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Na galeria de personalidades ilustres da Guarda há nomes que não têm tido a visibilidade merecida e continuam desconhecidas para muitos.
É o caso do jesuíta Francisco de Pina, “personalidade central de um notável encontro de línguas e de culturas no distante Oriente, no longínquo século XVII”, a quem o Dr. António Salvado Morgado – de quem são as palavras atrás transcritas – tem vindo a dedicar (há vários anos) particular atenção, estudando a sua vida e obra, afirmando um louvável empenho na sua divulgação.
Aliás, na última edição da revista “Praça Velha” (nº 41) António Salvado Morgado publicou um oportuno e elucidativo artigo intitulado “Francisco de Pina, revisitado”.
Através de um excelente texto, documentalmente bem suportado, apresenta-nos este missionário guardense. Como sublinha, este “jesuíta, português, missionário e linguista” contribuiu para que a Guarda esteja perenemente ligada à história do atual Vietname, que adotou o alfabeto latino.
Um facto que fica a dever-se, especialmente, ao labor de Francisco de Pina, o qual aprendeu no século XVII a língua local (o anamita) estudando-a pormenorizadamente e, consequentemente, avançando com a sua romanização.
Convém notar que os padres a quem era incumbida a missão evangelizadora tiveram, desde logo, a perceção de que esse trabalho, para ser eficaz, teria de passar pela utilização das línguas nativas, evoluindo para a elaboração de gramáticas e dicionários.
António Salvado Morgado, na publicação atrás mencionada, refere que graças ao missionário português e “a outros que continuaram o caminho que ele traçou, o presente do passado não é só memória. Com ele o presente do passado é realidade viva nas letras e signos linguísticos com que se exprime um povo de milhões de pessoas, o Quôc ngû, a língua nacional do Vietname. E isso é presente”.
Francisco de Pina terá nascido entre março e setembro de 1586, falecendo em 15 de dezembro de 1625, com 40 anos, e quando muito havia a esperar do seu saber e trabalho. “Esquecido pela História, ele tem andado desaparecido por detrás da obra iniciada por ele há mais de quatro séculos e que culminou há mais de um século na língua oficial do Vietname (…)”, escreveu António Salvado Morgado.
O Japão terá sido o destino inicial de Francisco de Pina, mas as perseguições que eram movidas aos cristãos alteraram os seus planos e fixou-se na Cochinchina, em 1617, depois de ter estado alguns anos em Macau.
De referir que este jesuíta esteve em destaque no seminário “Testemunhos de Amizade entre Portugal e o Vietname desde o Século XVII”, realizado em Lisboa há cinco anos, numa organizado da Sociedade Portuguesa de Geografia e pela NamPor – Associação de Amizade Portugal-Vietname.
Assim, a Guarda deverá honrar a memória deste seu filho ilustre, apoiando os estudos e iniciativas que viabilizem um melhor conhecimento da sua dimensão como português, religioso e linguista; proporcionando o “reencontro do mestre de língua com a História. História do Vietname e de Portugal e da Guarda”, como defende António Morgado, ao concluir o seu artigo na última edição da “Praça Velha”.
Hélder Sequeira
in "O Interior", 16|Mar|2022
O Prémio Eduardo Lourenço 2016 foi atribuído, hoje, ao escritor Luís Sepúlveda.
O júri da décima segunda edição decidiu atribuir o galardão ao escritor Luís Sepúlveda pelo seu trabalho em louvor da Língua e da Cultura espanholas, "fazendo da pátria idiomática, que tem a dimensão plurinacional de vários continentes, uma aventura criadora em que o Homem é a medida de todas as coisas".
Considerando o espírito do prémio e a dimensão de um diálogo ibérico alargado, inspirador da vida e obra, tanto do patrono do prémio como de Luís Sepúlveda, o júri destacou ainda a expressão e difusão da obra do autor, tanto em Portugal como em Espanha, tornando-o mediador da Cultura Ibérica.
O prémio instituído pelo Centro de Estudos Ibéricos, no montante de 7.500,00€, destina-se a premiar personalidades ou instituições com intervenção relevante no âmbito da cultura, cidadania e cooperação ibéricas.
O molde da inscrição do Cabeço das Fráguas, pertencente ao Museu da Guarda e executado pelo Instituto Arqueológico Alemão, integra, actualmente, a exposição temporária "Religiões da Lusitânia. Loquuntur saxa" do Museu Nacional de Arqueologia.
Recorde-se que este molde foi apresentado pela primeira vez na exposição temporária "Porcom, Oilam, Taurom |Cabeço das Fráguas, o santuário no seu contexto" realizada a 30 de Maio de 2010.
Trata-se de uma cópia, à escala natural, do texto epigrafado numa rocha, localizada no santuário do Cabeço das Fráguas, no ponto mais elevado de um recinto fortificado, ao qual se terão deslocado as populações das terras em redor para celebrar os seus ritos, desde o século VIII a.C ao final do século I d.C.
O texto descreve um sacrifício de tipo suovetaurilia dedicado a várias divindades indígenas. Ao apresentar um texto religioso de língua indígena em alfabeto latino, esta inscrição é também um importante testemunho da romanização dos cultos indígenas, daí o seu perfeito enquadramento, na exposição temporária do Museu Nacional de Arqueologia.
Tal como escreve o Director do Museu Nacional Arqueologia, Dr. Luís Raposo, na justificação geral da exposição, “(...) a pretendida eternidade da civilização latina (Roma aeterna) será nesta exposição confrontada com as fortes continuidades locais, que remontam à Pré-história e se manifestam até à actualidade na cultural popular portuguesa.
Neste quadro, a Lusitânia emergirá como uma eternidade por só própria (Lusitania aeterna), incorporando valores indígenas e autóctones, de tal forma que as crenças do presente podem ser iluminadas por estas raízes profundas, de tão longa duração (...)”.
Fonte: Museu da Guarda
Até ao próximo dia 31 de Dezembro estão abertas, na Câmara Municipal de Gouveia, as candidaturas para a apresentação de trabalhos ao Prémio Literário Virgílio Ferreira.
Este prémio, instituído em 1997, por aquela autarquia, pretende incentivar a produção literária, “contribuindo para a defesa e enriquecimento da língua portuguesa”.
“Porcom, Oilam, Taurom. Cabeço das Fráguas: o santuário no seu contexto” é o tema da jornada que vai decorrer no Museu da Guarda, no próximo dia 23 de Abril, sobre a investigação que foi desenvolvida naquela estação arqueológica, localizada a escassos quilómetros desta cidade.
Esta iniciativa, promovida pelo Instituto Arqueológico Alemão de Madrid, em colaboração com o Museu da Guarda e o Centro de Estudos Ibéricos, pretende analisar este espaço de santuário em função dos novos dados obtidos e enquadrá-lo no seu contexto regional, cronológico e temático.
De referir que este encontro, de carácter interdisciplinar, coincide com a exposição que está patente no museu guardense, até 31 de Maio.
Organizada pelo Instituto Arqueológico Alemão e pelo Museu da Guarda, esta mostra apresenta pela primeira vez ao público o molde da inscrição rupestre em língua lusitana identificada no local, que salvaguarda esse importante texto epigráfico e facilita o seu acesso, até agora difícil, a investigadores e eruditos.
De acordo com alguns investigadores, a primeira referência a esta inscrição remonta ao século XVIII. O pároco de Pousafoles do Bispo anotou a existência, no Cabeço das Fráguas, de uma lage com caracteres indecifráveis. Estes descrevem a oferenda de vários animais a diversas divindades, conjugando no mesmo texto o alfabeto latino e a chamada língua lusitana, falada na época pré-romana em quase todo o território do ocidente hispânico.
Com o processo de moldagem que foi concretizado no passado ano, os trabalhos arqueológicos em curso desde 2006 no Cabeço das Fráguas (localizado nas proximidades da freguesia de Benespera, Guarda) entraram numa nova fase e deixaram um eminente contributo para um maior conhecimento da referida inscrição rupestre divulgada, pela primeira vez, em 1943 pelo General João de Almeida e publicada, em 1956, pelo arqueólogo guardense Adriano Vasco Rodrigues, a quem se deve, aliás, o despertar da curiosidade por parte da comunidade científica.
As prospecções que ali decorreram, resultaram, precisamente, da existência de referida invocação às divindades e do interesse em esclarecer o contexto arqueológico no qual terá decorrido o aludido acto religioso.
De acordo com informação do Museu da Guarda, tratou-se da “primeira vez que esta inscrição, já famosa no meio científico europeu, foi reproduzida fielmente à escala natural com recurso à avançada tecnologia de LaserScan, levada a cabo no terreno por uma empresa especializada portuguesa”.
O projecto, impulsionado pelo Instituto Arqueológico Alemão de Madrid, foi desenvolvido com a colaboração do Museu da Guarda e da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. O referido molde, processado por especialistas da Universidade Técnica de Berlim, passa a integrar a exposição permanente do Museu da Guarda.
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