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Guarda elegeu três deputados de diferentes partidos

por Correio da Guarda, em 10.03.24

 

A Aliança Democrática (AD) elegeu a sua cabeça de lista, Dulcineia Moura, como deputada pelo distrito da Guarda. O Partido Socialista (PS) voltou a escolher Ana Mendes Godinho para a Assembleia da República.

Os resultados finais, há pouco divulgados, dão conta da eleição de um deputado do Chega pelo distrito da Guarda, Carlos Simões e Melo.

A maior votação no distrito foi para AD (34,12 %), seguindo-se o PS (31,86) e Chega (18,59%).

DEPUTADOS GUARDA-1.jpg

 

Resultados no Distrito_Guarda.jpg 

 

 

 

 

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publicado às 22:20

Repensar o "espírito da Guarda"

por Correio da Guarda, em 16.07.20

 

Agendada inicialmente para junho do passado ano e posteriormente com nova marcação para 2020, a próxima cimeira luso-espanhola será realizada na Guarda (como O Interior dava conta na sua última edição), “no final de setembro, princípio de outubro”.

A “estratégia comum de desenvolvimento transfronteiriço” será um dos pontos principais da ordem de trabalhos deste encontro para o qual foi anunciada a análise de medidas que possam robustecer os territórios transfronteiriços de forma a “podermos sair desta crise”, nas palavras do primeiro-ministro português.

Curiosamente, a Guarda volta a ser palco de um encontro luso-espanhol a realizar num contexto de crise; com perfil diferente é certo, mas que reporta de novo a uma associação da cidade mais alta de Portugal à definição de novos entendimentos e rumos por parte dos dois países ibéricos.

De recordar – tal como aqui assinalámos há dois anos atrás – que a Guarda recebeu em 1976 uma importante cimeira em que estiveram os ministros dos Negócios Estrangeiros de Portugal e Espanha, respetivamente Melo Antunes e José Maria Areílza.

A cidade esteve no centro das atenções informativas, nacionais e internacionais, pois eram delicadas, à época, as relações luso-espanholas após a destruição da Embaixada em Lisboa, ocorrida em 1975.

Deste importante encontro deu conta o jornal A Guarda (este semanário e a Rádio Altitude eram os únicos órgãos de informação existentes na cidade) destacando-o na sua primeira página (edição de 20 de fevereiro de 1976) e descrevendo o ambiente que se vivia em 12 de fevereiro de 1976. “(...)O ministro espanhol foi aguardado em Vilar Formoso pelo ministro português. Eram 9,30 horas. Os dois diplomatas viajaram até à Guarda num helicóptero português que sobrevoou a cidade para logo em seguida aterrar na parada do R.I. 12 [Regimento de Infantaria 12]. (…) O encontro na Guarda fora mantido secreto até à meia-noite anterior. Até à tarde da véspera, nas duas capitais ibéricas constava que a reunião teria lugar em Estremoz. A Guarda escolhida para palco deste encontro, após os acontecimentos que toldaram as relações luso-espanholas, situa-se assim no ponto de partida de uma nova era de convivência peninsular. Já se fala, e com toda a razão, no “espírito da Guarda”. Afinal é desde há muito o “espírito” que domina as relações entre guardenses e espanhóis; espírito de concórdia e entendimento, de amizade, de compreensão mútua (…)”.

De acordo com o comunicado conjunto, divulgado após esta cimeira, “os dois ministros assinaram um acordo sobre a delimitação da plataforma continental, um acordo sobre a delimitação do mar territorial e da zona contínua, e, ainda, um protocolo adicionado ao acordo sobre o aproveitamento do troço internacional do Rio Minho. No decurso das conversações caracterizadas pelo espírito de amizade e boa vizinhança que os dois governos desejam dar às suas relações, foi passado em revista o estado das relações culturais entre os dois países (...). No domínio das questões fronteiriças, examinou-se, de modo especial o projeto de construção de uma ponte internacional sobre o Rio Guadiana entre Vila Real de Santo António e Ayamonte (...). Exprimiu-se o desejo mútuo de uma maior colaboração técnica e administrativa em matéria aduaneira, com o objectivo de facilitar o tráfego internacional entre os dois países (…)”.

Como observaria César Oliveira, “o espírito da Guarda mais não foi do que o esforço luso-espanhol para ultrapassar as tensões e a carga de potenciais conflitos entre os dois Estados, na segurança de que em Espanha parecia ser irreversível o caminho para a democracia e de que em Portugal as tentações esquerdistas e radicais estavam duradouramente afastadas”.

A Guarda ficou, desta maneira, como um marco de referência no processo de normalização das relações luso-espanholas e marcou, indubitavelmente, o segundo ano do pós-25 de Abril.

Nesta próxima cimeira o panorama político, económico e social é bem diferente, com outro tipo de problemas a exigirem uma leitura objetiva da realidade, soluções céleres, pragmatismo, cooperação e permanente solidariedade.

É mais do que tempo para terminar o esquecimento dos territórios transfronteiriços e do interior, planificando e desencadeando medidas que potenciem o seu desenvolvimento nas várias vertentes; não os reduzindo, conjuntura e estruturalmente, a meros refúgios geográficos em tempo de pandemia ou a episódicos fluxos de visitantes por insegurança noutras rotas turísticas.

GUARDA geral - cores .jpg

A nossa cidade que tem uma forte marca de cooperação, consubstanciada no Centro de Estudos Ibéricos (CEI), deverá, uma vez mais, evidenciar, “o espírito da Guarda” e olhar muito mais para além do que a sua altitude permite, aproveitando este momento para capitalizar maior projeção e protagonizar a defesa de toda uma região; sobretudo agora que (na sequência da aprovação, em 2 de setembro de 2019 da candidatura da região da Serra da Estrela) está oficializado, com a recente aprovação pelo Conselho Executivo da UNESCO, o Geopark Estrela.

Para que ocorra o robustecimento, a que aludimos nas primeiras linhas deste apontamento, é importante a decisão política, a eficácia das medidas, a perceção clara dos objetivos fundamentais e dos projetos mais adequados; mas é igualmente necessária uma permanente articulação de entidades públicas e privadas, o assumir de responsabilidades, o envolvimento de todos num período em que é primordial o empenho coletivo para se ultrapassar uma crise (com contornos ainda não definidos) para se consolidar o presente e ganhar o futuro.

Esperemos que a Guarda fique, de novo, sublinhada na história da cooperação ibérica e no desenvolvimento das regiões fronteiriças. (Hélder Sequeira)

 

In "O Interior" 16|07|2020

 

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publicado às 18:00

Assumir atitudes solidárias

por Correio da Guarda, em 18.06.20

 

Como escrevemos no nosso último apontamento, vivemos uma conjuntura muito especial que exige respostas adequadas, pragmatismo e eficácia das decisões.

Numa região com múltiplos problemas por resolver, e projetos retidos ou atrasados por incapacidade financeira (e outros motivos…), o bom senso aconselha que não se continue a privilegiar a agenda pessoal/política em detrimento dos reais interesses da comunidade.

Esta tem de ser uma época de convergência de esforços e não de jogos políticos, afirmação de poder, preocupação de ocupação/manutenção de cargos, de exacerbada agitação de bandeiras partidárias; sem negar a militância ideológica, o diálogo deve ser, mais do que nunca, uma prática quotidiana, estabelecendo pontes e criando os consensos possíveis, rentabilizando todos os contributos válidos para ultrapassarmos a situação atual, com os olhos no futuro.

Ainda que os calendários eleitorais comecem a dar o mote para o desenvolvimento de estratégias políticas, é fundamental que se continue a pensar no bem-comum, no desenvolvimento harmonioso, na qualidade de vida das populações, no eficaz funcionamento dos serviços, nas melhores e céleres respostas às justas reivindicações de uma região que deve aproveitar a onda de desconfinamento como uma nova oportunidade para ser (re)visitada, valorizada, desenvolvida.

Nem a anormalidade dos últimos meses e as consequências que se fizeram sentir em termos pessoais, profissionais, económicos e sociais suscitaram uma notória mudança de atitude e conscienciosa reflexão sobre os caminhos a seguir, num envolvimento empenhado e coletivo.

Como se tem percebido, há (no contexto regional, nacional e internacional) cortinas que procuram esconder realidades, a verdade dos factos, as intenções que estão na penumbra das afirmações públicas, ampliadas pelos mais variados meios, mormente nas redes sociais.

Estas estão a tornar-se numa autêntica selva de contradições, palco de distorção dos acontecimentos, elevação da mediocridade, erupção de baixos instintos e ódios, cadafalso de valores humanos e morais. É óbvio que têm igualmente virtualidades (poderíamos aqui enunciar vários exemplos, temporalmente próximos ou mais afastados), mas quase sempre submersas num aproveitamento em sentido contrário.

Assim, a tentativa de desvalorização de medidas ou projetos tendentes a minorar os efeitos da pandemia – para a qual não estávamos preparados – aumentam o ruído da comunicação e desviam atenções, quando temos de nos centrar no essencial e urgente, numa verdadeira cooperação; também no plano político-partidário, pois não basta clamar que “vai ficar tudo bem…”, é indispensável uma atitude cívica, frontal, sem amarras de ideologias mas centrada em convicções sobre a melhor via para responder objetivamente aos problemas.

Já Augusto Gil (poeta e também jornalista) escrevia, em janeiro de 1912, que os partidos “deverão ser qualquer coisa diferente duma simples submissão de bois castrados para lavoira de vaidades, ou de um mero sistema gregário de peixe miúdo…para engorda de tubarões”.

É de toda a importância que se discutam e validem ideias, aferindo as melhores propostas, articulando-as com projetos exequíveis. “(…) Quando todos pensam a mesma coisa, é porque ninguém pensa grande coisa”, escrevia Walter Lippmann.

É mais do que tempo de pensarmos a nossa região e assumir atitudes solidárias que desencadeiem respostas às exigências do progresso e desenvolvimento. (Hélder Sequeira)

 

In "O Interior", 18|06|2020

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publicado às 08:15

Parcelas do nosso património cultural e regional

por Correio da Guarda, em 10.12.16

 

     O distrito da Guarda foi pioneiro na imprensa, tendo aqui surgido também alguns dos mais expressivos jornais religiosos e políticos. Com postura diferenciada, os jornais desta região tiveram um importante papel na promoção das ideias políticas, mormente do ideário republicano, constituindo a sua leitura um (re)encontro com a realidade de tempos e lugares.

    Como escreveu J. Pinharanda Gomes, o mundo da imprensa regional é “feito de insólitos achados, de experiências para nós, hoje, inimagináveis. Reflete ele o estado social e cultural de uma região num dado tempo. A progressão cronológica do aparecimento dos jornais, a tipologia diferenciada, as alternâncias ideológicas, são quadros vivos mesmo agora que, de muitos deles não temos senão raros exemplares (…)”. De facto, houve períodos em que não foi acautelada a preservação dos mais significativos títulos da imprensa regional e concelhia, resultando daí um hiato intransponível no acesso ao seu completo conhecimento.

    A história da imprensa distrital merece um aprofundado estudo, que dê sequência a alguns valiosos e meritórios trabalhos já existentes. Estaremos, com essa atitude, a honrar os esforços, o entusiasmo, o saber e o contributo de quantos editaram e mantiveram jornais locais e regionais, colocando-os ao serviço da democracia e da liberdade.

    Tendo ocorrido, recentemente, a passagem de mais um aniversário da implantação da República em Portugal, justifica-se e é enriquecedor, um olhar sobre a imprensa que serviu de meio de divulgação dos princípios republicanos, de forma a ficarmos elucidados sobre as conceções políticas defendidas, realidades sociais e económicas, o modo como foi recebido o novo regime, após o derrube da Monarquia; importa trazer ao conhecimento das gerações atuais os nomes de personalidades (esquecidas ou ignoradas, em tantos casos) que lutaram fervorosa e apaixonadamente pelos seus ideais políticos.

    Servir “dedicadamente a causa pública” era um propósito comum manifestado pelos redatores da imprensa republicana, e reafirmado, tantas vezes, após o 5 de Outubro de 1910. “Não temos hoje após a vitória (…) ambições que excedam as craveiras dos nossos apoucados méritos”, lia-se no jornal “A Fraternidade”, para cujo corpo diretivo e redatorial “a mais ardente aspiração” estava “satisfeita com a proclamação” da República”.

    “A imprensa ruge e canta”, escrevia José Augusto de Castro em “O Combate”, um dos mais expressivos títulos republicanos da Guarda, jornal que se batia “Pela Justiça. Pela Verdade. Pela Equidade”, sem baixar as armas, para não haver surpresas. “Conheço os homens, sei o que eles têm sido e são. Não me iludem atitudes. As adesões que para aí são feitas revelam ainda maior falta de carácter, de sentimento moral. As adesões representam baixeza e da baixeza há-de irromper o ódio não extinto mas apenas dominado, reprimido, por impotente”, alertava o jornalista e republicano guardense. Contudo, os avisos feitos a partir desta tribuna, como de outras, eram dirigidos igualmente para o interior das estruturas políticas. “Passada a hora da primeira vitória, entoado o primeiro cântico de triunfo, impõe-se-nos recomeçar a nossa acção em combate ao mal, à dor, à iniquidade. Proclamar a República não quer dizer extinguir a iniquidade, mas apenas avançar um passo no caminho que conduz à sua extinção. O mal existe em todas as formas de governo conhecidas, de modo que só depois de todas as formas de governo extintas se extinguirá o mal. O alto dever cívico, intelectual e moral do homem, o mais alto, consiste em trabalhar para que as formas de governo se vão aperfeiçoando, simplificando, resumindo, extinguindo”, sustentava “O Combate”.

    Nos jornais de matriz republicana, publicados antes e depois da data que marcou um novo ciclo na história política portuguesa, encontramos textos de grande lucidez e reflexões apaixonadas, a par de uma preciosa informação sobre o pulsar da vida local, sobre o papel interventivo de muitas personalidades, sobre as estratégias dos grupos que detinham ou pretendiam o poder, sobre as divergências pessoais ou de grupos.

    Da leitura e do estudo, crítico, destes jornais poderemos evoluir para um conhecimento mais completo de um período em que o mapa político e institucional do distrito da Guarda era palco de grande efervescência e outrossim de mudanças. Protagonizaram a intervenção republicana, cruzando argumentos e palavras na imprensa regional, as mais diversificadas figuras, oriundas de distintos meios sociais, culturais ou profissionais. Eram atores de uma interessante polivalência, como se pode deduzir através destes jornais.

    Até nomes tradicionalmente associados a áreas muito específicas foram agentes ativos na defesa da República; veja-se, a título de exemplo, Augusto Gil (que dirigiu A Actualidade), nome respeitado como poeta mas também como republicano.

    Os aguerridos e frontais “diálogos” entre títulos da imprensa regional, a criação e desaparecimento de outros, a linguagem e o desassombro de muitos dos textos publicados ou imaginação colocada para suprir lacunas editoriais ou vicissitudes relacionadas com a impressão constituem suficientes motivos para (re)lermos estes jornais, parcela ímpar do nosso património cultural e regional. (Helder Sequeira)

 

 

 

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publicado às 23:00

Fórum sobre Toponímia

por Correio da Guarda, em 23.06.15

      Na Guarda vai realizar-se a 30 de outubro, do corrente ano, um novo Fórum sobre Toponímia, organizado pelo Instituto Politécnico.

    Com esta iniciativa o Instituto Politécnico da Guarda (IPG) pretende contribuir para um melhor conhecimento das localidades do distrito, dos valores históricos, culturais, sociais, religiosos e políticos a ela associados através da toponímia.

   As inscrições para comunicações devem ser feitas até 31 de Agosto (em http://www.ipg.pt/toponimia/ ; os interessados em participar devem efetuar a sua inscrição (gratuita mas obrigatória) até 16 de Outubro. Mais podem ser solicitadas para gic@ipg.pt

    Os trabalhos vão decorrer no auditório dos serviços centrais do Instituto Politécnico da Guarda.

Toponímia 2015- A.jpg

 

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publicado às 18:54

Um jornal da República...

por Correio da Guarda, em 21.10.14

 

     O distrito da Guarda foi pioneiro da imprensa, aqui tendo surgido, também, alguns dos mais expressivos jornais de cariz religioso e político. Com postura diferenciada, os periódicos desta região tiveram um importante papel na promoção das ideias políticas – mormente do ideário republicano – constituindo a sua leitura um (re)encontro com a realidade de tempos e lugares.

     A história da imprensa distrital merece um aprofundado estudo, que dê sequência a alguns valiosos e meritórios trabalhos já existentes. Estaremos, com essa atitude, a honrar os esforços, o entusiasmo, o saber e o contributo de quantos editaram e mantiveram jornais locais e regionais, colocando-os ao serviço da democracia e da liberdade.

     Nos jornais de matriz republicana, publicados antes e depois da data que marcou um novo ciclo na história política portuguesa, encontramos textos de grande lucidez e reflexões apaixonadas, a par de uma preciosa informação sobre o pulsar da vida local, sobre o papel interventivo de muitas personalidades, sobre as estratégias dos grupos que detinham ou pretendiam o poder, sobre as divergências pessoais ou de grupos.

    Da leitura e do estudo, crítico, destes jornais poderemos evoluir para um conhecimento mais completo de um período em que o mapa político e institucional do distrito da Guarda era palco de grande agitação e outrossim de mudanças. “Uma grande responsabilidade pesa sobre os homens do governo de hoje. O país inteiro tem neles os olhos fitos. Se corresponderem a essa esperança fascinante de felicidade para Portugal, o regime realizar-se-á. Fomos condicionais monárquicos, isto é, colaborámos no velho regímen olhando sobre tudo para as venturas da Pátria. Hoje podemos ser republicanos, esperançados em que a República levante o país do estado a que o levaram os homens públicos do velho regime”. Assim se posicionava o “Districto da Guarda”, órgão do Centro Progressista.

     Protagonizaram a intervenção republicana, cruzando argumentos e palavras na imprensa regional, as mais diversificadas figuras, oriundas de distintos meios sociais, culturais ou profissionais. Eram atores de uma interessante polivalência, como se pode deduzir através destes jornais.

     Até nomes tradicionalmente associados a áreas muito específicas foram agentes ativos na defesa da República. É o caso de Augusto Gil – conhecido pela maioria dos nossos leitores como poeta – que fundou e dirigiu o jornal A Actualidade, entre 1910 e 1912.

     Embora este periódico tenha surgido com meio de promoção do ideário republicano, assumiu um pendor acentuadamente literário. Augusto Gil escreveu, nesse semanário, textos de inegável qualidade e reveladores da sua posição política, a par da manifestação das divergências frontalmente assumidas, relativamente aos comportamentos e desvios de personalidades de relevo local e nacional; uma das suas lutas foi dirigida contra o caciquismo, objeto de vários e longos artigos.

     “Além de um malefício nacional, o caciquismo é também uma feiíssima palavra. Se como democrata me provoca antipatia, como esteta tenho-lhe ódio. Não é pois para admirar que eu oiça de alegre aspecto o cerrado tiroteio que o alveja de toda a imprensa republicana e o clamor de vozearia que de jornal em jornal se vai repercutindo, como de monte em monte se reflecte, por estes ásperos contrafortes da Estrela, a berráta dos campónios no cerco ao lobo daninho. O pior é que a estrondeante assuada apenas conseguirá espavorir um pouco a fera e que as balas de papel mal hão-de chamuscar-lhe a pelagem…Se o caciquismo, pela devoradora gana, é comparável ao lobo, certo é também que pela rijeza do coiro é tal qual um hipopótamo. Os projécteis da República não têm, infelizmente, nem a penetração, nem a força dilaceradora suficiente para lhe darem a morte”.

     Atento aos rumos que a política portuguesa estava a seguir, Augusto Gil teceu frequentes críticas aos seus correligionários, expressando o sentimento que as populações iam ampliando cada vez mais; outro dos atrativos de A Actualidade era uma secção denominada a “Lanterna Mágica”, onde foram inseridas caricaturas de algumas conhecidas personalidades da Guarda.

    Decorrido 104 anos após a implantação da República, reencontrar Augusto Gil nas lides jornalísticas e políticas não deixa de ser uma agradável surpresa, em especial pela atualidade de muitos dos seus escritos...

     HS

     In  "O Interior", 16out2014

 

 

 

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publicado às 22:53

Morreu Veiga Simão

por Correio da Guarda, em 03.05.14

   

     O antigo Ministro Veiga Simão, e ex-Embaixador nas Nações Unidas, faleceu hoje em Lisboa.

    “Sou um Homem que tem as suas raízes na Guarda, as quais alimentam o meu pensamento, até por que, nessas raízes, se encontram os valores maiores da Honra, da Pátria e da Solidariedade...”, disse-nos na entrevista que nos deu em Outubro de 2005, publicada na Revista Praça Velha, editada na Guarda, cidade de onde era natural; entrevista que aqui recordamos.

 

 

Na Guarda das referências

 

    Entrevista de:

    Helder Sequeira

 

 

    O guardense José Veiga Simão é uma personalidade cuja craveira académica e científica merece inquestionável reconhecimento, dentro e fora de Portugal.

   No plano da sua carreira política registam-se vários cargos de relevo, entre os quais o de Ministro da Educação Nacional (assumindo-se como “intérprete duma Reforma onde os professores foram os meus principais aliados”), Embaixador de Portugal nas Nações Unidas e Ministro da Indústria e Energia. Se a política (“cultivada com princípios”) o não desiludiu, o mesmo já não diz de “alguns políticos”, sobretudo daqueles que “não têm pejo de esconder e ofender a verdade para protegerem interesses pessoais ou partidários ilegítimos”.

   Sustenta, entretanto, que “o mérito tem de comandar o progresso...os partidos têm de ser escolas de cidadania e competência e não meras agências de emprego”.

Nascido na Guarda (no Bonfim) em Fevereiro de 1929, Veiga Simão afirma que esta cidade “tem direito a sonhar mais alto”, apontando algumas vias fulcrais para o seu progresso.

 

 

     

   Que recordações guarda dos seus primeiros anos, na terra natal?

   O meu imaginário, o de quem viveu a sua infância na Guarda, alimenta a minha memória com as mais belas e doces recordações.

   Nasci em 1929, no Bonfim, numa casa que já não existe e fui baptizado na Sé da Guarda. Ainda, pela última vez que visitei a Guarda, fui contemplar a pia baptismal, cuja água benta temperou a força granítica, determinante da minha vida.

   Mas as minhas recordações centram-se na Rua de S. Vicente, onde vivi até aos dez anos, na Igreja de São Vicente, nos Arcos do Espírito Santo, no Torreão e nos caminhos para a Fonte da Dorna... e, mais fortemente, na Escola Primária velhinha junto ao Tribunal.

   Percursos que a minha memória sublimou, conferindo-lhe uma dimensão física que não resistiu à realidade, mas que representa o sonho de criança.

   Ainda realizei o exame de admissão no Liceu Afonso de Albuquerque, mas já frequentei o primeiro ano no Liceu D. João III, em 1939, em Coimbra.

   Quais as referências humanas e culturais desse tempo?

    No percurso que mencionei, salientam-se, como referências maiores, os meus Pais — Aníbal e Maria Joaquina —, o meu irmão único mais velho — Júlio —, a minha professora primária — Dona Aurora —, o meu catequista em S. Vicente — o padre Viegas — mais tarde, pároco inesquecível de Prados, Celorico da Beira, a terra de meus Pais... A minha professora primária, D. Aurora, a professora primeira, acompanha-me, ainda hoje, no meu pensamento sobre Educação... O Verão, com o calor que abrasa e o Inverno, com os seus mantos brancos caídos do azul cinzento dos céus, são imagens que vivem sempre comigo.

    Que autores, então, mais o influenciaram?

    Não é fácil responder a essa questão, ainda que, no fundo da minha memória, encontre Júlio Verne, Victor Hugo e Camilo Castelo Branco... Outras leituras foram as do “Primeiro de Janeiro” e as que meu Pai me transmitia do seu ídolo — o Presidente da República António José de Almeida —, com fotografia na sala de jantar... A sua visita ao Brasil e a aventura de Gago Coutinho e Sacadura Cabral, eram alimento de “autoestima” dum jovem.

    Afirma-se um homem da Guarda? Procura acompanhar a evolução da cidade?

   Sou um Homem que tem as suas raízes na Guarda, as quais alimentam o meu pensamento, até por que, nessas raízes, se encontram os valores maiores da Honra, da Pátria e da Solidariedade... Sobre a evolução da minha cidade da Guarda, acompanho-a, apenas, pelos seus jornais, que transmitem sucessos, preocupações, aspirações e angústias... Sinto que a Guarda, como cidade de Portugal e da Europa, tem direito a sonhar mais alto...

   Em 1973 foi criada a Escola Normal Superior da Guarda (que acabou por ficar pelas páginas do Diário do Governo). Que importância atribuía a essa Escola, para a cidade e região?

   A Escola Normal Superior não foi apenas criada por Decreto-Lei em 1973. A comissão instaladora, constituída por personalidades de rara qualidade, tomou posse em Janeiro de 1974, tendo sido aprovadas as principais orientações estratégicas.

   A importância da Escola Normal Superior era evidente, como centro de Educação e de Cultura, com o objectivo primeiro de qualificar professores e de formar técnicos superiores, para áreas decisivas da revolução tecnológica, já em curso, como a informática e as tecnologias de informação, essenciais às empresas e às instituições públicas e privadas.

   A sua extinção foi determinada por um conservadorismo esquerdista e quási-anárquico, que prejudicou o progresso da cidade... Perderam-se os doutorandos enviados para a Europa e os EUA, perderam-se as vultosas verbas do IV Plano de Fomento, perdeu-se o acordo, para a sua internacionalização, com uma Grande École francesa e o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian.

   A verdade é que a Escola Superior de Educação — e o Ensino Politécnico — só são recuperados passados sete anos, sujeitos a uma configuração determinada por um economicismo circunstancial, sem qualquer base inovadora e prospectiva.

   Dessa falta de visão estratégica estamos, aliás, a sofrer as consequências hoje, persistindo em medidas pontuais, desgarradas da questão essencial: Que futuro para a Guarda? Como inseri-la na Europa? Qual o papel do ensino superior da Guarda na Cidade, na Região, no País e na Europa?

    Espero que a crise actual aguce o engenho e a ambição dos Guardenses...

   A reforma do Sistema Educativo foi a sua preocupação prioritária quando assumiu, em 1970, o cargo de Ministro da Educação. Sente-se – face aos resultados – recompensado pelo trabalho desenvolvido?

    A Reforma do Sistema Educativo, que tive a honra e o privilégio de liderar durante quatro anos, entre 1970 e 1974, marcou uma época e representou uma iniciativa ousada de abertura e de evolução do Regime.

   Adoptei, como pilar imprescindível, a sua internacionalização e, nesse quadro, mereceu o apoio declarado da OCDE e de países democráticos, em particular, a França, a Inglaterra e os Estados Unidos.

   A ala liberal do Regime apoiou, entusiasticamente, a Reforma Educativa. Foi pena não se ter iniciado mais cedo... É que, como nessa altura se proclamava, “um cidadão mais culto é um cidadão mais livre”. Recordo, aqui, apenas as palavras de Sá Carneiro, em 1973:

   “Parece-me que, no sector da educação, o Governo se tem revelado efectivamente progressivo. É mesmo, para mim, o único sector em que isso tem acontecido. E é um sector fundamental, pois que o problema da Educação e da Cultura condiciona muito do nosso desenvolvimento, até político. Não creio, de modo algum, que seja o único, ou que seja sequer suficiente para que possamos prescindir, com base nele, de uma liberalização e democratização políticas. Mas creio que, juntamente com elas, é um ponto fundamental de desenvolvimento e, portanto, parece-me que representa um esforço sério e honesto, talvez mesmo o mais sério que até agora se tem efectuado, de conseguir uma autêntica, uma eficaz promoção cultural e educativa dos Portugueses.”

   Dir-lhe-ei, ainda, que me orgulho de ter sido Ministro da Educação Nacional, que me orgulho da equipa que colaborou comigo e da qual emergiram personalidades que marcaram a Democracia Portuguesa pela sua capacidade e competência e que sinto uma enorme felicidade por ter sido intérprete duma Reforma onde os professores foram os meus principais aliados.

    Essa reforma permitiu, ao país, “acertar o passo pela Europa”?

   Essa Reforma, que serviu de exemplo a outros países, deu uma contribuição significativa, para responder criativamente ao desafio, ainda hoje existente, de colocar Portugal entre os países mais atractivos e competitivos da Europa.

   Porém, o progresso, indesmentível, dos últimos trinta anos, podia ter sido mais fecundo e visível se não se cometessem erros clamorosos. Citarei, apenas, o desvio de verbas consagradas no IV Plano de Fomento para a educação e que foram suportar as nacionalizações irracionais de empresas com investimentos irrecuperáveis — largos milhares de milhões de euros perdidos — e as fraudes e corrupção que dominaram, em demasia, a aplicação dos subsídios do Fundo Social Europeu na formação dos portugueses...

    Hoje, como ontem, perante a crise que quási nos submerge, devemos cultivar o trabalho e a esperança.

    O alargamento da escolaridade obrigatória foi uma aposta ganha?

    A Lei de Bases do Sistema Educativo de 1973 estabeleceu oito anos para a escolaridade obrigatória. Tinha, ainda, sido decidido que, o nono ano de escolaridade, seria de formação profissional obrigatória, para quem abandonasse o sistema educativo.

   Essa aposta não está, ainda, ganha.

   E, se nada impede de legislar, no sentido da escolaridade obrigatória ser alargada para doze anos, será também decisivo conferir, de uma vez por todas, ao “ensino tecnológico”, o mesmo status social do “ensino geral”...

   Os mecanismos em vigor para o financiamento do ensino tecnológico são de tal modo perversos e discriminatórios, que contrariam frontalmente a continuada e cansativa retórica política dos partidos do poder...

   Após o 25 de Abril, como encarou o convite que António de Spínola lhe fez para assumir as funções de Primeiro-Ministro do Governo Provisório?

Com a serenidade de quem sabia não haver condições éticas, nem políticas, para aceitar qualquer lugar de governação. Spínola compreendeu as minhas razões.

   Apesar de ter declinado o convite, teve um papel fundamental na redacção do Programa do I Governo Provisório.

    Fui eu que concebi e redigi o Programa do I Governo Provisório, a pedido de Spínola, definindo com ele os Capítulos que o integravam. Foi pena não ter sido cumprido.

    Em tempo oportuno, revelarei não só as personalidades que trocaram impressões comigo sobre esse Programa mas, também, as diferenças entre o Programa assinado por mim e o que foi publicado no Diário do Governo...

     Como analisa, hoje, o período subsequente, em termos pessoais e profissionais?

    A maior vitória, nesse período, é, sem dúvida, a consolidação da democracia. A maior derrota, reside no facto de se começar a pensar que a quási única âncora da democracia reside na nossa integração na Europa. De alguma forma, estamos a repetir erros do Estado Novo. Nessa altura, faziam-se comparações — nem sempre legítimas — com a Primeira República, para medir o nosso progresso; hoje fazem-se comparações — nem sempre fundamentadas — com o antes do 25 de Abril...

    Temos de mudar de paradigma. A Espanha ultrapassou-nos; países da nossa dimensão, que eram mais atrasados, como a Irlanda e a Finlândia, progrediram, a ritmos que lhes permitiram dar saltos qualitativos. Por isso, sem deixarmos de nos orgulhar do que de bom fizemos, são necessárias atitudes e programas mobilizadores do Estado e da Sociedade Civil.... Temos de compreender as razões para os nossos sacrifícios... Os Governantes e as elites políticas e de gestão das instituições, devem ser exemplares e não constituírem classes de privilégios e de negócios ilegítimos.

   O interior tem aqui uma palavra a dizer.... o mérito tem de comandar o progresso... os partidos têm de ser escolas de cidadania e de competência e não meras agências de emprego....

   Dos vários cargos que desempenhou, até agora, qual o que lhe deixou melhores recordações: Reitor da Universidade de Lourenço, Marques, Ministro da Educação, Presidente do LNETI, Ministro da Indústria e Energia ou Ministro da Defesa?

    Criar uma Universidade em África (1963-1970), que atingiu padrões de excepcional qualidade, em vários domínios do conhecimento, competindo a nível internacional; protagonizar uma Reforma Educativa, sob o lema do direito à educação, do descongelamento da inteligência perdida nos ribeiros do interior e do acesso pelo mérito, foram tarefas inesquecíveis, só possíveis mercê, num caso e noutro, de equipas de excepcional competência e saber e que vieram a ter forte expressão na sociedade democrática pós-Abril.

    Criar um Laboratório de Engenharia e Tecnologia Industrial (LNETI), qualificando jovens e dotando-o de instalações e equipamentos modernos, colocando-o como um desejado parceiro europeu dos seus congéneres; e iniciar, no Ministério da Indústria e Energia, uma revolução tecnológica, traduzida num Plano Tecnológico para dez anos, elaborado com o Massachusetts Institute of Technology (MIT) dos EUA e o Banco Mundial, deixaram recordações inolvidáveis.

   Criar, fazer e prestar contas, apostando no fortalecimento do capital intelectual português como linha mestre de Obras e de Programas, preencheu em muito a minha vida de professor, de cientista e de político ocasional...

   Foi pena que a Universidade em África não tivesse nascido dez anos antes, que a Reforma da Educação não se tivesse iniciado após a II Grande Guerra Mundial... Foi pena que o poder político impusesse uma parálise ao LNETI e que o Plano Tecnológico fosse interrompido por interesses inconfessáveis... Mas, mesmo assim, muito se realizou.

   Uma característica comum a todas estas tarefas, foi a sua internacionalização ab initio, com parceiros institucionais da Europa, dos EUA e da OCDE.

   Neste percurso, não referirei os tempos inesquecíveis de Embaixador de Portugal nas Nações Unidas...

   Finalmente, no que respeita ao Ministério da Defesa Nacional, o processo de modernização das Forças Armadas, por mim iniciado, foi infelizmente bloqueado. Leis em aprovação foram retiradas... prevaleceu a política de que os militares não dão votos... Para que se atingisse tal fim, foi necessário que, na Assembleia da República — conforme as conclusões dum inquérito, realizado pela Procuradoria-Geral da República a uma Comissão Parlamentar de Inquérito — se cometesse, cobarde e anonimamente, um crime de violação de sigilo... Uma vergonha, aliás, internacionalmente conhecida, que fere a honra dos que, na Assembleia da República, exercem o seu cargo com dignidade...

   O amor que a Guarda me ensinou a ter pelo Estado, obrigou-me a calar a minha revolta... Um assunto para futuras memórias.

    Foi gratificante a experiência como deputado pelo Distrito da Guarda?

    Exerci as funções, apenas por breves dias, pois assumi outras funções públicas. Mas, recordo-me das tentativas para se aprovar um Programa gizado para o desenvolvimento do interior.

   No entanto, como Ministro da Indústria e Energia, entre outras iniciativas, impulsionei a conhecida barragem do Caldeirão, que fui desenterrar aos arquivos da EDP, apoiei e incentivei a criação do Núcleo Empresarial da Região da Guarda (NERGA), criei um Centro de Desenvolvimento Industrial e apoiei a criação do Parque Industrial...

   A política desiludiu-o?

    A política é uma arte que, cultivada com princípios, nunca desilude...

    Porém, alguns políticos desiludiram-me, designadamente, quando não têm pejo de esconder e ofender a verdade para protegerem interesses pessoais ou partidários ilegítimos.

A mentira e a corrupção invadiram a cidade... Para onde vamos?

    Regressando a questões do ensino, qual a principal debilidade do sistema educativo português?

    Eleger uma debilidade do sistema educativo como principal causa dos males da educação, é uma forma interessante de provocar saudáveis polémicas.

    Por mim, localizarei essa debilidade na fuga a valores que alteram a vida dos jovens, dos professores, das famílias e nos obrigam a repensar a Escola, a apostar em novas metodologias do ensino-aprendizagem, a fortalecer o espaço Escola-Sociedade, a educar os Pais e a apoiar a formação dos professores para a Escola Nova.

    Há Universidades a mais em Portugal?

    Há instituições e cursos do ensino superior, em número e em qualidade, desajustados da sua missão e funções na sociedade do conhecimento. A sociedade questiona, cada vez mais, o valor científico e social dos diplomas, dos graus e dos títulos...

    É urgente avaliar, medir e tomar decisões. Se não fizermos as coisas a tempo, separando o trigo do joio, estamos perdidos na mediocridade.

   Que importância atribui ao ensino superior politécnico?

    O ensino superior politécnico é uma mais valia do ensino superior português, que não pode nem deve ser perdida. O processo de Bolonha, em Portugal, deve valorizar o ensino politécnico. A sua igualização curricular ao ensino universitário seria um crime idêntico ao que aconteceu com o ensino técnico versus ensino liceal, tendo como resultado, na prática, a extinção do primeiro.

    Acha que há o empenho suficiente para se atingir, no nosso país, a qualidade e excelência, ao nível do ensino?

    Existem nichos em instituições onde professores e jovens — muitas vezes em estreita ligação com a sociedade — cultivam a ambição da excelência e apostam na qualidade. Aqueles devem ser mais divulgados.

    Mas, num sentido genérico, diria que não existe o culto da qualidade. O poder político, em geral, é o expoente máximo dessa inoperância. Bastará dizer que a avaliação da qualidade prevista, em 1986, na Lei de Bases do Sistema Educativo, só deu origem a uma lei regulamentar em 1994, para o ensino superior, e, em 2003, para os outros níveis de ensino.

    Como perspectiva o ensino superior da próxima década?

     Escrevi, nos últimos anos, em colaboração com outros companheiros, três livros referentes a uma visão estratégica para a próxima década, à oportunidade de Bolonha como ambição para a excelência e a opções estratégicas para a reorganização do ensino superior...

    O processo de Bolonha tem de ser conduzido de modo a que as nossas instituições, os nossos cursos, os nossos graus e títulos profissionais, sejam acreditados a nível europeu e avaliados por entidades independentes, com participação internacional... O ensino superior deve ser um instrumento da competitividade de Portugal entre as Nações e uma componente privilegiada das plataformas do conhecimento, onde deve assentar o nosso desenvolvimento sustentado e sustentável.

    Neste contexto, que importância atribui à Convenção de Bolonha?

   A importância que atribuo à Declaração de Bolonha está explicitada na resposta anterior, sendo necessário, para o êxito do respectivo percurso, que o poder político tome as decisões a que a lei o obriga, as instituições procedam a auto-reformas corajosas e os professores e os alunos adoptem atitudes pró-activas de estudo e engenho.

   Há alguns anos atrás, deu a entender a sua intenção em publicar um livro de memórias. Como está esse projecto? A Guarda passa por essas memórias?

   Com o distanciar dos tempos e utilizando documentos e testemunhos escritos, como fonte dessas memórias, penso ter chegado a hora de acelerar esse projecto, no qual a Guarda estará presente em diversas épocas....

    Que importância atribui à existência, na Guarda, do Centro de Estudos Ibéricos?

    Uma importância singular para a afirmação cultural da Guarda e para a projecção dos valores que a definem na Península Ibérica, na Europa e no Mundo... Uma iniciativa que honra os seus obreiros, a Câmara Municipal, a Universidade de Coimbra e a Universidade de Salamanca. Eduardo Lourenço é um patrono inconfundível.

    A Guarda tem-se afirmado culturalmente?

    Tenho conhecimento, ainda que não aprofundado, de múltiplas iniciativas artísticas e literárias, no domínio da História e das Ciências do Ambiente... que merecem maior visibilidade a nível nacional, ibérico e europeu...

   A divulgação dessas iniciativas deve constituir uma prioridade das instituições Guardenses.

   Que eixos de desenvolvimento, na sua perspectiva, devem marcar a Guarda do século XXI?

    Essa pergunta era uma nova entrevista. Mas, o principal eixo de desenvolvimento, passa por criar condições para a constituição duma “plataforma do conhecimento”, em articulação com a região vizinha da Espanha...

    A qualificação humana, em níveis de vanguarda ao serviço de empresas de base tecnológica e cultural, é determinante... A cooperação inter-institucional é, também, decisiva.

     Gostaria de estar envolvido num projecto directamente relacionado com o progresso e projecção da Guarda.

     Estarei sempre disposto a emitir o meu conselho...., quando me for pedido.

 

 

      Publicada na Revista Praça Velha, Outubro 2005

       (Direitos reservados)

 

 

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publicado às 11:46

Partidos

por Correio da Guarda, em 17.04.13

 

     Os partidos “deverão ser qualquer coisa diferente duma simples submissão de bois castrados para lavoira de vaidades, ou de um mero sistema gregário de peixe miúdo...para engorda de tubarões”.

 

     Augusto Gil, in A Actualidade, 17 Janeiro 1912

 

 

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publicado às 18:27

Ernesto Pereira: nome esquecido na toponímia guardense

por Correio da Guarda, em 18.01.13

 

     Na toponímia guardense continuam ausentes, incompreensivelmente, nomes que deixaram marcas indeléveis na cidade. É o caso de Ernesto Pereira.

     Jornalista, advogado e jurista, Ernesto Pereira – nascido na Guarda a 9 de Fevereiro de 1903 – deixou múltiplos, quanto dispersos, testemunhos das suas observações, análises, de uma inteligência lúcida e brilhante, de um trabalho determinado em prol do desenvolvimento da sua terra e região.

     Embora o seu trabalho escrito não seja vasto, legou-nos textos de excelente recorte literário, a par de outros onde emergem as suas convicções, a sua postura moral, uma personalidade forte, uma personalidade com cultura vasta.

     Licenciado em Direito, bem cedo sentiu a paixão pelo jornalismo a qual cresceu, progressivamente, e em paralelo, com a sua dedicação à causa da Guarda; no início de 1926, fundou o jornal Actualidade, projecto que prosseguiu um ano depois em Pinhel, onde se radicou por motivos de ordem profissional.

     Naquela cidade foi um grande dinamizador de ideias e instituições; integrou a Comissão Orientadora da Frente Única Republicana, empenhando-se, por outro lado, na revitalização da corporação dos Bombeiros Voluntários. Fundou o Colégio local, do qual não pôde ser Director porque o Ministério da tutela o considerava da oposição ao sistema político vigente.

     Como por várias vezes deixou claro, o causídico guardense não era pessoa para desistir perante as contrariedades. “Por mil vezes que a pedra se despenhe, voltarei, com muitos esforços, canseiras e sacrifícios, a empurrá-la. E nunca desistirei – porque nunca desiste o homem verdadeiramente digno desse nome”; uma predisposição que demonstrava também na barra do Tribunal, independentemente da complexidade dos processos, servindo-se das suas apreciadas qualidades oratórias, em tantas ocasiões postas ao serviço de casos que sabia, à partida, dificilmente seriam remunerados.

     Num processo julgado no Tribunal da Guarda, em que eram acusados alguns estudantes por desrespeito a um agente da autoridade, Ernesto Pereira assumiu a defesa dos jovens, sem indagar ou avaliar as possibilidades económicas dos mesmos; tendo-se, dirigindo ao Juiz, sustentou que “tão digna é a toga que V. Exª usa como a capa negra de um estudante”...

     Depois de intensa actividade ao nível da advocacia, e de uma passagem, profissional, pelo Porto voltou à Guarda onde, a partir de 1942, foi editor da Revista Altitude. Lutou pela criação do Museu da Guarda onde viria a assumir funções directivas.

     Empossado no cargo de Presidente da Câmara Municipal da Guarda em 1946, empenhou-se, desde logo, na construção do Hotel de Turismo, na linha dos argumentos que há muito vinha divulgando acerca da urgência de a cidade se desenvolver do ponto de vista turístico. Por certo seria a pensar nos potenciais visitantes que, junto da Direcção Geral da Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses, defendeu a “justa regalia de que a Guarda sempre gozou por poder dispor de uma carruagem directa Guarda/Lisboa”.

     Os problemas urbanísticos estiveram, igualmente, no rol das preocupações do edil guardense. A localização do Colégio Feminino, o novo Cine Teatro, a regularização do Bairro do Bonfim (e da entrada da cidade por esse lado), a abertura dos arruamentos de acesso à Sé, bem como a urbanização da Guarda-Gare foram assuntos devidamente equacionados junto das entidades por quem passava a sua resolução.

     No ano seguinte foi nomeado Governador Civil da Guarda, cargo no decorrer do qual procurou afirmar o distrito e incrementar o seu desenvolvimento através da articulação de eixos rodoviários e ferroviários; neste último plano, para além das atenções que dedicou às linhas da Beira Alta e Beira Baixa, defendeu a “necessidade urgente de prolongar até Barca de Alva a marcha do comboio diário que sai do Porto, cerca das 15.55 até ao Tua (...). Levar tal comboio até Barca de Alva representa um valioso benefício para as populações do Douro, tanto do lado da Beira e distrito da Guarda, como do lado de Trás-os-Montes e distrito de Bragança”...hoje voltam-se a ouvir reivindicações nesse sentido...

     Ao longo do período em que desempenhou as funções de Governador Civil, o relacionamento com as autoridades espanholas, da província de Salamanca inscreveu-se nas suas prioridades de actuação, procurando incrementar contactos oficiais e pessoais, certo de que seria um excelente fórmula para resolver muitas questões resultantes da convivência fronteiriça.

     Na cidade, o seu círculo íntimo de amigos integrava o Dr. João de Almeida e o Dr. João Gomes (advogado, democrata convicto, opositor ao regime e que foi, como é do domínio público, uma das mais prestigiadas e consideradas personalidades políticas no pós-25 de Abril).

     Em 1952, Ernesto Pereira deixou a Guarda para tomar posse como Juiz Conselheiro do Tribunal de Contas, passando a residir em Lisboa, onde, com frequência, recebia os amigos mais chegados, como António Andrade, Ladislau Patrício, e José Domingues Paulo (uma das grandes amizades dos seus últimos anos).

    O seu irmão Abel Pereira (distinto e conhecido jornalista, ligado ao do Diário Popular) era outra das presenças, frequentes, na sua casa, onde viria a falecer em Julho de 1966.

     A figura deste guardense não se pode analisar fora do contexto da sua época, e desarticulada de um conjunto de condicionalismos pessoais e familiares. Ernesto Pereira é, sem dúvida, um nome grande da Guarda, cidade onde deixou obra feita ou definida; as relações com personalidades politicamente posicionadas não significaram, necessariamente, o partilhar de ideias e objectivos, pois tinha um rigoroso conceito de amizade e um espírito de permanente defesa da liberdade de expressão e pensamento.

     Ernesto Pereira era um homem que procurou sempre a verdade, “essa doce miragem que perpetuamente fascina”, como escreveu num dos seus trabalhos.

     A cidade de Pinhel tem o seu nome consagrado na toponímia local. A Guarda, por seu lado, continua a esquecer uma das suas figuras carismáticas do passado século (como advogado, como jornalista, como autarca, como Governador, como Juiz), um dos seus mais ilustres paladinos, como já tivemos o ensejo de sublinhar numa publicação editada há alguns anos atrás.

    Até quando se irá manter este esquecimento?...

 

Helder Sequeira

in jornal O Interior | 17-1-2013

 

 

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publicado às 00:01

A reforma e o Hospital da Guarda

por Correio da Guarda, em 31.05.09

 

O Primeiro-Ministro afirmou na Guarda, na passada sexta-feira, que era seu desejo ver concluídas as obras de ampliação do Hospital Sousa Martins antes de reformar da política.
Como não adiantou pormenores relativamente à data em que pensa concretizar essa decisão (que certamente não será a curto ou a médio prazo), esperamos que essa afirmação não tenha um relacionamento temporal directo com a duração (prevista) das obras daquela unidade hospitalar…
É que, como lembrou (e bem!..) já em 1987 se falava na necessidade de novas instalações (ou instalações novas) para o hospital da Guarda…e já lá vão 22 anos…
 

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publicado às 23:53


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