por Correio da Guarda, em 21.09.08
A comercialização – ao longo dos últimos anos – nalguns concelhos do distrito da Guarda, de pedra aparelhada, pertencente quer a antigas e características habitações, quer a muros ou entradas de prédios agrícolas, tem feito levantar várias vozes, denunciando esta actividade como lesiva do património rural.
A troco de alguns escassos euros, esses materiais são adquiridos para posterior venda no estrangeiro e sobretudo em Espanha, sendo utilizados no embelezamento de espaços verdes, jardins, ou mesmo nalgumas construções. A lacuna legislativa, nesta matéria, não impede a saída de muitas toneladas de pedra dos mais variados tamanhos, e interesse patrimonial ou mesmo afectivo para algumas populações.
Ainda que se possa argumentar com o facto de essa comercialização contribuir para alguns rendimentos dos proprietários das terras onde são recolhidos esses materiais, também é certo de que não resultam grandes receitas, a não ser para os intermediários.
As “atenções” chegam a virar-se para cruzeiros em granito, nichos, as conhecidas “alminhas” (erguidas em tantos locais da região, e objecto de veneração popular), imagens em azulejos e tantas outras referências religiosas e culturais que bordejam muitos dos caminhos da região. O destino destas peças será, igualmente, a ornamentação de zonas exteriores a moradias ou complexos habitacionais.
A falta de uma inventariação desses elementos, por mais singelos que sejam, do nosso património não facilita a intervenção das autoridades.
Contudo, dado que fazem parte da nossa memória colectiva não nos podemos alhear deste atentados, antes actuar em prol da defesa e salvaguarda de traços intimamente ligados à identidade e cultura das nossas terras e gentes.
O que não exclui, como é óbvio, a necessidade de uma nova postura, mais vigilante e actuante, por parte das entidades oficiais.