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“A Guarda e a sua Gente” é o título de uma pequena antologia, editada em 1988, baseada nas obras de Augusto Gil. Uma publicação que resultou do empenho de José Carreira Amarelo em contribuir para incrementar o interesse dos guardenses pela produção literária do autor da “Balada da Neve”.
“Os grandes homens enobrecem o berço em que nasceram pelas suas obras e agigantam-se nas cinzas em que repousam pela memória do seu povo. Augusto Gil é uma memória da Guarda.” Palavras que José Careira Amarelo deixou na introdução do referido livro, onde sublinhou o “preito de homenagem ao trovador sem escola”. No ano seguinte, e numa edição do Museu da Guarda anotou “Augusto Gil – cartas de amor”, missivas “nem breves nem secas como as que Camilo escreveu, mas manifesto clarão do lirismo e do estilo” do poeta que a cidade mais alta tem na galeria das suas personalidades mais ilustres.
Neste breve apontamento não é nosso objetivo falar de Augusto Gil, mas de José Miguel Carreira Amarelo; um distinto sacerdote, excecional professor, incansável investigador, dedicado estudioso da cultura regional, cidadão solidário, observador atento da comunidade onde exerceu a sua atividade. José Carreira Amarelo nasceu na aldeia de Marmeleiro (concelho da Guarda) em 22 de outubro de 1934 e faleceu no dia 12 de dezembro de 2000, em Coimbra. Para além da sua, reconhecida e apreciada atividade como sacerdote – cidadão simples, com uma grande humanidade e uma permanente disponibilidade para o próximo – sobressaiu também como docente e como homem de cultura.
Sempre discreto, declinava os protagonismos mediáticos ou as luzes da ribalta, optando antes pela entrega ao trabalho quotidiano, nas várias frentes do seu labor. “O Padre Amarelo era um homem excecional – e por qualidades de humildade e amor. Não lhe faltava perspicácia e sentido do dever e da responsabilidade, que, afinal, integravam o perfil de equilíbrio e de alguém principalmente atento aos outros. No entanto – eis a sua riqueza – desequilibrava-se. Não imitava os homens comuns – nem podia. Tímido, escrupuloso, vocacionado – chamado pela vocação de ser inteiro e bom”, como referiu o escritor Manuel Poppe, num dos seus livros.
Na área do ensino a presença de José Miguel Amarelo ficou bem marcada, como podem confirmar múltiplos e insuspeitos testemunhos; aliás, ao longo do seu percurso académico deixou indeléveis marcas da sua forma de ser e outrossim do seu saber, entregando-se à descoberta constante dos valores e expoentes culturais desta região. “O Dr. Amarelo estava interiormente convencido de que a Igreja só foi aceite quando se voltou para a cultura que constituiu a sua riqueza e atração. A história o confirma desde os seus começos, com a fundação das escolas paroquiais e episcopais e as primeiras universidades. Talvez por isso e por outros motivos aliou a sua missão eclesial a um trabalho honesto de intelectual persistente e inovador”, realçava Júlio Pinheiro (seu amigo, docente e também sacerdote) na publicação de homenagem editado pela (à altura) Escola Superior de Educação (ESE) do IPG, em dezembro de 2003.
O teatro popular foi uma das temáticas que o entusiasmou, com particular incidência nas tradições de Pousade, freguesia do concelho da Guarda; nos dois volumes editados sobre o teatro popular, procurou, (como escreveu na apresentação do primeiro dos dois volumes) “salvar do naufrágio do esquecimento e da perda uma pequena parcela da nossa cultura popular e regional.”
“A Paixão”, “Acto de Adão e Eva”, “O Nascimento de Jesus Cristo”, “A Morte de Antípatro”, “A Vingança de Enoe” e “Mártires da Germânia” são elucidativos exemplos dessas representações populares que sustentaram o seu objetivo de revelar “a perenidade e prevalência do teatro de cariz popular a par de outro de carácter institucional”, convicto da subsistência, no país, de “representações populares dramáticas de carácter didático e formativo, de índole religiosa e profana, ora com objetivos apenas recreativos, ora com fins satíricos e moralizadores.”
Carreira Amarelo “ficará sempre como um exemplo, um homem de exceção, pelo seu desejo de saber, pela sua capacidade de ação, pelo seu espírito de serviço, pela sua procura de unificação, pela irradiação de uma bondade sem limites”, anotou Júlio Pinheiro. “Ele defendia os desprotegidos, ajudava os humildes em pequenas coisas que para eles eram cheias de dificuldades, quase intransponíveis, como ir às repartições, ou escrever cartas para o estrangeiro em várias línguas”. Um exemplo “de inteireza, de bondade e verdade”, considerou, por seu turno, Manuel Poppe.
Nestas breves notas , aproveitamos para relembrar que depois de ter deixado a Direção da Escola Superior de Educação, do Instituto Politécnico da Guarda, onde lecionou, desenvolvia uma cuidada investigação sobre “As Pastorais dos Bispos da Guarda”; tema da tese de doutoramento que se preparava – antes da sua morte – para discutir.
Este trabalho (que constitui um importante documento histórico-cultural da região, mormente sobre o período temporal escolhido) não deve ficar esquecido; é importante que mereça (como defendemos já há duas décadas…) a adequada e merecida divulgação, pois, para além do seu valor específico, perpetuará a memória do seu autor e será um ato de justiça perante o demorado e meticuloso trabalho que precedeu a sua redação.
Naturalmente que não cabe nestas despretensiosas notas, nem é esse o intuito, a descrição do perfil de José Carreira Amarelo; todos quantos com ele conviveram, trabalharam ou se cruzaram certamente que não o esquecem, mas é igualmente importante que, coletivamente, valorizemos o seu exemplo, o seu contributo cívico e cultural. É um dever de memória…
Hélder Sequeira
Em Pousade (Guarda) vai ser apresentado o teatro religioso "Eis, Pôncio Pilatos!", com direção artística de Daniel Rocha.
Este espetáculo é uma representação de índole comunitária que pretende respeitar a tradição centenária de teatro religioso e popular de Pousade, sendo uma coprodução do Grupo Desportivo e Cultural Pousadense e do Teatro Municipal da Guarda (TMG).
A representação terá início pelas 21h30. Esta atividade, que estava incluída no Programa Semana Santa Cultura e Fé do Município da Guarda, estava prevista para o passada sábado, mas teve de ser adiada devido às condições atmosféricas.
A Câmara Municipal da Guarda vai promover, a partir de hoje, e até 30 de março, um conjunto de atividades sob a designação “Semana Santa – Cultura e Fé”.
Esta iniciativa, em parceria com várias entidades, decorrerá na Guarda e também em Pêra do Moço, Pousade, Vale de Estrela, Benespera, Famalicão da Serra, Gonçalo, Carvalhal Meão e Castanheira.
Este evento religioso “assume uma forte componente cultural e social, apresentando uma programação constituída por várias atividades num momento de exaltação do património material e imaterial que carateriza as celebrações da Quaresma, da Semana Santa e da Páscoa”. É referido pela autarquia guardense.
Entre 22 a 30 de março, a localidade de Pousade recebe uma Residência Artística orientada por Sofia Portugal, com o Coro Teatro Religioso.
No dia 23 de março, sábado, a Associação de Jogos Tradicionais da Guarda (AJTG) promove, com o apoio do Município da Guarda, o Percurso das Alminhas. A atividade inicia-se às 9h00 na Menoita, e conta com uma visita ao património local e identificação de alminhas sendo o percurso acompanhado pela AJTG, pela Junta de Freguesia e pelo arqueólogo, Tiago Ramos.
Nesse mesmo dia, na Catedral da Guarda, pelas 16 horas, o Conservatório de Música de São José realiza o Concerto de Páscoa; pelas 21h, em Pêra do Moço cumpre-se o rito de louvor aos mortos com a Encomendação das Almas. “Um rito do período quaresmal que leva um grupo de pessoas à rua durante a noite, normalmente num lugar de elevação, para fazerem orações pelas almas dos que já partiram”. A iniciativa contará com a participação dos Grupos de Encomendação das Almas da Sequeira, Faia, Quinta de Gonçalo Martins, Maçainhas, Famalicão da Serra, Grupo de Cantares 'A Mensagem', Marmeleiro e Castanheira.
Ainda na freguesia do Pêra do Moço, na igreja Matriz da freguesia, realiza-se às 22h30 o Concerto de Páscoa, pelo grupo italiano 'D'Altro Canto Duo'. No Domingo de Ramos, 24 de março, o duo italiano volta a atuar na Igreja de S. Miguel, na Guarda, pelas 17 horas.
No dia 27 de março, a Igreja da Misericórdia recebe o Concerto de Páscoa, 'Monte das Oliveiras', por Cardo Roxo.
Na noite de sábado, 30 de março, Pousade recebe, pelas 21h30, o Teatro Religioso 'Eis, Pôncio Pilatos!'. O espetáculo terá a direção artística de Daniel Rocha e é “uma representação de índole comunitária que pretende respeitar a tradição centenária de teatro religioso e popular de Pousade”. Trata-se de uma coprodução do Grupo Desportivo e Cultural Pousadense e o Teatro Municipal da Guarda.
Na Sexta-feira Santa, dia 29 de março, a Sé da Guarda será palco da celebração da Paixão do Senhor, com a adoração à Cruz, pelas 17h00; à noite, a partir das 21h30, terá lugar na Igreja da Misericórdia, o Enterro do Senhor.
A localidade de Pousade, no concelho da Guarda, revive esta semana a sua tradição do teatro religioso.
Amanhã será representada “A última Ceia”, um espetáculo comunitário encenado por Daniel Rocha, que envolve muitos dos habitantes daquela aldeia. Recorde-se que ali foi desenvolvido um inegável e meritório esforço com vista à salvaguarda e divulgação do teatro religioso popular.
Este género de teatro, com raízes profundas naquela localidade, foi alimentado ao longo de décadas pela imaginação e improvisação de algumas pessoas de Pousade, que concebiam peças para serem apresentadas em datas marcantes do calendário cristão, como sejam o Natal e a Páscoa.
Muitas delas eram transmitidas oralmente e corriam o risco de se perderem; daí que, há anos atrás, se tenha pensado, e bem, em verter para o papel os conteúdos dessas produções, facilitando-se igualmente o respetivo conhecimento e a possibilidade de as tornar objeto de estudo e investigação.
“A Paixão”, “Acto de Adão e Eva”, “O Nascimento de Jesus Cristo”, “A Morte de Antípatro”, “A Vingança de Enoe” e “Mártires da Germânia” são elucidativos exemplos dessas representações populares, onde “um enorme capital de esforço, de trabalho e dedicação”, como nos foi afirmado.
Daí que tenha sido importante o trabalho, mormente de João Marques e outros seus conterrâneos, de “sensibilizar a população para que fosse retomada uma tradição que se perde no tempo” – há, naquela aldeia, manuscritos de 1898 com peças de cariz religioso e popular – objetivo conseguido, como a progressiva adesão do público a estas representações.
O teatro popular foi uma das temáticas que entusiasmou José Miguel Carreira Amarelo que, como não poderia deixar de ser, olhou com particular atenção para as tradições de Pousade, editando dois volumes sobre o Teatro Popular. “O teatro popular é um continuum que nunca foi abolido pelo teatro erudito de qualquer movimento literário”.
José Carreira Amarelo procurou, como escreveu na apresentação do primeiro dos livros, “salvar do naufrágio do esquecimento e da perda uma pequena parcela da nossa cultura popular e regional”, destacando, por outro lado, “a perenidade e prevalência do teatro de cariz popular a par de um outro de carácter institucional”.
Nesse seu trabalho, Carreira Amarelo anotou que “de norte a sul do país, em Trás-os-Montes como nas Beiras, no continente e nas ilhas subsistem, ainda hoje, representações populares dramáticas, de carácter didáctico e formativo, de índole religiosa e profana, ora com objectivos apenas recreativos, ora com fins satíricos e moralizadores”.
Nesta quadra da Quaresma em que são promovidas diversificadas encenações ou representações sobre a temática e tradições religiosas associadas, é oportuno não olvidar as especificidades locais e regionais, realçando-as as suas raízes ancestrais e a matriz cultural; assim como é justo evocar a investigação e a recolha atrás mencionadas que devem suscitar novos estudos e abordagens, conducentes a publicações que se afirmem com uma mais valia em prol da salvaguarda da nossa cultura regional.
(in O INTERIOR, 18-04-2018)
Na Vela, concelho da Guarda, vai realizar-se, no próximo dia 26 de Outubro de 2008, uma homenagem ao Dr. José Miguel Carreira Amarelo, a qual terá início pelas 14 horas.
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