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Em Coimbra vai ser apresentado hoje, pelas 15 horas (no Salão Brazil), o novo disco de poesia sonora de Américo Rodrigues.
Intitulado “Parlatório” o disco será objeto de uma intervenção de Nuno Miguel Neves, antropólogo e doutorando em Materialidades da Literatura.
Este trabalho baseia-se em conversas com sete reclusos mas não é um disco documental, referiu Américo Rodrigues para quem a ideia inicial “era escrever um livro com narrações daquelas mulheres e homens que estavam a cumprir pena numa prisão do interior de Portugal. Registei em vários cadernos o que de mais importante me disseram (depoimentos de grande autenticidade), sublinhando frases e ligando palavras com setas e outras anotações”.
O que escreveu foi aquilo que considerou “ser o essencial” do que ouviu. “Histórias de roubos, tráficos, burlas, assaltos, dependências, traições, violências, mortes. Vidas. A partir desse material de base concebi uma peça de poesia sonora que cruza a minha vocalidade (gritos, sussurros, choros, línguas inexistentes, ruídos bucais, cantos de inspiração étnica, estalidos com a língua, terrorismo fonético, etc.) com a leitura dos apontamentos da conversa com aqueles reclusos (leitura branca, interpretação teatral, enganos, hesitações, alteração de velocidade, silêncios, amálgamas, etc.)”.
Como referiu Américo Rodrigues, a propósito deste seu novo trabalho, surgiu assim a opção por “ler em voz alta os apontamentos, fragmentar as narrativas, estilhaçar a coerência dos relatos. Como num parlatório: todos a falar ao mesmo tempo. Como num parlatório onde todos ouvíssemos parte das histórias dos outros. Depois, juntar-lhe o que é do domínio do indizível: vozes viscerais, vozes que não pronunciam uma só palavra entendível, choros por ninguém, ecos dos ecos, um derradeiro esgar, ruídos bucais, cânticos de lamento, línguas imaginárias, rezas sem fé, revoltas íntimas, o som do sangue.”
O disco foi feito em parceria com José Neves (dramaturgia do som e montagem), tendo a colaboração de Nuno Veiga (sound designer), César Prata (gravação) e Tiago Rodrigues (desenho gráfico). A edição é de Bosq-íman:os records.
A seguir à apresentação do disco realiza-se uma mesa redonda subordinada ao tema “O que pode a Arte? Ações artísticas em contexto prisional” em que vão participar Américo Rodrigues, António Dores, Daniel Maciel, Vera Silva e Paulo Lameiro.
A sessão de apresentação em Coimbra, a que se seguirá outra em Lisboa na Galeria ZDB, é do Serviço Educativo do Jazz ao Centro Clube.
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