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Emílio Aragonez, que hoje completa 88 anos, foi durante décadas uma das vozes mais populares das emissões radiofónicas feitas, em onda média, a partir da cidade mais alta de Portugal.
por Helder Sequeira
Personalidade com profundas ligações à Rádio Altitude, Emílio Aragonez nasceu em 21 de setembro de 1934, em Portalegre. Para a Guarda veio com cinco anos. Posteriormente, face às contingências resultantes da atividade profissional do pai, foi viver para Cascais, Pinhel, Peniche e Seia, após o que ocorreu o regresso definitivo à Guarda.
Com onze anos começou a trabalhar na Ourivesaria Correia, na Guarda. “Fui para lá ganhar 80 escudos por mês e passados dois meses fui aumentado para cem”. As aulas no Liceu ficaram para trás, pois os horários não eram compatíveis com o trabalho; o estudo circunscreveu-se ao período da noite. Emílio Aragonez frequentou o Colégio de S. José, a Escola Comercial e Industrial e a Escola dos Gaiatos, nesta cidade.
Aos dezoito anos abriu o seu primeiro estabelecimento comercial, na Rua 31 de Janeiro. Três anos depois mudou-se para a Rua do Campo, instalando-se no antigo espaço da Espingardaria Sport, que pertencera a um antigo chefe da Polícia; iniciava-se um ciclo de atividade na área da relojoaria e ótica; contudo, circunstâncias diversas contribuíram, muitos anos depois, para o abandono da vida comercial e empresarial. Ficou, deste modo, aberto o caminho para uma dedicação total ao jornalismo e à rádio.
Desde os dezanove anos que mantinha, aliás, uma permanente paixão pela Rádio Altitude, onde começou a colaborar no início da década de cinquenta. “Foi aberto concurso para pessoas externas ao Sanatório, concorri e fui admitido. Para mim era um desafio. Trabalhava durante o dia e à noite ia para a Rádio, a apresentar discos pedidos, que eram imensos. Contudo isto representava o início da concretização de um sonho, de estar ligado à rádio e à informação”.
Nos primórdios da sua atividade radiofónica teve por companheiros alguns dos internados no Sanatório Sousa Martins. “Havia, naturalmente, muito receio deste contacto com os doentes”, temor a que não escapava a própria cidade. Os tuberculosos eram cuidadosamente evitados pela generalidade da população da cidade, onde, então, se via muita pobreza. “Recordo-me de haver largas dezenas de pessoas que se dirigiam ao Lactário para obterem o leite destinado à alimentação dos filhos; iam buscar a sopa à Cozinha Económica, na altura a funcionar noutras instalações. Aos dias de mercado, sobretudo, apareciam muitos rapazes e raparigas descalços e isso já diz muito sobre a realidade social”.
Nessa época, as emissões da Rádio Altitude eram à noite, tendo depois passado a existir um espaço na hora do almoço. “Comecei também a fazer algumas das emissões desse horário, mas o trabalho mais alargado era aos fins-de-semana, dado que alguns doentes faltavam; havia um que tinha um programa desportivo, outro era responsável por um programa vocacionado para as questões culturais e um outro realizava o “Vento do Norte”, que foi um programa muito polémico”.
Predominavam os programas de discos pedidos, os quais registavam uma permanente avalanche de solicitações, cujo atendimento se ia prolongando por semanas sucessivas. “Eram tantos os pedidos e o espaço tão reduzido que era colocado um disco num dia e outros em programas posteriores. Por vez para se ouvirem quatro dedicatórias tinha de se esperar um mês”, lembrava (numa entrevista que registámos há alguns anos) Emílio Aragonez, mais tarde rendido ao fascínio das reportagens.
Nesse período, e anos subsequentes, havia regras rígidas relativamente às emissões radiofónicas e, como aconteceu até ao 25 de Abril de 1974, a polícia política estava sempre atenta, e atuante. Mesmo assim, Emílio Aragonez desvaloriza essa interferência. “As notícias que eram transmitidas, nos primeiros tempos, eram baseadas nos jornais e estes já tinham passado pela censura”. O que não impediu diversas chamadas de atenção por parte do Administrador ou Diretor da Rádio, e a deslocação, por duas vezes, às instalações de P.I.D.E., contudo sem quaisquer consequências.
Uma delas foi “por causa de um disco que tinha sido transmitido e depois desapareceu; o disco tinha sido gravado em França e era de uma voz portuguesa, já não sei se era do Zeca Afonso ou do Adriano Correia de Oliveira”.
A seguir ao 25 de Abril, a estação viveu momentos de grande agitação e geraram-se tentativas de “tomar o Altitude”. “Alguns dias após a data da revolução cheguei a estar 24 horas sem poder sair da Rádio, por imposição do MFA, onde esteve uma força militar comandada pelo alferes Pardalejo” Ainda hoje não tem uma explicação cabal para esse facto.
Pessoa de improviso fácil, e anotações rápidas, Emílio Aragonez assegurava os diretos da rádio de uma forma atrativa, suscitando o interesse informativo, curiosidade e audição atenta. “Na década de setenta, quando Marcelo Caetano se deslocou a Manteigas, julgo que para inaugurar o edifício da Câmara, houve um atraso de mais de uma hora, em relação ao horário previsto. Como não havia possibilidades de desfazermos a ligação e voltar a retomá-la – os meios eram bem diferentes dos atuais – tive de aguentar a transmissão, recorrendo apenas a duas curtas entrevistas. O resto do tempo falei de Manteigas, da Serra, das potencialidades turísticas e de outras informações e descrições que fui considerando oportunas”.
A Rádio foi, sem reservas, uma grande afeição da sua vida, feita de trabalhos, desencontros, incompreensões silêncios, amarguras e felicidade; vida simultaneamente enraizada em convicções e em princípios, passando ao lado, de eventuais críticas ou atitudes injustificadas.
Ao longo de décadas, deu voz à notícia, trouxe à luz da ribalta questões tantas vezes ignoradas; desencadeou o confronto de opiniões, denunciou injustiças, foi porta-voz de múltiplas aspirações de terras e gentes. “Estive, sempre, na vanguarda da informação, sem nunca hipotecar a minha consciência profissional nem trair os meus princípios”.
Emílio Aragonez assumiu o jornalismo e a rádio sem nunca esquecer a função social subjacente; o que, aliás, foi sempre reconhecido pelos ouvintes, a quem nunca negou a sua presença, e voz, mesmo em situações nas quais motivos de ordem pessoal, o cansaço ou a doença aconselhavam repouso.
“Muitas vezes acabava por dormir na Rádio, nomeadamente quando vinha às tantas da noite de alguma reportagem e tinha de abrir a emissão no dia seguinte”. Quando a cidade acordava envolta em espesso manto de neve “a rádio chegava a abrir mais cedo e era a partir daí que praticamente se comandava a cidade. Era um trabalho de autêntico serviço público, com informações sobre os vários estabelecimentos de ensino, circulação nas estradas, funcionamento dos serviços públicos. Ouvir o Altitude era essencial”.
Sempre atento ao quotidiano, na sua memória circulam, volvidos estes anos, muitas imagens e sons que pertencem aos bastidores da rádio; fora do estúdio de emissão havia lugar a dramas individuais, sofrimentos, dificuldades a superar, batalhas contra o tempo, necessidade de discernir e graduar com rapidez aquilo que era matéria informativa e não mero adereço de projeções institucionais ou pessoais; ocorriam confrontos marcantes no percurso individual e profissional; impressões muitas vezes gravadas de maneira indelével, que não pactuam com o esquecimento.
Emílio Aragonez no dia da homenagem que lhe foi prestada pelo Rotary Club da Guarda. Na foto (esquerda para a direita): António Martinho, Albino Bárbara, António José Teixeira, Emílio Aragonez, Helder Sequeira, Carlos Martins.
O nascimento de Emílio Aragonez para a rádio, e a projeção que alcançou através desta popular emissora, ocorreu na época das emissões em onda média, quando a frequência modulada estava longe de ser uma realidade na estação CSB-21, o indicativo atribuído à Rádio da mais alta cidade portuguesa.
A sua voz aquecia as noites guardenses, esbatia a solidão, aumentava progressivamente o auditório, despertando incontidas manifestações de simpatia. “Diziam-me que a minha voz era agradável e depois, também pelo que me é dito, tinha uma maneira muito peculiar de falar. Isto começou, realmente, nos programas da noite, quando a cidade precisava de companhia e a companhia era a rádio. Foram anos, anos e anos com a minha voz a entrar pela casa das pessoas”.
Por outro lado, Emílio Aragonez salientou-nos ter havido um largo período “em que os outros tinham um certo receio de levantar os problemas. Eu dei sempre a cara, mesmo sabendo que iria sofrer dissabores; não só eu como a minha família.” Mas não há lugar a arrependimentos, dizia-nos, há alguns anos, em tom inequívoco. Embora a faceta de jornalista seja a mais conhecida, era um intransigente defensor da música portuguesa, presença constante nos espaços radiofónicos por ele animados, sem cair no gosto medíocre.
A sua aparência descontraída, porventura mesmo descuidada, reflexo da sua peculiar forma de ser e do desprendimento pelos bens materiais, não raro originava humorísticos episódios, partilhados depois nos círculos de colegas e amigos, os quais facilmente lhe reconhecem mais virtudes do que defeitos.
A Rádio Altitude representou para Emílio Aragonez “praticamente uma vida toda. Uma pessoa que entra para ali aos 19 anos e fica lá até aos 68 obviamente que representa tudo”, como nos afirmava, sem hesitações. “Esqueci-me muitas vezes que tinha família, esqueci-me dos amigos e vivia para o Altitude. Era tudo para mim!...”.
Emílio Aragonez é uma memória viva da Guarda – das suas estórias e tradições – igual a si próprio, referência de um tempo cúmplice das ondas hertzianas, quais laços de solidariedade com a cidade e uma vasta região…
Parabéns, Emílio Aragonez!
Embora o trabalho na Rádio não tenha sido a sua atividade principal, Carlos Martins não esquece a marca que as emissões radiofónicas lhe deixaram. “Na rádio fiz sempre o que gostava de fazer. Senti-me realizado. A grande marca teve a ver com as pessoas que faziam a rádio… uma grande família.” Hoje, afastado desse meio, considera que “uma rádio sem pessoas que a escutem é uma rádio com fim à vista”.
Natural da Vela (concelho da Guarda) veio estudar para a cidade quando tinha dez anos; no final da década de 70 iniciou a sua colaboração na Rádio Altitude (RA) , antes de, no início dos anos 80, ter começado a sua atividade profissional no ramo dos Seguros. “Atualmente continuo a exercer a minha atividade como independente e acumulando a situação de pré-reforma [da companhia a que esteve ligado]”, disse-nos Carlos Martins.
Olhando para a cidade onde reside, diz ao CORREIO DA GUARDA que “é urgente fixar empresas na Guarda para criarem empregos fixando os que cá estão e trazer outros do litoral.”
Como surgiu a Rádio na tua vida?
Era presidente da Associação Estudantes da Escola Secundária Afonso Albuquerque e na altura decidimos propor à Rádio Altitude um programa semanal de 30m onde abordaríamos a actividade estudantil e outros assuntos de interesse para a classe.
Eram colaboradores habituais a Fátima Vitória, a Hermínia Whanon, o Américo Rodrigues e eu. Após um ano de emissões o programa “Rádio Estudantil” termina.
Algum tempo depois, e algures na cidade da Guarda, encontrei o Dr. Virgílio Arderius, elemento da direção da RA, que após uma troca de palavras me propôs fazer um programa sobre livros e literatura. Numa conversa, de corredor, (na Escola Secundária Afonso Albuquerque) com o António José Fernandes e com o António José Teixeira (actual diretor da Informação na RTP) abordei a proposta que me tinha sido apresentada; o António José Teixeira ficou entusiasmado com a ideia e assim, os três, decidimos fazer o programa “Nós e os Livros”.
Como tudo tem um fim também o “Nós e os livros” acabou, sendo que foi um projecto interessantíssimo que nos motivou e de que maneira… A partir daí eu passei para as emissões regulares e o António José Teixeira enveredou pela informação da Rádio Altitude.
Como foram as primeiras experiências radiofónicas?
Nas emissões regulares da Onda Média, do Altitude, lembro-me que o primeiro programa que coloquei no ar foi um espaço radiofónico com muita audiência e patrocinado por uma marca de automóveis. Os ouvintes pediam para ouvir as suas músicas preferidas através do telefone 232.
Quem recordas desses tempos? E como era o ambiente de trabalho?
Nos anos 70 e 80 a rádio era tão importante como qualquer outra instituição da Guarda. O Altitude estava lá e tinha a informação pretendida.
A camaradagem, as relações pessoais eram como a de uma grande família.
Os colaboradores da RA eram convidados, com frequência, para apresentação de espetáculos no distrito. Que lembranças dessa experiência?
As Festas da Cidade da Guarda, os Festivais da Canção de Manteigas, Festivais de Folclore e muitos outros espectáculos contaram com a minha colaboração e de muitos outros colegas da rádio. Ter um apresentador que fosse locutor da Rádio Altitude, na opinião dos organizadores, era sinal de um bom espectáculo em perspectiva.
Recordo aqui uma das peripécias com a “nossa 4L”… fazíamos uma deslocação a Manteigas para mais um festival. Na ida a viagem correu mais ou menos bem (?). No regresso, a altas horas da noite, a viatura movimentava-se, mas a uma velocidade reduzida na estrada sinuosa e em mau estado. Estávamos todos apreensivos com o facto de a gasolina estar a baixar muito rapidamente no reservatório estarmos longe da Guarda.
Depois de 2 horas de viagem conseguimos chegar à entrada da cidade e aí ficou o veículo sem pinga de combustível. No dia seguinte o Antunes Ferreira foi com a Renault 4L ao mecânico e este verificou que a mesma apenas estaria a trabalhar com um ou dois cilindros. A “máquina” tinha razão para não andar e gastar muito combustível...
Qual foi o período mais desafiante na tua passagem pela RA?
Com a OM e com o FM nos anos 90, depois de ter passado algum tempo pela F, já com a direção do Helder Sequeira; acumulei as funções comerciais e as de locutor (animador de emissão).
A parte técnica era também uma das tuas preferências. Colaboravas, com frequência, com o Dr. Martins Queirós, sobretudo a partir de 1990, e também com o Antunes Ferreira. O que recordas? Que episódios gostarias de recordar para os leitores?
Com a frequência modulada no ar, o Dr. Martins Queirós entendeu que a mudança do emissor de Onda Média para um local mais próximo da antena era mais que urgente.
À noite, e depois das 21h, acompanhava o grande obreiro da RA nos trabalhos técnicos para a mudança do emissor. Este trabalho nocturno demorou alguns meses.
Finalmente foi possível mudá-lo e colocá-lo num local amplo e adequado para o efeito. Na altura estava apto a construir um emissor de raiz, tal foi a formação ministrada pelo médico Martins Queirós.
Que marca te deixou a Rádio Altitude?
Na rádio fiz sempre o que gostava de fazer. Senti-me realizado. A grande marca teve a ver com as pessoas que faziam a rádio… uma grande família.
Qual o programa que te deixou mais saudades?
Não podia ser outro, senão o “Sons da Madrugada”. Diariamente das 7 às 9h, inicialmente com o João Logrado, Helder Sequeira e eu, mais tarde o João foi substituído pelo Albino Bárbara.
Era o nosso despertar…
Achas que hoje é difícil fazer rádio no interior? E nos tempos da onda média?
As ferramentas atuais são outras. Tudo é mais fácil. O problema está na publicidade, fonte de receita das rádios; esta é cada vez mais diminuta e os pequenos empresários estão com dificuldades económicas.
Não é de estranhar que algumas rádios tenham fechado.
Nos anos 70 e 80 a concorrência era menor. O Altitude não tinha dificuldade em encontrar clientes para publicitar. Em qualquer loja ou casa era a rádio preferida. Existiam audiências consideráveis das emissões.
Que desafios se colocam, atualmente, às rádios locais?
Os custos com o pessoal são o maior desafio, as taxas, os custos da energia e a falta de apoios também não ajudam.
Muitas são as rádios que tiveram de reduzir o pessoal, funcionando a maior parte do tempo de forma automática. O contacto com o ouvinte deixa de existir e como tal as audiências evaporam-se. Há tanto por onde escolher…
Achas que rádio, em geral, tem futuro?
Tudo irá depender da ligação rádio/ouvinte. Uma rádio sem pessoas que a escutem é uma rádio com fim à vista.
É importante prender os ouvintes às emissões, ouvi-los e ter uma programação virada para os temas do quotidiano.
O que gostarias de ouvir nas rádios da região?
Pessoalmente gosto de estar informado. Gosto de uma informação credível, de qualidade.
O que fazes atualmente?
Afastei-me por razões pessoais da rádio. Depois de trinta e tal anos nos seguros, estou actualmente na situação de pré-reforma.
Como não sou pessoa para ficar parado, abri um escritório de Mediação de seguros na Rua Francisco Pissarra de Matos na Guarda, com a marca da empresa onde trabalhei a Ageas.
O que representa para ti a Guarda?
Desde os meus 10 anos que estou na Guarda. Foi aqui que fiz os meus estudos e desenvolvi a minha actividade profissional na área dos seguros. A rádio completava-me.
As pessoas da região cativaram-me. Apesar de fria, o calor humano, as amizades, os desafios, marcam-nos para sempre.
Como gostarias de ver a Guarda do futuro?
No futuro imediato é necessário criar condições para a fixação dos nossos jovens. Se estes forem embora para o litoral e para as grandes cidades, a Guarda fica a perder.
É urgente fixar empresas na Guarda para criarem empregos fixando os que cá estão e trazer outros do litoral.
A localização da Guarda, as duas auto estradas e as duas linhas férreas fazem da cidade um ponto estratégico de desenvolvimento, para isso o governo central tem de olhar pelo interior ou não fosse a Guarda a Porta da Europa!
Sandra Esteves nasceu em Lisboa, no ano de 1971, mas com seis meses foi viver para Vila Nova de Foz Côa com os seus pais. “O facto de eles serem de uma aldeia perto, e terem um café muito conhecido, fez com que, para mim, fosse fácil comunicar. Fui sempre muito destemida e de arregaçar as mangas no que toca a trabalho e de ajudar no que fosse preciso”. Afirmou ao CORREIO DA GUARDA.
Desde a sua infância que a música a acompanhou, bem como ao grupo de amigos. “Como as redes sociais não existiam, muito menos telemóveis, os tempos livres na infância e adolescência, para além de ajudar os meus pais e de estudar, eram passados a brincar na rua, ensaios de teatro, grupo coral, grupo de jovens e de dança.”
Em 1990, com 18 anos, vem estudar para o Politécnico da Guarda. Nesse mesmo ano, um dos seus sonhos “torna-se realidade com entrada para a Rádio Altitude, conciliando o trabalho radiofónico (em part time), com os estudos, o qual mantive até terminar o curso superior.”
Em 2001 por razões de ordem professional foi viver para Aveiro, onde reside.
O que é feito de si? O que faz atualmente
Trabalho na minha área de formação académica (Secretariado de Administração)
Que comparação ou diferenças acentua entre a Guarda e a cidade onde vive atualmente?
Embora sejam ambas as cidades capitais de distrito, não são cidades muito grandes, o que para mim é bom. A cidade da Guarda é uma cidade do interior com menos população. A cidade de Aveiro tem mais população e mais desenvolvimento e devido à proximidade com o mar, potencializa uma maior procura de turismo e oferta de mais oportunidades de trabalho.
A sua vida cruza-se com a Rádio. Como entrou para o mundo da rádio?
Em 1990, com 18 anos e com a entrada para o ensino superior (Instituto Politécnico da Guarda). O meu interesse pela rádio e por música, já vem desde a minha infância. A rádio sempre exerceu sobre mim um grande fascínio, até porque falava na minha Região. O facto de puder trabalhar, ganhar experiência radiofónica enquanto estudante e conhecer pessoas novas, foi muito importante naquela fase da minha vida. A minha entrada na Rádio mais concretamente na Rádio Altitude FM, acontece através de um anúncio onde procuravam vozes e colaboradores novos para a nova grelha de programação da rádio. Fiz alguns testes e fui selecionada.
Nesse ano, sob a direcção do António Adriano Arede, formámos uma grande equipa de jovens animadores de emissão e jornalistas, maioritariamente estudantes.
Alguma vez tinha pensado fazer rádio?
Sim. Na verdade era um dos meus objetivos.
O que mais a entusiasmou?
Primeiro, o facto de poder trabalhar na rádio que sempre ouvi graças aos meus pais, uma vez que em Vila Nova de Foz-Côa e no distrito da Guarda a Rádio Altitude era a rádio local mais ouvida, e também pela curiosidade de ter uma experiência no mundo da rádio.
O facto de poder ter um programa de música, e comunicar com os ouvintes assíduos da região foram muito importantespara mim. Lembro-me que, na altura, sendo a Rádio Altitude uma rádio local, foi tendo fases menos boas, principalmente a nível financeiro. E toda a equipa de colaboradores e profissionais, todos, sem exceção vestíamos a camisola. Eramos um grupo muito unido, a dar o nosso melhor para todos os ouvintes.
Quais os programas que mais gostou de fazer?
Gostei de todos os programas que fiz, mas o programa que mais me marcou pela positiva foi o “Alta Voltagem”, um programa de segunda a sexta-feira, com duração de uma hora, onde o estilo musical se diferenciava no contexto da programação das rádios locais da época e quebrava um pouco as regras numa programação mais tradicional. Basicamente passava música dos anos 70, 80 e 90 no estilo rock, Heavy Metal, pop Rock, Grunge e Rock Alternativo. Era um programa com o qual eu me identificava muito.
A década de 90 na cidade da Guarda, de uma forma geral, foi a melhor. Havia muitos estudantes na cidade vindos de todo o país, e posso dizer que uma grande percentagem ouvia o meu programa, o que me deixava muito feliz
Como era o ambiente de trabalho? E que colegas recorda?
Os meus tempos de rádio foram sem dúvida, os melhores da minha vida. Fiz amizades que ainda hoje, ao fim de 31 anos, perduram. Foram 11 anos numa rádio com altos e baixos, mas sempre unidos.
Lembro-me que, na altura, sendo a Rádio Altitude uma rádio local, foi tendo fases menos boas, principalmente a nível financeiro. E toda a equipa de colaboradores, animadores de emissão e profissionais, todos, sem exceção vestíamos a camisola.
Éramos um grupo muito unido, a dar o nosso melhor diariamente, que tal como eu, “vestiam a camisola” para levar da melhor maneira a música e as noticias da região, a todos os ouvintes.
Recordo com muita estima e saudade muitos dos colegas e amigos: O grande senhor e profissional Emílio Aragonês, António Adriano Arede, Rosa Diogo, Teresa Gonçalves, Goreti Figueiredo, Carmina Andrade, Célia Miragaia, António Sá Rodrigues, Mário Sequeira, Paulo Coelho, Antunes Ferreira, Olga Ferreira, Francisco Carvalho, Gabriel Correia, Joaquim Martins, António Martinho, Cristina Ferreira, Carlos Gomes, Ismael Marcos, Paula Pinto, Madalena Ferreira, Sandra Ferreira, Barata, Rui Pedro, Carlos Martins, Valdemar Guimarães, José Carlos Monsanto, Rui Fazenda, João Neves , Horácio Antunes, Albino Bárbara, Eduardo Matas e o Dr. Helder Sequeira, a quem eu deixo desde já, um agradecimento muito especial pelo convite para esta entrevista, e por ter sido um excelente Diretor da Rádio Altitude, amigo e profissional nos meus tempos de rádio.
Estudou na Guarda. O que significaram esses anos nesta cidade?
Tenho muito boas recordações, que guardo com muita saudade. Os melhores anos de sempre.
O que diferencia a Guarda de outras cidades?
Na Guarda, sendo uma cidade que não tem uma dimensão muito grande, acabamos por nos sentir acolhidos, para além da proximidade da terra dos meus pais.
E o que falta na Guarda?
A meu ver, a falta de oportunidades de trabalho e de mais promoção do turismo da região.
11 - Continua a acompanhar o que se passa na Guarda?
Sim.
Depois de sair da Guarda voltou a fazer rádio?
Sim. Tive a oportunidade de fazer uma experiência numa rádio online, uma maneira diferente de fazer rádio, mas da qual gostei muito.
Como vê hoje a sua terra natal? O que poderia ser feito para uma maior projeção?
Infelizmente sendo uma localidade do interior carecem as oportunidades de trabalho, provocando inevitavelmente a emigração e a saída dos jovens do concelho para continuarem os estudos universitários, como foi o meu caso.
Para uma maior projeção deveriam ser criados programas de incentivo à natalidade, procurar cativar investimento exterior por forma a evitar a emigração para outros países e criar condições económico sociais para reter as populações mais jovens.
O município deveria apostar em empresas que criem estímulos fortes ao emprego.
Tem algum projeto ou atividade que gostasse de implementar?
Sim. A breve prazo voltar a fazer rádio, nomeadamente um programa musical da minha autoria.
Luísa Coimbra tem na rádio uma das suas paixões. A rádio cruzou-se na sua vida quando tinha 16 anos. Natural de Almofala, (Figueira de Castelo Rodrigo) onde nasceu em 1959, reside na Guarda desde os dois meses de idade.
“Mar de música, mar de gente” e “Sintonia” são alguns dos programas radiofónicos que evoca com saudade, agora que está desligada da rádio, de cuja magia nunca se afastou. Talvez por isso mesmo tenha criado o podcast “Menina da Rádio”, “um projeto pessoal, intimista, para deixar correr os “sentidos” como disse ao CORREIO DA GUARDA.
Nesta conversa fala-nos igualmente da cidade onde, referiu, faltam “novas oportunidades de trabalho”.
Como surgiu, e quando, a tua ligação com a Rádio?
Aos 16 anos, quando me inscrevi e participei num dos concursos da Rádio Altitude.
Foi fácil a adaptação ao ambiente da rádio?
Muito fácil. Jovem como era, tinha a certeza que aquele seria o meu caminho, contrariando embora todos os objetivos sonhados para mim, pelos meus pais.
Quais foram os teus primeiros trabalhos e em que programas?
Recordo-me muito bem eram fins-de-semana inteirinhos a passar “Discos Pedidos”, os programas da manhã “Mar de Música, Mar de Gente”, o programa “Sintonia” que me levou até às Produções Sintonia no Porto, na RDP - Rádio Guarda, a aposta na formação no âmbito do Jornalismo e, por último, a Rádio F e os programas da noite.
Quais os/as colegas que recordas dessa época?
Todos sem exceção! Claro que uns marcaram mais do que outros.
Estive nas três estações de Rádio sempre por convite (o que muito me orgulha) sem querem magoar ninguém, lembro com muita saudade o João Lopes, e enfim o velho amigo Emílio Aragonez, a quem devo realmente esta grande paixão pela Rádio.
Como era a relação que se estabelecia com os ouvintes?
Íntima, verdadeiramente íntima!
Criei laços que guardo até hoje e que ficarão para sempre, na cumplicidade, no sorriso que transparecia e até nos muitos olhares de admiração/ interrogação, quando com surpresa me encontram ainda hoje na Junta de Freguesia … a pergunta que fica no ar… “Mas, não era a menina, a Luísa da Rádio? “
As pessoas identificavam-te no exterior?
Sim claro, vivíamos numa cidade pequena, a Rádio era companhia assídua de muita gente e todos nos conhecíamos.
Como era feita a seleção musical para os programas que apresentavas?
Todas as rádios por onde passei dispunham de uma discografia excecional, entre os velhinhos Singles, LPs, depois pelos CDs, procurava com alguma antecedência ir ao encontro dos gostos musicais dos ouvintes e fazer um programa onde acima de tudo estava o interesse por quem estava e ouvia no lado de lá.
Como vias a relação entre a Rádio e a Cidade/Região? As pessoas apreciavam a rádio?
Como já disse, creio que a Rádio tinha um grande poder, que é o poder de cativar, de informar e isso creio ter-se conseguido.
Eu pelo menos tenho a sensação de dever cumprido.
Tens algum episódio que possa ilustrar essa relação?
Puxando pela memória, recordo-me de alguns diretos feitos para a “Informação”, onde as populações se manifestavam, pela ausência do que consideravam essencial, quer pelos tantos convites que nos faziam e onde pude testemunhar/ vivenciar situações que em pleno Sec. XX, era na Rádio que se faziam ouvir…
Lembro-me por exemplo, num dos últimos trabalhos que fiz na Rádio F, com o meu querido Tó Jó (António Jorge Sepúlveda) de existir uma escola, no nosso concelho, onde a grande luta da professora era manter os meninos na escola, porque os pais exigiam que eles fossem trabalhar, logo pela manhã. Meninos a quem a professora levava o pequeno-almoço, porque sabia que estariam sem comer…
E enfim, tantos outros episódios, relatos de vidas com história…
Qual foi a experiência mais positiva na rádio? E a mais negativa?
Positivas todas...não tenho experiências negativas!
Os condicionalismos técnicos impediam a criatividade?
Não gosto de dizer no “meu tempo”, porque o meu tempo é hoje, mas tenho para mim, que naquele período, tive tudo, em todas as Rádios e a criatividade surgia de forma natural.
Sempre me adaptei de forma fácil, aliás o meu gosto pela Rádio era tanto, que não havia impedimento algumJ, aliás conto em jeito de brincadeira um episódio que me aconteceu no primeiro dia, na minha estreia radiofónica.
Estava no estúdio na Rádio Altitude, ocupadíssima entre discos e publicidade e esqueci-me de fechar o microfone, quando irrompe pelo estúdio o saudoso Antunes Ferreira, que me diz “menina, menina tem o microfone aberto e só se ouve “Ai minha nossa senhora!… “
Bom, se fosse hoje, o desabafo seria outro com certeza… (risos)
Quais as principais diferenças que notas entre a rádio de ontem e de hoje, nomeadamente ao nível dos estúdios e programação?
Estou longe da Rádio já algum tempo, por isso creio que apenas do que possa falar seja do que ouço e assim sendo, creio que se abusa demasiado das “play list”.
Julgo que a Rádio ainda hoje é, ou pelo menos para mim é, comunicação e não creio que hoje exista, pelo menos da forma como eu, e muitos outros como eu, a vivemos.
Hoje é mais fácil fazer rádio?
Creio que hoje, é menos empolgante fazer Rádio.
São horas e horas de música...mas claro que existem exceções e os bons comunicadores continuam a existir!
Depois da rádio, como foi o teu percurso profissional?
Deixei a Rádio por opção, mudei de cidade, mudei de vida.
Hoje, e já há algum tempo, sou funcionária da Junta de freguesia da Guarda.
Após o teu regresso à Guarda houve novo contacto com a rádio?
Existiu sim, muito superficial.
Há algum tempo atrás iniciaste um podcast, sobre rádio. Como surgiu essa ideia e qual o principal objetivo?
Surgiu porque os meus filhos me conhecem como ninguém, sabem desta minha paixão e o Tiago, (filho do meio) que se move muito bem nesta área criou o “Menina da Rádio” que é tão só um passatempo que me transporta para “esses dias da Rádio” …
Como tem sido a reação das pessoas?
Creio que gostam, gostam de me ouvir.
E a mim a cima de tudo dá-me imenso prazer em fazer, em partilhar.
Gostavas de regressar ao trabalho numa rádio? E com que projeto?
A Rádio vai sempre fazer parte de mim… foram 20 anos, a fazer Rádio e claramente sim! Porque não, as noites da Rádio?
Achas que a história da Rádio, em Portugal, passa também pela Guarda?
Sem dúvida, ou não existisse a nossa velhinha Rádio Altitude com todo o seu saber, com toda a sua história da qual eu também faço parte.
Como vês hoje a Guarda?
Uma cidade “nova “, em expansão e quero acreditar com potencial para criar novos projetos e novos futuros.
O que falta na cidade?
Essencialmente novas oportunidades de trabalho.
Como gostas de ocupar os teus tempos livres?
Escrevendo, lendo e aprendendo e acima de tudo partilhando uma boa conversa, com bons amigos, como agora, o que naturalmente agradeço.
A Rádio Altitude comemora hoje, dia 29 de julho, o 73º aniversário do início oficial das suas emissões.
Esta é uma emissora de muitas vozes e rostos, de sonhos, de diferenciados contributos, afetos, ideias, de originalidades, de presença e solidariedade. A sua génese, longevidade, o percurso ímpar e a matriz beirã conferem-lhe um estatuto especial.
Recorde-se, e como tivemos já a oportunidade de escrever no livro “O Dever da Memória – Uma Rádio no Sanatório da Montanha”, que esta emissora tem interessantes particularidades, originadas no seio das experiências radiofónicas vividas no Sanatório Sousa Martins (Guarda), cerca de 1946.
Nessa altura, as rudimentares emissões circunscreviam-se ao pavilhão onde estava concentrado o grupo de doentes pioneiros deste projeto; com a posterior utilização de novo emissor a aventura radiofónica foi ganhando, progressivamente, maior dimensão.
A 21 de outubro de 1947, Ladislau Patrício (cunhado do poeta Augusto Gil), o segundo diretor do Sanatório, assinou o primeiro regulamento desta emissora, documento onde estavam definidas orientações objetivas sobre o seu funcionamento.
Em finais desse mesmo ano as emissões da Rádio Altitude eram já escutadas na malha urbana da Guarda, cidade que seguiu, com entusiasmo, o início oficial das emissões regulares, ocorrido a 29 de julho de 1948; um ano depois (1949) foi-lhe atribuído o indicativo CSB 21 (emitindo no comprimento de onda de 212 metros e na frequência de 1496 quilociclos por segundo), identidade difundida por várias décadas a partir do alto da serra, “eterna como o sol que alumia o mundo”, na expressão de Nuno de Montemor.
Este escritor guardense fez parte do grupo inicial de ouvintes da rádio; sobre a estação emissora da cidade mais alta de Portugal deixou, aliás, as suas impressões nas páginas de outro projeto informativo/formativo do Sanatório: o jornal Bola de Neve.
Os programas (no ano de 1948) eram, então, emitidos em horários muito circunscritos; aos domingos entre as 17 e as 19 horas e nos restantes dias oscilavam entre as 18h30/19h30 e depois entre as 21 e as 22 horas; nessa altura apenas aos sábados havia emissões no período da manhã, entre as 11h30 e as 12h30. O primeiro aniversário da Rádio, em 1949, foi assinalado com “emissões especiais e extraordinárias”. A imprensa local, destacando o papel e a importância da emissora, salientava a necessidade de ser aumentada a potência “de forma a ouvirem-se as suas emissões em todo o distrito da Guarda”.
O emissor inicial era propriedade da Caixa Recreativa (CR) do Internados no Sanatório Sousa Martins e mais tarde (com a extinção da CR) passou para a titularidade do Centro Educacional e Recuperador da unidade hospitalar vocacionada para o tratamento da tuberculose. Através da criação do Centro Educacional e Recuperador dos Internados no Sanatório Sousa Martins (CERISSM) pretendeu-se auxiliar os doentes, especialmente no que dizia respeito “à sua promoção social e ocupação dos tempos livres”.
No seio dos sanatórios portugueses surgiram, aliás, interessantes projetos radiofónicos – como sejam a Rádio Pólo Norte, no Sanatório do Caramulo e a Rádio Pinóquio, no Sanatório das Penhas da Saúde (Covilhã), para referirmos apenas os mais próximos da Guarda.
O CERISSM foi uma autêntica instituição de solidariedade; para além de viabilizar a afirmação e implantação da Rádio Altitude desenvolveu uma vasta obra assistencial, sobretudo sob o impulso do médico Martins de Queirós, o quarto e último diretor do Sanatório da Guarda.
Em 1961, mediante autorização oficial, a RA passou a ter como suporte económico-financeiro as receitas publicitárias que em muito contribuiriam para o auxílio dos doentes mais carenciados. As emissões evoluíram, ao longo das primeiras décadas em função das disponibilidades técnicas, dos recursos humanos e financeiros, mas encontrando sempre no, crescente auditório, uma grande simpatia e um apoio incondicional.
A Rádio Altitude rapidamente alargou a sua área de influência, cativou colaborações, ultrapassou dificuldades, assumiu desafios, enriqueceu a sua programação, protagonizou criatividade, inovou e afirmou decisivas linhas de intervenção formativa e cultural.
Até 1980, a Rádio Altitude emitiu em onda média na frequência de 1495 Khz (abrangendo não só o distrito da Guarda, mas igualmente os distritos de Viseu e Castelo Branco e algumas das suas áreas limítrofes); nesse ano a sintonia da RA passou a ser feita no quadrante dos 1584 Khz.
Depois de 1986, e com a liberalização do espectro radioelétrico, passou também a operar as suas emissões em frequência modulada (FM), em 107.7 Mhz, que seria alterada (em 1991) para os 90.9 Mhz, na qual continua a emitir.
No ano de 1998, e depois de ter sido determinada a extinção do Centro Educacional e Recuperador dos Internados no Sanatório Sousa Martins, foi decidida a realização de uma consulta pública, com vista à “transmissão da universalidade designada Rádio Altitude”, considerada a “única estrutura em funcionamento do ex-CERISSM”.
A estação emissora entrou assim, com a sua aquisição por parte da Radialtitude–Sociedade de Comunicação da Guarda, num capítulo novo da sua existência, mantendo a ligação física ao antigo espaço sanatorial (tem os seus estúdios no edifício, onde está ainda hoje, desde o ano de 1953), mas desenvolvendo, desde então, todo um projeto de modernização e linhas programáticas pensadas em função das exigências da sociedade hodierna.
Contudo, não se pode olvidar que esta é uma rádio distinta, de memórias, vivências, amizades, dedicação, de serviço público, de criatividade, de formação; hoje uma rádio global, de futuro.
As emissões radiofónicas passam nos nossos dias, em larga medida, pelo meio digital, num recurso cada vez mais ligado às modernas aplicações e tecnologias. A rádio, a sua forma de estar e responder evoluiu e, felizmente, acaba por estar ainda mais perto, envolvendo o nosso quotidiano; a sua presença pode ser avaliada como plena confirmação de que o meio rádio não pereceu perante o digital e as novas tecnologias. A rádio encontrou novos pilares de sustentabilidade e de maior interação com o seu público.
A generalidade dos equipamentos que usamos no dia-a-dia, desde logo o telemóvel, o tablet ou outras expressões da materialização do progresso tecnológico, facilitam-nos e proporcionam o encontro com a rádio, mas para além das emissões em direto não se podem esquecer as vantagens proporcionadas pelo podcast. Neste contexto, para além de evidenciarmos que esta é uma das novas virtualidades exploradas pela rádio, convém anotar a mudança de paradigma do perfil da rádio local.
Ainda neste ponto, não será despropositado afirmar que a Rádio Altitude nunca esteve confinada a um figurino de rádio local. Recordemos que, enquanto existiram as emissões em onda média (até finais da década de 90 do século passado) – e mercê das condições de rentabilização do seu emissor, face à localização geográfica – o raio de abrangência englobou zonas muito diferenciadas e mais ou menos distantes desta cidade.
Posteriormente, e uma vez mais potencializando as vantagens de emitir a partir da cidade mais alta do país, a rádio projetou as suas emissões muito para além das fronteiras estipuladas nas páginas dos diplomas regulamentadores da atividade radiofónica; ou seja, a identificação como rádio local nunca foi a mais justa, e a dimensão de regional será, em qualquer análise, sempre mais adequada quando se escreve sobre a história da radiodifusão.
Hoje, para além do estatuto conseguido por mérito próprio – e pela sua ímpar longevidade, enquanto rádio que se afirmou a partir do denominado interior do país – a RA atingiu uma nova escala, mercê da realidade tecnológica. Mesmo assim, a Rádio continua a ter um relevante papel como consciência regional; tem, decorrente da sua função social, uma missão importante na gestão da mudança de mentalidades, do esclarecimento do público, do confronto de ideias e da salvaguarda da memória.
Esta função social da rádio deve continuar a prevalecer, mesmo face ao desenvolvimento das tecnologias da informação. A pluralidade de novos canais de informação criou cenários completamente novos, onde se torna fundamental uma atitude de inequívoco profissionalismo, objetivos claros, estratégias adequadas e uma atenção permanente aos desafios tecnológicos.
Esgotados muitos dos modelos tradicionais e modificados os graus de exigência por parte dos ouvintes, torna-se necessário aferir constantemente os projetos e acentuar o espírito criativo, empreendedor.
Os desafios da Rádio são imensos; hoje não é apenas no plano das ondas hertzianas que tem de ser posicionada a proposta radiofónica; a rádio tem de assegurar uma estratégia rigorosa e clara no vasto horizonte da emissão online.
O fortalecimento da sua presença será sustentado, em larga medida, pela atenção à realidade social, económica, cultural e política da região onde a Rádio está sediada. As pessoas, para além do entretenimento ou companhia que a rádio lhes proporciona, querem boas condições de audição, uma informação rápida, em cima da hora ou do acontecimento de proximidade; querem igualmente um interlocutor atento, objetivo e credível, uma rádio com gente dentro, de entrega a um serviço público, solidário, afetivo. Uma rádio que questione, esclareça, atue pedagogicamente, aponte erros, noticie triunfos, sinta e transmita o pulsar da região, chame a si novos públicos.
Sabemos que não é um trabalho fácil, mas o êxito constrói-se com competência, perseverança, humildade, diálogo, criatividade e sentido de responsabilidade.
Ao sublinharmos, hoje, os 73 anos da Rádio Altitude estamos também a evocar e homenagear os múltiplos os contributos pessoais e coletivos que guindaram a RA a uma posição de destaque no panorama radiofónico português e, diríamos, mesmo europeu (pelas décadas de emissões contínuas, pela sua originalidade, subsistência e consciência da sua função social).
Esta é uma marca informativa e cultural da nossa região e da cidade que não a deve esquecer, antes valorizar pela sua história, pelo seu papel, pela sua presença quotidiana. A Rádio será aquilo que quiserem os seus profissionais, se os sonhos forem arrojados, consistentes, capazes de garantirem uma apaixonante continuidade e deixarem uma marca polifacetada e perene.
Parabéns à Rádio Altitude!
Hélder Sequeira
Em 1973 Francisco Carvalho entrou para a Rádio Altitude (RA) e, desde então, tornou-se uma voz inconfundível da atividade radiofónica construída a partir da mais alta cidade de Portugal.
Juntamente com Luís Celínio, produziu a partir desse ano o programa “Escape Livre” o programa de com mais longevidade em Portugal. Francisco Carvalho entrou para os quadros da Rádio Altitude em 1978, “primeiro como animador de emissão e depois como jornalista”.
Saiu da RA 1990, “para integrar a equipa fundadora da Rádio F”, onde trabalhou quatro anos, após o que ocorreu o regresso à Rádio Altitude, onde esteve até há algumas semanas atrás.
Iniciado que está um novo ciclo na sua vida, não vai por de parte a sua voz, num tempo onde cabe também espaço para a escrita e memórias, como disse ao CORREIO DA GUARDA.
Sobre a cidade onde continua a residir, Francisco Carvalho considera que é preciso “menos invejas e mais gente empreendedora”, acrescentando que, na região, “houve uma evolução desorganizada. Tem faltado planeamento e visão de futuro. Diria que na grande maioria dos casos falta aos autarcas preparação adequada para o exercício dos cargos.”
Como e quando ocorreu a tua entrada para a rádio?
Como profissional aconteceu por mero acaso.
Tinha regressado de Lisboa, onde estudei no ISLA, e na altura dava aulas de geografia na Escola Secundária Afonso de Albuquerque quando fui convidado para fazer algumas horas de locução, como se dizia na altura.
Comecei, naturalmente, pelos discos pedidos que naquela altura preenchiam grande parte da programação.
Depois fui passando aos poucos para a informação e para os noticiários regionais.
Que nomes recordas dessa época?
Alguns dos que me convidaram e incentivaram na altura.
Antunes Ferreira, Emílio Aragonez, Luís Coutinho, Virgílio Ardérius, Luís Coito e José Domingos, entre outros.
Na Redação da Rádio Altitude, com Emílio Aragonez, início da década de oitenta
Nessa época o que havia de diferente na programação da(s) rádio(os)?
Era tudo muito diferente!
A informação era de certa forma “artesanal", feita sobretudo por colaboradores que iam à rádio algumas horas por dia fazer os noticiários e o resto da programação que era, em maioria, preenchida com discos pedidos.
Lembro que naquela época (década de 70) ainda não tinha acontecido o “boom" das rádios locais e não havia jornalistas profissionais no mercado – nem sequer possibilidade de os contratar porque o quadro da rádio só comportava três profissionais: o encarregado-geral, um locutor e um administrativo).
Hoje há mais gente profissional, mais rigor e o telefone foi substituído pelo computador.
Que música ou músicas estiveram/estão na tua preferência?
Pink Floyd, Genesis, Queen, Bruce Springsteen John Legend, Joe Cocker, Alicia Keyes, entre outros.
Por muitos motivos – e não apenas pela música – valeu a pena ter vivido intensamente os anos 80. Nunca mais haverá uma década assim (digo eu !!)
Continuas a ouvir mais música ou notícias?
Música de vez em quando. Notícias sempre.
Quando começou a tua ligação ao jornalismo?
Como já disse, fui incentivado por alguns colegas mais velhos que na altura faziam a informação regional.
Aos poucos fui deixando a música e comecei a escrever e a apresentar noticiários
Qual foi notícia sobre a cidade que mais prazer te deu em transmitires aos ouvintes? E a pior?
No primeiro caso talvez tenha sido o anúncio da presidência aberta de Mário Soares na Guarda – que tive oportunidade de entrevistar em Belém, juntamente com o António José Teixeira.
Achei que poderia ser uma grande oportunidade para a Guarda começar a aparecer no mapa com o mediatismo de uma visita presidencial de vários dias.
As piores notícias tiveram naturalmente a ver com a morte de pessoas.
Por dever de ofício acorri a vários acidentes no antigo IP5 e cada vez que lá fui raramente trouxe boas histórias para contar. Tantas mortes que podiam ter sido evitadas se tivessem construído logo a auto estrada!
O grande acidente ferroviário de Alcafache (Mangualde) que cobri também a nível nacional (RR), com a ajuda do Carlos Martins, foi outro acontecimento que me marcou bastante assim como, mais recentemente, os incêndios de 2017 que fizeram várias vítimas mortais no distrito.
Que diferenças notas ao nível do jornalismo em Portugal, confrontando o passado com o presente?
Agora é mais rigoroso e interventivo.
Há profissionais muito mais qualificados e as novas ferramentas tecnológicas que temos à disposição também ajudam muito.
Hoje o jornalista passa demasiado tempo na redação?
Talvez sim. Mas é preciso dizer que em relação por exemplo à investigação, com os meios disponíveis em redações geralmente pequenas, não há grande possibilidade de ter um ou dois jornalistas dedicados em exclusividade.
No resto acho que poderia haver mais sensibilidade para procurar histórias que interessem à generalidade das pessoas.
Mas lá está, se somos imprescindíveis na redação ou no estúdio não podemos estar noutras tarefas.
O Desporto foi uma das áreas da tua preferência? Porquê?
Pratiquei desporto no liceu e essa área sempre me interessou, mais do que a política por exemplo.
Primeiro foi o automobilismo por via do programa Escape Livre – chegámos a ir ao rally de Monte Carlo e às 24 horas de Le Mans – e depois comecei a interessar-me mais pelo futebol.
Tiveste, também, uma colaboração com a imprensa desportiva. Fala-nos desse período?
Foi na altura em que a saudosa Associação Cultural e Desportiva da Guarda era um dos postais da cidade e o clube mais importante do distrito, com participações regulares no então Campeonato Nacional da Segunda Divisão.
Para além dos trabalhos para a rádio comecei nessa altura uma colaboração com o jornal O Jogo, com comentários e reportagens sempre que a equipa jogava em casa.
Mais tarde, a convite do Fernando Paulouro, iniciei uma colaboração com o Jornal do Fundão na altura em que começaram a editar um suplemento semanal de desporto.
O meu trabalho era coordenar e editar o trabalho de uma série de correspondentes desportivos que faziam o resumo dos jogos do campeonato distrital de futebol.
Sem as tecnologias que temos hoje era um funcionário do jornal que ao domingo à noite vinha do Fundão recolher o material à Guarda!
A recolha dos resultados desportivos era muito diferente do que acontece na atualidade. Era um trabalho difícil?
Não era fácil. Quando os campos de futebol não tinham telefone (e geralmente não tinham…) era preciso encontrar uma pessoa de confiança que ligava para a redação a dar o resultado final do jogo, ou então tínhamos de ligar para o café mais próximo!
Que confronto fazes entre o panorama desportivo de algumas décadas atrás e o de hoje?
Apesar de todas as limitações antigamente julgo que era mais saudável. Hoje já não tenho paciência para ver grande parte dos programas televisivos sobre futebol.
Pouco se discute o jogo e o que interessa são as polémicas.
Já nem falo dos critérios jornalísticos e das regras deontológicas!
O que te levou a optares pela Guarda, em termos profissionais?
Não foi uma questão de opção foi uma questão de oportunidade.
Atualmente tomarias a mesma opção?
Se tivesse alternativa pensaria duas vezes.
O que pensas da evolução da Guarda, cidade e região, ao longo da tua vida de jornalista?
Houve uma evolução desorganizada. Tem faltado planeamento e visão de futuro.
Diria que na grande maioria dos casos falta aos autarcas preparação adequada para o exercício dos cargos.
Isto não vai lá só com os cartões partidários!
E também é evidente que os governos de Lisboa estão-se nas tintas para o resto do país.
O que falta na Guarda?
Menos invejas e mais gente empreendedora.
O problema é que somos cada vez menos!...
Achas que as pessoas conhecem ou valorizam a dimensão radiofónica que a Guarda teve, sobretudo antes do alargamento do espetro radioelétrico?
De uma vez por todas a cidade – e os decisores – tem de saber valorizar essa importância. Cada vez que passo pelos pavilhões em ruínas do antigo sanatório não deixo de pensar que bem ali ficaria o museu da saúde e da rádio.
A Guarda tem a rádio local mais antiga do país e uma história importante para contar concentrada no atual Parque da Saúde.
A história da rádio, na Guarda, está ainda por fazer?
Já foi feita em boa parte graças também ao autor deste blogue (Hélder Sequeira). Mas sim, ainda há gente pouco informada sobre a importância da rádio no passado e no presente da cidade e da região.
Afinal temos a rádio local mais antiga do país e isso tem de ser valorizado, até para não deixar cair no esquecimento os pioneiros da Rádio Altitude com Martins Queirós, à cabeça.
Tens projetos em mente para este novo ciclo da tua vida?
Continuar a aproveitar a voz que Deus me deu, escrever, viajar e começar a organizar o baú das memórias.
José Luís Dias nasceu em Buffalo (EUA) em 1962 tendo vindo para a Guarda dez anos depois. Foi nesta cidade que fez as primeiras amizades e se entusiamou pela eletrónica, consolidando a sua paixão pela rádio e pelas comunicações. O Bonfim, na Guarda, é o seu bairro citadino de eleição, até pelo facto de aí ter vivido até 1986.
Fundador da Rádio Beira Alta (Seia), esteve também na génese da Rádio Cidade Oppidana (que emitiu na Guarda, no quadro das rádios livres) e colaborou com a Rádio Altitude, Rádio Clube de Monsanto e Rádio Mangualde.
Como surgiu a Rádio na tua vida?
É uma historia interessante; ainda criança, vivia nos Estados Unidos, fazia, com os meus amigos, muitos passeios de bicicleta e em várias ocasiões ia para as proximidades do local onde estavam as antenas emissoras de duas grandes rádios da cidade onde nasci: a WKBW, com 50 KW e a WGR com 10 KW (ambas em Onda Média)...
Uma boa meia dúzia de torres e um edificio monumental... espreitávamos pelas janelas e viam-se alguns dos equipamentos... fascinou-me esta visão da tecnologia.
Mais tarde, já em Portugal, enquanto frequentava a escola primária, bem antes da "Revolução dos Cravos", a minha professora de então resolveu levar-nos a duas visitas de estudo: em primeiro lugar, ao edifício da Emissora Nacional (hoje a RTP-Guarda), onde fomos recebidos pelo encarregado das instalações, que nos mostrou um estúdio com uma mesa de som bastante antiquada e depois os dois emissores (era um Collins de 1 KW e um Gates de 10KW)... Algumas semanas depois, foi a visita à Rádio Altitude... Aí, sim, se eu já tinha um fascino pela rádio e a sua tecnologia, foi o "click" definitivo.
Como foram as primeiras experiências radiofónicas?
Possívelmente como a de todos os que fazemos ou fizemos rádio, na altura: umas experiências, num estúdio improvisado e equipamentos muito rudimentarers e amadores... eu, que já tinha queda para a electrónica, "engendrei" mais algumas coisas... Entre elas, um pequeno emissor de FM que emitia umas centenas de metros e um emissor de Onda Média, a válvulas, com peças reutilizadas de radios antigos...
E quando surgiu o primeiro contacto com a Rádio Altitude, e de que forma?
Como já referi, o primeiro contacto com a Rádio Altitude foi durante uma visita de estudo que decorreu ainda nos meus anos de escola primária; um primeiro contacto fascinante, considero-me feliz por ter acontecido, entrando no edifício, sendo-nos mostrado tudo, inclusivé, o emissor... Fascinou-me ver como se fazia rádio ao vivo, a rádio com gente dentro, ver o que já ouvia em casa quase diariamente.
Que marca te deixou a Rádio Altitude? Influenciou o teu percurso radiofónico?
Uma marca definitiva, forte, impulsionadora, foi na Rádio Altitude que, em 1978, aos 16 anos, pela "mão" daquele que considero o meu mentor, Emilio Aragonez, comecei a fazer rádio "a sério", foi o "Espaço Jovem", integrado na emissão da noite das 6ªs feiras, o "Intercâmbio 6".
Foi-me ensinado a trabalhar com equipamento de radiodifusão, a ter uma conversa natural e fluída com os ouvintes, a colocar a voz correctamente entre discos (sim, rodava discos, sabia fazer o "pre list"e "cue"), a respeitar quem nos ouve e, sobretudo, a manter os olhos bem abertos em relação aos níveis de áudio... não havia processamento, o único remédio era mesmo não deixar saturar os níveis, o "VUímetro” da consola não passava para o vermelho... algo que, ainda hoje, respeito.
Como surgiu o projeto da Rádio Beira Alta?
O projecto Rádio Beira Alta surge desse gosto pela rádio, por um lado, pelo facto de eu não ter sido integrado na Rádio Altitude, apesar dos esforços, o que, se tivesse acontecido, poderia ter alterado todo um projecto de vida... Também porque em Seia (e em praticamente todo o país) não havia nenhuma rádio e as existentes (A RA e a Emissora das Beiras (Caramulo)) não terem um sinal capaz, ainda não se falava de "rádio livre".
A génese da rádio ainda foi na Guarda, onde vivi até 1986; fui juntando meios rudimentares (2 gira-discos de categoria caseira, antigos, um gravador de cassetes e um painel com uns quantos botões e interruptores), mas no Verão, quando vinha de férias até Seia, lá acarretava tudo e fazia com que a RBA emitisse em Onda Média e FM, com esses meios rudimentares... a minha familia materna é daqui, a casa (onde moro e onde a Rádio esteve a emitir até ao seu fecho em 2003) está situada no alto da encosta, em Aldeia da Serra, local ideal para colocar antenas e obter um grande alcance.
O hábito manteve-se, entretanto mais meios foram sendo adquiridos (para o meu estúdio na Guarda e o estúdio daqui), até que em 1986, tudo se juntou...
O que significou para ti o fim desse projeto?
O fim do projecto RBA foi triste, tendo em conta as circunstâncias; em 2003, a realidade social e economica do concelho e da região já era alarmante, tendo em conta o fecho das fábricas de lanifícios, onde milhares tinham o seu "ganha-pão" e, por consequência, a diminuição brutal da actividade economica, elevado índice de desemprego e a respectiva perda de mercado publicitário...
A rádio já estava a manter-se com dinheiros particulares, não era sustentável por muito mais tempo... Depois, o "embróglio" administrativo e legislativo que prejudicou a renovação do alvara... O fecho foi ordenado pela ANACOM em 30 de Junho, a RBA deixou de emitir... Mas não desapareceu... 18 anos depois, tudo existe, ainda, e funcional: os estúdios, os equipamentos, os arquivos musicais... Até a pequena torre onde estão ainda as antenas...
O que se seguiu, em termos radiofónicos?
Uma onda de sorte: soube, por dois amigos e ex-colaboradores, que a Rádio Mangualde, fruto de uma remodelação e entrada de uma nova direcção, estava no processo de admissão de colaboradores a tempo inteiro, enviei o meu currículo e fui chamado para uma entrevista...
Estavamos no dia 15 de Agosto de 2003, fui chamado à rádio, éramos 7 candidatos às diversas posições, os directores conversaram comigo, já era conhecido de alguns deles, coloquei as minhas condições e ficaram de me contactar posteriormente para me transmitirem a sua decisão.
Mal tinha chegado a casa, estava o telefone a tocar: eram eles, pensavam que ainda estava em Mangualde, voltei à rádio e fui convocado a estar presente no dia seguinte pelas 7 da manhã para começar a aprender o funcionamento. Para mim era tudo novo: um estúdio já sem gira-discos, sem gravadores, mas com um computador e um software de emissão... Tive apenas três dias para encaixar a "novidade" e depois disso... seguiram-se quase 10 anos nos 107.1, nas manhãs, mas também noutras tarefas, a cooperativa aproveitou-se do meu "know-how" para melhorar a casa e manter a manutenção dos equipamentos, inclusivé, cheguei a reparar o emissor, afectado por uma descarga atmosférica... infelizmente, também por motivos económicos (corria o ano de 2013) a rádio teve, também, o seu fim... Em 2014, fui contactado por um antigo colaborador da RBA, o Filipe Borges, que tinha celebrado um contrato com a cooperativa da Antena Livre (Gouveia), sabendo da minha situação e sabendo bem das minhas qualidades, convidou-me a fazer parte da equipa de arranque do novo projecto, não só para fazer rádio mas para o ajudar a coordenar toda a casa, no geral.
Aceitei o desafio e em Junho de 2014 já estava no ar a "nova" Antena Livre" e uma nova filosofia para a rádio: estúdios repartidos por vários concelhos, os meus, da RBA, tornaram-se no “Centro de Produção de Seia”... infelzmente, não se pode realizar o alemejado e prometido contrato, tendo eu saído no final de um ano de colaboração, em Agosto de 2015... Considero esta data aquela em que “pendeurei em definitvo os auscultadores”.
Felizmente, a minha passagem deixou marcas, muito do que lá se faz, ainda hoje, é a continuidade das ideias implementadas durante a minha passagem .
Qual o programa que foi mais importante para ti?
Tenho vários que podem muito bem situar-se nessa categoria: o primeiro de todos, "Espaço Jovem" (ainda na Altitude), depois, ja na RBA mas também com emissão nas "Radios Livres" Radio Clube de Monsanto, Radio Cidade Oppidana e Rádio Elmo, o "Stereonoite", as emissões da manhã, na RBA, na Rádio Magualde e na Antena Livre e, o programa que tem a minha preferência, não só pela longevidade mas também pelo conteúdo musical que possui, "nascido" na RBA em 1983, depois levado por mim para a Rádio Mangualde e, depois, ainda antes de integrar a Antena Livre, para 3 emissoras de rádio (hoje são 11 FMs e 2 na internet), o "Filhos da Noite".
É difícil fazer rádio no interior?
É. O interior é cada vez mais desertifacado, esquecido pelo governo central e penalizadado economicamente, não existem, logo à partida, muitas rádios para nos integrarmos profissionalmente... e nas que existem, os meios financeiros são escassos, longe vão os tempos da "carolice" que criaram esses projectos... por outro, devido ao envelhecimento das populações residentes, temos de fazer rádio para elas, muitas rádios não possuem arquivo suficiente de música desses tempos e algum desse material é proveniente da Internet, em arquivos de som com qualidade duvidosa, ou não têm ninguém para os passar... digo sempre.
Tive a felicidade de ter começado numa rádio que tem esses arquivos, ter trabalhado com eles, ter tido uma rádio que adquiriu arquivos semelhantes e ao longo destes anos me tenho servido desses arquivos para as minhas emissões, "obrigando-me" a conhecer as historias de quem canta, das canções, dos discos em si, porque quem ouve, nessas idades, quer mais do que música, quer companhia; as rádios locais são muitas vezes a sua única companhia, o locutor é, inúmeras vezes, a extensão da sua família.
Que desafios se colocam, atualmente, às rádios locais?
Imensos, direi mesmo, terríveis, pesados, alguns escusadamente impostos... O maior de todos é mercado publicitário, a sua maior é muitas vezes a única fonte de receitas, mesmo com rádios a fecharem, o mercado que fica não se direciona às que se mantém no ar... outro factor, talentos, sem finanças saudáveis, não há dinheiro para salários, logo, as vozes das rádios muitas vezes limitam-se a serem de gentes locais, não assalaridas ou um ou outro assalariado, mas mal pago (salário mínimo em quase todos os casos).
Os piores e mais temidos são os direitos a pagar: a "investida louca" das organizações que cobram os tão mal legislados "Direitos Conexos", usando-se de táticas de "bullying" para imporem as suas regras, igualmente da autoridade que nem devia existir (ERC) pelas mordormias pagas a quem detém cargos e executa funções que poderiam bem melhor, e mais economicamente, serem desempenhadas pela ANACOM.
Portugal não pode dar-se ao luxo de ter duas entidades com “quase” as mesmas funçõe... e, sem dúvida, a própria legislação da rádio, tantas vezes alterada, já, que impede a liberdade de decisão a quem dirige os projectos, obrigando a 24 horas de emissão, com o respectivo desgaste de equipamentos e avolumar de consumos de energia, as quotas de música portuguesa e a complicação da sua formatação (sub-quotas definidas, que obrigam a uma actualização constante dos dados), isto para não falar de que muita dessa musica é de facto "intragável" para a idade de quem ouve; por fim, a mudança de atitude das novas gerações, consumidoras de "playlists" pre-formatadas na Internet, numa pen ou cartão memória, sem intervalos, sem noticias, sem publicidades, afastando-as das realidades, tornado-as mais pobres na aquisiçao de informação daquilo que lhes rodeia... tudo somado, uma montanha de dificuldades... mas a "resilência" de quem dirige as rádios tem procurado resistir a todas estas contrariadades, com sucesso... até agora...
A rádio tem futuro?
Sim, tem, as novas tecnologias vão permitir melhorar qualitativamente a forma como se ouve rádio, sim, esse único meio gratuito e universal de difundir música, informação e cultura.
As "velhinhas" Onda Longa, Média e Curta podem ser renovadas com a utilização da tecnologia "DRM", aliando as qualidades destas frequências, de grande alcance, particularmente à noite, bem maior que o FM, permitindo uma escuta de qualidade FM em ondas que, até agora, têm um som de inferior qualidade motivado mais pelos regulamentos internacionais em vigor do que a tecnologia actual... por outro lado, a Internet, um meio não universal e "pago", mas que abre a janela das rádios ao mundo, com interação, em alguns casos, vários canais de rádio e, já em muito, aquilo que já se denomina de "radiovisão", aliando o vídeo ao áudio, neste caso, rádio.
Quais os teus atuais projetos?
De momento, o único grande projecto que mantenho com dedicação é um programa de duas horas, semanal, "Filhos da Noite", emitido em 10 rádios FM e duas rádios na Internet, mas que procuro ainda expandir, de distribuição gratuita, o seu conteúdo é de música dos anos 60, 70 e 80, não portuguesa por opção, mas inclui tudo aquilo que, não sendo inglês, também passou pela rádio nessa altura - gandes canções italianas, francesas, alemãs, holandesas - e, durante os meses de Abril e Maio, o destaque vai para o Eurovisão da Canção, desde inícios até meados dos anos 80.
Pela dedicação que tenho aos arquivos de música do passado, continuo a frequentar feiras de antiguidades e usados para continuar a adicionar material musical para o programa porque na Internet não se arranja e, se existe, tem fraca qualidade, sendo o disco o melhor suporte musical. Também, dar assitência em regime de “freelancer” a rádios que me solicitem apoio e o uso dos meus conhementos para resolver problemas (de momento, são os casos da Rádio Imagem e Antena Livre), por fim, no meu trabalho actual, na Fundação Aurora Borges, uma IPSS, em Santa Marinha (Seia), para além de outras tarefas que desempenho, a continuação da dedicação dada à produção de conteúdos de video das reportagens efectuadas para o Jornal de Santa Marinha e a continuidade do programa de rádio “A Voz da Solidariedade”, produzido semanalmente na própria Fundação, em estúdio construido para o efeito e onde tenho a responsabilidade da sonoplastia.
O que representa para ti a Guarda?
Tudo! É a minha terra adoptiva, a cidade que me acolheu, onde tive os meus primeiros amigos, onde frequentei o ensino e aprendi tudo o que sei de electrónica, onde se formou e consolidou o meu amor pela radiodifusão e pelas comunicações, onde ainda hoje volto sempre que posso nem que seja para ir à padaria do Bonfim (meu bairro do coração) comprar o meu pão espanhol e, sempre, quando regresso, cai uma lágrima de emoção à chegada, assim como cai outra, quando a deixo...
João Ferreira saiu da Guarda com 18 anos, mas a cidade continua a ser uma referência para ele. Segue à distância a vida e os acontecimentos citadinos, nomeadamente através das redes sociais, dos jornais e dos contactos com os amigos, “que deixei há 35 anos”.
Na sua memória continuam “os tempos da adolescência, com os cursos de fotografia, diaporama, teatro, xadrez, etc, elaborados no extinto FAOJ, nas instalações da Praça Velha; bem como a passagem para a Associação dos Jogos Tradicionais e do Lazer e os levantamentos fotográficos de fim de semana dos torneios de jogos tradicionais e as respetivas noites no laboratório para revelação e impressão dos filmes; das Festas da Cidade na cabine da Rádio Altitude e na noite da RA receber em casa a vedeta Marco Paulo para pagamento do cachet do espetáculo; as noites no Centro Cultural com alguns trabalhos de sonoplastia para o Grupo de Teatro Aquilo”.
Contudo é a Rádio Altitude que prevalece no topo das suas memórias, desde logo pela ligação familiar a um dos nomes incontornáveis daquela estação emissora: Antunes Ferreira, seu pai.
“Há três grandes motivos me fazem seguir a Rádio Altitude, recorrentemente: o meu Pai, os amigos e conhecidos que ficaram ou seguiram, como eu, outros destinos e a própria Cidade da Guarda e as suas novas.”
Ao Correio da Guarda disse que “ainda garoto acompanhava o Antunes Ferreira para a Rádio; era uma aventura poder mexer nos discos, admirar as capas dos Singles e LP´s com imagens que, na altura, eram o equivalente a uma visita a um museu de arte moderna e, ainda que agora pareça estranho, conhecer cara a cara os autores/cantores dos registos fonográficos. Como compensação, podia ouvir qualquer música que me despertasse atenção, quer pela capa do disco, quer pelo título ou até porque podia ouvir tudo o que me despertasse a atenção”.
Do rés-do-chão da casa da Rádio evoca o tempo que passava “no meio do cheiro de uma cola de vidro, blocos de folhas de papel amarelas, excedentes de divisórias de radiografias do, na altura, Sanatório Sousa Martins e recortes de Jornais nacionais. À frente desse método quase artesanal de “fazer” notícias, o Sr. Manuel Vaz Júnior” pegava em mim, punha nas minhas mãos uma pesada tesoura, pincel de cola e ensinava-me os primeiros passos de “adjunto de redactor”...
Como nos referiu, a ele deve “o hábito de ler um jornal de ponta a ponta e encontrar uma notícia na necrologia ou nas farmácias de serviço. Quem passou por lá saberá do que escrevo”.
Do pai, Antunes Ferreira, ganhou o hábito de ler. “Desde muito novo que o via ler, de jornais a livros, e quando ganhei o conhecimento que por letras se podia viajar para qualquer lado fiquei viciado na capacidade de adquirir qualquer conhecimento com esse simples exercício que sempre me acompanhou.”
Com o tempo foi-se envolvendo na atividade da Rádio. “As gravações de programas, a colocação de microfones, o arquivo de fichas de registo dos temas da discoteca, a arrumação dos discos, as transmissões exteriores como a exaustiva tarefa de busca para ponto de telefone e respetiva ligação do cabo de rede, as longas noites de eleições e as chamadas telefónicas para os pontos eleitorais com os resultados à boca das urnas, as tardes de domingo com as chamadas para os Campos de Futebol ou cafés próximos, a gravação dos primeiros programas noturnos, enfim... um pouco da história da Rádio Altitude dos anos 70 e 80 que passava por todos os colaboradores porque era um curso abrangente a quem, na maioria dos casos, estava ali por carolice e gosto”.
João Ferreira lembra ainda os tempos em que foi “arquivista, dos discos e respetivas fichas, cobrador de anunciantes, sonoplasta de inúmeros de programas, realizador e co-autor de programas, inauguração do novo Estúdio de Gravação, Hi-Tec para a época, onde aprendi a lidar com a tecnologia mais recente de sonoplastia de Rádio”.
Nas imagens sobre o tempo passado nesta emissora guardense tem ainda presente o trabalho que desenvolveu “com programas de autores e co-autoria, com Luís Celínio (Escape Livre), Hélder Sequeira (Passado e Presente), Albino Bárbara, Jorge Barreto Xavier, Martins das Neves, etc.”
Sobre o seu pai sublinha que foi sempre uma referência “quer como a pessoa que definiu o carácter e exemplo a seguir, quer como exemplo profissional. Sempre o vi primar pela justiça, equidade, humildade, profissionalismo e independência.
Recordo com orgulho as palavras escritas por um grande profissional que por lá passou e cedo a vida levou, numa dedicatória registada na primeira edição da Constituição da República de 1976: “Ao amigo Antunes Ferreira, fazendo votos que faça cumprir o Artº 37º ”... Sempre cumpriu e garantiu que fosse cumprido.”
Instado a comentar alguns episódios vividos na rádio, João Ferreira disse que tinha dezenas deles. “Mas recordo principalmente nos pós-25 de Abril de 1974, ir com o meu pai para a RA e deparar ao cimo das escadas do primeiro piso, com uma G3 encostada e o respetivo titular a descansar na sala que mais tarde seria a biblioteca. Perante a minha interrogação o meu pai terá dito algo como: “Aquele soldado está ali para nos defender”. Eu retorqui: “Mas a arma está ali, longe dele!”, ao que o meu respondeu: “ele sabe que eu já cheguei e nesta altura, como ninguém nos fará mal, foi descansar um pouco.” Dormi todo o PREC descansado!”
João Ferreira (sócio-gerente de empresa do ramo mobiliário e colchoaria, após ter passado à reserva no Exército, onde esteve cerca de 13 anos) vive, atualmente, entre Lisboa e Aroeira, “hábito que ganhei graças à pandemia e passei a repartir o meu tempo entre a habitação normal em dias de trabalho pleno e à casa de férias para os períodos de lazer e de confinamento.”
Partiu da Guarda para Lisboa em 1985 para cursar Direito; contudo, ao fim de quatro anos ingressou no Exército, “onde fiz o Curso de Sargentos e pausei, na altura sem prever, “ad eternum” a finalização do Curso de Direito, onde ainda fiz mais 2 anos já no novo milénio.”
Continua empenhado no estudo da História do Armamento do Exército Português e mantém a “paixão pela fotografia, apesar de muitas vezes, por inerência à atividade na área do turismo, deixe a mochila da máquina fotográfica em casa e use o telemóvel, com o défice óbvio.”
Hoje assinala-se o Dia Mundial do Rádio. “Mais do que nunca, precisamos desse meio humanista universal, vetor da liberdade. Sem o rádio, o direito à informação e à liberdade de expressão e, com eles, as liberdades fundamentais seriam fragilizadas(...)". Assinala Audrey Azoulay, Diretora-Geral da UNESCO.
Recorde-se que o 13 de fevereiro foi designado em 2011 pelos estados membros da UNESCO, e adotado em 2012 pela Assembleia Geral das Nações Unidas, como Dia Internacional do Rádio. A escolha do 13 de fevereiro fica a dever-se ao facto de ter sido neste dia que o Rádio das Nações Unidas emitiu pela primeira vez, em 1946, um programa em simultâneo para um grupo de seis países.
A celebração do décimo aniversário do Dia Mundial do Rádio é subordinada ao tema “Novo Mundo, Novo Rádio”, realçando a capacidade de adaptação deste meio às transformações sociais e tecnológicas, bem como na sua flexibilidade para responder às solicitações hodiernas dos seus ouvintes.
Uma temática que se desdobra, a propósito deste dia, nos subtemas “Evolução” (sublinhando a mudança da nossa realidade e evolução do rádio), “Inovação” (a propósito da transformação operada para que o Rádio aproveite e rentabilize os recursos oferecidos pelas novas tecnologias, inovando no sentido de consolidar a sua presença quotidiana e assegurar melhores condições de acesso às emissões) e “Conexão” (evidenciando o seu papel de meio rápido e eficaz de contacto, de agente informativo e formativo).
O Rádio tem sido o meio de comunicação social que atinge elevadas audiências e consegue estar presentes em zonas onde outros canais de informação não chegam, por diversificadas razões.
E nesta época de pandemia, isolamento, restrições várias, o rádio ajuda-nos a desconfinar, encarando o presente e o futuro com novo vigor; criando adaptações para um tempo diferente.
Jaime Marques de Almeida, jornalista com uma longa e ativa carreira radiofónica, escreveu que “este é o tempo de não nos tocarmos. Mas a Rádio toca-nos! Este é o tempo de tantas fronteiras afectivas. Mas a Rádio abraça-nos! Este é o tempo de todos os afastamentos. Mas a Rádio envolve-nos!”
Acrescentaremos que este continua a ser o tempo do rádio! Do rádio cada vez mais interventivo, com futuro.
O rádio é indissociável das nossas vidas.
(Hélder Sequeira)
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