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António Arede nasceu para a rádio (por quem continua a nutrir uma grande paixão) na Guarda; precisamente na estação emissora que em 1948 começou a emitir oficialmente na cidade mais alta de Portugal.
A sua atividade radiofónica começou em 1973/74 na Rádio Altitude, tendo passado depois pela Rádio Renascença entre 1975 e 1990. No tempo das rádios-piratas iniciou a colaboração no RCI desde a sua criação, projeto que acompanhou nas diversas fases de expansão até à passagem para as instalações atuais.
Respeitado no meio rádio e do jornalismo pela sua larga experiência e pela sua exigência em termos de rigor e qualidade dos trabalhos que produz, António Arede é igual a si próprio, com inquestionável competência e saber, elevado sentido de humanidade e grande cordialidade.
Do seu percurso profissional destaca-se ainda a passagem pela RDP/Centro (Antena 1) e, mais recentemente pelo grupo Media Capital Rádios - Rádio Clube Português, Rádio Clube e pela M80 Rádio.
Com 65 anos, António Arede continua a fazer e a viver a rádio, sempre com a mesma entrega e paixão, abrindo igualmente porta para outra atividade que o tem entusiasmado, de que fala ao CORREIO DA GUARDA. “Hoje passo música dos anos 80 em todo o lado. Cada noite é um sucesso!...”
Quem é o António Arede?
Jornalista, 65 anos de idade, apaixonado pela rádio e comunicação, tendo também a atividade de Dj como complemento.
És um apaixonado pela rádio e pelo jornalismo. Quando começou essa vocação?
Em finais de 1973, então pela mão do correspondente da RTP em Viseu, José Ayres, que pelos seus conhecimentos no meio conseguiu a minha entrada como colaborador da Rádio Altitude para a área da animação, na altura locução.
Nos tempos do liceu o som e a música envolveram-te em atividades. Que recordações gostarias de deixar aqui?
A criação, em 1973, de um núcleo de rádio no liceu, que transmitia música nos intervalos das aulas, através de um sistema interno de som, com colunas instaladas nos recreios e sala dos professores.
Tratava-se do grupo Geração de 60, que também implementou no liceu um grupo de Teatro e um jornal com o mesmo nome (Geração de 60), que na época era impresso em tipografia.
Ainda fiz parte do grupo de Teatro como ator e mais tarde como sonoplasta, uma vez que sentia queda para essa área.
Nessa época a inclinação era mais para a Rádio ou para o Jornalismo?
Na época a inclinação era mais para a área da rádio (animação), visto que o conceito de jornalista de rádio ainda não estava criado, as notícias eram lidas de recortes de jornais por alguém que tivesse a melhor voz.
A imprensa não suscitou tanto a tua atenção? Porquê?
Na altura não sentia interessa pela imprensa escrita, também porque nunca pensei vir a ser jornalista, e mesmo como jornalista sempre privilegiei o sector rádio, tirando uma pequena experiência na imprensa (jornal Notícias da Tarde, do Grupo JN) e a Agência de Noticias ANOP.
Desde cedo tiveste o teu próprio estúdio, com equipamento diversificado, e já distinto na época. Fala-nos dessa época e do trabalho que foi desenvolvido.
Em 1973 estava mais virado para a locução em rádio…era um mundo para mim; depois com o avançar dos anos, em 1975/76, tornei-me correspondente da Rádio Altitude em Viseu.
Foi a partir daí que desenvolvi as minhas próprias instalações criando um sistema para envio do som para a rádio via telefone com mais qualidade, facto que veio a evidenciar-se mais tarde também com a minha entrada para a Rádio Renascença, em 1976; estação que viria a abraçar através da influência do Antunes Ferreira (da Rádio Altitude) e do José Ayres de Viseu.
Há algum equipamento, adquirido, que te tenha deixado um entusiamo especial? Gravadores de bobines…?
Tenho ainda alguns gravadores de cassetes da época… uns funcionam, outros não; um pequeno OB (como se chamava na altura) para tratamento do som no envio pelo telefone e uma máquina de bobines, que pouco usava na altura, tirando a TANDBERG de fita, portátil, da Rádio Altitude ou a UHER da Rádio Renascença.
Recordas-te dos teus primeiros vinis? Quais eram os cantores ou grupos preferidos?
Tudo o que tocava na altura. Eu comprava muita música de vinil, singles e Lps…todo o dinheiro que os meus pais me davam eu investia em música…ainda hoje possuo uma discoteca de milhares de exemplares em vinil e também agora em Cds
Quanto aos grupos preferidos da época, não posso deixar de referenciar os Beatles, os Rolling Stones, Creedence Clearwater Revival, Led Zeepllin, Pink Floyd,entre outros .
Ainda conservas os teus primeiros vinis? E cassetes?
Conservo tanto os vinis como as cassetes. Aliás no estúdio de radiodifusão que possuo atualmente, embora seja um estúdio moderno já com equipamento digital, também tem gravadores de cassetes a funcionarem, de onde destaco os velhinhos Marantz profissionais portáteis PM222.
Por essa altura acompanhavas, com frequência o José Ayres (que além de distinto fotógrafo trabalhava para a RTP). Qual foi a influência dele na tua atividade no campo da comunicação social?
Teve toda a influência. Aliás foi através dele que entrei no mundo da rádio e da comunicação…Foi a sua influência que conseguiu a abertura de portas na Rádio Altitude, a minha porta de entrada na Comunicação Social.
Outro homem muito importante para a minha integração foi o Antunes Ferreira que, desde o primeiro momento, me deu a mão e me ensinou bastante, tendo sido a influência para a minha entrada na Rádio Renascença.
Como surgiu, e quando, a tua ligação com a Rádio Altitude?
Como já expliquei a minha ligação com a Rádio Altitude surge em finais de 1973 princípios de 1974… recordo-me que o meu programa que era gravado, começou ainda no tempo da censura.
Na altura a RA tinha dois administradores, o Antunes Ferreira e o Carvalhinho que era quem censurava os textos dos programas, e as notícias que iam ao microfone, pela voz do Vaz Júnior
Quais foram os teus primeiros trabalhos informativos para a Rádio Altitude?
Não me recorda já bem do ano, mas talvez em 1976. Eu ficava fascinado com a forma como se trabalhava... as gravações dos RMs (registos magnéticos) na “Ferrograph” (máquina profissional de fita magnética), onde se inseriam sem qualquer critério de importância de alinhamento as gravações a incluir nos noticiários do RA.
Foi reformada a redação talvez pelo ano de 1977/78 e foi criada uma redação em Viseu. Na altura tomávamos conta das notícias o Helder Sequeira, o Francisco Carvalho, o Emílio Aragonez, o António Jose Teixeira e eu.
Viseu enviava um pequeno noticiário com notícias da região que era inserido no noticiário das 12h30. Como a Rádio emitia em Onda Média, ouvia-se bem na região de Viseu, o que justificou a criação de uma segunda redação.
Eu gravava em minha casa as intervenções dos correspondentes da região de Viseu e inseria nos noticiários da Guarda, com outras noticias de Viseu ....depois a redação da Guarda prosseguia o noticiário
Asseguravas a cobertura informativa, quase diária, para os noticiários da Rádio Altitude. Como tinhas estruturada a tua rede de correspondentes e as tuas fontes de informação?
Criei então uma rede, que contemplava um correspondente em cada concelho, embora na prática só intervinham com a sua voz gravada os correspondentes de zonas onde a rádio entrava e era ouvida.
Os correspondentes eram a minha fonte de informação...depois havia a imprensa regional da época e os contactos na polícia e no hospital…tudo era tido em conta.
Que equipamentos utilizavas e como era feito o envio para os estúdios na Guarda?
O envio era feito pelo telefone através de um OB, muito rudimentar, construído por mim, embora mais tarde utilizasse o Shure da Rádio Renascença, uma vez que estava a trabalhar também com eles na área da informação.
Aquilo era uma pequena caixinha que se ligava através de duas pinças à caixa do telefone…depois punha-se o gravador em formato de gravação para amplificar a voz e o som lá saia com qualidade, muito diferente do som normal de telefone…(também servia para gravar os correspondentes) porque recebia e enviava pelo mesmo modo …mais tarde vieram os híbridos telefónicos e tudo ficou mais simples
Asseguravas também a cobertura do desporto?
Penso também que sim, embora só as notícias…que eram depois escrutinadas pela equipa do desporto do RA, mas não fazia relatos
Em Viseu a tua atividade dinamizou várias iniciativas, que tiveram como palco o Rossio e a Feira de São Mateus. O que recordas desse período?
O aniversario do meu programa de rádio no Altitude…o “Tempo de Juventude” que era gravado em Viseu nos estúdios da Electro Carmo, que a empresa criou para eu poder gravar em Viseu as emissões.
Na festa da aniversário que decorreu no Pavilhão da Feira de S Mateus foram envolvidas várias associações de Viseu e contou com teatro, folclore e grupos musicais.
A Rádio Altitude decidiu, então, vir a Viseu nesse dia com o Antunes Ferreira e o Luís Coito para me entregarem pessoalmente nesse espetáculo a medalha dos 25 anos do RA.
Quais os/as colegas que recordas dessa época, em Viseu e na Guarda?
Na Guarda o Abel Vergílio, o Vaz Júnior, o António Pinheiro, o Emílio Aragonez, o Antunes Ferreira, o Luís Coito, o Luís Coutinho, o Padre Vergílio Arderius, o Francisco Carvalho e o Helder Sequeira, entre outros.
As pessoas identificavam-no no exterior, reconheciam a tua voz? Como era a reação das pessoas?
Tinha uma voz que era agradável, e as pessoas identificam-me pela voz …eu era o magrinho da voz forte
O teu percurso na Rádio passa também pela Guarda onde tiveste funções diretivas no Altitude. Era a época das novas estações de rádio e de novos desafios. O que significou para ti esse tempo?
Foi uma grande experiência para mim ter vindo da RDP para a direção da Rádio Altitude, a convite da então Governadora Civil da Guarda, Marília Raimundo e do Helder Sequeira… Na altura ainda funcionava a onda média, mas já tinham o FM, e eu criei duas programações distintas, uma para FM outra para Onda Média.
Vim também a dirigir a informação da rádio, criando uma agenda de serviços para cobertura de acontecimentos, mas os tempos eram outros… havia outras ferramentas…surgiram os primeiros computadores então oferecidos pela Governadora Civil que vieram facilitar em muito a missão.
Os jornalistas escreviam as notícias à mão, mais tarde na máquina de escrever e por fim nos computadores onde se podia guardar tudo…foi a revolução; na técnica também deixamos de gravar em fita para passar a gravar em computador o que simplificou as coisas.
Como vias a relação entre a Rádio e a Cidade/Região? Há algum episódio que te tenha marcado?
A Rádio Altitude tinha muito prestígio na cidade e na região. A voz do Altitude era respeitada por todos.
As pessoas ligavam para a rádio para dar a conhecer este ou aquele acontecimento…até nos acidentes era para nós que as vezes ligavam primeiro.
Para além do Altitude há também uma ligação profissional a outras estações, nomeadamente à Rádio Renascença? Fala-nos dessa atividade e das estações onde ocorreu o teu trabalho como jornalista.
Como já referi anteriormente a minha ligação à RR passa pelo Altitude…fui indicado pelo Antunes Ferreira, quando a RR criou a equipa nacional de correspondentes distritais.
A RA era o correspondente na Guarda da Rádio Renascença e eu era o Correspondente de Viseu.
Até agora qual foi a tua experiência mais positiva na rádio?
A mais positiva foi o ter de assegurar a direção geral de uma rádio em Viseu (Rádio No Ar) e reformatar toda a programação, criando tipologias de programas de acordo com o publico alvo /ouvintes do segmento rádio.
Ao organizar a equipa, consegui aperceber-me das vocações de cada um e todos foram colocados no lugar certo, executando as funções para as quais estavam vocacionados (animação, jornalismo/noticiários/ reportagem de rua, e entrevista em estúdio), pelo que o resultado final foi fabuloso. A rádio subiu as audiências e começou a faturar em publicidade.
A rádio do passado e do presente: diferenças, semelhanças, desafios?
Eu penso que no meio rádio no passado havia mais criatividade.
Os programas eram de autor, pensados e idealizados com muito cuidado. Escolhia-se criteriosamente a música a passar e os textos para complementar a produção dos conteúdos. Hoje as rádios passaram a ser playlists musicais...e são quase todas iguais nos conteúdos, o que é mau…faltam os programas de autor
Hoje é mais fácil o acesso à produção de programas de rádio?
É tudo mais fácil, devido às ferramentas existentes… as novas tecnologias. Hoje pode fazer-se rádio na Web a partir de casa, com pouco equipamento e muita qualidade. A informática veio revolucionar o meio rádio.
Atualmente, e sem perderes a tua ligação à música dos anos da tua geração, tens também trabalhado como DJ. Como surge esta faceta?
A atividade de DJ surge numa altura em que entro para o Grupo Media capital rádios, - Rádio Clube Português – Rádio Clube (projeto de rádio informativa) e M80 Rádio. Foi aqui que despertei a vocação de DJ ao ver os colegas de Lisboa a passarem música em festas da Rádio.
Aproveitei a minha passagem por Lisboa e tirei lá o curso de Dj no Centro de Formação para DJs da Pioneer (i4DJ). Tirei dois cursos e hoje passo música dos anos 80 em todo o lado. Cada noite é um sucesso!... Sou requisitado para muitas atuações, tendo os meses quase sempre fechados com datas para tocar, aos fins de semana.
É um trabalho que gostas de fazer?
Adoro pelo contacto com as pessoas, …depois é o tipo de música que faz mexer toda a gente.
Que outras coisas gostas de fazer nos teus tempos livres?
Oiço muito rádios estrangeiras temáticas, para ver as tendências e os estilos, gosto muito de ler, procuro estar ao par das inovações tecnológicas do meio rádio, e ver televisão, noticias, filmes e música.
Como vês hoje a Guarda? Acompanhas o que se passa aqui?
Não estou muito a par do que passa na Guarda atualmente, mas devo confessar que gosto muito das pessoas da Guarda… sempre me trataram muito bem e souberam respeitar o meu valor.
Achas que as cidades da Guarda e Viseu estão mais próximas?
Acho que sim, mas no campo político a aproximação devia traduzir-se em cooperações mais alargadas que fomentassem mais valias para ambas as cidades.
H.S.
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