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Luísa Coimbra tem na rádio uma das suas paixões. A rádio cruzou-se na sua vida quando tinha 16 anos. Natural de Almofala, (Figueira de Castelo Rodrigo) onde nasceu em 1959, reside na Guarda desde os dois meses de idade.
“Mar de música, mar de gente” e “Sintonia” são alguns dos programas radiofónicos que evoca com saudade, agora que está desligada da rádio, de cuja magia nunca se afastou. Talvez por isso mesmo tenha criado o podcast “Menina da Rádio”, “um projeto pessoal, intimista, para deixar correr os “sentidos” como disse ao CORREIO DA GUARDA.
Nesta conversa fala-nos igualmente da cidade onde, referiu, faltam “novas oportunidades de trabalho”.
Como surgiu, e quando, a tua ligação com a Rádio?
Aos 16 anos, quando me inscrevi e participei num dos concursos da Rádio Altitude.
Foi fácil a adaptação ao ambiente da rádio?
Muito fácil. Jovem como era, tinha a certeza que aquele seria o meu caminho, contrariando embora todos os objetivos sonhados para mim, pelos meus pais.
Quais foram os teus primeiros trabalhos e em que programas?
Recordo-me muito bem eram fins-de-semana inteirinhos a passar “Discos Pedidos”, os programas da manhã “Mar de Música, Mar de Gente”, o programa “Sintonia” que me levou até às Produções Sintonia no Porto, na RDP - Rádio Guarda, a aposta na formação no âmbito do Jornalismo e, por último, a Rádio F e os programas da noite.
Quais os/as colegas que recordas dessa época?
Todos sem exceção! Claro que uns marcaram mais do que outros.
Estive nas três estações de Rádio sempre por convite (o que muito me orgulha) sem querem magoar ninguém, lembro com muita saudade o João Lopes, e enfim o velho amigo Emílio Aragonez, a quem devo realmente esta grande paixão pela Rádio.
Como era a relação que se estabelecia com os ouvintes?
Íntima, verdadeiramente íntima!
Criei laços que guardo até hoje e que ficarão para sempre, na cumplicidade, no sorriso que transparecia e até nos muitos olhares de admiração/ interrogação, quando com surpresa me encontram ainda hoje na Junta de Freguesia … a pergunta que fica no ar… “Mas, não era a menina, a Luísa da Rádio? “
As pessoas identificavam-te no exterior?
Sim claro, vivíamos numa cidade pequena, a Rádio era companhia assídua de muita gente e todos nos conhecíamos.
Como era feita a seleção musical para os programas que apresentavas?
Todas as rádios por onde passei dispunham de uma discografia excecional, entre os velhinhos Singles, LPs, depois pelos CDs, procurava com alguma antecedência ir ao encontro dos gostos musicais dos ouvintes e fazer um programa onde acima de tudo estava o interesse por quem estava e ouvia no lado de lá.
Como vias a relação entre a Rádio e a Cidade/Região? As pessoas apreciavam a rádio?
Como já disse, creio que a Rádio tinha um grande poder, que é o poder de cativar, de informar e isso creio ter-se conseguido.
Eu pelo menos tenho a sensação de dever cumprido.
Tens algum episódio que possa ilustrar essa relação?
Puxando pela memória, recordo-me de alguns diretos feitos para a “Informação”, onde as populações se manifestavam, pela ausência do que consideravam essencial, quer pelos tantos convites que nos faziam e onde pude testemunhar/ vivenciar situações que em pleno Sec. XX, era na Rádio que se faziam ouvir…
Lembro-me por exemplo, num dos últimos trabalhos que fiz na Rádio F, com o meu querido Tó Jó (António Jorge Sepúlveda) de existir uma escola, no nosso concelho, onde a grande luta da professora era manter os meninos na escola, porque os pais exigiam que eles fossem trabalhar, logo pela manhã. Meninos a quem a professora levava o pequeno-almoço, porque sabia que estariam sem comer…
E enfim, tantos outros episódios, relatos de vidas com história…
Qual foi a experiência mais positiva na rádio? E a mais negativa?
Positivas todas...não tenho experiências negativas!
Os condicionalismos técnicos impediam a criatividade?
Não gosto de dizer no “meu tempo”, porque o meu tempo é hoje, mas tenho para mim, que naquele período, tive tudo, em todas as Rádios e a criatividade surgia de forma natural.
Sempre me adaptei de forma fácil, aliás o meu gosto pela Rádio era tanto, que não havia impedimento algumJ, aliás conto em jeito de brincadeira um episódio que me aconteceu no primeiro dia, na minha estreia radiofónica.
Estava no estúdio na Rádio Altitude, ocupadíssima entre discos e publicidade e esqueci-me de fechar o microfone, quando irrompe pelo estúdio o saudoso Antunes Ferreira, que me diz “menina, menina tem o microfone aberto e só se ouve “Ai minha nossa senhora!… “
Bom, se fosse hoje, o desabafo seria outro com certeza… (risos)
Quais as principais diferenças que notas entre a rádio de ontem e de hoje, nomeadamente ao nível dos estúdios e programação?
Estou longe da Rádio já algum tempo, por isso creio que apenas do que possa falar seja do que ouço e assim sendo, creio que se abusa demasiado das “play list”.
Julgo que a Rádio ainda hoje é, ou pelo menos para mim é, comunicação e não creio que hoje exista, pelo menos da forma como eu, e muitos outros como eu, a vivemos.
Hoje é mais fácil fazer rádio?
Creio que hoje, é menos empolgante fazer Rádio.
São horas e horas de música...mas claro que existem exceções e os bons comunicadores continuam a existir!
Depois da rádio, como foi o teu percurso profissional?
Deixei a Rádio por opção, mudei de cidade, mudei de vida.
Hoje, e já há algum tempo, sou funcionária da Junta de freguesia da Guarda.
Após o teu regresso à Guarda houve novo contacto com a rádio?
Existiu sim, muito superficial.
Há algum tempo atrás iniciaste um podcast, sobre rádio. Como surgiu essa ideia e qual o principal objetivo?
Surgiu porque os meus filhos me conhecem como ninguém, sabem desta minha paixão e o Tiago, (filho do meio) que se move muito bem nesta área criou o “Menina da Rádio” que é tão só um passatempo que me transporta para “esses dias da Rádio” …
Como tem sido a reação das pessoas?
Creio que gostam, gostam de me ouvir.
E a mim a cima de tudo dá-me imenso prazer em fazer, em partilhar.
Gostavas de regressar ao trabalho numa rádio? E com que projeto?
A Rádio vai sempre fazer parte de mim… foram 20 anos, a fazer Rádio e claramente sim! Porque não, as noites da Rádio?
Achas que a história da Rádio, em Portugal, passa também pela Guarda?
Sem dúvida, ou não existisse a nossa velhinha Rádio Altitude com todo o seu saber, com toda a sua história da qual eu também faço parte.
Como vês hoje a Guarda?
Uma cidade “nova “, em expansão e quero acreditar com potencial para criar novos projetos e novos futuros.
O que falta na cidade?
Essencialmente novas oportunidades de trabalho.
Como gostas de ocupar os teus tempos livres?
Escrevendo, lendo e aprendendo e acima de tudo partilhando uma boa conversa, com bons amigos, como agora, o que naturalmente agradeço.
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