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Nélia Carrilho, natural do Soito e residente na Guarda, é professora do Ensino Básico desde 1987. Apaixonada por desenvolvimento pessoal e relações humanas está empenhada em “despertar consciências para mudar comportamentos”.
Vive e sente a zona raiana, com diz ao CORREIO DA GUARDA. Aliás, diz, “não seria a mesma pessoa se não tivesse as influências da minha região com caraterísticas tão especiais.” Gosta de ensinar e de escrever poesia, que é para ela “um estado de alma”. E sonha com novos projetos. Um, que tinha “em sala de aula, agora ganha asas e vai a outras escolas e está a ser transformado para ser aplicado a um maior número de alunos”.
O que representa para ti a zona raiana?
Nascida e criada na raia, vivo e sinto a raia como parte de mim e do meu ser. A família mais direta do lado do meu pai é espanhola. Então para mim é natural a vida naquele espaço. RAIA. Não seria a mesma pessoa se não tivesse as influências da minha região com caraterísticas tão especiais.
És uma defensora das tradições da raia? Tens uma participação ativa?
Sou defensora e vivo intensamente, cada vez mais, as nossas tradições. Gosto de divulgar a minha Raia e aproveito a minha profissão para a divulgar e dar a conhecer.
Há grandes diferenças entre o ontem e o hoje? O que se perdeu de forma mais significativa?
Muitas diferenças existem. Vivíamos numa região que dependia dos nossos vizinhos para ter os produtos mais básicos que possam imaginar. Como ir comprar pantufas, colorau para as matanças, laranjas, bananas, café e muitos outros. Ir ao lado de lá era meio de subsistência.
Cresci a ouvir espanhol, pois a tv que se via de lá era muito mais avançada que a nossa e tinha programas para crianças. Aprendíamos a língua por contacto direto. Esta talvez tenha sido a maior perda. As crianças perderam esta naturalidade cultural e bilingue.
Parte do teu ciclo de formação académica foi no Sabugal. Que lembranças do Externato/Colégio do Sabugal?
Para mim, que tinha estudado na minha terra, era a experiência de sair de casa. O externato tinha um papel preponderante na região e era um orgulho ir para o Sabugal.
Com apenas 15 anos sair de casa. Era uma emancipação precoce. Por aquela época estava entregue a mim própria e teria que construir o meu caminho.
Ficou a camaradagem, amizades que ainda duram e a gratidão de ter pertencido àquela casa.
Como surgiu a tua vocação pelo ensino?
Desde a escola primária tinha o sonho de ser professora. Nunca mudei de opinião, ou tive dúvidas. Talvez porque também tinha exemplos na família.
Como foi o teu percurso profissional?
Durante 30 anos percorri quilómetros por escolas de diversos distritos, até que cheguei à Guarda. Este ano, em janeiro integrei a equipa da nova direção do AEAAG, como adjunta.
O caminho foi feito entre dar aulas, ser parte ativa da escola e suas necessidades, integrar projetos e fazer formações para me manter na linha da frente pedagogicamente e inovar em sala de aula.
E o gosto pela poesia, surgiu cedo?
Sim. Quando o meu professor de Português do Externato do Soito, explorou a poesia, fiquei a gostar das rimas e de brincar com as palavras.
Como defines a tua poesia?
A poesia é um estado de alma. Um dia posso escrever sobre o amor e outro sobre a terra. Escrevo sobre o que me vai na alma em determinado momento.
Também gosto de a promover em sala de aula. Os meus alunos cedo começam a rimar e a usar as palavras em diferentes contextos. As palavras saem naturalmente e gosto de escrever para que todos entendam. As palavras simples podem chegar a mais.
O que representou o lançamento, em 2017, do livro “Para Ti”?
Dar a conhecer o meu lado poético e tirar da gaveta o que tinha escrito há tempo, foi como presentear um público com parte de mim.
Foi mais uma marca no meu caminho, pois a partir daí passei a ser convidada para vários eventos e a poder utilizar a poesia para chegar a mais pessoas. Escrevo muitas poesias para eventos específicos e presentear outras. A escritora saiu à rua.
“Encontro com o Poder da Mente” é outro trabalho da tua autoria. Quando surgiu o interesse pela temática abordada?
O desenvolvimento pessoal entrou na minha vida em 2015. A partir daí é um caminho sem fim, sempre a aprender e a partilhar com outros.
Nesta área há uma diversidade de temáticas, mas as que mais gosto são a inteligência emocional, comunicação assertiva e o poder da mente.
Como dou palestras e faço workshops, senti necessidade de poder entregar aos participantes algo que pudesse ser entendido como o despertar do poder que cada um tem em si.
Daí escrevi este despertar e mais recentemente o EmocionalMente. Falar sobre emoções e compreendê-las muda a nossa perspetiva e visão das coisas e das pessoas. Desenvolvemos em nós a capacidade de melhorar, de nos relacionarmos connosco e com os outros.
“Semear Mentes, para curar o coração”. Esta é uma regra que segues com rigor?
Sim. Desde que comecei neste caminho que percebi que podia ajudar outras pessoas com problemas emocionais.
Então gosto de partilhar com outros este poder da mente como forma de semente para que cada um perceba o poder de cura que tem dentro e seguir a uma descoberta do Eu que cada um tem dentre e muitas vezes é desconhecido. A par da minha vida profissional, tenho outra vida. Esta. Que tem crescido muito ultimamente.
O desenvolvimento de projetos sobre emoções na infância é uma atividade em que te tens empenhado. Fala-nos da sua importância.
Neste meu caminho, não poderia esquecer os meus alunos e outras crianças que sofrem e nem sempre a escola tem resposta para as suas necessidades emocionais.
Nem sempre uma criança que não aprende tem a ver com falta de capacidades. Muitos têm graves problemas emocionais e as famílias não conseguem ter soluções.
Assim surgiu este lema que está relacionado com um projeto que tenho para os alunos, com a finalidade de trabalhar as emoções, levando assim a um melhor sucesso educativo. Já aplico o projeto “Caixa dos Segredos” há 4 anos e tem resultados fantásticos, nos alunos e suas famílias. Permitir que as crianças possam compreender o que sentem e porque sentem, melhora muito o seu estado emocional e as aprendizagens. Traz calmaria e melhor relacionamento com colegas e adultos. Há menos stress e maior empenho.
E quanto a outros projetos, no futuro?
Estou envolvida em alguns. O projeto que tinha em sala de aula, agora ganha asas e vai a outras escolas e está a ser transformado para ser aplicado a um maior número de alunos.
Integro a criação da 1ª Academia de desenvolvimento Pessoal em Portugal. APSDH – Academia Portuguesa de Superação e Desenvolvimento Humano. Elementos de diferentes partes do país que se juntam para levar o nosso conhecimento aos portugueses e poder ajudar quem mais necessita. Estamos a finalizar as legalidades e vai ser apresentada nas Caldas da Rainha dia 5 de novembro, num evento a publicitar até lá.
O projeto EmocionalMente vai ser desenvolvido no AEAAG e vai ser direcionado para a gestão de conflitos, comunicação assertiva e cuidar dos alunos com graves problemas emocionais que sem esta ajuda estarão perdidos. Continuo a fazer workshops e palestras
Integro o projeto EBIF- Escolas bilingues e interculturais de fronteira. Com organização da OEI (Organização de Estados Ibero Americanos) e dos Ministérios dos dois países. Temos vindo, desde há dois anos a desenvolver este projeto com os alunos de 5 turmas do Agrupamento, com a finalidade de promover o bilinguismo, a interculturalidade e a intercompreensão. Para que os alunos de fronteira possam recuperar estas caraterísticas que no passado nos eram inerentes. O projeto vai ter continuidade. Estamos à espera de indicações para este ano letivo. Ainda neste âmbito irei participar num Erasmus durante este ano letivo.
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