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Notícias da Guarda e região | Reportagem | Crónicas | Entrevistas | Apontamentos | Registos
Estas semanas escaldantes trouxeram de novo a tragédia dos incêndios que flagelaram impiedosamente, uma vez mais, as terras e as gentes do interior.
O país seguiu, através das imagens televisivas ou das publicações nas redes sociais, a voracidade inclemente das chamas, o hercúleo esforço dos bombeiros, das forças de segurança e das populações; os inúmeros dramas pessoais e familiares, a perda de bens, o desaparecimento irremediável de fauna e flora das regiões afetadas.
Ainda com o país a arder, é importante que as atenções estejam concentradas no combate e numa desejada e eficaz coordenação dos meios para se acabar com este cenário dantesco que deixou já um rasto de morte; contundo é urgente a atuação em prol deste interior que tem sido esquecido e abandonado; um interior que não cabe na redutora, ofensiva e incrível classificação de um território “com pessoas pobres e isoladas e que têm problemas de saúde mental…” como alguém (tem nome, claro) afirmou no decorrer dos comentários a um canal de televisão.
Curiosamente, foram essas mesmas pessoas, do dito interior, que enfrentaram estoicamente as chamas, unindo-se numa luta tremenda, manifestando uma enorme solidariedade, mostrando (de novo) a sua capacidade de resistência, a sua grande humanidade.
O jornalista Nuno Francisco (diretor do Jornal do Fundão) escrevia há dias que o interior não pode ser entendido “como uma realidade marcada num mapa, com fronteira definida e sinalizada pelo GPS do nosso carro. O Interior não é apenas um lugar, é uma consequência. E todos os verões estão cá para nos recordar disso. Não nos procurem nos mapas, porque a ausência e o esquecimento não são cartografados. Tal como a coragem de quem cá (ainda) resiste e insiste…”.
E quanta insistência tem havido, ao longo de décadas – por parte de quem vive e resiste nestes territórios raianos e do interior – para que se anulem as assimetrias e se desenvolvam estratégias e políticas solidárias, justas, pragmáticas…
O interior não aceita ser considerado como reserva paisagística (até as paisagens nos são roubadas pelo fogo…) para ser visitada ocasionalmente, de passagem obrigatória para outros destinos, ou em períodos de campanhas eleitorais; nem tão pouco ser notícia apenas nestas ocasiões de fogos florestais ou de fatídicos episódios ocasionais.

Será que nos restantes dias, meses e anos não há vida e não se vive ou nada acontece no interior? Felizmente há ainda exceções (poucas) de jornalistas que radicados nestas terras cumprem o seu dever e enobrecem a missão de informar, com rigor e verdade.
Aliás é também a verdade relativamente às causas dos incêndios, às falhas, aos atrasos nas decisões, às ausências institucionais que importa transmitir às populações, numa análise objetiva e serena; orientada para a necessária correção dos erros, aproveitamento das experiências colhidas no terreno, para uma estreita cooperação, para um diálogo construtivo entre todas as entidades intervenientes no combate aos incêndios, onde não entre o aproveitamento político, mas a determinação em poder e saber responder nestes momentos críticos.
É este o apelo das gentes do interior, dos nossos Bombeiros Voluntários (que fizeram o possível e o impossível no contexto das condições a que estavam circunscritos); dos elementos das forças de segurança e da proteção civil, dos agentes de investigação criminal (a Polícia Judiciária esteve também no terreno e deteve presumíveis incendiários); interior para o qual devem, desde já (não é preciso mais estudos ou comissões, há indicadores e trabalhos suficientes!) ser tomadas rápidas e consequentes medidas de apoio (os prejuízos são imensos, basta ver os casos de Trancoso, Meda, Sabugal, Seia, Guarda, Vila Nova de Foz Coa, por exemplo), respondendo aos casos mais urgentes e pensando – imediatamente – no “efeito cascata” que resulta das zonas ardidas onde as chuvas irão atuar de forma evidente, com o arrastamento de cinzas e outros detritos.
Nestas zonas atingidas, assim como nas mais próximas (que podem ser o refúgio para muitos animais e aves) deve ser repensada a atividade cinegética, se não queremos correr o risco de uma ainda maior exterminação…
Hoje, mais do que nunca, o interior e as regiões atingidas pelos incêndios (à hora em que escrevemos estas palavras ainda há fogos ativos) precisam da presença, atenção e intervenção do Governo e do poder local, da solidariedade dos restantes territórios, do empenhamento de todos numa maior capacitação, eficácia e consciência cívica para se responder no futuro a situações desta natureza. Aqui também é Portugal!...
Hélder Sequeira
in O Interior, 20_8_2025
O Bispo da Guarda afirmou ontem que “é preciso ultrapassar um discurso redutor e generalista sobre o Interior desertificado e envelhecido e preparar lugares com estruturas que se tornem atrativos para a fixação de novas empresas e famílias.” D. José Pereira fez esta afirmação no decorrer das exéquias fúnebres de Carlos Dâmaso que faleceu, em Vila Franca do Deão, no caombate ao incêndio que ali deflagrou.
“Mesmo sendo um país pequeno com fronteiras definidas no final do séc. XIII e sem conflitos regionais, somos uma casa única, mas não somos um lugar uniforme”, disse ainda o Bispo da Diocese da Guarda.

D. José Pereira chamou também a atenção para o “desafio da coesão social entre comunidades de diferentes origens etno-geográficas e culturais. Com mais ou menos medidas de regulação, com estas ou aquelas políticas de integração, somos chamados a reconhecermo-nos habitantes da mesma casa, que se enriquecem na partilha de diferentes “lugares” humanos e culturais”.
Por outro lado, o Bispo da Guarda destacou ainda outro desafio que temos de considerar: “o desafio da gestão florestal e energética.” D. José Pereira afirmou que “também neste campo, a nossa casa comum tem lugares distintos com necessidades distintas. Ordenar o mato e a floresta é diferente na Serra da Amoreira ou de Monsanto e na Serra do Pisco, da Estrela ou da Malcata. Aquecer e arrefecer habitações, é diferente em Lisboa ou Oeiras e na Guarda ou Castelo Branco. É preciso oferecer atenções diferentes a lugares diferentes.”
Há 17 anos, nesta mesma data, era feita a primeira publicação deste blogue. Desde logo foi gizada a sua matriz, definindo claramente as suas vertentes de expressão: comunicação objetiva, opinião claramente identificada, apresentação de novos olhares e perspetivas, divulgação de atividades e iniciativas culturais e, obviamente, atualidade citadina e regional.
Por outro lado, tem havido a preocupação de levar a Guarda e o distrito – através da fotografia, dos textos – a quem, sendo natural desta região ou com elos de afetividade a ela ligados, reside fora deste território do interior; tem sido interessante verificar o significativo e gradual aumento dos seguidores nas redes sociais (mormente no Facebook), onde se complementa o trabalho aqui desenvolvido.
É com esse espírito que continuaremos; enriquecendo o percurso futuro com novas propostas de leitura e outras diferenciadas participações.
A todos quantos nos têm seguido um sincero, e beirão, “bem -hajam”…

A rádio continua a ter um papel fundamental na informação e com distinta flexibilidade na aproximação às pessoas; seja no meio urbano ou rural.
Ao longo do dia de hoje – com a interrupção no fornecimento de energia elétrica – foi, uma vez mais percetível o papel que a rádio desempenha em situações de catástrofe.
A UNESCO, na última comemoração do Dia Mundial da Rádio, destacava este meio “como um dos meios de comunicação mais confiáveis e amplamente utilizados no mundo.” Foi também pertinente a anotação que a UNESCO fez a propósito da definição, para as emissoras, de um plano de emergência climática (até porque a referida efeméride foi subordinada ao tema “O Rádio e as Alterações Climáticas”); esse plano “deve incluir mapeamento pré-preparado de áreas de risco; listas de contato de especialistas e autoridades para vários cenários de desastres; rotinas de resposta; instruções de segurança específicas para cada desastre natural”.
Acrescentava que ele também deve prever a manutenção de equipamentos necessárias para cenários de emergência para garantir fácil acesso a kits de sobrevivência e geradores para cortes de energia prolongados (um assunto a que há vários anos nos temos vindo a referir…). E o dia de hoje foi mais uma lição para o futuro…
Foi esta disponibilidade de fonte alternativa de energia (os geradores) que fez toda a diferença, permitindo a milhares de portugueses receberem informação fidedigna através do “velhinho” rádio portátil ou no recetor dos automóveis. Falharam os telemóveis, os recetores de televisão ficaram escuros, as redes socias estiveram ausentes, mas a rádio (ouvimos, particularmente, o excelente trabalho da Antena 1) esteve connosco. A Rádio esteve presente!

O dia de hoje deve suscitar uma reflexão consciente a vários níveis, e também no plano do papel das rádios locais, mormente no seu apetrechamento técnico para que em momentos como estes possam estar “no ar”, cumprindo a sua função social, transmitindo a informação oportuna veiculada pelos competentes serviços e estruturas.
Estas emissoras – com o devido apoio estatal para a aquisição dos necessários equipamentos – podem funcionar como autênticas antenas de proteção civil, reforçando a sua identidade e aprofundando a sua ligação com a comunidade local e regional.
Entre tantos comentários registados, a propósito e a despropósito do “apagão” de hoje, não se falou acerca do papel da rádio nas regiões do interior e da atenção que lhes deve ser dada, assim como da responsabilidade que elas devem assumir nestes contextos, através de uma informação séria, serena, pedagógica.
Hélder Sequeira
O jornalismo vive em Portugal uma “crise profunda”, considera Jorge Esteves correspondente da Rádio e Televisão de Portugal na Guarda, e com largos anos de experiência na atividade informativa. A sua ligação à comunicação social começou na rádio, meio que será sempre o único a permitir “estar a ouvir e a absorver a atualidade ao minuto, sem ter de escolher outra coisa que não seja a estação”.
Jorge Esteves nasceu (em 1965) no Ninho do Açôr, concelho de Castelo Branco, mas cresceu na Covilhã, onde acabou por ingressar na Universidade da Beira Interior. Em 2004, com a junção da RDP e da RTP numa única empresa, foi convidado a exercer as funções de jornalista e de coordenador da delegação comum da rádio e da televisão públicas que a Rádio e Televisão de Portugal decidiu criar na cidade da Guarda; frequentou a Licenciatura em Comunicação Social na UBI e completou vários cursos profissionais de Jornalismo em áreas como o Direito, Proteção Civil, Medicina Legal e Segurança Interna.

Como surgiu a tua entrada para a rádio e para o jornalismo?
Por uma situação fortuita, na altura em que frequentava o Curso de Matemática/Informática na UBI, e quando comecei a sentir que não tinha afinidades com a área onde ingressei “por engano”, comecei a colaborar diariamente nas emissões ainda “piratas” da Rádio Clube da Covilhã, como locutor e também como “uma espécie de jornalista”.
Passei a dedicar mais tempo à Rádio do que ao curso superior e acabei por ser convidado a integrar profissionalmente a equipa inicial da RDP/Centro-Rádio Covilhã, delegação que a empresa Radiodifusão Portuguesa, detentora do Serviço Público de Rádio decidiu abrir na cidade beirã.
Com o fim das Rádios Locais da RDP e a criação em 1993, de uma rede de correspondentes nacionais, com presença em vários distritos do país, acabei por ser convidado a assumir as funções na Guarda, a partir das instalações do antigo Emissor Regional e posteriormente da RDP/Centro-Rádio Guarda. Funções que em 1996 passei a acumular com as de Jornalista/Correspondente da SIC Televisão, a partir da Delegação criada na Universidade da Beira Interior.
Em 2004, com a fusão entre a RDP e a RTP acabei por ser convidado como quadro da nova empresa Rádio e Televisão de Portugal a exercer as funções de Jornalista Coordenador da Delegação Comum da Rádio e Televisão públicas, que o Grupo RTP decidiu criar no distrito da Guarda, cessando aí a colaboração com a SIC.
O que te fascinava mais na rádio, nessa altura?
A proximidade com o público e o território da Beira Interior, região onde por opção pessoal, profissional e familiar decidi manter-me.
Também me motivava muito a possibilidade de levar à dimensão nacional e internacional e também junto dos centros e instâncias do Poder, a voz e os anseios desta população, ainda muito amarrada e agarrada às teses da “Interioridade”…
Nas dificuldades técnicas e geográficas que enfrentava diariamente no terreno, encontrei sempre motivação extra para procurar ou inventar soluções.
Achas que a tua geração vivia a rádio de uma forma diferente do que acontece atualmente?
Substancialmente diferente, muito pela falta meios técnicos, de formas de fazer chegar os sons e a reportagem completa ao estúdio, de fazer pesquisa de informação ou conseguir contactar fontes. Era o tempo em que eu andava sempre com uma lista telefónica, do tipo “Páginas Amarelas” no carro, para conseguir até perceber em que zona era uma determinada aldeia ou freguesia, ou poder fazer um contacto para um Posto Público, para conseguir alguma informação útil.
Também o facto da maior parte das Rádios Nacionais não ter profissionais ou colaboradores espalhados pelo país, fazia com que fora da Grande Lisboa e do Grande Porto, em toda a parte restante do território nacional, as Rádios só falassem de alguma coisa da região, se fosse uma tragédia de grande impacto…E lembro que durante muitos anos, era só a região da Guarda que tinha a sua própria estação de rádio local, a Altitude.
E como conciliavas o trabalho entre a Rádio e a Televisão?
Em regra, as duas funções são exercidas em complementaridade, dando para fazer diretos seguidos ou edições diferenciadas para cada um dos meios. Sendo que em situações mais complexas, vai havendo a possibilidade de desdobrar equipas, recorrendo a colegas das delegações vizinhas, que ajudam a cumprir a missão.

Quando deixaste a SIC, e o teu trabalho passou a ser na rádio e na televisão públicas, houve mudanças significativas?
Posso dizer que acabou por acontecer numa altura crítica para a SIC, que até aí e logo desde a sua criação como Televisão Independente, era “A Televisão”…
A RTP estava nessa altura muito refém de algum conservadorismo e obsoletismo, e perturbada pelo fulgurante surgimento dos privados.
A TVI, antes do fenómeno Big Brother, ainda era conhecida como a Televisão da Igreja e a SIC, de Pinto Balsemão e Emídio Rangel, já tinha trilhado o caminho de conquistar públicos através de uma programação moderna e popular, produzindo ao mesmo tempo e de forma separada, uma informação irreverente e independente dos poderes, como Contra-Poder ao lado do cidadão.
Só que o facto da SIC ter abdicado do tal programa Big Brother para a TVI, veio a revolucionar as audiências, fazendo com que se entrasse num total desgoverno, com confusão de critérios entre programas e noticiários, com o sensacionalismo a tomar o lugar do rigor.
Foi a oportunidade para a RTP se reorientar, como Estação de Referência, deixando as duas Estações privadas nessa luta inglória pelas audiências e pela sua quota de mercado.
Foi esse o facto, que me permitiu ficar na condição de representante da Rádio e Televisão de Portugal na Guarda, com a mesma tranquilidade e autonomia profissional que tinha antes, como quadro da RDP e colaborador da SIC na região.
Como vês a evolução que se verificou, ao nível dos media, desde os teus primeiros anos de atividade nesta área?
A nível técnico, foi uma verdadeira revolução; com os telemóveis, os meios de direto através das redes de dados, as possibilidades de enviar ficheiros ou fazer pesquisas on-line, a quase fazerem esquecer o tempo em que se tinha de procurar um telefone fixo, para conseguir enviar um som através do encosto do gravador, ao bocal do aparelho.
Quanto à qualidade de Informação rigorosa disponível, já não vejo um cenário tão positivo…
A luta pelas audiências a todo o custo, e a confusão de públicos mal formados que não estão preparados para selecionar Órgãos de Comunicação Social credíveis; e pior ainda, para separarem o que leem, ouvem ou veem nas Redes Sociais, daquilo que é uma informação rigorosa, produzida e comunicada com critérios de ética e deontologia jornalística.
Facilita-se assim um terreno fértil, para as tão propaladas Fake-News…
Como está hoje o jornalismo em Portugal? Achas que há uma crise no jornalismo e na comunicação social?
Uma crise muito profunda, pelas razões explanadas na resposta anterior.
As primeiras vítimas acabam por ser os profissionais mais íntegros, que deixam de ter condições para exercer a profissão com independência e condições básicas de estabilidade profissional; as seguintes são o público, que deixa de ser servido com a qualidade que só o rigor jornalístico garante.
Consideras que os meios nacionais, mormente aqueles com quem trabalhas, dão a devida e permanente atenção ao que se passa no interior? Há falta de recursos humanos e técnicos?
Os recursos técnicos e humanos nunca serão os desejáveis, mas a postura com que o profissional e o órgão de Comunicação Social se posicionam no território, pode fazer a diferença.
Pela nossa parte, o território poderá sempre contar com uma presença que não será nunca “só prá desgraça”!...
No contexto informativo, e face ao trabalho que tens desenvolvido, como vês a importância do programa “Portugal em Direto”?
É o noticiário do país, em toda a sua extensão, de Norte a Sul, do Litoral ao Interior, e nas suas duas modalidades, de Rádio e Televisão. Para informar os residentes em Portugal, mas também os emigrantes lá fora, sobre o que se passa neste cantinho.
Na Antena 1 e RDP Internacional das 13:15 às 14h, e na RTP 1 e Internacional das 17.30 às 19h. Hora de Portugal continental e ambos de segunda a sexta.

Quais os trabalhos ou acontecimentos que te deixaram, até agora, melhores recordações? E as piores?
As piores, obviamente os incêndios e as suas consequências, e também os sustos e perigos a que nos obrigam no seu acompanhamento.
Além de todos os tipos de acidentes que provocam mortes ou ferimentos graves, ou ainda grandes prejuízos ambientais, e aos quais também não podemos deixar de garantir cobertura.
Consideras que na atualidade o jornalista, e sobretudo os que trabalham no interior do país, têm que “filtrar” com maior cuidado as fontes de informação?
A proximidade, por vezes traz problemas acrescidos na separação de funções entre a fonte e o jornalista.
A necessidade de triar a informação verificando a veracidade do que a fonte nos está a passar, considero que é tão evidente aqui, como em qualquer parte do mundo. O facto de numa qualquer matéria informativa, haver sempre partes interessadas, obriga o jornalista a atuar permanentemente com o devido profissionalismo, de forma a não deixar que o interesse público seja lesado, ou que uma parte mais indefesa se torne numa vítima.
Quais são os principais problemas com que debatem os jornalistas que trabalham no interior do país? As dificuldades são maiores?
Nos chamados territórios de Baixa Densidade, os problemas como a baixa expressão do público e de um meio empresarial que garanta um bom mercado publicitário, aumenta a dependência económica dos Órgãos de comunicação Social, de instituições como as autarquias ou os organismos desconcentrados da Administração Pública. E por arrastamento também as opções e a liberdade editorial.
O teu profundo conhecimento da região tem sido útil para as tuas reportagens ou diretos?
Claro que as mais de três décadas de serviço e os milhares de quilómetros percorridos, para os milhares de reportagens feitas neste território, fazem ter um conhecimento dos locais e pessoas que ajuda muito à agenda informativa e de contactos. E também facilita muito a comunicação em direto, sem recurso a cábulas ou notas escritas…
As agendas políticas condicionam a informação?
As agendas políticas fazem parte da informação. Deixarmo-nos condicionar por elas, ou servir-nos delas para alimentar os conteúdos, depende só da nossa postura perante elas.
Como vês o atual panorama da imprensa regional? A imprensa regional tem vindo a perder a influência? Corre riscos de desaparecer?
A forma de se adaptar e de se reinventar perante as novas realidades é que vai ditar o seu futuro. O setor do Multimédia e das Multiplataformas traz um novo potencial também para os órgãos regionais.
A proximidade será sempre uma vantagem a aproveitar, na relação com os públicos e os factos noticiosos.
E a Rádio? Como vês o presente e o futuro, no contexto regional e local?
A Rádio será sempre o único meio que nos permite estar a ouvir e a absorver a atualidade ao minuto, sem ter de escolher outra coisa que não seja a Estação, e podendo estar a desenvolver qualquer outra atividade, sem a perturbar. Em relação ao futuro, a resposta já a dei, anteriormente.
Há algum trabalho especial que gostasses de realizar, sobre a região onde tens desenvolvido a tua atividade jornalística?
Trabalhando com a independência, autonomia e liberdade com que me é permitido desempenhar as minhas funções, diria que só estou limitado pelas realidades que fazem com que alguns projetos continuem adiados e muitas potencialidades se mantenham por aproveitar.
Ou seja, é isso que faz com que haja reportagens que gostava de fazer e assim sendo, ainda não fiz…
E quanto a projetos pessoais, em contexto da comunicação social?
Muito sinceramente, na fase da vida profissional em que me encontro, não tenho outros projetos que não sejam, chegar à reforma com dignidade, ajudar quem me suceda a ficar com parte do meu conhecimento sobre este território, e eventualmente se houver algum interesse ou reconhecimento de utilidade na outra parte, retribuir à Rádio Clube da Covilhã, com a mesma colaboração abnegada com que iniciei todo este percurso, aquilo que foi uma carreira profissional com que nunca tinha sonhado antes.
H.S. /Correio da Guarda
O despovoamento do interior do nosso país é um drama. Realidade em relação à qual não tem havido estratégias adequadas, contínuas e consequentes de modo a evitar o contraste profundo com os territórios do litoral e grandes centros urbanos.
Os fenómenos resultantes do despovoamento conduzem a graves consequências para as populações (sobretudo para as mais envelhecidas) que continuam a viver afastadas dos centros com maiores índices demográficos. Diminui, progressivamente, a população ativa; acentua-se o decréscimo da natalidade e o número de jovens; desaparecem profissões e atividades ligadas à agricultura.
Nas últimas décadas, a tragédia dos incêndios na nossa região tem tornado ainda mais percetível o silêncio sepulcral de muitos povoados, o abandono de terrenos outrora cuidadosamente cultivados e rentabilizados, onde havia o colorido dos ciclos agrícolas e a policromia provocada pelas estações do ano.
Defrontamo-nos, atualmente, com a completa obliteração de antigos espaços de vida e trabalho, com uma progressiva e preocupante degradação ambiental, diminuição da qualidade de vida, com o aumento de pessoas solitárias nos espaços rurais, com a saída de gente para outros lugares, com cenários de ausências definitivas…

E o que vemos por montes e vales do interior, pelos caminhos esquecidos? Desolação, habitações à venda, casas vazias, degradadas, portas encerradas ou esventradas pela destruição do tempo e pelo instinto de vandalismo de alguns forasteiros; muros derrubados, janelas quebradas, telhados caídos, interiores habitacionais transformados em montes de escombros…imagens cruéis de um presente transformado em tristeza e solidão. “O nosso passado como que se amesquinha na indiferença do presente”, escrevia Miguel Torga.
Importa, pois, que saibamos assumir o nosso papel enquanto cidadãos ativos e protagonistas permanentes de uma intervenção cívica, sem tibiezas, em prol de uma luta pelo equilíbrio entre meios rurais e urbanos, num caminho orientado para a sustentabilidade dos nossos territórios.
Hélder Sequeira

É um título e uma presença diária com dezasseis anos consecutivos. Para os próximos tempos há novos projetos e ideias. Gratos a todos quantos têm acompanhado este percurso. Pode seguir-nos também no Instagram (correioguarda) ou no Facebook em:
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Os desafios que se colocam atualmente à comunicação social, mormente às estações de rádio, são imensos. Desde logo os resultantes de drástica redução das receitas e da insuficiência financeira.
Quando centramos a nossa atenção no interior do país a realidade é ainda mais preocupante e os cenários que se desenham para o futuro não são animadores.
Uma certa euforia em torno das plataformas digitais, as crises económicas, o desinvestimento publicitário por parte das empresas bem como do pequeno e médio comércio, a necessidade de reapetrechamento técnico, a redução do número de profissionais e a aplicação de estratégias editoriais erradas conduziram a uma situação dramática.

Como tem sido sublinhado, a escassez de recursos financeiros vai agravando, progressivamente, a vida dos órgãos de informação. Aliás é significativo o número de estações emissoras que desapareceram ou foram absorvidas por grandes grupos, convertendo-as em simples retransmissores.
O que não deixa de ser trágico, contrariando o espírito que esteve subjacente à legalização das rádios locais e à preocupação em servirem as suas comunidades; incrementando a informação, o debate, a valorização do seu património e costumes, a salvaguarda do pluralismo, a defesa da democracia, o exercício responsável do jornalismo.
Foram sendo, ao longo dos últimos anos adiadas soluções como ainda na passada quinta-feira dizia o Presidente da República na sessão de abertura do V Congresso dos Jornalistas. É na perceção da realidade atual que a comunicação social, o jornalismo tem de ter o foco.
Como disse António Borga, Presidente da Casa da Imprensa, no início do V Congresso dos Jornalistas, a decorrer por estes dias, “o jornalismo não é um negócio. O jornalismo é uma atividade de utilidade social e interesse público”.
Na mesma linha, e na mensagem dirigida aos jornalistas portugueses, esteve a Vice-Presidente da Comissão Europeia ao considerar que a “informação é um bem público, cabendo às democracias proteger os jornalistas”. Por outro lado, defendeu que é necessário “encontrar soluções a nível europeu e internacional” para a crise do jornalismo, acrescentando a necessidade de serem e incentivar investimentos públicos, que “respeitem a independência e o pluralismo” da atividade.
A própria classe jornalística não rejeita a autocrítica e a análise serena da questão dos financiamentos. O que pode passar, como tem sido defendido, por um papel mais interventivo do estado no sentido da salvaguarda do jornalismo, de um jornalismo pautado pela seriedade, ética, deontologia e qualidade.
E a qualidade dos conteúdos informativos aliada à independência e isenção é fundamental para a reaproximação dos públicos que, é importante notar, não podem ter uma atitude de indiferença perante os media.
O apoio passa, desde logo, por se assumirem com leitores e ouvintes regulares, ativos e críticos, sem se acomodarem na passividade do dia a dia ou se uniformizarem no domínio do anonimato.
Será com o empenho e contributo de todos – jornalistas, instituições, estado, cidadãos, empresas – que o cenário hoje existente poderá ser alterado. Acentuando também a informação de proximidade, uma mais ampla cobertura do que mais diz e interessa às comunidades locais e regionais.
E isto não pode ser esquecido.
Hélder Sequeira
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