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“A Toponímia da Cidade da Guarda e a Construção da Memória Pública no Século XX” é o título do livro, da autoria de Maria José Neto, que foi apresentado, recentemente, nesta cidade, no decorrer do II Fórum sobre Toponímia.
“Enquanto registo de memórias da comunidade inscritas sobre uma placa toponímica, a toponímia merece uma atenção particular, para que as inscrições nas placas cumpram, efetivamente, a sua função social”. Sublinha, neste livro, Maria José Neto.
A autora acrescenta, com esclarecido sentido de oportunidade, que “se às instituições públicas locais cabe a primeira responsabilidade de promover iniciativas de divulgação de património tangível e intangível, e de promover a sua preservação por todos os elementos da comunidade, a começar na infância, entendemos que o cidadão comum dever ter um papel interventivo, constante, na preservação e na educação informal das gerações mais jovens”.
Tivemos já o ensejo de escrever, por mais de uma vez, que é notório o desconhecimento de uma larga maioria dos habitantes da Guarda relativamente a muitas das personalidades referenciadas nas suas avenidas, ruas, travessas, largos e lugares; daí que todo o trabalho, executado com idoneidade e rigor, orientado para o estudo e divulgação da toponímia, mereça ser incentivado e devidamente apoiado.
Para além da atenção que deverá ser dada à toponímia, à estrutura e conteúdo dos suportes que sustentem as designações toponímicas – que as novas tecnologias podem apoiar em termos de acesso a informações complementares ou devidamente pormenorizadas – é importante que sejam incrementadas, nos estabelecimentos de ensino, iniciativas ou disciplinas incidentes sobre a história local. A toponímia assume-se – permitam-nos evidenciar esta ideia – como referência dos valores históricos, culturais de cada lugar e memória coletiva de factos, personalidades, tradições ou legados identitários.
Maria José Neto lembra, e bem, que “aos professores, sobretudo da disciplina de História, cabe um papel importante na organização de atividades extra curriculares que levem os alunos ao encontro da comunidade mais próxima, nomeadamente através de clubes escolares. Pequenos percursos pedestres, exposições sobre a arte pública, construção de pequenas narrativas sobre os lugares e as figuras históricas da comunidade que, partindo da realidade próxima e conhecida, seja capaz de integrar e possua referências básicas para que os futuros cidadãos se possam identificar, e porque estimulam a memória representam formas de identificação e partilha com a comunidade a que pertencem, reforçam a auto estima dos mais jovens e atenuam o efeito desenraízador da globalização”.
Se a toponímia tem uma importância inquestionável na delimitação de espaços, permite, por outro lado (e entre outros aspetos que nos dispensamos de enunciar aqui) apreender a matriz de uma localidade, a organização sócio geográfica, o desenho da malha urbana de épocas passadas, o conhecimento e investigação de sítios históricos ou arqueológicos, o papel dos habitantes na salvaguarda da atribuição de nomes que a tradição consolidou.
Partindo do trabalho de uma dissertação de mestrado no âmbito de Estudos do Património, esta publicação – que enriquece a área dos estudos sobre a mais alta cidade de Portugal e contribui para o avanço científico na temática subjacente – incide no estudo da toponímia do espaço urbano da Guarda entre os anos de 1900 e 1980; um período que regista momentos marcantes na evolução citadina, quer do ponto de vista político, quer do ponto de vista social, económico e cultural, com todas as influências e alterações daí decorrentes.
“As elites do poder local, em função da sua cultura e do contexto nacional e local, transpuseram para as vias urbanas os novos matizes da realidade histórica, social, política e cultural, no ensejo de que os seus contemporâneos se convertessem ao novo culto, ao novo calendário e aos novos heróis, tributo que inevitavelmente implicava a substituição da devoção antiga, ou o esquecimento imposto pela via oficial. Muitas das designações mais antigas, preservadas pela tradição, foram substituídas por antropónimos, deste modo reformando e reconstruindo as memórias da população porque as anteriores referências já nada representavam na ordem estabelecida e configuravam anacronismos para os habitantes locais (...)”. Elucida Maria José Neto nas páginas deste livro, e cuja leitura atenta se recomenda.
Para além da sua importância como trabalho académico, este livro constitui um excelente contributo para os guardenses, e para todos os interessados, conhecerem melhor esta cidade; isto a par de ser um documento que os responsáveis autárquicos (em especial aqueles que tenham sob a sua responsabilidade a área da Toponímia) devem ter como elemento de suporte e consulta, para melhor clarividência nas suas decisões, na Guarda da toponímia. (HS)
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