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Festival do Cobertor de Papa

por Correio da Guarda, em 12.09.25

 

Na localidade de Maçainhas (Guarda) vai decorrer, amanhã e domingo, o Festival do Cobertor de Papa.

O programa integra diversas atividades, nomeadamente um percurso pelas ruas de Maçainhas designado “À descoberta do Cobertor de Papa”, um concerto de concertinas, a apresentação do documentário “Guarda, Tradições, Cultura e Arte” e uma sessão/debate subordinada ao tema “Unidos por um fio – reflexão: a importância da preservação do património e identidade territorial”. O programa completo deste festival pode ser consultado aqui.

Esta iniciativa representa mais um alerta para o risco de extinção de um ecossistema enraizado nestas terras beirãs.

O cobertor de papa é uma manta tradicional da zona da Serra da Estrela, produzida – há vários séculos – a partir da lã churra (mais macia) que é retirada de ovelhas autóctones (ovelha mondegueira).

Após o necessário tratamento, a lã é tecida em teares artesanais e de acordo com métodos tradicionais, associando cores e desenhos com perfil diferenciador. O processo termina com o esticar dos cobertores nas “râmbolas” onde secam, ao ar livre, e adquirem o seu aspeto final.

Cobertor de Papa_Céu Reis_

Existem o cobertor branco com três listas castanhas, a manta barrenta ou manta do pastor, a manta lobeira ou manta espanhola, o cobertor branco, o cobertor bordado à mão e o cobertor de papa em várias cores (com o seu conhecido pelo comprido).

O seu uso não se fica apenas pela utilização como elemento de conforto térmico (na cama o seu pelo denso e pesado facilita a transpiração durante o sono e puxa a humidade para a superfície exterior do cobertor), mas passa também por distinto complemento de decoração de interiores.

A Associação Genuíno Cobertor da Papa, sediada naquela localidade, tem nos seus objetivos a produção daquele autêntico produto e a garantia da sua autenticidade, estando atualmente empenhada em alcançar a certificação daquele cobertor.

O declínio da indústria da lã e o surgimento de fibras sintéticas originaram um cenário onde quase se desenhou a sua extinção.

Elisa Pinheiro, que desenvolveu trabalhos de pesquisa sobre o cobertor de papa, assinalou-o como “produto final de um longo processo que plasma uma densidade de memórias, sejam elas as dos homens que os produziram, sejam daqueles que, ao longo dos tempos, os consumiram, uns e outros unidos pelos fios de lã que os teceram, num tempo longo da nossa história dos lanifícios”, sublinhando o seu enquadramento “em práticas ancestrais que importa salvaguardar”. Deste modo, é urgente preservá-lo, defender a sua autenticidade, a par de permanentes ações de valorização e promoção.

Este não é um trabalho simples, pois há que equacionar múltiplas realidades e condicionantes, como sejam a necessidade da existência de mais rebanhos de ovelhas autóctones – o que implica olhar com objetividade para a realidade agrícola, para as dificuldades relacionadas com a criação e alimentação dos animais, para o número de pessoas que se dedicam ao pastoreio e ao ciclo da produção de queijo, para as consequências das alterações climáticas que têm condicionado as áreas de pastagens e aumentado as dificuldades ao nível económico/financeiro) – , mais gente a trabalhar no campo e a saber valorizar/rentabilizar as potencialidades endógenas, uma maior consciencialização de todos no que concerne à qualidade e valor dos nossos produtos regionais, optando pela sua compra e incrementando a economia local/regional.

O incentivo e apoio a projetos (como este da revitalização do genuíno cobertor de papa, cuja produção é feita, naturalmente, numa escala consentânea com a dimensão dos recursos atuais, e em função da evolução do número de encomendas) não devem ficar apenas pelas amáveis palavras de circunstância, pelas manifestações de simpatia nas redes sociais ou pela presença (também importante, claro) em ações de sensibilização ou divulgação.

É fundamental o apoio das entidades em cuja área de competência ou influência se pode inscrever a ajuda necessária (e justa), a ação dos media na informação e divulgação dos produtos genuinamente regionais, a necessária transmissão aos mais jovens do saber fazer, o envolvimento da investigação académica, uma atitude ativa dos consumidores na preferência daquilo que tem alta qualidade e matriz tradicional e portuguesa.

 

Hélder Sequeira

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publicado às 15:52

A propósito do cobertor de papa…

por Correio da Guarda, em 20.03.25

 

Alta, imensa, enigmática, a sua presença física é logo uma obsessão. Mas junta-se à perturbante realidade uma certeza ainda mais viva: a de todas as verdades locais emanarem dela.” Escrevia Miguel Torga a propósito da nossa Serra da Estrela, onde não deixou de anotar a figura de “um homem de pau e manta, a guardar um rebanho”. Uma imagem ampliada em múltiplos e diferenciados registos fotográficos, onde é visível um dos traços identitários do pastor: a manta. Hoje um elemento que integra um ecossistema enraizado nestas terras beirãs, em risco de extinção.

O cobertor de papa é uma manta tradicional da zona da Serra da Estrela, produzida – há vários séculos – a partir da lã churra (mais macia) que é retirada de ovelhas autóctones (ovelha mondegueira). Esta manta abrigava (e isso ainda acontece) os pastores durante a sua deslocação para as serranias, protegendo-os do frio, da chuva (de notar que estes cobertores no sentido do pelo são impermeáveis) e dos lobos, confundidos com as suas cores e forma.

Após o necessário tratamento, a lã é tecida em teares artesanais e de acordo com métodos tradicionais, associando cores e desenhos com perfil diferenciador. O processo termina com o esticar dos cobertores nas “râmbolas” onde secam, ao ar livre, e adquirem o seu aspeto final.

Existem o cobertor branco com três listas castanhas, a manta barrenta ou manta do pastor, a manta lobeira ou manta espanhola, o cobertor branco, o cobertor bordado à mão e o cobertor de papa em várias cores (com o seu conhecido pelo comprido).

O seu uso não se fica apenas pela utilização como elemento de conforto térmico (na cama o seu pelo denso e pesado facilita a transpiração durante o sono e puxa a humidade para a superfície exterior do cobertor), mas passa também por distinto complemento de decoração de interiores.

A Associação Genuíno Cobertor da Papa (AGCP), criada em 15 de maio de 2018 e sediada em Maçainhas, tem nos seus objetivos a produção daquele produto e a garantia da sua autenticidade, estando empenhada em alcançar a certificação daquele cobertor. O declínio da indústria da lã e o surgimento de fibras sintéticas originaram um cenário onde quase se desenhou a sua extinção, que a referida Associação quer evitar; salvaguardando “os seus processos artesanais perante produtos industriais que se apropriaram do nome e, com isso, enganam os consumidores, desonram um património histórico e cultural e concorrem deslealmente com quem continua a usar os processos fieis à tradição secular e artesanal, e respeita a autenticidade do produto”. Como afirmava, há algum tempo atrás, Maria do Céu Reis, da ACCP.

O tradicional cobertor de papa – como por várias vezes tem alertado aquela associação – apresenta um pelo comprido encaracolado ou ondulado (só possível por ser feito com lã churra) bem como ourelas únicas; nelas se podem distinguir uma espécie de "bicos" e pequenos orifícios que resultam do facto de o cobertor de papa, (artesanal e autêntico). necessitar de ser esticado e seco, ao sol, em râmbolas.

COBERTOR DE PAPA_ (26)

“Estes elementos são alguns dos sinais que garantem a autenticidade do cobertor de papa, quer em termos de processo artesanal, quer em termos de matéria-prima, podendo ajudar os consumidores, na hora de comprar, para não serem enganados comprando a imitação industrial que contém poliéster e polipropileno, pelo curto e irregular, e apresenta ourelas cortadas.” As ourelas do cobertor artesanal são inteiras, dado este produto regional ser tecido em tear manual, com lançadeira.

O processo de certificação tem exigido, muito trabalho e verbas, incompatíveis com os recursos financeiros daquela associação, como aliás foi sublinhado no decorrer do Festival do Cobertor de Papa, realizado há dois anos em Maçainhas, o único sítio do país onde hoje é feito.

Elisa Pinheiro, que desenvolveu trabalhos de pesquisa sobre o cobertor de papa, assinalou-o como “produto final de um longo processo que plasma uma densidade de memórias, sejam elas as dos homens que os produziram, sejam daqueles que, ao longo dos tempos, os consumiram, uns e outros unidos pelos fios de lã que os teceram, num tempo longo da nossa história dos lanifícios”, sublinhando o seu enquadramento “em práticas ancestrais que importa salvaguardar”.

Deste modo, é urgente preservá-lo, defender a sua autenticidade, a par de permanentes ações de valorização e promoção. Esta não é uma tarefa simples, pois há que equacionar múltiplas realidades e condicionantes, como sejam a necessidade da existência de mais rebanhos de ovelhas autóctones – o que implica olhar com objetividade para a realidade agrícola, para as dificuldades relacionadas com a criação e alimentação dos animais, para o número de pessoas que se dedicam ao pastoreio e ao ciclo da produção de queijo, para as consequências das alterações climáticas que têm condicionado as áreas de pastagens e aumentado as dificuldades ao nível económico/financeiro) – , mais gente a trabalhar no campo e a saber valorizar/rentabilizar as potencialidades endógenas, uma maior consciencialização de todos no que concerne à qualidade e valor dos nossos produtos regionais, optando pela sua compra e incrementando a economia local/regional.

O incentivo e apoio a projetos (como este da revitalização do genuíno cobertor de papa, cuja produção é feita, naturalmente, numa escala consentânea com a dimensão dos recursos atuais, e em função da evolução do número de encomendas) não devem ficar apenas pelas amáveis palavras de circunstância, pelas manifestações de simpatia nas redes sociais; muito menos deixar enredar a sua defesa em discussões marginais e inconsequentes. É, por outro lado, importante criar estratégias promocionais que alicercem vias de desenvolvimento e âncoras seguras.

Cobertor de Papa_HS_Fot

A utilização do cobertor de papa em calçado (é o caso dos pantufos e das sapatilhas feitas em cobertor de papa, por dentro e por fora) e vestuário tem sido uma excelente forma de chamar a atenção para potencialidades que se abrem com a salvaguarda da sua produção.

O apoio das entidades em cuja área de competência ou influência se pode inscrever a ajuda necessária (e justa) é fundamental e outrossim a ação dos media na informação e divulgação dos produtos genuinamente regionais; é igualmente necessária a transmissão aos mais jovens do saber fazer, o envolvimento da investigação académica, uma atitude ativa dos consumidores na preferência daquilo que tem alta qualidade e matriz tradicional e portuguesa.

 

Hélder Sequeira

in O Interior, 19 março 2025

 

 

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publicado às 11:39

Radiomodelismo em Maçainhas

por Correio da Guarda, em 22.09.20

 

Nos próximos dias 26 e 27 de setembro vai ter lugar em Maçainhas (Guarda) a prova da Taça de Portugal de Radiomodelismo, escala 1:8 off road.

Esta prova é organizada pela associação OS Beirões e a Federação Portuguesa de Radiomodelismo, com o apoio do Município da Guarda, IPDJ e Junta de Freguesia de Maçainhas.

Devido à situação pandémica atual, a organização apela para que o público presente cumpra rigorosamente as regras de distanciamento, segurança e higiene exigidas pela Direção Geral de Saúde. 

Radiomodelismo.jpg

 

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publicado às 12:35

Cobertor de papa nas 7 Maravilhas da Cultura Popular

por Correio da Guarda, em 08.06.20

 

Cobertor de papa - Maçainhas.jpg

A Associação “O Genuíno Cobertor de Papa”, de Maçainhas (Guarda), recebeu hoje o selo de Finalistas Regionais do distrito da Guarda do concurso 7 Maravilhas da Cultura Popular!

“Pelo que nos toca, tudo faremos por sermos dignos representantes da região e cultura guardense e serrana, através do cobertor de papa que, em nossa opinião, é uma relíquia que culmina todas as atividades baseadas na pastorícia.” Referiu aquela associação a propósito da participação neste concurso.

De referir que no próximo dia 21 de junho, num programa da RTP1, vão ser indicados os contactos de cada património, com vista às votações.

Cobertor de papa.jpg

 

 

 

 

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publicado às 23:27


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