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Fundadora da Associação da Propaganda Feminina, Carolina Beatriz Ângelo foi a primeira mulher a exercer, em Portugal, o direito de voto, posicionando-se também num lugar de destaque no quadro europeu, ao nível da intervenção cívica.
Nascida na Guarda, a 20 de Maio de 1877, aqui frequentou o Liceu, a partir de 1891, antes de rumar para Lisboa onde estudou na Escola Politécnica e, dois anos depois, na Escola Médico-Cirúrgica, concluindo o curso de Medicina em 1902. Nesse mesmo ano casou com o médico Januário Barreto, natural de Aldeia do Souto (Covilhã).
Carolina Beatriz Ângelo, para além do facto que a tem envolvido em singularidade e distinção, é conhecida igualmente por ter sido a primeira mulher portuguesa a desenvolver actividade cirúrgica, no Hospital de São José, em Lisboa; naquela cidade teve consultório na Rua do Almada.
Tendo abraçado desde cedo a causa feminista, onde pontuaram nomes como Maria do Carmo Lopes, Adelaide Cabete, Ana de Castro Osório e Domitila de Carvalho, entre outras, Carolina Ângelo viria a aderir à Maçonaria; fundadora, e elemento activo, da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas afastou-se, por divergência de princípios com outras dirigentes, e empenhou-se na criação da Associação de Propaganda Feminista, a que, aliás, presidiu.
Foi um período de grande envolvimento na reivindicação do sufrágio feminino e na exigência do reconhecimento dos direitos das mulheres. Em 1911, no mês de Fevereiro, subscreve, juntamente com outras destacadas figuras feministas, um documento – entregue a Teófilo Braga – em que solicita o direito de voto para a mulher, com reconhecida independência económica. Recorde-se que a primeira lei eleitoral da República Portuguesa condicionava o direito de voto aos cidadãos “com mais de 21 anos, que soubessem ler e escrever e fossem chefes de família”.
Em Tribunal argumentou, em favor do exercício do seu direito de voto, com o facto de ser viúva (o marido falecera em Junho de 1910) e “chefe de família”. Em 28 de Abril de 1911, o juiz João Baptista de Castro, considerando que excluir a mulher “é simplesmente absurdo e iníquo e em oposição com as próprias ideias da democracia e da justiça proclamada pelo partido republicano”, sentenciou que “a reclamante seja incluída no recenseamento eleitoral em preparação no lugar e com os requisitos precisos”.
Nesse mesmo ano, a 28 de Maio, e nas eleições para a Assembleia Constituinte, protagonizou o primeiro voto por parte da mulher portuguesa; acto que teve lugar na assembleia eleitoral de S. Jorge de Arroios (Lisboa).
Quando do seu papel de liderança e da sua combatividade em prol dos ideais feministas e republicanos muito havia a esperar, a notícia da morte – a 3 de Outubro de 1911 – de Carolina Ângelo colheu de surpresa mais diversos meios políticos, intelectuais e sociais.
Como escreveu Antonieta Garcia, no seu excelente trabalho “Carolina Beatriz Ângelo – Guarda(Dora) da Liberdade”, a médica guardense “na luta pelo direito ao sufrágio, pela educação feminina, pela emancipação, ergueu a voz, envolveu-se na regeneração do país, na utopia republicana”. Afirmando-se como “mulher de um tempo em devir, moderna, audaz, com talento, com coragem, sabedoria, intuiu que o feminismo não podia ter pressa mas, tacitamente, interveio cultural e politicamente nas res publica, abraçando a causa da igualdade entre os géneros”.
Pioneira do sufrágio feminino, em Portugal, o nome de Carolina Beatriz Ângelo faz parte da toponímia da Guarda e de outros centros urbanos, como Lisboa, Porto, Tavira ou Almada, e foi atribuído também à unidade hospitalar de Loures/Odivelas. A Guarda, contudo, é indissociável desta personalidade que “internacionalizou o feminismo português”.
A toponímia guardense tem registado (há cerca de duas décadas) o seu nome numa das ruas da zona outrora pertencente à Quinta do Pinheiro. (H.Sequeira)
Na Galeria de Arte do Teatro Municipal da Guarda vai ser inaugurada no próximo dia 9 de abril, pelas 18 horas, a exposição fotográfica "O Tempo das Mulheres", de Alfredo Cunha.
Esta mostra assinala os 50 anos de carreira do Fotógrafo Alfredo Cunha que celebra a condição feminina através de imagens captadas em vários contextos, relevando a beleza, a sensibilidade e a importância das mulheres nas sociedades.
“Guarda Mulher” e “Mulheres com Alma”, do fotojornalista Miguel Silva, são as temáticas das exposições que vão estar patentes, a partir de 23 de fevereiro, na Galeria de Arte do Teatro Municipal da Guarda.
"O território da Guarda, seja ele concelho ou distrito, é detentor de um vastíssimo património, natural, arquitetónico e cultural, que se tem vindo a destacar ao nível turístico, atraindo cada vez mais apreciadores de novas experiências, onde o contacto com a comunidade e suas tradições é fator de atração. É, portanto, imperativo a aposta, por parte dos agentes locais, na preservação e potencialização deste valioso património, perpetuando de igual modo a memória coletiva das gentes e das comunidades. " Refere uma nota da Câmara Municipal a propósito desta iniciativa.
A exposição “Guarda Mulher” e “Mulheres com Alma” enquadra-se na estratégia definida pelo Municipio da Guarda, "para a valorização do melhor do nosso património, as pessoas". Integrada no quadro de cooperação intermunicipal, que se definiu recentemente no âmbito da candidatura “Guarda 2027 – Candidata a Capital Europeia da Cultura”, a presente exposição une os concelhos de Guarda e Pinhel, através da figura feminina e tudo o que ela representa. "Mulheres anónimas, mães, avós, rostos de vidas simples e que carregam experiências de vida nem sempre fáceis. Mulheres do campo, com mãos cheias de estórias e de sorrisos largos, que guardam na memória saberes de um valioso património cultural."
Assim é prestada uma "simbólica homenagem, através da linguagem fotográfica, a 70 mulheres: 27 mulheres de Pinhel e 43 mulheres da Guarda. Uma mulher por cada freguesia."
Miguel Silva, fotojornalista natural de Lisboa, apresenta um trabalho de 70 retratos e o mesmo número de estórias, contadas "na primeira pessoa, de saberes e tradições, de dificuldades e lutas diárias, de risos e lágrimas, de quem tem saudades de tudo ou de nada".
A presente exposição poderá ser visitada de 23 de fevereiro a 27 de abril. A entrada é livre.
Fotos: Miguel Silva
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