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Hoje é assinalado o Dia Mundial do Rádio.
Recorde-se que esta data foi proclamada em 2011 pelos Estados-membros da UNESCO e adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 2012, como Dia Mundial da Rádio.
A UNESCO escolheu para celebração desta data o tema “O Rádio e as Alterações Climáticas”, considerando que numa “era marcada pela velocidade vertiginosa da inovação tecnológica o rádio está a entrar no segundo século de serviço como um dos meios de comunicação mais confiáveis e amplamente utilizados no mundo.”
Como todos sabemos, por todos os continentes se têm verificado inquestionáveis cenários de alterações climáticas, com as mais diversas e trágicas consequências. Os casos mais recentes confirmam esta afirmação e apontam, claramente, para uma preocupante realidade da qual não nos podemos alhear, coletiva e individualmente.
Neste dia, a UNESCO deixa o desafio para se dar maior enfâse aos factos que evidenciam as constantes manifestações das alterações climáticas, e também para uma reflexão e enriquecimento das fontes de informação sobre a temática.
É também pertinente a anotação que a UNESCO faz a propósito da definição, para as emissoras, de um plano de emergência climática. Esse plano “deve incluir mapeamento pré-preparado de áreas de risco; listas de contato de especialistas e autoridades para vários cenários de desastres; rotinas de resposta; instruções de segurança específicas para cada desastre natural”.
Acrescenta que ele também deve prever a manutenção de equipamentos necessárias para cenários de emergência para garantir fácil acesso a kits de sobrevivência e geradores para cortes de energia prolongados.
No texto divulgado sobre o Dia Mundial da Rádio, é reconhecido o papel essencial e o poder dos jornalistas e emissoras de exporem a desinformação climática, promoverem o diálogo informado e aumentarem a conscientização ambiental; através da produção de informações precisas e confiáveis.
Assinalar este dia e debater a temática proposta é assumirmos um verdadeiro compromisso com o futuro do nosso planeta, com o nosso futuro.
O Rádio não pode ficar indiferente.
Hélder Sequeira
O Dia Mundial do Rádio vai ser assinalado a 13 de fevereiro e a proposta comemorativa é centrada, este ano, nas alterações climáticas.
A UNESCO, e num momento em que o Acordo de Paris assume uma importância primordial, sublinha que o rádio contribui para a concretização dos seus objetivos internacionais; contributo que se pode traduzir no apoio às populações – perante os reflexos das alterações climáticas – divulgando informação objetiva, dando voz às pessoas, emitindo programas específicos sobre o papel individual, das instituições e dos poderes na defesa da natureza e do planeta. Lembramos que o Acordo de Paris é um tratado internacional sobre mudanças climáticas, adotado em 2015, que estabeleceu o compromisso de serem adotadas medidas para a redução de gases com efeito estufa.
Em todos os continentes se têm verificado inquestionáveis cenários de alterações climáticas, com as mais diversas e trágicas consequências. Os casos mais recentes confirmam estas palavras e apontam para uma preocupante realidade da qual não nos podemos alhear, coletiva e individualmente.
O Dia Mundial do Rádio foi proclamado em 2011 pelos estados-membros da UNESCO e adotado pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 2012, como data de celebração deste meio de comunicação social. A UNESCO, considera que “numa era marcada pela velocidade vertiginosa da inovação tecnológica o rádio entrou no segundo século de atividade como um dos meios de comunicação mais confiáveis e amplamente utilizados no mundo.” Isto para além de o rádio ser “um meio poderoso para celebrar a humanidade em toda a sua diversidade” e constituir “uma plataforma para o discurso democrático”.
Daí a UNESCO sublinhar, a propósito da comemoração do Dia Mundial do Rádio, que “na era da inteligência artificial, juntamente com as omnipresentes redes sociais, o rádio de qualidade continua a ser universal e popular, considerada o meio mais fiável. Para além de popularizar os conceitos ambientais, ao divulgar informação verificada e independente dos poderes económicos, ideológicos e políticos, a rádio pode influenciar a perceção dos ouvintes sobre as alterações climáticas e a importância dada ao tema”.
No contexto desta comemoração, a UNESCO divulgou algumas sugestões com vista à sua implementação por parte das estações emissoras de radiodifusão; deixa, assim, o desafio para se dar maior enfâse aos factos que evidenciam as constantes manifestações das alterações climáticas e, outrossim, à análise e enriquecimento das fontes de informação sobre a temática. Este cuidado por parte dos responsáveis pelas estações, seja qual for o seu âmbito, não deve ficar apenas pela programação a emitir nesse dia, mas deve ter uma desejada sequência com a participação, em antena, de especialistas.
Por outro lado, é também suscitada a necessidade de inquirir o que pensam os profissionais do rádio sobre as alterações climática, qual é o seu grau de informação e preocupação; para além desta sugestão, e no caso de não haver recursos para a realização de estudos quantitativos e qualitativos necessários para garantir uma programação especial, a UNESCO lembra a possibilidade do envolvimento de voluntários ou estudantes para a realização de entrevistas, existindo ainda possibilidade de recolher opiniões através do sítio do rádio na internet, por correio eletrónico ou nas redes sociais. Aliás, da informação recolhida podem resultar excelentes indicadores para novos conteúdos programáticos.
Ainda nesta linha de sugestões da UNESCO, para a comemoração do Dia Mundial da Rádio, é igualmente realçado que “além de explicações e soluções para as mudanças climáticas, há um grande número de histórias de negócios, notícias e factos de interesse público que se cruzam com outros temas”, sobre os quais é importante ouvir as pessoas, questionando-as sobre o que representam para elas as mudanças climáticas.
Os diretos a partir do exterior realçam o perfil da rádio e enriquecem a sua função social; no caso de existirem condições atmosféricas adversas, não esqueçamos que se pode pedir o envio de mensagens para a rádio através do correio de voz, registos áudio que transmitam o pensamento das pessoas, o seu grau de preocupação face às alterações climáticas e eventuais relatos de experiências individuais em cenários associados a essa mudança.
No conjunto de sugestões divulgadas pela UNESCO, a propósito do Dia Mundial da Rádio há um ponto intitulado “Prepare-se para a tempestade” onde é mencionado que “inundações, incêndios florestais, ondas de calor e outros eventos semelhantes” se tornaram tão frequentes que agora “as condições de trabalho são mais exigentes para emissoras e seus profissionais (…). Ao esforçarem-se para obter relatos em primeira mão de populações afetadas e tomadores de decisão, eles também serão expostos às mesmas condições climáticas extremas que a população no curso de suas reportagens”.
De referir, a propósito de perigos, que nos últimos 15 anos, foram mortos 44 jornalistas e registados 749 ataques em 89 países. A UNESCO publicou uma nota informativa com dados e tendências sobre os ataques a jornalistas, que inclui também um novo inquérito aos jornalistas sobre as ameaças que enfrentam quando cobrem questões ambientais. Mais de 70% dos jornalistas inquiridos relataram ter sofrido ataques, ameaças ou pressões. “Uma questão a abordar é, portanto, a importância da segurança dos jornalistas que informam o público sobre as alterações climáticas, particularmente os desafios que enfrentam.”
É oportuna a anotação feita a propósito da definição, para as emissoras, de um plano de emergência climática no Dia Mundial do Rádio (2025.) Esse plano, é descrito, “deve incluir mapeamento pré-preparado de áreas de risco; listas de contato de especialistas e autoridades para vários cenários de desastres; rotinas de resposta; instruções de segurança específicas para cada desastre natural”. Acrescenta que ele também deve prever a manutenção de equipamentos necessárias para cenários de emergência, mormente geradores para cortes de energia prolongados.
Esta uma necessidade a que, em anterior apontamento sobre as estações de radiodifusão sonora, fizemos já referência; em episódios de falta de energia, se a rádio não tiver outra alternativa ao dispor, fica sem emissão e as populações sem um canal informativo onde poderão obter indicações essenciais, precisas e claras e cuja utilidade num contexto de catástrofe nunca será demais relembrar.
No texto divulgado sobre o próximo Dia Mundial do Rádio, é reconhecido o papel essencial e o poder dos jornalistas e emissoras de exporem a desinformação climática, promoverem o diálogo informado e aumentarem a conscientização ambiental; através da produção de informações precisas e confiáveis. Outra interessante sugestão, para o referido dia, é a transmissão de sons ambientais da natureza; uma audição oportuna que proporcionará um maior envolvimento dos ouvintes na celebração do dia e da temática subjacente; há uma "Biblioteca de Sons" publicada para o Dia Mundial do Rádio. Isto não inviabiliza que as emissoras possam e devam estruturar bancos de sons sobre mudanças climáticas, arquivando registos áudio adaptados aos seus programas e às realidades ambientais das zonas onde estão inseridas.
A praticamente três semanas do Dia Mundial do Rádio, deixamos algumas anotações no sentido de o tema escolhido para este ano ser devidamente assinalado, num verdadeiro comprometimento com o futuro do nosso planeta, do nosso futuro. O Rádio não pode ficar indiferente.
Hélder Sequeira
in O INTERIOR, 22 janeiro 2025
A 21 de outubro de 1947 (completam-se hoje 77 anos) foram definidas na Guarda as orientações para o indispensável e normal desenvolvimento das emissões radiofónicas da futura estação CSB-21, propriedade da Caixa Recreativa do Sanatório Sousa Martins.
O regulamento aprovado pelo médico guardense Ladislau Patrício (à época, Diretor do Sanatório Sousa Martins e por inerência o primeiro diretor da Rádio Altitude) para além da informação que nos transmite sobre a vivência radiofónica de então e a forma como era desenvolvida – a par das preocupações de balizar os conteúdos programáticos das emissões – remete-nos para um tempo onde se solidificavam os alicerces da Rádio Altitude (RA), cuja inauguração oficial ocorreu a 29 de julho do ano seguinte, como sabem os nossos leitores.
Ladislau Patrício desde cedo percebeu a importância, o alcance e o papel social da Rádio, reforçando essa perceção através dos contactos regulares e das viagens ao estrangeiro; conciliou, por outro lado, aquilo que defendeu na sua obra “Altitude – o espírito na medicina” com uma atividade ocupacional dos doentes capaz de valorizar os seus conhecimentos e capacidades individuais. Nesse regulamento de 1947 era definido o objetivo de proporcionar aos doentes “certas distrações compatíveis com a disciplina do tratamento”.
Ao longo das décadas seguintes, as normas orientadoras da RA sofreram as necessárias alterações em função das subsequentes realidades técnicas e, obviamente, dos próprios recursos humanos; as estratégias das sucessivas direções foram modificadas quer com o alargamento do espetro radioelétrico, quer com o início das emissões em frequência modulada (FM), quer com os horizontes abertos após a utilização da internet e da introdução das novas tecnologias de informação.
Atualmente, esta rádio, à semelhança de outras, confronta-se com novos desafios, impostos não só pelas profundas mudanças tecnológicas, mas também pelas novas realidades económico-financeiras, num contexto de drástica redução das receitas publicitárias, agravado por diversificados encargos resultantes de exigências específicas da legislação em vigor. Estas dificuldades têm condicionado a existência de muitos órgãos de informação e, como é do domínio público, ao longo dos últimos anos desapareceram várias emissoras locais e jornais regionais…um verdadeiro drama…
As entidades governamentais conhecem esta realidade. Há dias, e na apresentação do Plano de Ação Para a Comunicação Social, o Governo reconhecia que este sector “enfrenta hoje desafios globais que decorrem da mudança de hábitos de consumo de informação, de alterações tecnológicas e da falência do modelo de negócio dos media tradicionais”, acrescentando não esquecer a responsabilidade do Estado em “reforçar o serviço público e garantir uma comunicação social sustentável, livre, independente e pluralista.”
No documento apresentado, é reconhecido que “as evoluções tecnológicas dos meios e o acesso digital de todos, não são compatíveis com um conjunto de legislação simultaneamente desatualizada e complexa. A desigualdade de capacidades entre grandes grupos e pequenos OCS regionais ou locais tem vindo a agravar-se”. Daí que a legislação a rever e a integrar no futuro Código da Comunicação Social englobe a Lei de Imprensa e Estatuto da Imprensa Regional, a Lei da Rádio e a Lei da Transparência dos Media e Decreto dos Registos, entre outras.
Como já referimos anteriormente, é expressivo o número de estações emissoras que desapareceram ou foram absorvidas por grandes grupos, convertendo-as em meros retransmissores.
Este declínio contraria e anula o espírito que esteve subjacente à legalização das rádios locais e à preocupação em servirem as suas comunidades; incrementando a informação, o debate, a valorização do seu património e costumes, a salvaguarda do pluralismo, a defesa da democracia, o exercício responsável do jornalismo.
António Borga afirmou no V Congresso dos Jornalistas que “o jornalismo não é um negócio. O jornalismo é uma atividade de utilidade social e interesse público”. Na mesma linha, e na mensagem dirigida, então, aos jornalistas portugueses a Vice-Presidente da Comissão Europeia considerava que a “informação é um bem público, cabendo às democracias proteger os jornalistas”; defendeu, ainda, que é necessário “encontrar soluções a nível europeu e internacional” para a crise do jornalismo, acrescentando a necessidade de serem e incentivar investimentos públicos, que “respeitem a independência e o pluralismo” da atividade.
Nestas colunas – e voltando a centrar-nos nas rádios locais – defendemos já que a qualidade dos conteúdos informativos aliada à independência e isenção é fundamental para a reaproximação dos públicos; estes, permitam sublinhar, não podem ter uma atitude de indiferença perante os media. O apoio passa, desde logo, por se assumirem como ouvintes (e leitores dos sítios na internet e redes sociais) regulares, ativos, críticos, com rosto (e não escondidos no anonimato).
Será com o empenho e contributo de todos – responsáveis pelas rádios, jornalistas, animadores de emissão, estado, instituições, empresas, cidadãos – que o cenário hoje existente pode ser alterado, para bem das emissoras e da democracia; num esforço convergente onde se privilegie a informação de proximidade, uma mais ampla cobertura do que mais significado tem e interessa às comunidades locais e regionais, uma programação diferenciada e aferida pela qualidade dos conteúdos. Só assim sentiremos novas ondas na Rádio, um meio que continua a ter um lugar no presente e no futuro, desde que se saiba reinventar, apreender as mudanças e adaptações necessárias, assegurar os indispensáveis suportes para a sua sustentabilidade.
Hélder Sequeira
in O INTERIOR, 16|out|2024
A Rádio Altitude é uma marca indissociável da Guarda e desta vasta região da beira serra; uma marca que importa honrar, preservar e afirmar continuamente como meio de comunicação social.
Olhar para o seu passado não representa um mero exercício ritualista ou saudosismo lamechas; deve, sim, constituir um ato de reflexão sobre os contributos vertidos na história desta rádio. Como afirmámos noutra ocasião, estamos perante uma emissora de muitas vozes e rostos, de sonhos, de distintas colaborações; esta é uma emissora de afetos, de ideias, de originalidades; uma emissora com espírito solidário que lhe deu alma desde os longínquo ano de 1948.
A sua génese, a sua longevidade, o seu percurso ímpar e a sua matriz beirã conferem-lhe um estatuto especial, mas também uma maior responsabilidade. Atualmente as emissões radiofónicas passam em larga medida, pelo meio digital, num recurso cada vez mais ligado às modernas aplicações e tecnologias.
Por outro lado, hoje a Inteligência Artificial (IA) apresenta novos caminhos para mais eficiência e múltiplas vantagens ao nível da melhoria da programação e interação com os ouvintes. Para além da automação das emissões a IA apresenta-se como forte apoio para produção de notícias, definição da sequência musical e de conteúdos programáticos convidativos e heterógenos.
Embora se deva ter em conta que a Inteligência Artificial pode ser um precioso auxiliar dos profissionais não pode ser esquecida a essência da Rádio. A humanização deste meio de comunicação é fundamental e as pessoas não podem ser afastadas do seu processo evolutivo.
É fundamental que a função social da rádio continuar a prevalecer, mesmo face ao desenvolvimento das tecnologias da informação. Assim, não é apenas no plano das ondas hertzianas que tem de ser posicionada a proposta radiofónica; a rádio tem de assegurar uma estratégia rigorosa e clara no vasto horizonte da emissão online.
O fortalecimento da sua presença será sustentado, em larga medida, pela atenção à realidade social, económica, cultural e política da região onde a Rádio está sediada. As pessoas, para além do entretenimento ou companhia que a rádio lhes proporciona, querem boas condições de audição, uma informação rápida, em cima da hora ou do acontecimento de proximidade; querem igualmente um interlocutor atento, objetivo e credível, uma rádio com gente dentro, de entrega a um serviço público, solidário, afetivo.
Uma rádio que questione, esclareça, atue pedagogicamente, aponte erros, noticie triunfos, sinta e transmita o pulsar da região, chame a si novos públicos. Claro que não é um trabalho fácil, mas o êxito constrói-se com competência, perseverança, humildade, diálogo, criatividade e sentido de responsabilidade.
Ao comemorar-se o septuagésimo sexto aniversário da Rádio Altitude, devemos felicitar os seus atuais elementos e homenagearmos os múltiplos contributos pessoais e coletivos que guindaram a RA a uma posição de destaque no panorama radiofónico português.
Como dissemos no início deste breve apontamento, a Rádio Altitude é uma marca informativa e cultural da nossa região e da cidade; marca que não deve ser esquececida. A emissora será aquilo que quiserem os seus profissionais, se os sonhos e projetos forem consistentes, arrojados, capazes de garantirem a apaixonante magia da rádio e de ganharem o futuro.
Parabéns Rádio Altitude.
Hélder Sequeira
Ontem, dia 21 de outubro de 2023, subiu à cena, no palco do Grande Auditório do Teatro Municipal da Guarda, a peça “Guarda a nossa Rádio”.
Esta peça é, ante de mais, a celebração da rádio e, simultaneamente, uma proposta de reflexão sobre a função social deste meio de comunicação; sobretudo em regiões do interior onde nunca serão de mais as vozes que possam dar voz às populações, aos valores culturais e históricos, ao presente, aos sonhos do futuro.
A rádio continua a ter um papel fundamental na informação local e regional, na defesa da identidade destas terras e gentes. Nesta peça – cujo texto pode ser adaptado ou interpretado em diferenciados contextos geográficos, onde a rádio esteja presente – o espetador é levado para um estúdio de Rádio, onde há vozes, músicas, memórias, sentimentos, sonhos, paixão, afetos; é desafiado a assistir a um programa de rádio, numa noite especial, onde se cruzam três gerações e que proporciona a revisitação de múltiplas estórias; a evocação de distintas vivências marcadas pela magia da rádio. No final há uma inesperada revelação e um comovido apelo para que a rádio se continue a reinventar e afirmar no futuro…
O próximo dia 21 de outubro é uma data com um significado particular no historial da Rádio Altitude (RA), que está a comemorar o 75º aniversário. Isto porque no ano de 1947 era aprovado um regulamento onde estavam definidas as orientações para o indispensável e normal desenvolvimento das emissões radiofónicas da futura estação CSB-21.
Para a estação emissora da Caixa Recreativa do Sanatório Sousa Martins era definido o objetivo de proporcionar aos doentes “certas distrações compatíveis com a disciplina do tratamento”, acrescentando-se que a estação iria funcionar “sob administração direta da Comissão Administrativa, que nomeará um dos seus membros para Diretor dos respetivos serviços”.
De acordo com o referido regulamento, o diretor dos serviços tinha a seu “cargo a orientação geral das emissões e as regras que presidem à administração corrente, mas a criação de receitas e a realização de despesas terão de ser aprovadas segundo os termos normais da Caixa Recreativa”.
Num dos artigos determinava-se que “os produtores, locutores e operadores serão pessoas em condições suficientes de saúde para exercerem as respetivas funções e os nomes serão apresentados à Direção do Sanatório para aprovação”; a antecipada e cuidada organização (com 48 horas de antecedência) dos programas constituía uma das exigências que integravam o documento, “embora sem prejuízo da atualidade que os assuntos podem merecer.”
Aos locutores era recomendado que falassem de harmonia com os programas que teriam sob a sua responsabilidade “e não poderão exceder-se em trabalho nem levantar a voz”, sendo referido que “os operadores deverão colaborar com os locutores da maneira mais adequada e conducente à boa realização dos programas” e estipulada a permissão de serem acumuladas na mesma “pessoa as funções de produtor e locutor”.
Este regulamento não era totalmente alheio ao contexto político e social da época; daí que, embora ficasse garantida aos produtores dos programas a “liberdade na escolha dos assuntos”, fossem alertados para o facto de não serem permitidos “assuntos de ordem política”, mas eram consentidos “assuntos de ordem religiosa, desde que acatem os princípios católicos”.
Outra norma orientadora – o que se compreende face ao circunscrito auditório dessa época – dizia respeito à indicação de que não deviam “ser escolhidos temas pessimistas ou de orientação prejudicial à boa disposição dos doentes”.
Um artigo do regulamento da Rádio Altitude fazia menção específica ao programa “Simpatia”, o qual era “preenchido com os discos pedidos pelos radiouvintes”; esse espaço radiofónico não devia “exceder metade da emissão total, enquanto for organizado diariamente”. Por outro lado, “as dedicatórias que acompanhem os pedidos” tinham de ser escritas “por forma a facilitar a locução” e não poderiam “ir além de 50 palavras, tratando-se de prosa, ou de 16 versos, se os solicitantes adotarem poesia”.
No mesmo artigo era clarificado que as dedicatórias deveriam “ser corretas e de harmonia com o carácter de relações existentes entre pessoas decentes”, tendo de ser apresentadas até às 14 horas. “As dedicatórias que forem entregues depois dessa hora não serão transmitidas no próprio dia.”
Este regulamento, aprovado por Ladislau Patrício (que era o Diretor do Sanatório Sousa Martins e desde cedo percebeu a importância e o alcance da Rádio), para além da informação que nos transmite sobre a vivência radiofónica de então e a forma como era desenvolvida, a par das preocupações de balizar os conteúdos programáticos das emissões, remete-nos para um tempo onde se solidificavam os alicerces da emissora. A inauguração oficial da rádio ocorreria, como é sabido, a 29 de julho do ano seguinte.
Interessante coincidência é a estreia no palco do Grande Auditório do Teatro Municipal da Guarda da peça “Guarda a nossa Rádio”, no próximo sábado – 21 de outubro -data em que passam 76 anos a aprovação do primeiro regulamento da RA.
Esta peça é, ante de mais, a celebração da rádio e, simultaneamente, uma proposta de reflexão sobre a função social deste meio de comunicação; sobretudo em regiões do interior, como esta zona da Beira Serra, onde nunca serão de mais as vozes que possam dar voz às populações, aos valores culturais e históricos, ao presente, aos sonhos do futuro.
A rádio continua a ter um papel fundamental na informação local e regional, na defesa da identidade destas terras e gentes. Nesta peça – cujo texto pode ser adaptado ou interpretado em diferenciados contextos geográficos, onde a rádio esteja presente – o espetador é levado para um estúdio de Rádio, onde há vozes, músicas, memórias, sentimentos, sonhos, paixão, afetos; é desafiado a assistir a um programa de rádio, numa noite especial, onde se cruzam três gerações e que proporciona a revisitação de múltiplas estórias; a evocação de distintas vivências marcadas pela magia da rádio. No final há uma inesperada revelação e um comovido apelo para que a rádio se continue a reinventar e afirmar no futuro.
Há referências especiais, nomes e vozes que serão percetíveis aos espetadores. Essas personagens, como referi anteriormente, dão ao espetador a liberdade de as associar a outras vivências. São os afetos e a paixão pela Rádio que alimentam os diálogos, as memórias.
Deixamos, aos leitores, o convite para celebrarem também a rádio e para a conhecerem por dentro; para entrarem no estúdio, reterem gestos e movimentos, penetrando nos pensamentos de quem está frente ao microfone, perante muitos rostos imaginários que estão do outro lado.
A sua presença será uma manifestação do apreço pela rádio, pela sua história, pela sua importância na sociedade de hoje; será também a expressão de que estão empenhados na Guarda da rádio e naquilo que ela significa enquanto memória coletiva.
Hélder Sequeira
in O Interior | 18-out-2023
O futuro da rádio – alicerçado em pilares de competência, profissionalismo e experiência – passa pela sua reinvenção e perceção da sua inconfundível magia.
Ouça aqui.
No dia 29 de julho de 1948 começaram na Guarda as emissões oficiais da Rádio Altitude, uma das mais antigas estações portuguesas que tem mantido a mesma designação e emissões contínuas a partir dessa data.
Esta emissora “iniciou a sua sessão e, com ela, a sua vida oficial transmitindo depois do disco indicativo da estação, a saudação Salvé Rádio Altitude! proferida pela menina Aurora da Cruz, que foi escolhida para madrinha do Posto Emissor. Falou, em primeiro lugar, o Sr. Carlos Alberto Pereira, Vice-Presidente da Caixa Recreativa, que – anunciado pelo locutor de serviço com palavras de justa homenagem e consagração – começou por dizer: Rádio Altitude, posto emissor deste Sanatório, vai ser inaugurado oficialmente, depois de um período em regime experimental”. Assim noticiou o Bola de Neve, um jornal editado no Sanatório Sousa Martins.
Como escrevemos no livro “O Dever da Memória – Uma Rádio no Sanatório da Montanha” (publicado em 2003), a Rádio Altitude é uma emissora com interessantes particularidades, originada no seio das experiências radiofónicas que ocorreram no Sanatório Sousa Martins, cerca de 1946. Nessa altura, as rudimentares emissões circunscreviam-se ao pavilhão do Sanatório onde estava concentrado o grupo de doentes (de tuberculose) pioneiros deste projeto; apenas com a construção de novo emissor foi ganhando dimensão a aventura radiofónica.
No ano de 1947, o médico Ladislau Patrício (segundo diretor do Sanatório Sousa Martins), aprovou (a 21 de outubro) o primeiro regulamento da emissora, onde estavam definidas algumas orientações muito claras sobre o seu funcionamento; em finais desse ano as emissões já eram escutadas na malha urbana da Guarda. O início oficial das emissões regulares ocorreu, como atrás foi dito, em 29 de julho de 1948; um ano depois (1949) foi-lhe atribuído o indicativo CSB 21, identidade difundida por várias décadas.
Luis Coutinho num dos estúdios iniciais da Rádio Altitude.
A propriedade do primeiro emissor pertenceu, inicialmente, à Caixa Recreativa dos Internados no Sanatório Sousa Martins e mais tarde ao Centro Educacional e Recuperador dos Internados no Sanatório Sousa Martins (CERISSM). Com a criação do CERISSM pretendeu-se auxiliar os doentes, especialmente no que dizia respeito “à sua promoção social e ocupação dos tempos livres”. Aliás, foi no seio dos sanatórios que surgiram originais projetos radiofónicos – como seja a Rádio Pólo Norte (maio de 1939) no Sanatório do Caramulo, e a Rádio Pinóquio, no Sanatório das Penhas da Saúde (Covilhã), para referirmos os mais próximos. Noutros contextos, nomeadamente geográficos, foram instituídas outras emissoras, de âmbito regional ou local; em maio de 1948 o Posto Emissor do Funchal tinha iniciado as suas emissões e já no ano anterior, mês de outubro, tinha começado a emitir oficialmente a Rádio Clube Asas do Atlântico (com o indicativo CSB-81).
Na Guarda, o CERISSM foi uma autêntica instituição de solidariedade; para além de viabilizar a afirmação e implantação da Rádio Altitude, desenvolveu uma vasta obra assistencial, sobretudo sob o impulso do médico Martins de Queirós, (o quarto e último diretor do Sanatório guardense).
Em 1961, mediante autorização oficial, a Rádio Altitude passou a ter como suporte económico-financeiro as receitas publicitárias, que em muito contribuiriam para o auxílio dos doentes mais carenciados. As emissões da rádio guardense evoluíram, ao longo das primeiras décadas em função das disponibilidades técnicas, dos recursos humanos e financeiros, mas encontrando sempre no, crescente auditório, uma grande simpatia e um apoio incondicional.
Até 1980 a Rádio Altitude emitiu na frequência de 1495 Khz, em onda média (abrangendo não só o distrito da Guarda, mas igualmente os distritos de Viseu e Castelo Branco e algumas das suas áreas limítrofes), altura em que a sua sintonia passou a ser feita no quadrante dos 1584 khz. Após 1986, e com a liberalização do espectro radioelétrico passou a emitir também em frequência modulada (FM), em 107.7 Mhz, alterada, em 1991, para os 90.9 Mhz, que mantém na atualidade.
No ano de 1998, depois de ter sido determinada a extinção do Centro Educacional e Recuperador dos Internados no Sanatório Sousa Martins, foi decidida a realização de uma consulta pública, com vista à “transmissão da universalidade designada Rádio Altitude”, considerada a “única estrutura em funcionamento do ex-CERISSM”. A estação emissora entrou assim, com a sua aquisição por parte da Radialtitude–Sociedade de Comunicação da Guarda, num capítulo novo da sua existência, mantendo a ligação física ao antigo espaço do Sanatório Sousa Martins, hoje designado Parque da Saúde.
Celebrar o 75º aniversário das emissões regulares da RA é lembrar que estamos perante uma rádio muito especial para a Guarda e região da beira serra, sendo uma inquestionável referência na história da radiodifusão sonora em Portugal. Uma rádio de afetos, memórias, vivências, dedicação, serviço público, criatividade, formação, espírito solidário. Uma rádio que, sem sombra de dúvidas, permanece na memória coletiva das gentes beirãs.
Esta é uma emissora associada a muitas vozes e rostos, a sonhos, diferenciados contributos, afetos, ideias, originalidades, presenças e solidariedade. A sua génese, a longevidade, o percurso ímpar e a matriz beirã conferem-lhe um estatuto especial, transformando-a num ex-libris da Guarda.
Este é o tempo de honrarmos os múltiplos contributos pessoais e institucionais que foram engrandecendo a RA, sem cairmos em atitudes derrotistas ou de confronto estéril; privilegiando, obviamente, uma postura de crítica construtiva, afirmada objetivamente e protagonizada sem tibiezas ou sob a capa do anonimato.
Escrevemos sobre uma rádio com um historial ímpar; uma estação por onde passaram muitos profissionais e colaboradores; uma emissora que foi uma autêntica escola de rádio e jornalismo, laboratório de muitos projetos radiofónicos, de que o Escape Livre (o mais antigo programa sobre automobilismo em Portugal) é um excelente exemplo.
É toda uma história que implica uma maior responsabilidade a quem faz, atualmente, esta rádio. Desejamos, muito sinceramente, que a efeméride assinalada seja um marco de reafirmação da rádio, uma celebração das suas potencialidades, a entrada numa fase de conquista do futuro, mantendo a essência da rádio, uma atitude profissional, pluralismo, qualidade de conteúdos programáticos e plena consciência da eminente função social
Parabéns à Rádio Altitude !
Helder Sequeira
O panorama atual das rádios portuguesas é substancialmente diferente daquele que era vivido há duas ou três décadas. Houve uma seleção natural das estações nascidas sob o alvor da regulamentação do espectro radioelétrico, face a condicionalismos de vária ordem; mormente da necessidade de serem afirmados projetos pautados pelo profissionalismo, com um esclarecido entendimento da função social da rádio.
O suporte económico-financeiro não deixou de ser um fator importante, sobretudo em zonas de baixa densidade populacional, como a nossa, onde as fontes de receita proporcionadas pela publicidade diminuíram de forma drástica. A pandemia fez-se também notar de forma impiedosa, ainda que chamando a atenção para novas fórmulas de desenvolvimento do trabalho na rádio.
A diminuta fatia (quando existente) da publicidade institucional acentuou ainda mais a preocupante realidade de muitas estações. Os projetos radiofónicos não evoluem se não for garantida a sua sustentabilidade financeira, a sua autonomia e, simultaneamente, criadas dinâmicas capazes de reforçarem a qualidade dos conteúdos programáticos, ampliarem audiências, aproximarem-se dos seus destinatários e interlocutores.
Será oportuno recordar que nos fins genéricos da atividade de radiodifusão se inscreve a obrigação de contribuir para a informação do público, garantindo aos cidadãos o direito de informar, de se informar e de ser informado, sem impedimentos nem discriminações. Por outro lado, a lei estabelece que às rádios compete contribuir para a valorização cultural da população, assegurando a possibilidade de expressão e o confronto das diversas correntes de opinião, através do estímulo à criação e à livre expressão do pensamento e dos valores culturais que traduzem a identidade nacional.
O debate em torno do perfil da rádio, na atualidade e no futuro, tem suscitado posturas diferenciadas, mas convergentes quanto à sua continuidade. Para alguns, a rádio tem de resistir à tentação de perder a sua credibilidade na concorrência diária que enfrenta com as redes sociais e media socias. Essa credibilidade passa pelo rigor e salvaguarda permanente da sua função informativa, pela ação ao nível do entretenimento, nas várias vertentes.
Tendo em consideração a constante evolução tecnológica e as tendências dos consumidores, é também defendido que caminhamos para a existência de menos rádios físicas e mais virtuais; para uma rádio interativa no plano musical, com a escolha por parte do ouvinte. Este cenário faz emergir novas exigências para os seus profissionais que têm de estar dotados de competências ao nível da utilização das redes sociais, da edição de áudio e vídeo relativa aos seus trabalhos; sejam peças informativas, sejam as intervenções específicas na programação regular.
Não esqueçamos que a humanização da rádio é fundamental; as pessoas não podem ser afastadas do processo evolutivo e do plano radiofónico. Um radialista espanhol escrevia, a este propósito, que quanto mais complexa é a tecnologia mais se valorizam os conteúdos humanos que existem no seu interior. Assim, importa evidenciar e valorizar a importância da voz na rádio, a presença do animador de emissão, que nos envolva no fascínio da rádio; o qual não é incompatível com a adequação das suas emissões a novas plataformas e meios de receção.
Longe vai o tempo da mobilidade que o transístor nos permitia; hoje o telemóvel está presente no nosso quotidiano, ultrapassando largamente a função de fazer ou receber chamadas. É arquivo, é meio de consulta e informação, meio de registo áudio ou vídeo, elo permanente de ligação com o mundo. A audição da rádio passa, igualmente, pelos dispositivos móveis. A rádio não pode olvidar estes novos recetores e a adequação das suas emissões para estes equipamentos; adequação que pode ser complementada com aplicações que agilizem e agendem alertas para programas, notícias, trabalhos específicos que interessem ao cidadão.
Neste contexto é fundamental centrar a atenção nos conteúdos programáticos. Percebe-se, cada vez mais, que o ouvinte escolha perfis identitários numa emissora onde a diferença da oferta informativa e musical constitua uma possibilidade de opção face à uniformidade das propostas radiofónicas; geralmente com a exaustiva repetição de músicas, com a sucessiva reedição de temas de política nacional ou local, com demasiado peso da opinião de comentadores, com a redundância de temáticas que podem ser gratas aos intervenientes de um espaço de debate radiofónico, mas não têm o mesmo interesse para a generalidade de quem escuta.
Escrevíamos, nas linhas anteriores, que os conteúdos humanos são fundamentais, mesmo com o atual quadro tecnológico. De facto, é por uma rádio com gente dentro, por uma rádio atenta à realidade local dando expressão a quem tenha algo de novo e diferente para dizer, que passa também o futuro da rádio, muito para além dos limites definidos pelas ondas hertzianas.
Aliás, “O Rádio sem Onda – convergência digital e novos desafios na radiodifusão” é o sugestivo título de um livro de Marcelo Kischinhevsky; uma publicação onde foi feita uma síntese da trajetória do rádio nas últimas décadas e de alguns caminhos para o futuro (alguns já do presente), onde ficam balizados o podcasting ou o rádio digital por assinatura.
Estes novos cenários da rádio devem merecer a indispensável atenção de forma que se potenciem recursos humanos, agilizem estratégias, se alcancem objetivos de audiência e se garanta uma posição de vanguarda. Claro que não podemos ser redutores quanto à questão de a rádio tradicional ter limites temporais na sua existência, nem ficarmos presos ao debate se a o rádio na internet é rádio.
Esta atividade não se pode alhear da evolução tecnológica, por um lado, nem alimentar, por outro, a ideia sublinhada por muitos de que o rádio tradicional ficará obsoleto como os discos de vinil. Não é verdade, muito menos para este exemplo, pois sabemos que o vinil emergiu com uma nova força e qualidade sonora.
Uma boa e completa informação (distribuída equilibradamente ao longo da emissão), numa estação de rádio, reforça a sua presença na zona onde se insere, atribui-lhe identidade, e visibilidade no contexto global. Como têm defendido vários investigadores da área dos media, “a força do jornalismo numa emissora de rádio local é o instrumento que lhe dá a sensação de plenitude local e regional”. A informação a privilegiar pela rádio local é a que está relacionada aos acontecimentos da proximidade; na opinião de Cebrián Herreros "o mais importante é cobrir as notícias que os demais não dão", mesmo que menos sensacionais.
O êxito de uma estação de rádio, em especial neste espaço geográfico do interior do país, passa por um entendimento objetivo dessa realidade e pela permanente aproximação e interação com a mesma. Desde logo com os setores populacionais circunscritos ao meio rural e que, não seguindo conteúdos informativos do meio televisão – por variadas razões – encontram na rádio a companhia diária, um interlocutor de proximidade, uma maior identificação.
Este trabalho das rádios implica um grande labor diário, uma permanente formação, atualização, a par de uma imprescindível interpretação dos contextos sociais, culturais, políticos e económicos. Um trabalho sério e isento, equidistante, sem declinar, naturalmente, uma salutar relação profissional sempre com a devida consciência das normas deontológicas e éticas.
O futuro da rádio – alicerçado em pilares de competência, profissionalismo e experiência – passa pela sua reinvenção e perceção da sua inconfundível magia.
Helder Sequeira
in jornal O Interior, 21_junho_2023
A data de 13 de fevereiro foi designada em 2011 pelos estados-membros da UNESCO como Dia Internacional do Rádio. No ano seguinte esta escolha seria validada pela Assembleia Geral das Nações Unidas.
A opção por esta data fica a dever-se ao facto de ter sido neste dia, em 1946, que a Rádio das Nações Unidas emitiu, pela primeira vez, um programa em simultâneo para um grupo de seis países.
Por esse ano ocorriam, na Guarda, as primeiras experiências de radiodifusão sonora, as quais estiveram na origem da Rádio Altitude. Evocar esta data é, também, exercer o dever de memória para com o pioneirismo da Guarda no campo da radiodifusão sonora.
Um pioneirismo materializado num projeto definido, oficialmente, em 1948 com as emissões regulares desta emissora; estação que continua a emitir e assinala o septuagésimo quinto aniversário.
Este ano, o dia 13 de fevereiro é celebrado sob o tema "O rádio e a paz", como alerta para a necessidade de um meio de comunicação forte e independente; de forma a sublinhar o seu papel na garantia da paz e da estabilidade.
No Dia Mundial da Rádio a UNESCO destaca as emissoras como pilares para a prevenção de conflitos e construção da paz; na atual conjuntura mundial faz todo o sentido evidenciar a função social da rádio e a responsabilidade de quem lhe dá voz e conteúdo.
O tempo presente continua a ser da rádio! De uma rádio cada vez mais interventivo que saiba construir o futuro. Deverá ser também o tempo de darmos uma nova e objetiva atenção às estações de radiodifusão existentes no interior de Portugal.
Onde muitas rádios foram perdendo o dinamismo inicial, esbatendo a identidade, afastando-se do quadro legislativo que definiu os seus objetivos, assumindo – em tantos casos – uma passiva retransmissão de outros canais.
É também o tempo de serem apoiadas as estações que, apesar das múltiplas dificuldades continuam “no ar” e que, infelizmente, apenas são lembradas no formalismo de datas comemorativas.
Apoiar estas emissoras é um imperativo moral e ato de justiça, pelo seu papel de serviço público que desenvolvem em prol das populações.
A rádio continua a ser indissociável das nossas vidas.
Helder Sequeira
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