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Um ecossistema em perigo de extinção

por Correio da Guarda, em 28.09.23

 

O recente Festival do Cobertor de Papa, realizado na localidade de Maçainhas de Baixo (Guarda) alertou a comunidade regional para o risco de extinção de um ecossistema enraizado nestas terras beirãs.

O cobertor de papa é uma manta tradicional da zona da Serra da Estrela, produzida – há vários séculos – a partir da lã churra (mais macia) que é retirada de ovelhas autóctones (ovelha mondegueira).

Após o necessário tratamento, a lã é tecida em teares artesanais e de acordo com métodos tradicionais, associando cores e desenhos com perfil diferenciador. O processo termina com o esticar dos cobertores nas “râmbolas” onde secam, ao ar livre, e adquirem o seu aspeto final.

COBERTOR DE PAPA_ Helder Sequeira_.JPG

Existem o cobertor branco com três listas castanhas, a manta barrenta ou manta do pastor, a manta lobeira ou manta espanhola, o cobertor branco, o cobertor bordado à mão e o cobertor de papa em várias cores (com o seu conhecido pelo comprido).

O seu uso não se fica apenas pela utilização como elemento de conforto térmico (na cama o seu pelo denso e pesado facilita a transpiração durante o sono e puxa a humidade para a superfície exterior do cobertor), mas passa também por distinto complemento de decoração de interiores.

A Associação Genuíno Cobertor da Papa, sediada naquela localidade, tem nos seus objetivos a produção daquele autêntico produto e a garantia da sua autenticidade, estando atualmente empenhada em alcançar a certificação daquele cobertor. O declínio da indústria da lã e o surgimento de fibras sintéticas originaram um cenário onde quase se desenhou a sua extinção.

O processo de certificação – em curso – exige, obviamente, muito trabalho e as indispensáveis verbas, incompatíveis com os recursos financeiros daquela associação, como aliás foi sublinhado no decorrer do festival anteriormente mencionado.

Elisa Pinheiro, que desenvolveu trabalhos de pesquisa sobre o cobertor de papa, assinalou-o como “produto final de um longo processo que plasma uma densidade de memórias, sejam elas as dos homens que os produziram, sejam daqueles que, ao longo dos tempos, os consumiram, uns e outros unidos pelos fios de lã que os teceram, num tempo longo da nossa história dos lanifícios”, sublinhando o seu enquadramento “em práticas ancestrais que importa salvaguardar”. Deste modo, é urgente preservá-lo, defender a sua autenticidade, a par de permanentes ações de valorização e promoção.

Este não é um trabalho simples, pois há que equacionar múltiplas realidades e condicionantes, como sejam a necessidade da existência de mais rebanhos de ovelhas autóctones – o que implica olhar com objetividade para a realidade agrícola, para as dificuldades relacionadas com a criação e alimentação dos animais, para o número de pessoas que se dedicam ao pastoreio e ao ciclo da produção de queijo, para as consequências das alterações climáticas que têm condicionado as áreas de pastagens e aumentado as dificuldades ao nível económico/financeiro) – , mais gente a trabalhar no campo e a saber valorizar/rentabilizar as potencialidades endógenas, uma maior consciencialização de todos no que concerne à qualidade e valor dos nossos produtos regionais, optando pela sua compra e incrementando a economia local/regional.

Tear_cobertor de papa_ Helder Sequeira.JPG

O incentivo e apoio a projetos (como este da revitalização do genuíno cobertor de papa, cuja produção é feita, naturalmente, numa escala consentânea com a dimensão dos recursos atuais, e em função da evolução do número de encomendas) não devem ficar apenas pelas amáveis palavras de circunstância, pelas manifestações de simpatia nas redes sociais ou pela presença (também importante, claro) em ações de sensibilização ou divulgação.

É fundamental o apoio das entidades em cuja área de competência ou influência se pode inscrever a ajuda necessária (e justa), a ação dos media na informação e divulgação dos produtos genuinamente regionais, a necessária transmissão aos mais jovens do saber fazer, o envolvimento da investigação académica, uma atitude ativa dos consumidores na preferência daquilo que tem alta qualidade e matriz tradicional e portuguesa.

 

Helder Sequeira

correio.da.guarda@gmail.com

in O INTERIOR, 27/09/2023

 

 

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publicado às 14:08

Estrela Geopark: classificação revalidada

por Correio da Guarda, em 08.09.23

 

O Conselho Mundial de Geoparks da UNESCO, reunido ontem em Marrocos, propôs, por unanimidade, o Cartão Verde ao Estrela Geopark, revalidando a classificação. A informação foi divulgada na página do Estrela Geopark.

A Associação Geopark Estrela (AGE) é uma associação de direito privado, sem fins lucrativos, com objetivos de utilidade pública e com sede em Manteigas. Tem com objetivos promover e realizar ações tendentes a um desenvolvimento socioeconómico, cultural e ambiental, sustentável e equilibrado dos municípios e da região Serra da Estrela, nomeadamente através da gestão da área classificada de “Geopark Mundial da UNESCO”; conservar, promover e valorizar o seu património cultural, natural e geológico; prromover um turismo sustentável; potenciar o desenvolvimento de atividades económicas locais e fomentar as atividades tradicionais; realizar ações de proteção, conservação e divulgação do património natural, com especial ênfase no Património Geológico e, entre outros, colaborar com entidades, públicas ou privadas, que se integram no âmbito das atribuições do Geopark.

Estrela GEOPARK _n.jpg 

Fonte e foto: Estrela Geopark

 

 

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publicado às 10:58

Festival Internacional de Cinema Ambiental em Seia

por Correio da Guarda, em 05.09.23

 

CINEECO_SEIA_Foto.png

Na cidade de Seia vai decorrer, de 5 e 13 de outubro, a 29ª edição do CineEco – Festival Internacional de Cinema Ambiental da Serra da Estrela. O festival terá lugar na Casa Municipal da Cultura e este ano assenta numa maior aposta em obras cinematográficas.

O CineEco é um evento cultural de natureza internacional de temática ambiental, organizado pelo Município de Seia desde 1995 de forma ininterrupta. Em todas as edições e em todas as secções ou atividades a entrada é gratuita, prestando um serviço público.

É o único festival de cinema exclusivamente ambiental em Portugal e um dos festivais de cinema de ambiente mais antigos do mundo. Através das experiências multiculturais, o CineEco ajuda a descrever e compor um panorama do pensamento mundial atual sobre estas questões e proporciona aos espetadores momentos de conhecimento e reflexão, com a ambição de gerar comportamentos transformadores e de participação.

Concorreram cerca de 300 filmes dos vários cantos do mundo, tendo sido selecionados 66, de 27 países diferentes.

No festival, é já frequente poder assistir-se a antestreias nacionais ou mundiais de alguns filmes dedicados ao tema ambiental, como aconteceu com EO de Jerzy Skolimowski em 2022, ou mesmo a filmes que se revelaram depois ser o primeiro filme candidato a Óscar, como foi o caso de Ice Merchants de João Gonzalez, em 2022.

Ao longo de cada edição, para além das várias secções competitivas, organiza um conjunto de atividades, onde se incluem conversas com realizadores, exposições, ações de educação ambiental com escolas, entre outros, contribuindo para uma cidadania ativa no domínio do desenvolvimento sustentável e valorização do território e enriquecimento do conhecimento ambiental e cinematográfico.

Realiza ao longo do ano, uma vasta rede de extensões por todo o país, proporcionando ao público filmes desta temática, constituindo-se como um dos muitos fatores diferenciadores do festival.

O CineEco é membro fundador da Green Film Network, uma plataforma de 39 festivais de cinema ambiental, sendo organizado pelo Município de Seia e conta com o Alto Patrocínio do Presidente da República e do Departamento de Ambiente das Nações Unidas. Conta ainda com a Lipor como patrocinador principal e com o apoio financeiro da DGArtes.

 

 

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publicado às 00:14

Expo Estrela em Manteigas

por Correio da Guarda, em 07.02.23

Manteigas _Serra da Estrela_HS_.jpg

A Expo Estrela - Manteigas 2023 vai decorrer entre 17 e 21 de fevereiro.

O programa inclui, nesta edição, mais um dia de programação e maior área de implementação do certame que também terá uma nova localização, no Lugar do Vidoal.

O evento funcionará em duas tendas poligonais com uma área total aproximada de 2.500 metros quadrados, onde vai decorrer a componente expositiva, venda de produtos, restauração e espetáculos.

Na terça-feira de Carnaval terá lugar a Prova de Queijo Serra da Estrela durante a manhã e
o habitual Desfile de Carnaval.

 

 

 

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publicado às 23:22

Intervenção florestal no Curral do Negro

por Correio da Guarda, em 27.01.23

 

O Movimento Estrela Viva e a GO Romaria - Associação Cultural Gouveense vão organizar no dia 4 de fevereiro, pelas 10h00, uma intervenção florestal e cultural no Curral do Negro, em Gouveia, Serra da Estrela.

A componente florestal desta ação conjunta visa recuperar uma das áreas afetadas pelo Grande Incêndio da Serra da Estrela, ocorrido no passado Verão e que destruiu, recorde-se, mais de um quarto do Parque Natural da Serra da Estrela. A área a intervencionar situa-se em encosta que drena para uma ribeira que fornece água para abastecimento público de uma das maiores aldeias da região, São Paio, e para rega de uma vasta zona agro-pastoril, antes de desaguar no Rio Mondego.

Curral do Verde.png

Por essa razão, a intervenção florestal, que será realizada com o apoio técnico do Gabinete Técnico Florestal da Câmara Municipal de Gouveia e da URZE - Associação Florestal da Encosta da Serra da Estrela, centrar-se-á fundamentalmente na limpeza da área ardida e no aproveitamento de sobrantes para a construção de barreiras naturais que travem a força das águas em caso de chuva forte e impeçam o arrastamento de solo fértil. Desta forma, será possível reter água e matéria orgânica na encosta, o que permitirá: o crescimento futuro de um coberto vegetal nestas zonas, a infiltração destas águas em aquíferos subterrâneos, o não assoreamento de uma ribeira crítica para as populações locais e a minimização do risco de enxurradas nessa mesma ribeira.

O  Parque de Campismo Curral do Negro será, posteriormente, "palco" de uma intervenção eco-cultural, que contempla a devolução de uma ave selvagem à natureza pelo CERVAS - Centro de Ecologia, Recuperação e Vigilância de Animais Selvagens, um lanche-convívio para partilha de experiências proporcionado pela Junta de Freguesia de Gouveia e um momento musical com a curadoria da GO Romaria, para terminar o dia em beleza, em plena floresta.

A iniciativa é gratuita e aberta à comunidade, mediante pré-inscrição obrigatória.

 

 

 

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publicado às 12:43

Tertúlia sobre incêndios

por Correio da Guarda, em 08.11.22

 

A Delegação Distrital da Guarda da Ordem dos Engenheiros (DDGOE) vai promover amanhã, 9 de novembro, uma tertúlia onde será debatido o que está a ser desenvolvido para mitigar os problemas causados pelos incêndios que ocorreram este Verão na Serra da Estrela.

Serra e incêndios.jpg

Esta tertúlia decorrerá a partir das 21h15 no Café Concerto do Teatro Municipal da Guarda, tendo como convidados Flávio Massano, Presidente da Câmara Municipal de Manteigas ( que irá apresentar o seu testemunho sobre a calamidade que grassou na Serra da Estrela e em particular no concelho de Manteigas)  e Fátima Araújo Reis, Directora Regional do centro do Instituto da Conservação da Natureza e Florestas ( que explicará o que o ICNF/PNSE já está a desenvolver e irá desenvolver para mitigar os problemas causados pelos incêndios).

Depois das intervenções iniciais terá lugar um espaço de debate com os participantes, moderado por José António Monteiro. A entrada é livre, mas carece de inscrição.

 

 

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publicado às 12:37

Pela Serra...

por Correio da Guarda, em 07.11.22

Rota das Faias - Manteigas__Portugal_ HS.jpg Manteigas. Rota das Faias.

 

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publicado às 17:34

A Estrela que nos guia...

por Correio da Guarda, em 21.09.22

 

A chuva intensa que caiu na passada semana provocou, como é do conhecimento público, elevados prejuízos na freguesia de Sameiro (Manteigas).

A força das águas danificou habitações, destruiu telhados, arrastou viaturas, derrubou postes de iluminação pública, provocou inúmeros e elevados prejuízos.

Era, aliás, previsível a ocorrência deste tipo de situações face à tragédia que se abateu sobre a Serra da Estrela. Na nossa memória devem continuar presentes as imagens das labaredas que destruíram histórias de vida e trabalho árduo, dizimaram espécies animais e vegetais, transformaram a cor da esperança num crepitante manto negro onde ficaram comoventes súplicas de troncos carbonizados, quais esculturas de terror e morte…e muitos desses troncos de árvores irremediavelmente feridas foram agora lançados na fúria da água e da lama…

Serra da Estrela - fot HS.jpg

Sobre o fogo que lavrou na Estrela há múltiplas questões que têm de ser equacionadas, esclarecidas, resolvidas com decisões firmes, sem subalternizações geográficas ou em função do peso dos indicadores demográficos na definição do quadro político.

Somos todos Portugal e a Serra da Estrela, o interior recusa a ser tratado como até acontecido até aqui, pesem argumentos (sobretudo eleitoralistas) em sentido contrário. Não podemos continuar a ser, “socialmente, uma coletividade pacífica de revoltados” (na elucidativa expressão de Torga) e a merecer atenção apenas em dias de tragédia ou de lamentáveis episódios.

Passados que foram os dias de desespero, anunciadas as intenções governamentais de tornar a Serra da Estrela “melhor do que estava,” declarada e definida a situação de calamidade pública, feito o balanço dos prejuízos, identificados os casos onde deve haver um apoio urgente, anunciadas as verbas a aplicar, importa passar das palavras aos atos. Há que desencadear medidas que não pactuem com o tradicional esquecimento e comodismo, ou fiquem enredadas na sobreposição de esferas de competências institucionais, com as consequentes demoras nas decisões específicas. Em especial as relativas aos auxílios e apoios a quantos viram dizimados os seus haveres e meios de subsistência.

Neste contexto, é justa uma referência às associações e aos voluntários que imediatamente estiveram no terreno serrano e foram ao encontro das pessoas, sobretudo mais idosas e fragilizadas.

Esta solidariedade deve ser enaltecida e servir de desafio a todos quantos sentem e vivem a Estrela que nos guia; onde deve ser célere a planificação, escolha cuidada de espécies autóctones e pronta reflorestação.

Escrevia João de Araújo Correia que “(…) o melhor remédio curativo e preventivo contra a corrupção do ar é o arvoredo. Onde houver uma árvore, há uma fonte que lava o sangue do homem. Quero até crer que lhe lava a alma como transcendente espelho de beleza. Hoje, que a alma comum se deixou inquinar, só à vista da árvore se pode desencardir (…)”. E só com novas árvores retiraremos o manto de luto que continua estendido por uma larga área da Serra.

A dimensão e as consequências do fogo que deflagrou num Parque Natural, numa zona classificada como geoparque mundial da UNESCO (a merecer mais informação e sinalética) não podem ser esquecidas pelas entidades governamentais e autárquicas, a quem se deve exigir atuação preventiva, firme e eficaz no quadro das suas competências.

A Serra da Estrela “em cujo seio de pedra palpita o amorável coração de Portugal” (Ladislau Patrício) pode e deve ser um símbolo de unidade de esforços, competências, recursos e ideias, alargado a todo o território nacional em prol de um harmonioso e equilibrado desenvolvimento.

Entretanto, a Estrela continua majestosa, convidativa à (re)descoberta em qualquer época do ano e suscitando um vasto conjunto de percursos e propostas ao longo dos territórios que a têm como guia perene.

 

Helder Sequeira

in O Interior, 21| Set | 2022

 

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publicado às 12:55

Respeito e gratidão...

por Correio da Guarda, em 20.08.22

 

Fogos florestais HS  .jpg

Ao escrevermos estas palavras [já na noite de segunda-feira] não conhecemos ainda o cenário resultante dos fogos que estão a atingir Gonçalo, Seixo Amarelo, Famalicão da Serra, Vale de Amoreira, Valhelhas, Colmeal da Torre e outras zonas circunvizinhas, mas adivinha-se trágico e desolador…

Com estes novos incêndios [já depois de enviado o texto para publicação foi registado mais um incêndio no concelho de Gouveia] e reacendimentos é, infelizmente, ampliada a mancha negra que tem ferido a Serra da Estrela há mais de uma semana; realidade que se traduz em graves consequências para a economia local e regional, para um elevado número de pessoas, para o património florestal e ambiental, para a biodiversidade…

O interior ficou, inquestionavelmente mais pobre e débil com este golpe violento do fogo impiedoso numa Serra “alta, imensa, enigmática” cuja “presença física é logo uma obsessão”, como escreveu Miguel Torga.

A Estrela, contudo, “não divide, concentra”, dizia ainda o poeta. Nestes fatídicos dias a Serra voltou a concentrar os esforços de centenas de bombeiros e outros operacionais (de instituições e serviços diversos) que merecem o nosso elevado respeito e gratidão por tudo quanto têm feito em prol da defesa de pessoas, bens, animais, floresta; travando uma luta difícil, em condições inimagináveis para muitos.

Sobretudo para aqueles que, em especial no comodismo e anonimato proporcionado pelas redes sociais, criticam, elaboram teorias, emitem opiniões que roçam o ridículo, deturpam realidades, enquadram as suas expressões numa atitude maldizente e tendenciosa…perante a situação que estamos a viver é fundamental uma postura cívica e colaborante, o apoio os homens e mulheres que estão no terreno, perante as chamas, o perigo constante.

E por vezes há gestos simples que traduzem o apreço e admiração por aqueles que envergam a farda dos bombeiros, da GNR, das forças especiais, sapadores, etc. Assim, não poderíamos deixar de transcrever as palavras que um bombeiro de Almada – que esteve aqui na Serra da Estrela a combate – escreveu numa rede social (as redes sociais também têm, obviamente, virtualidades quando utilizadas com responsabilidade e bom senso).

“Olá Criança: Desculpa tratar-te assim , mas não sei como te chamas [soube-se depois tratar-se de um menino chamado Gonçalo], nem tive oportunidade de falar contigo, sou o Chefe da equipa do veículo dos Bombeiros de Almada que passou por ti perto do Vale de Amoreira (…), tínhamos tido umas horas de combate complicado estávamos cansados, mas passámos na estrada junto ao café onde estavas com os teus familiares, de repente voltaste - te para nós e bateste-nos continência; na altura e porque havia trabalho a fazer, respondemos apenas com o toque da buzina de ar, mas o teu gesto aliviou o nosso cansaço e deu-nos ânimo. Dizem que as crianças são puras e que não enganam, como eu gostaria que os adultos fossem assim. Pelo ânimo dado a esta equipa com o teu gesto e como Chefe da mesma, retribuo o gesto dizendo-te em nosso nome: Muito Obrigado.”

Passados que forem estes dias de tragédia certamente serão conhecidas muitas outras expressivas atitudes de agradecimento para quem tem estado, dias e dias seguidos, no teatro de operações; ou mesmo para realçar exemplos de coragem.

No local do Covão da Abelha (zona da Serra de Baixo), Parque Natural da Serra da Estrela elementos da GNR resgataram um cidadão ameaçado pelas chamas. O próprio fez o relato, num agradecimento que dirigiu ao Comandante do Posto da Guarda Nacional Republicana de Manteigas (e posteriormente divulgado pelo Comando Territorial da Guarda): “salvaram a minha vida, com a sua rápida e decisiva entrada na zona já circunscrita em chamas. Este facto verificou-se após inesperado e violento reacendimento, com acelerada progressão das chamas, provocado por fortíssima e permanente intensidade de vento na zona onde me encontrava. Em local de difícil acesso em montanha (1300 metros), irromperam na sua viatura para o meu resgate, em tempo de sair da zona onde o fogo progrediu em forma de tenaz. Esta ação demonstra, a meu ver, ato heroico de bravura, de excecional abnegação e valentia, com comprovado perigo da sua vida (…)”.

Haverá tempo para serem conhecidos outros atos como este, a par da resposta que algumas associações e grupos de cidadãos deram de imediato ao nível do apoio a pastores e agricultores que foram atingidos fortemente pela onda devastadora dos fogos. E há que sublinhar o papel ativo das gentes locais na ajuda ao combate às chamas, quer com intervenção direta, quer com a orientação no terreno cujo conhecimento dominam.

Haverá tempo para se perceber o que falhou no combate inicial ao fogo na Serra (não sendo especialista na matéria, parece-me haver um consenso de que a situação não terá sido devidamente avaliada no que concerne à provável evolução das chamas e aos meios terrestres e aéreos necessários a uma resposta mais musculada), que dificuldades houve ao nível da coordenação e comunicações, na logística de apoio às corporações de bombeiros, etc…

Contudo não há tempo a perder na implementação dos apoios necessários a quem perdeu bens e sustento, no desenvolvimento das necessárias ações tendentes a neutralizar as falhas verificadas, na aplicação das medidas conducentes a uma rápida revitalização deste território, no rigoroso planeamento da reflorestação. São precisas decisões e atos e não mera retórica mediática.

Enquanto isso, evidenciamos, de novo, o respeito e gratidão para com todos os operacionais, agentes e corporações que têm estado na linha da frente no combate ao fogo.

 

Hélder Sequeira

 

In "O Interior", 17 de agosto 2022

 

 

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publicado às 18:30

Serra da Estrela: aumentou a área queimada

por Correio da Guarda, em 12.08.22

Serra da Estrela - área queimada 12AG2022.jpg Incêndio ativo e áreas queimadas (até esta hora) no espaço do Parque Natural da Serra da Estrela.

Fonte: Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais (EFFIS)

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publicado às 10:20


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