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O Dia Mundial da Fotografia é hoje assinalado.
Esta evocação assenta na invenção do daguerreótipo, um processo fotográfico que foi desenvolvido, em 1837, por Louis Daguerre.
Em janeiro de 1839, a Academia Francesa de Ciências anunciou a invenção do daguerreótipo e a 19 de agosto, desse mesmo ano, o Governo francês considerou a invenção de Loius Daguerre como um presente "grátis para o mundo".
Recorde-se que outro processo fotográfico –o calótipo, inventado também em 1839 por William Fox Talbot – contribuiu para que o ano de 1839 fosse considerado o ano da invenção da fotografia.
Como afirmou Henri Cartier-Bressom "fotografar é colocar na mesma mira a cabeça, o olho e o coração".
Por outro lado, e citando Sebastião Salgado, a fotografia “é uma escrita tão forte porque pode ser lida em todo o mundo sem tradução”.
Norberto Rodrigues encontrou na fotografia o caminho para novos desafios e projetos. Natural da Guarda, este sociólogo considera que a fotografia é “hoje, talvez, a maior forma de intervenção social”.
Ao CORREIO DA GUARDA, Norberto Rodrigues afirma que o seu maior desafio, é “estruturar novos projetos e encontrar novas formas de comunicar com os amantes da fotografia, nomeadamente da chamada fotografia de rua”.
António Norberto Perestrello Rodrigues nasceu no Barracão, Guarda em 1953, onde viveu até aos vinte anos. Sociólogo, desempenhou vários cargos dirigentes na Administração Pública. Professor Universitário nas áreas da Sociologia, Recursos Humanos e Comportamento Organizacional.
Foi Presidente da Associação de Profissionais em Sociologia Industrial das Organizações e do Trabalho APSIOT). Autor do livro de fotografia Trajectos, Blurb, 2014, do livro de contos E dos fracos rezam as histórias, 2014, do romance de ficção À Procura do Homem Prefeito, 2018 e, em memória de Patxi Andion, Gorka Rúbio, o Louco que queria agarrar a morte, caderno, edição Calafrio, 2020. Várias exposições fotográficas, nomeadamente na Colorfoto, Lisboa e no Calafrio, Guarda.
Quando começou o gosto pela fotografia?
Sempre gostei de fotografia, mas só consegui condições, nomeadamente de tempo, há cerca de 11 anos, quando comprei a minha primeira máquina, que ainda tenho, com modo manual, uma Sony a230
O que é para si a fotografia?
A fotografia é uma arte que nos dá várias representações da realidade. Como digo sempre, a realidade não existe, existe só o nosso olhar.
A fotografia regista esses olhares, diversos e complementares. Constrói memórias que ajudam a construir identidades e culturas. É, também, hoje, talvez, a maior forma de intervenção social. Há fotografias de situações e de fenómenos sociais que muito têm ajudado a perceber “realidades” e a mudar valores e comportamentos.
Porquê a preferência pelo “preto e branco”?
O preto e branco dá-nos a essência da fotografia. Ilumina os contrastes, tornando nítida a mensagem da composição.
O nosso olhar tende a valorizar o conjunto e não o pormenor mais vistoso da imagem. Evidentemente que há excelentes fotografias a cores e áreas da fotografia onde a cor é mais apelativa, como nas fotografias de paisagens. É uma opção do fotógrafo. No tipo de fotografia que faço – Street Photography – o preto e branco é, para mim, mais forte, mais dramático, mais profundo.
Quais os temas que mais gosta de fotografar?
Os temas vão mudando, acompanhando o nosso crescimento e os contextos que nos rodeiam. Na fotografia de rua, o fotógrafo reage ao momento, à situação que está à sua frente, seja ela enquadrável no tema x ou y, é a rua que comanda a máquina. Isto não quer dizer que o fotógrafo de rua não tenha um rumo, um objetivo.
Quando sai de casa para fotografar, ele sabe para onde vai e o que pode encontrar. É nessa escolha que ele se aproxima dos temas que o preocupam.
No meu caso, regularmente, eu caminho para os meus santuários – a sede da CGD, o Museu de Arquitectura, a Fundação Champalimaud e as Estações de Metro de Lisboa. As estruturas são as mesmas, mas as fotografias são sempre diferentes, porque eu não fotografo as estruturas enquanto tal mas a interação entre elas e as pessoas que as utilizam. Todas as minhas fotos têm pessoas!
Face ao exposto, tenho dois temas estruturais que vão dando sentido às minhas fotografias – A Humanização da Arquitectura e a Iluminação da Escuridão
Quantas horas dedica, por dia, à fotografia?
Antes da pandemia fotografava, em média, duas vezes por semana, durante quatro ou cinco horas. Depois é preciso editar as fotografias e fazer as nossas escolhas.
A minha edição limita-se ao básico, não gosto de alterar as fotografias. Com recurso ao Photo Gallery faço pequenos acertos – mais escuras, ou mais claras e aqui ali uma pequena alteração do contraste ou endireitar a fotografia. Não gosto de alterações estruturais da fotografia porque o resultado não é fotografia mas outra arte qualquer. Não critico quem o faz e, às vezes, até gosto do resultado final, mas não é a minha opção.
Se juntarmos a estas ações o tempo da gestão do meu grupo e o resultante das partilhas das minhas fotos em vários grupos ou comunidades, diria, respondendo à pergunta, que gasto cerca de 2/3 horas por dia nas tarefas da fotografia.
Qual foi o objetivo da criação da página “Norberto Rodrigues – fotografia”? A resposta a essa página foi a esperada?
Quando partilhava alguma fotografia no facebook constatava que muitos dos meus amigos reagiam gostando ou comentando a mesma.
Percebi que havia um público interessado na arte da fotografia. Decidi oferecer um espaço de apresentação regular de fotografias. Decidi, também, que o grupo não deveria ser apenas uma montra de fotografias, mas também um espaço onde todos, cumprindo regras mínimas, podiam partilhar as suas fotos. Não havia barreiras e receios de críticas negativas vindas de “sábios” do assunto. Por outro lado, a criação do grupo era uma forma de disciplinar a gestão das minhas fotos e, até, uma ajuda à escolha das melhores fotos.
Até à pandemia, sem promoções e sem convites personalizados, o grupo estava a crescer e o número de partilhas a aumentar de uma forma consistente, depois, com a escassez de fotos, o grupo continua a crescer, mas muito lentamente. Esperemos melhores dias para a fotografia poder sair à rua.
As suas fotos têm sido destacadas em vários “sites” e merecido elogios. Isto implica novas responsabilidades no seu trabalho ao nível da fotografia?
É verdade. Até há pouco tempo partilhava esporadicamente uma ou outra foto em um ou dois grupos de fotografia.
Há dois ou três meses decidi publicar em várias comunidades fotográficas ligadas a fotógrafos reconhecidos ou mais diversas e abertas. O resultado ultrapassou em muito as minhas melhores expectativas. Um conjunto significativo das fotos que partilhei foram reconhecidas e destacadas na grande maioria dos grupos, comunidades com origens muito diversas, Portugal, Brasil, Itália, Turquia, Japão, Espanha, Peru, Inglaterra, etc e com membros de vários pontos do mundo – uma enorme diversidade cultural e social, com valores estéticos muito diferentes e centrados em diferentes áreas da fotografia
Relevante, também, a seleção de algumas das minhas fotos para publicação em revistas da especialidade. A capa do número 1 da Revista Photographers Magazine é uma fotografia minha, curiosamente, tirada na Guarda, na Torre dos Ferreiros. Nesse número estão mais três fotos da minha autoria. Na mesma Revista, no número 2, sou o autor do mês, com 23 fotografias. No número 4, a sair brevemente, está, também, uma outra foto minha. A revista EYE Photo Magazine publicou, também, em março de 2021, uma foto da minha autoria.
Estas boas avaliações das minhas fotografias são, em primeiro lugar, um incentivo ao meu trabalho, empurrando-me para o desenvolvimento de projetos mais dirigidos e mais específicos, em algumas temáticas onde tenho trabalhado.
É o meu desafio agora, estruturar novos projetos e encontrar novas formas de comunicar com os amantes da fotografia, nomeadamente da chamada fotografia de rua.
O digital veio dar novo impulso à fotografia?
Claro. O digital veio democratizar a fotografia, tornando-a acessível a todos. O aparente excesso de fotografias é responsável pelo desenvolvimento técnico da indústria da fotografia e pelo crescimento da arte de tirar fotos. Boas máquinas, excelentes formações técnicas e experiência têm criado diferentes níveis de qualidade na fotografia.
Evidentemente que nem tudo é bom com este desenvolvimento da fotografia. As imagens são hoje centrais na nossa sociedade, cada vez se lê e se escreve menos, com as consequências sociais, culturais e políticas inerentes. Muitos falam – esta fotografia diz tudo! Mas a fotografia não diz nada, diz, apenas, o que o nosso olhar quer que ela diga.
Que fotógrafos destaca em Portugal?
Aqueles que mais me sensibilizaram para a fotografia, a preto e branco, foram Cresson e Sebastião Salgado, dois mestres reconhecidos por todos os fotógrafos.
Atualmente, há muitas áreas da fotografia e em cada uma delas muito bons fotógrafos. Seria difícil estar aqui a escolher.
Na minha área, Street Photography, para mim o melhor é, sem dúvida, o meu amigo Rui Palha. O seu olhar é geométrico e surpreendente. Vale a pena percorrer as suas fotografias.
Para quando um trabalho de apresentação (livro, exposição, catálogo) das suas fotografias ao grande público, na Guarda?
Já fiz vários trabalhos, nomeadamente duas exposições, uma na Colorfoto, em Lisboa e outra aí, na sede do Calafrio.
Este ano gostava de mostrar o meu trabalho, vamos ver se as condições se reúnem para que tal seja possível.
Fotos: Norberto Rodrigues | +info aqui.
No Café Concerto (CC) do Teatro Municipal da Guarda está patente, até 15 de Julho, a exposição de fotografias “E nunca sonhei que um telefone visse o mundo”, da autoria de Pedro Dias de Almeida, jornalista e editor de cultura da Revista Visão.
Trata-se de uma colecção de imagens captadas através de telemóvel. A exposição tem entrada livre e pode ser visitada no horário de funcionamento do CC.
«A fotografia cheirava a líquidos estranhos, nascia em quartos escuros; passavam dias até que as imagens que capturávamos se revelassem aos nossos olhos. O telefone era um objecto negro, pousado, estridente, com um disco ao centro e algarismos. Nada aproximava uma máquina fotográfica de um telefone.
Eu, espectador, gostava de espalhar rectângulos na realidade vista - e de esperar por eles. Depois, preguiçoso, quase me esqueci. Até que inventaram um telefone com um olho. Um telefone que viaja connosco e é, também, máquina fotográfica. Voltei aos meus rectângulos. Eles estiveram sempre ali. A voz de Caeiro, uma voz que nunca existiu, ecoa na minha cabeça: A espantosa realidade das coisas é a minha descoberta de todos os dias», explica o autor.
Fonte: TMG
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