No Paço da Cultura da Guarda está patente até ao próximo dia 7 de Novembro a exposição “Tarrafal e a Guerra Civil de Espanha – Memória e História”.
Esta mostra resulta de uma colaboração entre o Centro de Estudos Ibéricos (CEI), a Direcção Geral de Arquivos/Torre do Tombo e a Dirección General de Archivos Estatales (Espanha).
A exposição esteve já patente em Lisboa, em 2006, na Torre do Tombo, assinalando a passagem do 70º aniversário de dois importantes eventos na história contemporânea de Portugal e de Espanha, ou seja a criação da Colónia Penal do Tarrafal, em Cabo Verde, e o início da Guerra Civil Espanhola. O ponto comum prende-se com o ano em que ocorreram, ou seja em 1936.
Esta iniciativa tem por objectivo dar a conhecer relação entre Portugal e Espanha, nessa época, bem como sublinhar a importância do património documental inerente.
Em declarações ao Diário AS BEIRAS, o Director do Instituto dos Arquivos Nacionais/Torre do Tombo, Silvestre Lacerda, disse que esta “foi uma oportunidade de se poder mostrar, na Guarda, aquilo que foi apresentado na Torre do Tombo” e igualmente uma nova oportunidade para se relembrar como “era significativo” o contacto entre Portugal e Espanha.
Na sua opinião, “os factos desenrolados em Portugal e os acontecimentos ocorridos em Espanha tiveram repercussão em ambos os lados da fronteira”; daí “a oportunidade desta exposição na Guarda.”
· Documentos inéditos
A relação entre a guerra civil de Espanha e a Colónia Penal do Tarrafal é mediada pelo ano em que foram despoletados os dois acontecimentos. “A nossa preocupação foi alertar para a necessidade de serem preservadas as memórias, dos dois lados da fronteira, provavelmente mais sangrenta do lado espanhol, que não deixou de ter importância em Portugal”, acrescentou-nos Silvestre Lacerda.
Com esta mostra, na Galeria do Paço da Cultura egitaniense, são revelados documentos “completamente inéditos do ponto de vista daquilo que não está estudado, nomeadamente ao nível daquilo que são as conexões locais, a vida comum, aquilo que afecta o quotidiano dos cidadãos”, esclarece o Director do Instituto dos Arquivos Nacionais/Torre do Tombo.
“Conhecemos algumas linhas gerais relativamente aos principais acontecimentos mas temos ainda muita falta de informação da história local e daquilo que as comunidades locais ainda têm para contar; em alguns sentidos essa informação tem sido menosprezada pelo facto de estar fora dos grandes centros, fora daquilo que é a história oficial, da história que também ela é construída a partir do centro”, declarou Silvestre Lacerda.
Organizada pelo Núcleo de Animação Cultural e Centro de Estudos Ibéricos, a presente exposição foi, assim, enriquecida com informação sobre a Guarda, divulgando documentos que ligam esta cidade e o distrito à Guerra Civil de Espanha.
· Incremento das relações culturais luso-espanholas
“Esta exposição é muito interessante. É, aliás, sintomático que em 1936 começa uma autêntica tragédia para ambos os países”, comentou, ao Diário AS BEIRAS, Maria Jose Turrión, Directora do Centro da Memória Histórica de Espanha, com sede em Salamanca.
O incremento das relações culturais está nos planos do Ministério da Cultura espanhol e é igualmente defendido por esta responsável espanhola que adianta haver ideias concretas a partir de Salamanca.
“Concretamente no Centro da Memória Histórica é nossa intenção estabelecer redes e definir trabalhos entre centros documentais. Queremos, assim, aprofundar e estudar a cultura da memória de forma que todos os centros de documentação possam estabelecer linhas de investigação assim como inovar através do apoio dado pelas novas tecnologias”.
Maria Jose Turrión destacou o papel do Centro de Estudos Ibéricos como elo de ligação para o desenvolvimento de “uma série de trabalhos em que está já envolvida a Universidade de Salamanca”, instituição que integra o CEI, juntamente com a Universidade de Coimbra, Instituto Politécnico da Guarda e Câmara Municipal.