os castelos do Sabugal, Vilar Maior, Alfaiates, Castelo Rodrigo, Castelo Bom, Almeida e a localidade de San Felice de los Galegos – na zona de Riba Côa – além de Olivença, Ouguela e Campo Maior.
O rei D. Dinis, de acordo com o estabelecido nesse tratado, desistia da posse de Aiamonte, Esparregal, Valência e Aracena. A conjuntura interna espanhola (nomeadamente as divergências profundas dos tutores do rei castelhano) não deixou de se reflectir neste tratado, bem como a visão estratégica do monarca português.
De forma a acentuar os compromissos assumidos, firmou-se a promessa de casamento do rei espanhol, D. Fernando IV, com a filha de D. Dinis (a infanta D. Constança), enquanto D. Beatriz, infanta de Castela, foi prometida ao príncipe D. Afonso (filho de D. Dinis).
As terras de Riba Côa começaram por estar sob o domínio militar de D. Afonso Henriques e mais tarde foram ocupadas por Fernando II de Leão, constituindo um território onde as oscilações dos limites fronteiriços eram constantes.
Alcanices
O Tratado fixou, de forma clara, a fronteiras portuguesas deste território limitado pelos rios Côa e Águeda e pela ribeira de Tourões. Era, como escreveu Pinharanda Gomes, uma “terra de ninguém” que se converteu no “último pedaço da Hispânia a perder a independência, por diplomacia do senhor rei D. Diniz; cantão no coração da Hispânia, com os municípios de Almeida, Figueira de Castelo Rodrigo e Sabugal, além de vários outros, hoje extintos mas reais”.
O Côa abandonou o seu papel de fronteira física e sobre ele lançaram-se novas pontes que favoreceram a circulação de pessoas e produtos; veja-se o caso do Porto de S. Miguel (assinalado no Foral de Castelo Mendo, de 1228, como Portum Mauriscum) ou da Rapoula do Côa.
Se na perspectiva portuguesa este acordo veio definir, definitivamente o território português, do ponto de vista castelhano ele foi entendido como aliança com vista à salvaguarda da paz, fundamental para a resolução dos conflitos internos existentes.
Segundo Miguel Ladero Quesada, foi o espírito diplomático de D. Sancho IV “nos últimos anos do seu reinado, sobretudo, a sua morte prematura e a gravíssima crise política castelhana na menoridade de Fernando IV que permitiram a D. Dinis jogar, alternativamente, as cartadas da guerra e da aliança para conseguir mais territórios dos que havia esperado e fixar as fronteiras em limites muitos favoráveis aos seus interesses”.
Para aquele investigador é de supor que “algumas cláusulas do tratado seriam inconcebíveis em circunstâncias normais para os reis castelhano-leoneses, como as que se verificaram até 1295”.
Contundo, no quadro conjuntural da época D. Dinis terá tido a percepção de como era importante não deixar escapar a oportunidade de alargar o território português através de uma faixa em relação à qual Castela atribuía um interesse menor face às questões oriundas do reino de Aragão e da área peninsular sob domínio islâmico, a sul.
Assim, Alcanices traduz, como muitos reconhecem, um protagonismo inteligente da diplomacia portuguesa, evidenciado mais tarde por vários historiógrafos, cuja interpretação relativamente à passagem de Riba Côa para a Coroa lusitana assentava não na conquista territorial mas na justa restituição de terras, onde se erguia – por exemplo – o Mosteiro de Santa Maria de Aguiar (junto à histórica localidade de Castelo Rodrigo).
Por outro lado, e numa leitura dos discursos historiográficos e geográficos sobre Alcanices, Luis Carlos Amaral e João Carlos Garcia realçam que “a História precede a Geografia no debate do tema, mas é uma certa Geografia que fixa em imagem cartográfica Alcanices como marco final de um processo. Também nem todos os historiadores se preocuparam particularmente com este facto diplomático e político do reinado de D. Dinis”.
Aquando da passagem dos 700 anos da assinatura do Tratado de Acanices realizou-se um Congresso Luso-Espanhol nas vilas de Riba Côa, cujo programa, para além dos diversos estudos apresentados, incluiu várias exposições que reuniram pela primeira vez um valioso acervo das peças mais representativas do património histórico e artístico desta região; uma iniciativa que veio lançar novos olhares e interesses sobre este destacado momento do processo histórico português.
Como salientou o historiador Veríssimo Serrão no decorrer desse congresso, “As grandes vantagens do Tratado de Alcanices resultavam da fixação da fronteira portuguesa que, com excepção de Olivença, ocupada pela Espanha em 1801, correspondia então ao seu traçado actual. A província da Beira constituía a zona nevrálgica do reino de Portugal, por ser esse o local corrente das invasões castelhanas. D. Dinis tratou de imediato da fortificação dos lugares de Riba-Côa, com os seus pontos mais salientes em Castelo Rodrigo e no Sabugal, tendo a defendê-las o castelo da Guarda. Tal foi a base do acordo luso-castelhano”.
A importância deste Tratado para a formação da nacionalidade portuguesa é inquestionável; ele evidencia Portugal, decorridos todos estes séculos, como o país europeu com fronteiras mais antigas. (H. S.)
Divulgar o património material e imaterial da Beira Interior é o objetivo do concurso de fotografia e vídeo lançado pela A candidatura da Guarda a Capital Europeia da Cultura 2027
Este concurso, subordinado ao tema “Olhar Sobre o Território”, é aberto a todos interessados (com mais de 18 anos) em participarem.
“Projetar o território da Beira Interior através do olhar dos seus habitantes, lançando um desafio criativo à sociedade com o objetivo de fazer uma recolha de imagens em fotografia e vídeo, dando a conhecer os autores e a sua visão artística relativa à região” é o principal objetivo desta iniciativa.
Os trabalhos a concurso devem ser enviados até ao próximo dia 8 de setembro. Mais informação aqui.
A Carta Arqueológica do Sabugal já pode ser consultada online o que vai permitir o acesso à informação sobre os sítios arqueológicos de cada freguesia, que se encontravam na Base de Dados Municipal.
Paralelamente, no âmbito do planeamento e gestão de obras públicas, os organismos e instituições públicas ou privadas podem consultar as ocorrências arqueológicas existentes na área de incidência de qualquer empreendimento, sabendo antecipadamente da sua existência, prevendo medidas de mitigação e evitando impactos patrimoniais.
Para a autarquia sabugalense, a Carta Arqueológica “constitui um órgão consultivo para planeamento do território. Nesta versão online resume-se apenas a uma superfície cartográfica com os dados principais, não visando contar a história da ocupação do território, nem ser um roteiro turístico patrimonial.”
De referir, como esclareceu a Câmara Municipal do Sabugal, que o detalhe de localização dos sítios arqueológicos não é rigoroso, tendo em conta os procedimentos habituais aconselhados pela comunidade arqueológica internacional, seguidos no Inventário do Património Arqueológico Nacional que visam a proteção dos dados e o impedimento na deteção e saque de vestígios arqueológicos por grupos organizados do tráfico internacional.
Está prevista a publicação de um número monográfico da revista do Museu do Sabugal com este catálogo do património arqueológico municipal, devidamente contextualizado e ilustrado, e mais orientado para a componente histórico-cultural.
fonte: CMS
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