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Rádio Altitude: 67º aniversário

por Correio da Guarda, em 29.07.15

 

     “Altitude não significa apenas uma certa posição física – situação de um ponto acima do nível do mar; traduz também uma posição moral – elevação da alma acima do comum, acima do charco lodoso ou da planíce raza, onde pululam a grosseria e a mediocridade”. Estas palavras de Ladislau Patrício foram escritas, em 1938, a propósito do seu livro “Altitude – O espírito na Medicina”.

    Na década seguinte Altitude seria o nome dado a esta rádio; emissora cuja atividade do surgiu, como é do domínio público, no seio do Sanatório Sousa Martins, cerca de 1946. Nessa altura, as rudimentares emissões circunscreviam-se ao pavilhão onde estava concentrado o grupo de doentes pioneiros deste projeto; apenas com a construção de novo emissor foi ganhando dimensão a aventura radiofónica.

    Sabe-se que, no ano seguinte, Ladislau Patrício diretor do Sanatório, assinou, a 21 de Outubro, o primeiro regulamento desta emissora, onde estavam definidas orientações muito objetivas sobre o seu funcionamento.

    Em finais de 1947 as suas emissões já eram escutadas na malha urbana da Guarda, que seguiu, com particular entusiasmo, o início oficial das emissões regulares, assinalado a 29 de Julho de 1948.

     Comemora-se pois, neste ano, o sexagésimo sétimo aniversário da rádio a quem, um ano depois foi atribuído o indicativo CSB 21; identidade difundida por várias décadas, a partir do alto da serra, “eterna como o sol que alumia o mundo”; para citar Nuno de Montemor; este escritor, diga-se, fez parte do grupo inicial de ouvintes da rádio. Sobre a rádio deixou, aliás, as suas impressões nas páginas de outro pilar informativo do Sanatório: o jornal Bola de Neve.

Rádio Altitude - símbolo da primeiras décadas -

     A propriedade do primeiro emissor pertenceu, inicialmente, à Caixa Recreativa do Internados no Sanatório Sousa Martins e, mais tarde, com a sua extinção, ao Centro Educacional e Recuperador da unidade hospitalar vocacionada para o tratamento da tuberculose. Com a criação do Centro Educacional e Recuperador dos Internados no Sanatório Sousa Martins (CERISSM) pretendeu-se auxiliar os doentes, especialmente no que dizia respeito “à sua promoção social e ocupação dos tempos livres”.

     Aliás, foi no seio dos sanatórios que surgiram interessantes projetos radiofónicos – como seja a Rádio Pólo Norte, no Sanatório do Caramulo, e a Rádio Pinóquio, no Sanatório das Penhas da Saúde, Covilhã, para referirmos os mais próximos.

    O CERISSM foi uma autêntica instituição de solidariedade; para além de viabilizar a afirmação e implantação da Rádio Altitude desenvolveu uma vasta obra assistencial, sob o impulso do médico Martins de Queirós, o quarto e último diretor do Sanatório da Guarda.

    Em 1961, mediante autorização oficial, o RA passou a ter como suporte económico-financeiro as receitas publicitárias que em muito contribuiriam para o auxílio dos doentes mais carenciados. As emissões evoluíram, ao longo das primeiras décadas em função das disponibilidades técnicas, dos recursos humanos e financeiros mas encontrando sempre no, crescente auditório, uma grande simpatia e um apoio incondicional.

    Até 1980 o Rádio Altitude emitiu na frequência de 1495 Khz, em onda média (abrangendo não só o distrito da Guarda mas igualmente os distritos de Viseu e Castelo Branco e algumas das suas áreas limítrofes), altura em que a sua sintonia passou a ser feita no quadrante dos 1584 khz. Após 1986, e com a liberalização do espectro radioelétrico passou também a desenvolver as suas emissões em frequência modulada, em 107.7 Mhz, a qual foi alterada, em 1991, para os 90.9 Mhz.

    Em 1998,e depois de ter sido determinada a extinção do Centro Educacional e Recuperador dos Internados no Sanatório Sousa Martins, foi decidida a realização de uma consulta pública, com vista à “transmissão da universalidade designada Rádio Altitude”, considerada a “única estrutura em funcionamento do ex-CERISSM”.

    A estação emissora entrou assim, com a sua aquisição por parte da Radialtitude–Sociedade de Comunicação da Guarda, num capítulo novo da sua existência, mantendo a ligação física ao antigo espaço sanatorial.

RA de HS.jpg    O Rádio Altitude – que assinala hoje o seu 67º aniversário – possui um historial ímpar que importa reter, e divulgar, contribuindo, assim, para aumentar a cadeia de afetos, originada em finais da década de quarenta do passado século.

    O passado e o património do Rádio Altitude fazem parte das múltiplas memórias da Guarda, assumindo-se como elos indissociáveis da história da Cidade da Saúde. Valorizar o presente, refletir sobre a importância social desta emissora, será um bom incentivo para quantos ali trabalham e dão continuidade a uma matriz radiofónica, de inquestionável originalidade e longevidade.

estúdio ra.jpg

   Parabéns e votos de boa Rádio!

 

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Rádio...memória

por Correio da Guarda, em 30.05.12

 

 

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publicado às 19:49

Antunes Ferreira: um rosto da Rádio

por Correio da Guarda, em 25.11.08

 

A histórica Rádio Altitude perdeu ontem mais um dos seus obreiros: Antunes Ferreira. Um nome que atravessa um largo período das emissões em onda média e igualmente os anos iniciais da frequência modulada, na RA.
A estação guardense foi para Antunes Ferreira (nasceu a 30 de Novembro de 1929, faleceu a 24 de Novembro de 2008) o local de trabalho ao longo de 35 anos, período durante o qual interveio no desenvolvimento da própria rádio, que considerou ter sido uma "autêntica escola".
Antunes Ferreira passou pelo Sanatório Sousa Martins, como internado, tendo, dentro do espírito da terapia ocupacional praticada naquela unidade, sido convidado para trabalhar na Rádio Altitude.
Em entrevista que nos concedeu há alguns anos atrás (e que foi publicada no Diário da Guarda), relembrava a abertura de um concurso, aquando da passagem do décimo aniversário da RA, para a escolha de alguns elementos destinados a trabalhos de apresentação de programas. "Fiquei classificado em quarto lugar", disse-nos Antunes Ferreira, que, juntamente com mais quatro companheiros, passou a desenvolver a sua actividade na, então, modesta estação de rádio.
 
Na altura, o suporte humano da Rádio Altitude "era o amadorismo puro. Éramos todos amadores e nas horas disponíveis é que íamos para lá. Nós, os doentes, íamos após a fase do período das curas, que eram de repouso total. Alguns iam trabalhar na locução, outros nos arquivos de discos, outros nos registos."
A partir dessa altura desenvolve "uma colaboração assídua, durante vários anos. Juntamente com outras pessoas, de fora, assim se mantinha o Altitude". Cerca de 1960, o então Director do Sanatório Sousa Martins – Dr. Martins de Queirós - que para Antunes Ferreira "era a alma e o coração do Altitude", entendeu e perspectivou a importância daquela rádio como meio de comunicação social.
"Nessa altura começou a haver uma colaboração mais regular de outros elementos. Estava para sair do Sanatório, um vez que estava curado, e o Dr. Martins de Queirós convidou-me para ficar, como profissional, isto à volta de 1965".
Foi também a partir dessa altura que começou a haver alguns profissionais. " A minha função não era propriamente de animador de emissão, até porque eu gostava mais da técnica. Dediquei-me mais à técnica". Um trabalho que Antunes Ferreira privilegiou ao longo dos 35 anos que trabalhou na Rádio Altitude.
"O ambiente era muito diferente do actual. Todos nós trabalhávamos mais sobre o joelho mas poderei dizer que aquilo era uma escola de rádio. Houve muita gente que ali aprendeu e dali saíram para outros emissores; recordo que houve elementos que foram para os emissores associados de Lisboa, outros para o Porto. A Rádio Altitude nos seus primeiros vinte e cinco, trinta anos, funcionou como uma escola de Rádio". Recordou, com alguma nostalgia, Antunes Ferreira.
Havia "muito amadorismo e sobretudo muita vontade e amor àquela casa", uma fórmula que, na sua opinião, foi importante para se consolidar a projecção da Rádio Altitude. "Aqui na região o que mais se ouvia era a RA, não só pelo interesse das notícias mas também pela música popular que passava, do gosto do nosso povo".
Todos os programas deixaram boas recordações a Antunes Ferreira mas "aqueles espaços que mais vivia, como técnico, eram as transmissões directas. Eram feitas transmissões directas desportivas, religiosas, quer de acontecimentos políticos".
A veracidade das notícias, para o povo, referia Antunes Ferreira, "era confirmada pela RA. Se o Altitude dava qualquer notícia era porque isso tinha mesmo acontecido.".
Daí que, fez questão em sublinhar, “toda a população da Guarda sentia o Altitude como uma coisa deles. Toda a gente achava que tinha um bocadinho na própria Rádio Altitude. Aquela casa era de todos".
(da direita para a esquerda: Antunes Ferreira, Helder Sequeira, José Augusto Marques)
 
Ao longo dos anos o apoio do Sanatório e do Hospital foi permanente, quer através da disponibilização das instalações, quer do fornecimento da energia eléctrica e da água. "Ainda houve uma altura em que havia sócios. Era uma quotização diminuta mas realmente como as despesas também não eram grandes, pois o pessoal era amador. As despesas eram também suportadas pelos discos pedidos, pelos anúncios de bailes e pela própria publicidade. Esta era importante e fundamental para a compra de máquinas. Vivia-se com o que se tinha e nada mais."
Questionado, na altura dessa entrevista, sobre o futuro da Rádio Altitude, disse-nos: "Houve sempre uma coisa que sempre pedi: era que fosse o Altitude a ver-me desaparecer a mim e eu não ver desaparecer o Rádio Altitude. É isso que continuo a pedir."
E a Rádio continua, e vai recordá-lo! No dia de ontem e de hoje a bandeira da Rádio, a meia haste, era disso testemunho. A actual direcção da Rádio, e muito justamente, não esqueceu o homem que durante largos anos foi um dos principais rostos da estação, trabalhador incansável, solidário, intransigente defensor dos verdadeiros interesses da sua estação emissora, cuja solidez económica soube sempre salvaguardar.
Também nós, que com ele privámos largos anos, não o esquecemos. Estas breves notas são uma singela homenagem ao homem e ao profissional (gostava de ensinar, partilhar, apoiar) que tão intensamente viveu a Rádio Altitude.
Até sempre, Senhor Ferreira!...
 
                                                                                         Helder Sequeira
 
 

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