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A rádio continua a ter um papel fundamental na informação regional e, com distinta flexibilidade, na aproximação às pessoas; seja no meio urbano ou rural. Como já escrevemos noutra ocasião, essa proximidade dever ser incrementada cada vez mais, possibilitando uma constante auscultação de anseios, registando as perspetivas sociais, económicas e políticas, dando voz às pessoas, ampliando a informação, levantando novas questões e problemas; importa que a rádio (e a imprensa) não se circunscreva às agendas informativas institucionais.
Sabemos que o atual cenário, em vários planos, é de apreensão e de difíceis desafios para a comunicação social regional e, obviamente, para rádio em particular face ao crescendo de exigências legais. Aliás é estranho, ou talvez não, que na recente campanha eleitoral pouco ou nada se tenha ouvido sobre a crise que afeta a comunicação social; crise que alguns analistas consideram se possa repercutir na significativa redução do número de profissionais que trabalham nas rádios, mercê da implementação progressiva da inteligência artificial (IA) nas emissões diárias.
A Inteligência Artificial apresenta novos caminhos para mais eficiência e múltiplas vantagens ao nível da melhoria da programação e interação com os ouvintes; para além da automação das emissões radiofónicas a IA apresenta-se como forte apoio para produção de notícias, definição da sequência musical e de um conteúdo programático convidativo e diferenciado. Através de algoritmos e modelos automatizados a IA tem a capacidade de proceder à análise de uma enorme quantidade de informação, identificando padrões e desencadeando, consequentemente, procedimentos adequados.
O acompanhamento constante das atualizações e publicações nas redes sociais pode ser efetuado de uma forma rápida, detetando tendências e assinalando notícias e temáticas que podem interessar aos ouvintes, despertando assim a sua atenção. Através de software adequado podem ser produzidas mensagens para as redes sociais assim como conteúdos destinados a plataformas digitais que ampliam o trabalho da estação emissora. Como escreveu Cristiano Stuani, a IA “pode utilizar-se para produzir textos e conteúdos para as redes sociais, personalizar anúncios e analisar dados de audiência, ampliando o alcance da marca e oferecendo publicidade mais relevante e efetiva para os anunciantes”.
No último ano a Inteligência Artificial tem vindo a aumentar a sua presença e influência no mundo da rádio. Na Alemanha está já a funcionar, no âmbito de um projeto da Antenne Deutschland (AD), o canal Absolut Radio AI, que pode ser escutado em DAB +, sendo 100% produto da Inteligência Artificial. Com o recurso à tecnologia designada por Radio.Cloud é elaborada toda a programação, inserida a voz e definidos os intervalos musicais ou publicitários, apostando num auditório da faixa etária entre os 14 e 49 anos. O “animador de emissão” tem o nome de kAI. A diretora de programação da AD, Tina Zacher, afirmou a uma publicação da especialidade que as IA não irá substituir, nos próximos anos, os radialistas, mas “pode simplificar tarefas repetitivas, dando mais tempo para os profissionais da rádio serem criativos”.
O debate em torno das implicações da Inteligência Artificial no meio rádio é atual e necessário, bem como a necessidade de um melhor conhecimento da diversidade de aplicações disponíveis; ao nível da automação, utilização de voz, criação de cópias de conteúdos, novas fórmulas de atração de ouvintes. Acresce ainda a análise e clarificação das questões éticas, do impacto no emprego, da salvaguarda de direitos de autor e direitos conexos, da distinção de vozes criadas pela Inteligência Artificial.
Na área da indústria de equipamentos para radiodifusão não tem faltado quem argumente que o uso abusivo da Inteligência Artificial poderá criar situações indesejáveis; para outros ajudará a personalizar os conteúdos das emissões de rádio, a automatizar tarefas repetitivas e a melhorar a qualidade geral da programação. Sustentam, ainda, que a Inteligência Artificial pode viabilizar economia de tempo para as emissoras, ao assegurar conteúdos para os períodos da noite e madrugada, criando rapidamente podcasts e outros materiais de áudio online para sites. Aliás, ao nível da produção de podcasts, há empresas que perspetivam já para o corrente ano a disponibilização de tecnologia capaz de possibilitar a sua audição, por parte do público, na língua que pretendam. Naturalmente com as vantagens daí decorrentes e na expetativa de ampliação das mensagens publicitárias.
A utilização da inteligência artificial em novos equipamentos, produtos, serviços e inovações abre, assim, uma discussão ao nível político e ético, entre outras esferas de intervenção. Especialistas, nesta matéria, fizeram já notar a existência de questões legais sobre os direitos de propriedade e autoria de conteúdos criado por Inteligência Artificial; alertando também para a clarificação da forma como as emissoras podem proteger, legalmente, os conteúdos próprios.
Noutras perspetivas de análise, e sobre a problemática relativa à substituição dos animadores de emissão pela IA, é manifestada a opinião de que a Inteligência Artificial deve ser utilizada como ferramenta de ajuda à melhoria do fluxo de trabalho diário de apresentadores, programadores e jornalistas. Assim, é sublinhado que nesta matéria o grande benefício da IA, neste contexto, é assegurar as notícias locais e a identidade da emissora fora do horário normal de trabalho, quando ninguém está presencialmente; como sejam os períodos da noite ou em turnos de fim de semana. Daí que nomes conhecidos do mundo da indústria da rádio considerem que as aplicações de Inteligência Artificial, usadas pelas emissoras, vão preencher lacunas ao nível dos recursos humanos, não implicando a sua substituição; reforçam a vantagem de serem criados segmentos especiais em horários onde a presença do animador não está assegurada ou é inviável. Veja-se a realidade de tantas emissoras locais, mormente as sedeadas no interior de Portugal.
Espaços da programação onde podem pontuar as notícias locais, informação sobre as temperaturas e a previsão meteorológica ou, através de sistemas informáticos específicos, serem gerados podcasts sobre desporto, espetáculos culturais, tradições locais/regionais, roteiros turísticos, agenda de festividades.
Do outro lado no Atlântico, nos EUA, o RadioGPT (software com inteligência artificial vocacionado para a automatização das emissões de rádio) evoluiu já para um novo nível com o Futuri AudioAI, produzido pela Futuri Media, oferecendo uma presença em direto ao longo das 24 horas e durante todos da semana; garantindo, igualmente (e entre outras vantagens), a criação automática de podcasts e notícias para partilha.
A discussão sobre a importância, vantagens e perigos da Inteligência Artificial deve merecer a nossa melhor atenção. Embora se deva ter em conta que a IA pode ser um precioso auxílio dos profissionais da rádio (a par de uma ajuda importante na estratégia de conquista de novos públicos, da fidelização de ouvintes), não podemos esquecer a essência da Rádio.
A humanização deste meio de comunicação é fundamental e as pessoas não podem ser afastadas do processo evolutivo da Rádio, que continua a ter futuro, apesar dos múltiplos condicionalismos e desafios.
Hélder Sequeira
in O INTERIOR, 20mar2024
O panorama atual das rádios portuguesas é substancialmente diferente daquele que era vivido há duas ou três décadas. Houve uma seleção natural das estações nascidas sob o alvor da regulamentação do espectro radioelétrico, face a condicionalismos de vária ordem; mormente da necessidade de serem afirmados projetos pautados pelo profissionalismo, com um esclarecido entendimento da função social da rádio.
O suporte económico-financeiro não deixou de ser um fator importante, sobretudo em zonas de baixa densidade populacional, como a nossa, onde as fontes de receita proporcionadas pela publicidade diminuíram de forma drástica. A pandemia fez-se também notar de forma impiedosa, ainda que chamando a atenção para novas fórmulas de desenvolvimento do trabalho na rádio.
A diminuta fatia (quando existente) da publicidade institucional acentuou ainda mais a preocupante realidade de muitas estações. Os projetos radiofónicos não evoluem se não for garantida a sua sustentabilidade financeira, a sua autonomia e, simultaneamente, criadas dinâmicas capazes de reforçarem a qualidade dos conteúdos programáticos, ampliarem audiências, aproximarem-se dos seus destinatários e interlocutores.
Será oportuno recordar que nos fins genéricos da atividade de radiodifusão se inscreve a obrigação de contribuir para a informação do público, garantindo aos cidadãos o direito de informar, de se informar e de ser informado, sem impedimentos nem discriminações. Por outro lado, a lei estabelece que às rádios compete contribuir para a valorização cultural da população, assegurando a possibilidade de expressão e o confronto das diversas correntes de opinião, através do estímulo à criação e à livre expressão do pensamento e dos valores culturais que traduzem a identidade nacional.
O debate em torno do perfil da rádio, na atualidade e no futuro, tem suscitado posturas diferenciadas, mas convergentes quanto à sua continuidade. Para alguns, a rádio tem de resistir à tentação de perder a sua credibilidade na concorrência diária que enfrenta com as redes sociais e media socias. Essa credibilidade passa pelo rigor e salvaguarda permanente da sua função informativa, pela ação ao nível do entretenimento, nas várias vertentes.
Tendo em consideração a constante evolução tecnológica e as tendências dos consumidores, é também defendido que caminhamos para a existência de menos rádios físicas e mais virtuais; para uma rádio interativa no plano musical, com a escolha por parte do ouvinte. Este cenário faz emergir novas exigências para os seus profissionais que têm de estar dotados de competências ao nível da utilização das redes sociais, da edição de áudio e vídeo relativa aos seus trabalhos; sejam peças informativas, sejam as intervenções específicas na programação regular.
Não esqueçamos que a humanização da rádio é fundamental; as pessoas não podem ser afastadas do processo evolutivo e do plano radiofónico. Um radialista espanhol escrevia, a este propósito, que quanto mais complexa é a tecnologia mais se valorizam os conteúdos humanos que existem no seu interior. Assim, importa evidenciar e valorizar a importância da voz na rádio, a presença do animador de emissão, que nos envolva no fascínio da rádio; o qual não é incompatível com a adequação das suas emissões a novas plataformas e meios de receção.
Longe vai o tempo da mobilidade que o transístor nos permitia; hoje o telemóvel está presente no nosso quotidiano, ultrapassando largamente a função de fazer ou receber chamadas. É arquivo, é meio de consulta e informação, meio de registo áudio ou vídeo, elo permanente de ligação com o mundo. A audição da rádio passa, igualmente, pelos dispositivos móveis. A rádio não pode olvidar estes novos recetores e a adequação das suas emissões para estes equipamentos; adequação que pode ser complementada com aplicações que agilizem e agendem alertas para programas, notícias, trabalhos específicos que interessem ao cidadão.
Neste contexto é fundamental centrar a atenção nos conteúdos programáticos. Percebe-se, cada vez mais, que o ouvinte escolha perfis identitários numa emissora onde a diferença da oferta informativa e musical constitua uma possibilidade de opção face à uniformidade das propostas radiofónicas; geralmente com a exaustiva repetição de músicas, com a sucessiva reedição de temas de política nacional ou local, com demasiado peso da opinião de comentadores, com a redundância de temáticas que podem ser gratas aos intervenientes de um espaço de debate radiofónico, mas não têm o mesmo interesse para a generalidade de quem escuta.
Escrevíamos, nas linhas anteriores, que os conteúdos humanos são fundamentais, mesmo com o atual quadro tecnológico. De facto, é por uma rádio com gente dentro, por uma rádio atenta à realidade local dando expressão a quem tenha algo de novo e diferente para dizer, que passa também o futuro da rádio, muito para além dos limites definidos pelas ondas hertzianas.
Aliás, “O Rádio sem Onda – convergência digital e novos desafios na radiodifusão” é o sugestivo título de um livro de Marcelo Kischinhevsky; uma publicação onde foi feita uma síntese da trajetória do rádio nas últimas décadas e de alguns caminhos para o futuro (alguns já do presente), onde ficam balizados o podcasting ou o rádio digital por assinatura.
Estes novos cenários da rádio devem merecer a indispensável atenção de forma que se potenciem recursos humanos, agilizem estratégias, se alcancem objetivos de audiência e se garanta uma posição de vanguarda. Claro que não podemos ser redutores quanto à questão de a rádio tradicional ter limites temporais na sua existência, nem ficarmos presos ao debate se a o rádio na internet é rádio.
Esta atividade não se pode alhear da evolução tecnológica, por um lado, nem alimentar, por outro, a ideia sublinhada por muitos de que o rádio tradicional ficará obsoleto como os discos de vinil. Não é verdade, muito menos para este exemplo, pois sabemos que o vinil emergiu com uma nova força e qualidade sonora.
Uma boa e completa informação (distribuída equilibradamente ao longo da emissão), numa estação de rádio, reforça a sua presença na zona onde se insere, atribui-lhe identidade, e visibilidade no contexto global. Como têm defendido vários investigadores da área dos media, “a força do jornalismo numa emissora de rádio local é o instrumento que lhe dá a sensação de plenitude local e regional”. A informação a privilegiar pela rádio local é a que está relacionada aos acontecimentos da proximidade; na opinião de Cebrián Herreros "o mais importante é cobrir as notícias que os demais não dão", mesmo que menos sensacionais.
O êxito de uma estação de rádio, em especial neste espaço geográfico do interior do país, passa por um entendimento objetivo dessa realidade e pela permanente aproximação e interação com a mesma. Desde logo com os setores populacionais circunscritos ao meio rural e que, não seguindo conteúdos informativos do meio televisão – por variadas razões – encontram na rádio a companhia diária, um interlocutor de proximidade, uma maior identificação.
Este trabalho das rádios implica um grande labor diário, uma permanente formação, atualização, a par de uma imprescindível interpretação dos contextos sociais, culturais, políticos e económicos. Um trabalho sério e isento, equidistante, sem declinar, naturalmente, uma salutar relação profissional sempre com a devida consciência das normas deontológicas e éticas.
O futuro da rádio – alicerçado em pilares de competência, profissionalismo e experiência – passa pela sua reinvenção e perceção da sua inconfundível magia.
Helder Sequeira
in jornal O Interior, 21_junho_2023
A Rádio Altitude (RA) vai passar a ser dirigida, a partir de amanhã, pelo jornalista Luís Batista Martins, diretor do semanário O Interior. O novo responsável, que substitui o jornalista Rui Isidro, acumulará as funções de diretor de informação e programas.
Recorde-se, e como tivemos já a oportunidade de escrever, que esta estação emissora tem interessantes particularidades, originada no seio das experiências radiofónicas que ocorreram no Sanatório Sousa Martins, cerca de 1946.
Nessa altura, as rudimentares emissões circunscreviam-se ao pavilhão onde estava concentrado o grupo de doentes pioneiros deste projeto e apenas com a construção de novo emissor foi ganhando dimensão a aventura radiofónica. Em 1947, Ladislau Patrício (cunhado do poeta Augusto Gil), diretor do Sanatório, assinou, a 21 de Outubro, o primeiro regulamento desta emissora, onde estavam definidas orientações muito objetivas sobre o seu funcionamento.
Em finais desse ano as suas emissões já eram escutadas na malha urbana da Guarda, que seguiu, com particular entusiasmo, o início oficial das emissões regulares, assinalado a 29 de Julho de 1948; um ano depois (1949) foi-lhe atribuído o indicativo CSB 21, identidade difundida por várias décadas, a partir do alto da serra, “eterna como o sol que alumia o mundo”, na expressão Nuno de Montemor. Este escritor, diga-se, fez parte do grupo inicial de ouvintes da rádio. Sobre a rádio deixou, aliás, as suas impressões nas páginas de outro pilar informativo do Sanatório: o jornal Bola de Neve.
A propriedade do primeiro emissor pertenceu, inicialmente, à Caixa Recreativa do Internados no Sanatório Sousa Martins e, mais tarde, com a sua extinção, ao Centro Educacional e Recuperador da unidade hospitalar vocacionada para o tratamento da tuberculose. Com a criação do Centro Educacional e Recuperador dos Internados no Sanatório Sousa Martins (CERISSM) pretendeu-se auxiliar os doentes, especialmente no que dizia respeito “à sua promoção social e ocupação dos tempos livres”.
Aliás, foi no seio dos sanatórios que surgiram interessantes projetos radiofónicos – como seja a Rádio Pólo Norte, no Sanatório do Caramulo, e a Rádio Pinóquio, no Sanatório das Penhas da Saúde, Covilhã, para referirmos os mais próximos.
O CERISSM foi uma autêntica instituição de solidariedade; para além de viabilizar a afirmação e implantação da Rádio Altitude desenvolveu uma vasta obra assistencial, sob o impulso do médico Martins de Queirós, o quarto e último diretor do Sanatório da Guarda.
Em 1961, mediante autorização oficial, o RA passou a ter como suporte económico-financeiro as receitas publicitárias que em muito contribuiriam para o auxílio dos doentes mais carenciados.
As emissões evoluíram, ao longo das primeiras décadas em função das disponibilidades técnicas, dos recursos humanos e financeiros mas encontrando sempre no, crescente auditório, uma grande simpatia e um apoio incondicional.
Até 1980 a Rádio Altitude emitiu na frequência de 1495 Khz, em onda média (abrangendo não só o distrito da Guarda mas igualmente os distritos de Viseu e Castelo Branco e algumas das suas áreas limítrofes), altura em que a sua sintonia passou a ser feita no quadrante dos 1584 khz.
Após 1986, e com a liberalização do espectro radioelétrico passou também a desenvolver as suas emissões em frequência modulada, em 107.7 Mhz, a qual foi alterada, em 1991, para os 90.9 Mhz.
Em 1998, e depois de ter sido determinada a extinção do Centro Educacional e Recuperador dos Internados no Sanatório Sousa Martins, foi decidida a realização de uma consulta pública, com vista à “transmissão da universalidade designada Rádio Altitude”, considerada a “única estrutura em funcionamento do ex-CERISSM”.
A estação emissora entrou assim, com a sua aquisição por parte da Radialtitude–Sociedade de Comunicação da Guarda, num capítulo novo da sua existência, mantendo a ligação física ao antigo espaço sanatorial.
Como dissemos, esta é uma rádio muito particular, de afetos, de memórias, vivências, amizades, dedicação, de serviço público, de criatividade, de formação, do interior das Beiras, hoje rádio global, de futuro.
As emissões radiofónicas passam hoje, em larga medida, pelo meio digital, num cada vez mais recorrente recurso às modernas aplicações e tecnologias.
A rádio, a sua forma de estar e responder, evoluiu e, felizmente, acaba por estar ainda mais perto e envolvendo de forma invisível o nosso quotidiano. Presença entendida como plena confirmação de que o meio rádio não pereceu perante o digital e as novas tecnologias, antes encontrou novos pilares de sustentabilidade e de maior interação com o seu público.
A generalidade dos equipamentos que usamos no dia-a-dia, desde logo o telemóvel, o tablet ou outras expressões da materialização do progresso tecnológico, facilitam-nos e proporcionam o encontro com a rádio; mas para além das emissões em direto não se podem esquecer as vantagens proporcionadas pelo podcast. Neste contexto, para além de acrescentarmos que esta é uma das novas virtualidades exploradas pela rádio, convém sublinhar a mudança de paradigma do perfil da rádio local. Ainda neste ponto, não será despropositado afirmar que a Rádio Altitude nunca esteve confinada a um figurino de rádio local, nem a um certo significado pejorativo que muitos gostam de associar.
Recordemos que, enquanto existiram as emissões em onda média – e mercê das condições de rentabilização do seu emissor, da localização geográfica – o raio de abrangência englobou zonas muito diferenciadas e mais ou menos distantes desta cidade. Posteriormente, e uma vez mais potencializando as vantagens de emitir a partir da cidade mais alta do país, a rádio projetou as suas emissões muito para além das fronteiras traçadas nas páginas dos diplomas regulamentadores da atividade radiofónica; ou seja a identificação como rádio local nunca foi a mais justa, e a dimensão de regional será, em qualquer análise, sempre mais adequada quando se escreve sobre a história da radiodifusão.
Hoje, para além do estatuto conseguido por mérito próprio e pela sua ímpar longevidade, enquanto rádio que se afirmou a partir do denominado interior do país o Altitude atingiu uma nova escala. Aqui está, objetivamente, o contributo dado pela tecnologia. Caiu, e retomando, a linha de análise atrás encetada, o conceito de rádio local.
Mesmo assim, a Rádio continua a ter um relevante papel como consciência e memória regional; tem, decorrente da sua função social, uma missão importante na gestão da mudança de mentalidades, do esclarecimento do público, do confronto de ideias e da salvaguarda da memória.
Esta função social da rádio deve continuar a prevalecer, mesmo face ao desenvolvimento das tecnologias da informação. A pluralidade de novos canais de informação criou cenários completamente novos, onde se torna fundamental uma atitude de inequívoco profissionalismo, objetivos claros, estratégias adequadas e uma consciência permanente dos desafios tecnológicos.
Esgotados muitos dos modelos tradicionais e modificados os graus de exigência por parte dos ouvintes, torna-se necessário aferir permanentemente os projetos e acentuar o espírito criativo.
Este, considerando o contexto económico e social, é fundamental para uma afirmação qualitativa no espectro radiofónico nacional, onde pereceram já muitas estações surgidas aquando do florescimento das rádios locais.
Os desafios da Rádio são imensos, no dia-a-dia; hoje não é apenas no plano das ondas hertzianas que tem de ser posicionada a proposta radiofónica; a rádio tem de assegurar uma estratégia rigorosa e clara no vasto horizonte da emissão on line. A rádio já não é, há muito, uma linha musical intercalada pela voz do animador de emissão, com a terminologia uniforme de muitas estações e reedição de programas que funcionavam como plataforma de troca de mensagens ou repositórios de modelos ultrapassados.
O fortalecimento da sua presença será sustentado, em larga medida, pela atenção à realidade social, económica, cultural e política da região onde a Rádio está sediada; as pessoas para além do entretenimento ou companhia que a rádio lhes proporciona querem uma informação rápida, sobre a hora ou o acontecimento que mais lhe diz respeito ou as afetam. E querem igualmente um interlocutor atento, objetivo e credível; querem uma rádio com gente dentro, de entrega a um serviço público, solidário, afetivo.
Uma rádio que questione, esclareça, atue pedagogicamente, aponte erros, noticie triunfos, sinta e transmita o pulsar da região, chame a si novos públicos.
Sabemos que não é um trabalho fácil mas o êxito constrói-se com competência. perseverança, criatividade e sentido de responsabilidade. ( Hélder Sequeira )
Foto: RA
A Rádio Altitude decidiu suprimir, até 12 de abril, todas as presenças em estúdio de convidados, entrevistados, comentadores, cronistas, intervenientes em rubricas ou programas temáticos e outros colaboradores externos.
Como explicou o diretor daquela estação emissora, Rui Isidro, “é uma medida de contenção da propagação do novo coronavírus SARS-CoV-2, tomada num pressuposto de responsabilização social e num momento em a Organização Mundial de Saúde decreta a situação de pandemia e Portugal entra em estado de alerta.”
Na informação divulgada pela Rádio Altitude, o diretor acrescenta que “para lá de outros procedimentos adotados internamente pelos profissionais da estação (reforço da higienização de zonas e equipamentos de trabalho; redistribuição de espaços e fixação de turnos; cancelamento da cobertura presencial de acontecimentos onde possa haver concentração de pessoas para além do razoável nas atuais circunstâncias), todas as participações de colaboradores passam a ser efetuadas por via telefónica ou outro meio que não exija a presença nos estúdios.”
Com esta decisão a emissora evita a “deslocação dos quase 60 cidadãos – dos mais diversos quadrantes profissionais, sociais e etários – que ajudam a fazer esta Rádio”, acrescentou Rui Isidro.
Assim, a Rádio Altitude irá proceder à suspensão temporária ou à adaptação de formatos de programas e rubricas, mantendo-se sem alterações os programas que têm produção autónoma dos seus autores, bem como outros cuja gravação não necessita de ser presencial.
Proclamado pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 2011, o Dia Mundial da Rádio é assinalado, desde então, a 13 de Fevereiro.
Esta data oficializa a calendarização de uma homenagem global à rádio mas este meio é um reencontro diário e deve merecer a nossa permanente atenção.
É mais do que reconhecida a função social da rádio e importância que assume no quotidiano, sobretudo no atual contexto político económico. Assim, não terá sido por acaso que o “Diálogo, tolerância e paz” tenha sido o tema escolhido, este ano, para Dia Mundial da Rádio, sublinhando o poder deste meio de comunicação “para promover a compreensão entre as pessoas e o fortalecimento das comunidades”.
A propósito desta data, a UNESCO lembra que, e de acordo com o Relatório Mundial " (Re)pensar as políticas sociais", de 2018, ver televisão e ouvir rádio continuam a ser atividades culturais amplamente difundidas. “Os programas de rádio que fornecem uma plataforma para o diálogo e para o debate democrático sobre as questões relevantes, como migração ou violência contra as mulheres, podem ajudar a aumentar a conscientização entre seus ouvintes e inspirar o entendimento acerca de novas perspetivas para pavimentar o caminho para ações positivas”.
Na perspetiva evidenciada pela UNESCO, os programas de rádio também podem criar tolerância e superar as diferenças que separam os grupos, unindo-os a objetivos e causas comuns, como garantir a educação infantil ou abordar questões de saúde locais.
Os conteúdos disponíveis na página da Rádio Altitude na Internet (em www.altitude.fm) foram acedidos, em 2011, a partir de 80 países e territórios. As ligações mais procuradas foram a emissão online e o arquivo de programas e rubricas em podcast, actualizado diariamente.
A seguir a Portugal, os trinta países a partir de onde se registaram ligações em maior número foram, por ordem de procura, Brasil, Espanha, França, Suíça, Alemanha, Estados Unidos, Inglaterra, Canadá, Coreia do Sul, Itália, Luxemburgo, Rússia, Angola, Moçambique, Polónia, Turquia, Argentina, México, Holanda, Bélgica, Ucrânia, Irlanda, Andorra, Cabo Verde, Austrália, China (incluindo Macau e Hong Kong), Finlândia e Índia. Entre os países a partir de onde se registaram ligações ocasionais contam-se Marrocos, Equador, Hungria, Israel, Peru, Sérvia, Suécia, Senegal, Taiwan, África do Sul, República Checa, Dinamarca, Grécia, Japão, Malásia, Roménia, Venezuela, Áustria, Qatar, República Dominicana, Tunísia, Nova Zelândia, Paraguai, Tailândia e Mónaco.
As cidades internacionais com maiores ligações aos conteúdos da Rádio foram Valência, Madrid, São Paulo, Zurique, Belo Horizonte, Genebra, Fortaleza, Frankfurt, Salvador, Recife, Seoul, Luxemburgo, Toulouse, Luanda, Paris, Lausanne, Lyon, Valladolid, Salamanca, Maputo, Roma, Nova Iorque, Dusseldorf, Bruxelas, Estrasburgo, Milão e Sydney.
Em Portugal, além do distrito da Guarda, a Rádio foi acedida online a partir de (por ordem decrescente) Lisboa, Porto, Castelo Branco, Coimbra, Aveiro, Viseu, Setúbal, Santarém, Braga, Leiria, Faro, arquipélago dos Açores, Évora, Viana do Castelo, arquipélago da Madeira, Portalegre, Beja e Bragança.
No conjunto, a página da Rádio foi acedida em 201 desde 898 cidades em todo o mundo. O acesso ao portal da Rádio Altitude fez-se, sobretudo, a partir da procura no motor de pesquisa Google (51% das entradas), por acesso directo ao endereço www.altitude.fm (23%) e por ligação a partir da rede social Facebook (18%). No Google, 3.736 palavras-chave conduziram à página da Rádio, maioritariamente por «radio altitude», «guarda», «altitude», «altitude fm» e «rádio».
A Rádio Altitude - com estúdios na cidade da Guarda - inaugurou, oficialmente, as suas emissões em 29 de Julho de 1948, sendo a mais antiga estação regional portuguesa e uma das rádios portuguesas com maior longevidade.
No longínquo ano de 1948, esta rádio apresentava-se como “Posto Emissor CS2XT” (mais tarde foi-lhe atribuído o indicativo CSB-21), emitindo, em onda média, no comprimento de onda dos 212,5 m e na frequência de 1495 Kc/s. A frequência modulada veio na década de oitenta, após o processo de liberalização do espectro radioeléctrico, em Portugal; passou a emitir em 107,7 Mhz e em 1991 na frequência (que prevalece) dos 90.9 Mhz. A estação, servida por uma equipa dinâmica e consciente do papel da Rádio no século XXI, posiciona-se na vanguarda do desenvolvimento tecnológico mas sem esquecer o seu rico historial, a profunda afectividade com a região (H.S.)
fonte: Rádio Altitude
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