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Um ecossistema em perigo de extinção

por Correio da Guarda, em 28.09.23

 

O recente Festival do Cobertor de Papa, realizado na localidade de Maçainhas de Baixo (Guarda) alertou a comunidade regional para o risco de extinção de um ecossistema enraizado nestas terras beirãs.

O cobertor de papa é uma manta tradicional da zona da Serra da Estrela, produzida – há vários séculos – a partir da lã churra (mais macia) que é retirada de ovelhas autóctones (ovelha mondegueira).

Após o necessário tratamento, a lã é tecida em teares artesanais e de acordo com métodos tradicionais, associando cores e desenhos com perfil diferenciador. O processo termina com o esticar dos cobertores nas “râmbolas” onde secam, ao ar livre, e adquirem o seu aspeto final.

COBERTOR DE PAPA_ Helder Sequeira_.JPG

Existem o cobertor branco com três listas castanhas, a manta barrenta ou manta do pastor, a manta lobeira ou manta espanhola, o cobertor branco, o cobertor bordado à mão e o cobertor de papa em várias cores (com o seu conhecido pelo comprido).

O seu uso não se fica apenas pela utilização como elemento de conforto térmico (na cama o seu pelo denso e pesado facilita a transpiração durante o sono e puxa a humidade para a superfície exterior do cobertor), mas passa também por distinto complemento de decoração de interiores.

A Associação Genuíno Cobertor da Papa, sediada naquela localidade, tem nos seus objetivos a produção daquele autêntico produto e a garantia da sua autenticidade, estando atualmente empenhada em alcançar a certificação daquele cobertor. O declínio da indústria da lã e o surgimento de fibras sintéticas originaram um cenário onde quase se desenhou a sua extinção.

O processo de certificação – em curso – exige, obviamente, muito trabalho e as indispensáveis verbas, incompatíveis com os recursos financeiros daquela associação, como aliás foi sublinhado no decorrer do festival anteriormente mencionado.

Elisa Pinheiro, que desenvolveu trabalhos de pesquisa sobre o cobertor de papa, assinalou-o como “produto final de um longo processo que plasma uma densidade de memórias, sejam elas as dos homens que os produziram, sejam daqueles que, ao longo dos tempos, os consumiram, uns e outros unidos pelos fios de lã que os teceram, num tempo longo da nossa história dos lanifícios”, sublinhando o seu enquadramento “em práticas ancestrais que importa salvaguardar”. Deste modo, é urgente preservá-lo, defender a sua autenticidade, a par de permanentes ações de valorização e promoção.

Este não é um trabalho simples, pois há que equacionar múltiplas realidades e condicionantes, como sejam a necessidade da existência de mais rebanhos de ovelhas autóctones – o que implica olhar com objetividade para a realidade agrícola, para as dificuldades relacionadas com a criação e alimentação dos animais, para o número de pessoas que se dedicam ao pastoreio e ao ciclo da produção de queijo, para as consequências das alterações climáticas que têm condicionado as áreas de pastagens e aumentado as dificuldades ao nível económico/financeiro) – , mais gente a trabalhar no campo e a saber valorizar/rentabilizar as potencialidades endógenas, uma maior consciencialização de todos no que concerne à qualidade e valor dos nossos produtos regionais, optando pela sua compra e incrementando a economia local/regional.

Tear_cobertor de papa_ Helder Sequeira.JPG

O incentivo e apoio a projetos (como este da revitalização do genuíno cobertor de papa, cuja produção é feita, naturalmente, numa escala consentânea com a dimensão dos recursos atuais, e em função da evolução do número de encomendas) não devem ficar apenas pelas amáveis palavras de circunstância, pelas manifestações de simpatia nas redes sociais ou pela presença (também importante, claro) em ações de sensibilização ou divulgação.

É fundamental o apoio das entidades em cuja área de competência ou influência se pode inscrever a ajuda necessária (e justa), a ação dos media na informação e divulgação dos produtos genuinamente regionais, a necessária transmissão aos mais jovens do saber fazer, o envolvimento da investigação académica, uma atitude ativa dos consumidores na preferência daquilo que tem alta qualidade e matriz tradicional e portuguesa.

 

Helder Sequeira

correio.da.guarda@gmail.com

in O INTERIOR, 27/09/2023

 

 

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publicado às 14:08

Memória da Rádio...

por Correio da Guarda, em 21.09.23

 

A Rádio Altitude é uma emissora associada a muitas vozes e rostos, a sonhos, diferenciados contributos, afetos e ideias. Emílio Aragonez (com quem trabalhei largos anos) é uma grata referência no historial desta estação.

Emílio Aragonez – que hoje comemora mais um aniversário – foi, durante décadas, uma das vozes mais populares das emissões radiofónicas feitas, em onda média, a partir da cidade mais alta de Portugal.

Nascido no ano de 1934 (21 de setembro), em Portalegre, António Emílio Carrajola Aragonez veio para a Guarda com a idade de cinco anos; posteriormente, face às contingências resultantes da atividade profissional do pai, foi viver para Cascais, Pinhel, Peniche e Seia, após o que ocorreu o regresso definitivo à Guarda.

Com onze anos começou a trabalhar na Ourivesaria Correia, na Guarda. “Fui para lá ganhar 80 escudos por mês e passados dois meses fui aumentado para cem”. As aulas no Liceu ficaram para trás, pois os horários não eram compatíveis com o trabalho; o estudo circunscreveu-se ao período da noite. Emílio Aragonez frequentou o Colégio de S. José, a Escola Comercial e Industrial e a Escola dos Gaiatos, nesta cidade.

Aos dezoito anos abriu o seu primeiro estabelecimento comercial, na Rua 31 de Janeiro. Três anos depois mudou-se para a Rua do Campo, instalando-se no antigo espaço da Espingardaria Sport, que pertencera a um antigo chefe da Polícia; iniciava-se um ciclo de atividades na área da relojoaria e ótica; contudo, circunstâncias diversas contribuíram, muitos anos depois, para o abandono da vida comercial e empresarial. Ficou, deste modo, aberto o caminho para uma dedicação total ao jornalismo e à rádio.

Desde os dezanove anos que mantinha, aliás, uma permanente paixão pela Rádio Altitude, onde começou a colaborar no início da década de cinquenta. “Foi aberto concurso para pessoas externas ao Sanatório, concorri e fui admitido. Para mim era um desafio. Trabalhava durante o dia e à noite ia para a Rádio, a apresentar discos pedidos, que eram imensos. Contudo isto representava o início da concretização de um sonho, de estar ligado à rádio e à informação”.

Emílio Aragonez _jornalista_foto HS (2).jpg

Nos primórdios da sua atividade radiofónica teve por companheiros alguns dos internados no Sanatório Sousa Martins. “Havia, naturalmente, muito receio deste contacto com os doentes”, temor a que não escapava a própria cidade. Nessa época, as emissões da Rádio Altitude eram à noite, tendo depois passado a existir um espaço na hora do almoço. “Comecei também a fazer algumas das emissões desse horário, mas o trabalho mais alargado era aos fins-de-semana, dado que alguns doentes faltavam; havia um que tinha um programa desportivo, outro era responsável por um programa vocacionado para as questões culturais e um outro realizava o “Vento do Norte”, que foi um programa muito polémico”.

Predominavam os programas de discos pedidos, os quais registavam uma permanente avalanche de solicitações, cujo atendimento se ia prolongando por semanas sucessivas. “Eram tantos os pedidos e o espaço tão reduzido que era colocado um disco num dia e outros em programas posteriores. Por vez para se ouvirem quatro dedicatórias tinha de se esperar um mês”, lembra Emílio Aragonez, mais tarde rendido ao fascínio das reportagens.

Nesse período, e anos subsequentes, havia regras rígidas relativamente às emissões radiofónicas e, como aconteceu até ao 25 de Abril de 1974, a polícia política estava sempre atenta, e atuante. Mesmo assim, Emílio Aragonez desvaloriza essa interferência. “As notícias que eram transmitidas, nos primeiros tempos, eram baseadas nos jornais e estes já tinham passado pela censura”. O que não impediu diversas chamadas de atenção por parte do Administrador ou Diretor da Rádio, e a deslocação, por duas vezes, às instalações de P.I.D.E., contudo sem quaisquer consequências.

A seguir ao 25 de Abril, a estação viveu momentos de grande agitação e geraram-se tentativas de “tomar o Altitude”. “Alguns dias após a data da revolução cheguei a estar 24 horas sem poder sair da Rádio, por imposição do MFA, onde esteve uma força militar comandada pelo alferes Pardalejo”. Ainda hoje não tem uma explicação cabal para esse facto.

Pessoa de improviso fácil, e anotações rápidas, Emílio Aragonez assegurava os diretos da rádio de uma forma atrativa, suscitando o interesse informativo, curiosidade e audição atenta. A Rádio foi, sem reservas, uma grande afeição da sua vida, feita de trabalhos, desencontros, incompreensões silêncios, amarguras e felicidade; vida simultaneamente enraizada em convicções e em princípios, passando ao lado, de eventuais críticas ou atitudes injustificadas.

Ao longo de décadas deu voz à notícia, trouxe à luz da ribalta questões tantas vezes ignoradas; desencadeou o confronto de opiniões, denunciou injustiças, foi porta-voz de múltiplas aspirações de terras e gentes. “Estive, sempre, na vanguarda da informação, sem nunca hipotecar a minha consciência profissional nem trair os meus princípios”.

Emílio Aragonez assumiu o jornalismo e a rádio sem nunca esquecer a função social subjacente; o que, aliás, foi sempre reconhecido pelos ouvintes, a quem nunca negou a sua presença, e voz, mesmo em situações nas quais motivos de ordem pessoal, o cansaço ou a doença aconselhavam repouso. “Muitas vezes acabava por dormir na Rádio, nomeadamente quando vinha às tantas da noite de alguma reportagem e tinha de abrir a emissão no dia seguinte”.

O nascimento de Emílio Aragonez para a rádio, e a projeção que alcançou através desta emissora, ocorreu na época das emissões em onda média, quando a frequência modulada estava longe de ser uma realidade na estação CSB-21, o indicativo atribuído à Rádio da mais alta cidade portuguesa.

Emílio Aragonez disse-nos ter havido um largo período “em que os outros tinham um certo receio de levantar os problemas. Eu dei sempre a cara, mesmo sabendo que iria sofrer dissabores; não só eu como a minha família.” Embora a faceta de jornalista seja a mais conhecida, era um intransigente defensor da música portuguesa, presença constante nos espaços radiofónicos por ele animados (é o caso do popular programa Domingo a Domingo), sem cair no gosto medíocre.

A sua aparência descontraída, porventura mesmo descuidada, reflexo da sua peculiar forma de ser e do desprendimento pelos bens materiais, não raro originava humorísticos episódios, partilhados depois nos círculos de colegas e amigos, os quais facilmente lhe reconhecem mais virtudes do que defeitos.

A Rádio Altitude representa para Emílio Aragonez “praticamente uma vida toda. Uma pessoa que entra para ali aos 19 anos e fica lá até aos 68 obviamente que representa tudo”, dizia-nos há algum tempo atrás. “Esqueci-me muitas vezes que tinha família, esqueci-me dos amigos e vivia para o Altitude. Era tudo para mim!...”.

Emílio Aragonez, hoje desligado da atividade radiofónica devido à sua idade é uma memória viva da Rádio e da Guarda – das suas estórias e tradições – igual a si próprio, referência de um tempo cúmplice das ondas hertzianas, quais laços de solidariedade com a cidade e a Beira Serra.

Parabéns, Emílio Aragonez. Feliz dia de Aniversário.

 

Hélder Sequeira

 

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publicado às 15:40

Cerco de Almeida: recriação histórica

por Correio da Guarda, em 22.08.23

ALMEIDA - foto Helder Sequeira.jpg  

Em Almeida vai decorrer, a partir da próxima sexta-feira (25 de agosto) e até domingo, a décima nona recriação histórica do cerco daquela vila, ocorrido durante a terceira invasão francesa em 1810.

No passado dia 24 de julho passou mais um aniversário da trágica batalha do Côa, ocorrida no decurso da progressão dos militares franceses. As tropas anglo-lusas lutaram contra as forças do exército francês do Marechal Ney, no local do Cabeço Negro, junto às margens do rio. Esta batalha antecedeu a queda da fortaleza de Almeida e a sua ocupação pelas tropas que entraram em Portugal, sob o comando de Massena.

Este rio, recorde-se, foi até 1297 foi o limite da fronteira entre os territórios dos reinos de Portugal e Castela; atravessa o concelho de Almeida e é um dos poucos a correr de sul para norte. Com a assinatura do Tratado de Alcanices, por D. Fernando de Castela e D. Dinis de Portugal, o castelo de Almeida – entre outras fortalezas – passou para o domínio da coroa portuguesa.

Esta zona teve uma grande importância estratégica, do ponto de vista militar; aqui se travaram, ao longo dos séculos, várias batalhas. A importância da fortaleza de Almeida cedo foi acentuada; após o primeiro de dezembro de 1640, o rei D. João IV ordenou a sua reparação, face aos momentos e às difíceis contendas que se avizinhavam.

Desde logo ficou percetível o papel preponderante que Almeida ia ter no processo bélico de manutenção da independência. A vila foi transformada em sede do quartel-general do Governador de Armas da Beira, constituindo-se na mais importante praça do reino português.

Álvaro de Abranches, um dos conjurados da Revolução de 1640 e membro do Conselho de Guerra de D. João IV, foi o primeiro Governador de Armas de Almeida, empenhando-se, de imediato no seu eficaz guarnecimento, rentabilizado o sistema de fortificações de que estava dotada.

Mais tarde a história de Almeida cruza-se com as célebres, quanto dramáticas, invasões francesas. Destas, a terceira incursão conduzida por André Massena foi a que deixou marcas mais profundas na denominada “Estrela de Pedra”.

Após a conquista de Ciudad Rodrigo (Espanha), em 10 de Junho de 1810, pelas tropas francesas o objetivo do exército invasor era o domínio da praça portuguesa, que teria cerca de 2000 habitantes e estava guarnecida com 5 000 soldados e 115 peças de artilharia. Com a aproximação das forças francesas, o comando do exército anglo-luso apelou aos habitantes para abandonarem as suas casas e levarem os seus haveres.

Nos primeiros dias de agosto de 1810 o Marechal Massena mandou avançar o Oitavo Corpo do exército francês, sob o comando de Junot, dando início ao cerco de Almeida, a 10 de agosto, cuja guarnição militar era chefiada pelo coronel inglês Guilherme Cox, sendo Tenente-Rei o almeidense Francisco Bernardo da Costa.

O cerco decorria há 17 dias quando, ao cair da noite, uma granada francesa provocou uma explosão em cadeia que destruiu o paiol principal, onde estavam armazenadas 75 toneladas de pólvora; centenas de mortos e enormes danos no interior da fortaleza foi o balanço imediato da tragédia. Na manhã seguinte, 27 de agosto de 1810, Massena exigiu do comandante inglês a rendição imediata da praça, o que acabou por suceder nessa noite.

A fortaleza de Almeida, em estilo Vauban, tem uma planta em forma de estrela irregular, integrando seis baluartes: o de S. Francisco, São João de Deus, Santa Bárbara (designado também de Praça Alta), do Trem (ou de Nossa Senhora das Brotas), Santo António e São Pedro, articulados com idêntico número de revelins. O conjunto monumental deste baluarte beirão encontra-se rodeada por largos e profundos fossos. Para além das majestosas Portas de Santo António e São Francisco destacam-se no complexo desta fortaleza abaluartada as casamatas, espaços subterrâneos cuja estrutura e solidez os tornava imunes às bombas da época.

No interior do perímetro amuralhado encontra-se o Quartel das Esquadras que ficou a dever-se ao Conde de Lippe (Frederico Guilherme de Schaumburg-Lippe), edifício onde estiveram instaladas forças de infantaria; a antiga Casa dos Governadores da Praça de Almeida; o edifício do Corpo da Guarda Principal (onde funciona a Câmara Municipal), a Igreja da Misericórdia, a Casa dos Vedores Gerais, a Casa da Câmara e o Antigo Convento de Nossa Senhora do Loreto (atual Igreja Matriz) são outros edifícios emblemáticos desta vila do distrito da Guarda, onde vai, uma vez mais, decorrer uma recriação histórica.

O programa pode ser conhecido aqui.

 

                                                                                                                   Helder Sequeira

 

 

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publicado às 12:30

Dia Mundial da Fotografia assinalado hoje

por Correio da Guarda, em 19.08.23

 

Centro histórico da Guarda_ foto HS__.jpg

Hoje é o Dia Mundial da Fotografia. Esta evocação assenta na invenção do daguerreótipo, um processo fotográfico que foi desenvolvido, em 1837, por Louis Daguerre.

Em janeiro de 1839, a Academia Francesa de Ciências anunciou a invenção do daguerreótipo e a 19 de agosto, desse mesmo ano, o Governo francês considerou a invenção de Louis Daguerre como um presente "grátis para o mundo".

Recorde-se que outro processo fotográfico –o calótipo, inventado também em 1839 por William Fox Talbot – contribuiu para que o ano de 1839 fosse considerado o ano da invenção da fotografia.

Como afirmou Henri Cartier-Bressom "fotografar é colocar na mesma mira a cabeça, o olho e o coração". Por outro lado, e citando Sebastião Salgado, a fotografia “é uma escrita tão forte porque pode ser lida em todo o mundo sem tradução”. 

 

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publicado às 16:20

Rádio Altitude: 75º aniversário

por Correio da Guarda, em 25.07.23

 

No dia 29 de julho de 1948 começaram na Guarda as emissões oficiais da Rádio Altitude, uma das mais antigas estações portuguesas que tem mantido a mesma designação e emissões contínuas a partir dessa data.

Rádio Altitude - Microfone antigo - HS.jpg

Esta emissora “iniciou a sua sessão e, com ela, a sua vida oficial transmitindo depois do disco indicativo da estação, a saudação Salvé Rádio Altitude! proferida pela menina Aurora da Cruz, que foi escolhida para madrinha do Posto Emissor. Falou, em primeiro lugar, o Sr. Carlos Alberto Pereira, Vice-Presidente da Caixa Recreativa, que – anunciado pelo locutor de serviço com palavras de justa homenagem e consagração – começou por dizer: Rádio Altitude, posto emissor deste Sanatório, vai ser inaugurado oficialmente, depois de um período em regime experimental”. Assim noticiou o Bola de Neve, um jornal editado no Sanatório Sousa Martins.

Como escrevemos no livro “O Dever da Memória – Uma Rádio no Sanatório da Montanha” (publicado em 2003), a Rádio Altitude é uma emissora com interessantes particularidades, originada no seio das experiências radiofónicas que ocorreram no Sanatório Sousa Martins, cerca de 1946. Nessa altura, as rudimentares emissões circunscreviam-se ao pavilhão do Sanatório onde estava concentrado o grupo de doentes (de tuberculose) pioneiros deste projeto; apenas com a construção de novo emissor foi ganhando dimensão a aventura radiofónica.

No ano de 1947, o médico Ladislau Patrício (segundo diretor do Sanatório Sousa Martins), aprovou (a 21 de outubro) o primeiro regulamento da emissora, onde estavam definidas algumas orientações muito claras sobre o seu funcionamento; em finais desse ano as emissões já eram escutadas na malha urbana da Guarda. O início oficial das emissões regulares ocorreu, como atrás foi dito, em 29 de julho de 1948; um ano depois (1949) foi-lhe atribuído o indicativo CSB 21, identidade difundida por várias décadas.

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Luis Coutinho num dos estúdios iniciais da Rádio Altitude.

 

A propriedade do primeiro emissor pertenceu, inicialmente, à Caixa Recreativa dos Internados no Sanatório Sousa Martins e mais tarde ao Centro Educacional e Recuperador dos Internados no Sanatório Sousa Martins (CERISSM). Com a criação do CERISSM pretendeu-se auxiliar os doentes, especialmente no que dizia respeito “à sua promoção social e ocupação dos tempos livres”. Aliás, foi no seio dos sanatórios que surgiram originais projetos radiofónicos – como seja a Rádio Pólo Norte (maio de 1939) no Sanatório do Caramulo, e a Rádio Pinóquio, no Sanatório das Penhas da Saúde (Covilhã), para referirmos os mais próximos. Noutros contextos, nomeadamente geográficos, foram instituídas outras emissoras, de âmbito regional ou local; em maio de 1948 o Posto Emissor do Funchal tinha iniciado as suas emissões e já no ano anterior, mês de outubro, tinha começado a emitir oficialmente a Rádio Clube Asas do Atlântico (com o indicativo CSB-81).

Na Guarda, o CERISSM foi uma autêntica instituição de solidariedade; para além de viabilizar a afirmação e implantação da Rádio Altitude, desenvolveu uma vasta obra assistencial, sobretudo sob o impulso do médico Martins de Queirós, (o quarto e último diretor do Sanatório guardense).

Em 1961, mediante autorização oficial, a Rádio Altitude passou a ter como suporte económico-financeiro as receitas publicitárias, que em muito contribuiriam para o auxílio dos doentes mais carenciados. As emissões da rádio guardense evoluíram, ao longo das primeiras décadas em função das disponibilidades técnicas, dos recursos humanos e financeiros, mas encontrando sempre no, crescente auditório, uma grande simpatia e um apoio incondicional.

Programa SONS DA MADRUGADA.jpg

Até 1980 a Rádio Altitude emitiu na frequência de 1495 Khz, em onda média (abrangendo não só o distrito da Guarda, mas igualmente os distritos de Viseu e Castelo Branco e algumas das suas áreas limítrofes), altura em que a sua sintonia passou a ser feita no quadrante dos 1584 khz. Após 1986, e com a liberalização do espectro radioelétrico passou a emitir também em frequência modulada (FM), em 107.7 Mhz, alterada, em 1991, para os 90.9 Mhz, que mantém na atualidade.

No ano de 1998, depois de ter sido determinada a extinção do Centro Educacional e Recuperador dos Internados no Sanatório Sousa Martins, foi decidida a realização de uma consulta pública, com vista à “transmissão da universalidade designada Rádio Altitude”, considerada a “única estrutura em funcionamento do ex-CERISSM”. A estação emissora entrou assim, com a sua aquisição por parte da Radialtitude–Sociedade de Comunicação da Guarda, num capítulo novo da sua existência, mantendo a ligação física ao antigo espaço do Sanatório Sousa Martins, hoje designado Parque da Saúde.

Celebrar o 75º aniversário das emissões regulares da RA é lembrar que estamos perante uma rádio muito especial para a Guarda e região da beira serra, sendo uma inquestionável referência na história da radiodifusão sonora em Portugal. Uma rádio de afetos, memórias, vivências, dedicação, serviço público, criatividade, formação, espírito solidário. Uma rádio que, sem sombra de dúvidas, permanece na memória coletiva das gentes beirãs.

Esta é uma emissora associada a muitas vozes e rostos, a sonhos, diferenciados contributos, afetos, ideias, originalidades, presenças e solidariedade. A sua génese, a longevidade, o percurso ímpar e a matriz beirã conferem-lhe um estatuto especial, transformando-a num ex-libris da Guarda.

Este é o tempo de honrarmos os múltiplos contributos pessoais e institucionais que foram engrandecendo a RA, sem cairmos em atitudes derrotistas ou de confronto estéril; privilegiando, obviamente, uma postura de crítica construtiva, afirmada objetivamente e protagonizada sem tibiezas ou sob a capa do anonimato.

Escrevemos sobre uma rádio com um historial ímpar; uma estação por onde passaram muitos profissionais e colaboradores; uma emissora que foi uma autêntica escola de rádio e jornalismo, laboratório de muitos projetos radiofónicos, de que o Escape Livre (o mais antigo programa sobre automobilismo em Portugal) é um excelente exemplo.

É toda uma história que implica uma maior responsabilidade a quem faz, atualmente, esta rádio. Desejamos, muito sinceramente, que a efeméride assinalada seja um marco de reafirmação da rádio, uma celebração das suas potencialidades, a entrada numa fase de conquista do futuro, mantendo a essência da rádio, uma atitude profissional, pluralismo, qualidade de conteúdos programáticos e plena consciência da eminente função social

Parabéns à Rádio Altitude !

 

Helder Sequeira

 

 

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publicado às 08:30

Escola Superior de Saúde da Guarda: 58º aniversário

por Correio da Guarda, em 16.07.23

 

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A Escola Superior de Saúde (ESS) do Instituto Politécnico da Guarda assinala hoje a passagem do seu 58º aniversário.

Recorde-se que a Escola Superior de Saúde da Guarda foi criada, como Escola de Enfermagem, em 1965, por despacho ministerial de 16 de julho.

Em 1988, pelo decreto-lei n.º 480/88, de 23 de dezembro, o ensino de enfermagem foi integrado no ensino superior politécnico, tendo sido reconvertida em Escola Superior de Enfermagem em setembro de 1989.

A Escola iniciou no ano seguinte o Curso Superior de Enfermagem, que conferia o grau de Bacharel. Pela Portaria n.º 311/96, de 27 de julho foi criado o Curso de Estudos Superiores Especializados em Enfermagem de Saúde Infantil e Pediátrica. Em outubro de 1999, iniciou o Curso de Licenciatura em Enfermagem e em março de 2000 passou a lecionar o Curso de Complemento de Formação em Enfermagem.

Foi integrada no Instituto Politécnico da Guarda um ano depois; pela Portaria n.º 220/2005, de 24 de fevereiro foi criado o Curso de Pós-Licenciatura de Especialização em Enfermagem Médico-Cirúrgica.

Em março de 2005, com a publicação da Portaria n.º 235/2005, a Escola Superior de Enfermagem da Guarda foi convertida em Escola Superior de Saúde da Guarda.

 

Helder Sequeira

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publicado às 09:56

Lopo de Carvalho: o primeiro diretor do Sanatório

por Correio da Guarda, em 06.07.23

 

Há 101 anos, a 6 de julho, falecia na Guarda o médico Lopo José de Figueiredo de Carvalho, um nome  indissociavelmente a esta cidade sobretudo ao Sanatório Sousa Martins, de que foi o primeiro director.

Natural de localidade de Tojal (concelho do Satão), onde nasceu a 3 de Maio de 1857, Lopo de Carvalho frequentou a Universidade de Coimbra e licenciou-se em Medicina no ano de 1883. Aluno brilhante, no final do curso foi convidado, pela sua Faculdade, a iniciar o doutoramento, proposta que declinou.

Nesse mesmo ano foi trabalhar para a Meda, como médico municipal; aí exerceu a sua actividade profissional, durante dois anos, prosseguida mais tarde na Guarda, passando ainda o seu percurso como clínico pelos Açores (Graciosa) e por Lisboa.

Com a fixação na Guarda (onde residiu até à sua morte) passou também a exercer as funções de professor do Liceu, à semelhança do que aconteceu com outras conhecidas figuras guardenses da época; cedo se começou a dedicar à causa da luta contra a tuberculose e a empenhar-se, activamente, na criação de estruturas vocacionadas para o tratamento daquela doença assim como no estabelecimento de normas e regulamentos sanitários.

“A defesa contra a tuberculose está regulamentada convenientemente, há muito tempo, na cidade da Guarda e em todo o distrito; o essencial é cumprir-se a lei e isso é da exclusiva competência das autoridades (…). É esta cidade a única no país que regulamentou a sua defesa contra a tuberculose. Os primeiros aparelhos de Trillat (pelo formol sobre pressão), para a desinfecção das casas e das roupas, que vieram para o nosso país foram adquiridos pela Câmara da Guarda por proposta minha”, escreveu aquele médico na resposta a acusações que lhe foram dirigidas por alguns articulistas da imprensa local, cujo entendimento sobre a importância do Sanatório divergia das ideias de Lopo de Carvalho e de quantos o acompanhavam na afirmação e desenvolvimento daquela unidade de saúde.

O primeiro director do Sanatório respondia aos seus críticos dizendo que “a higiene não se pode fazer somente em artigos de jornais e ofícios burocráticos. Para se fazer higiene é preciso gastar-se muita água e dinheiro”.

A “Curabilidade da Tuberculose Pulmonar”, trabalho apresentado no Congresso de Medicina de Lisboa, foi uma das suas mais aplaudidas intervenções em reuniões científicas, na maioria das quais levantou a bandeira das potencialidades da Guarda como cidade da saúde. Aquando do “Congresso de Tuberculose” realizado em Londres, em 1901, foi convidado por Sir William Broadbent para a vice-presidência honorária daquele evento científico.

Os seus esforços, conjugados com o apoio recebido da Assistência Nacional aos Tuberculosos, a que presidia a Rainha D. Amélia, conduziram à construção do Sanatório da Guarda, inaugurado em 18 de Maio de 1907.

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Lopo de Carvalho seria agraciado, pelo Rei D. Carlos, com a Comenda de S. Tiago. “É de todo o ponto merecida a distinção, que recai sobre um verdadeiro homem de ciência, tisiólogo eminente, que tem sido, no nosso país, um dos mais denodados combatentes contra a tuberculose”, noticiou o Diário Ilustrado.

Redactor do jornal “Estudos Médicos”, assim como de “Coimbra Médica”, Lopo de Carvalho colaborou também com as publicações “Movimento Médico”, “Revista de Medicina e Cirurgia” e “Medicina Contemporânea”.

O seu consultório funcionou no edifício conhecido (na actual Rua Vasco da Gama) por Dispensário o qual doou, em 1932, ao Instituto de Assistência Nacional aos Tuberculosos. Na rua que ostenta o seu nome existe uma casa que Leopoldina Lopo de Carvalho (a esposa deste médico) doou à cidade, com finalidades específicas; destinado, inicialmente a Arquivo Distrital nela funcionou um Jardim Infantil com o nome da benemérita senhora.

Lopo José de Carvalho (pai de outro conceituado clínico e professor universitário, Fausto Lopo de Carvalho) faleceu na Guarda a 6 de Julho de 1922. “O seu enterro foi a expressão mais rigorosa e levantada da consideração em que o povo da nossa terra tinha o ilustre homem de ciência”, realçou a imprensa citadina. O jornal Distrito da Guarda, a propósito do seu falecimento, escreveu que “o nome do Dr. Lopo de Carvalho não se perde no passado; o que se perde é a sua inteligência e os seus vastos conhecimentos científicos”.

O mesmo periódico, passados alguns anos, destacava os serviços “prestados a esta terra” pelo referido clínico. “E no estrangeiro, onde foi por várias vezes, tomando parte de congressos, ou em viagens de estudo, conhecia-se o seu nome em todas as estâncias de cura de tuberculose. Conhecia-se e admirava-se porque, nesta especialidade, o médico distinto pairava muito acima do normal”.

De entre os trabalhos publicados mencionamos “Seroterapia na Tuberculose Pulmonar”, “Uma Epidemia da Febre Tifóide”, “As causa da Febre Tifóide em Portugal” e “Tuberculosos Curados”, este em co-autoria com Amândio Paul, que lhe sucedeu na direcção do Sanatório Sousa Martins.

 Lopo de Carvalho tem o seu nome na toponímia guardense, numa artéria localizada entre o início da Avenida dos Bombeiros Voluntários (onde hoje está o Centro Comercial) e o cruzamento das Ruas Vasco Borges, Rua do Comércio e Largo General João de Almeida.

 

Helder Sequeira

 

 

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publicado às 09:01

Entender e reinventar a Rádio

por Correio da Guarda, em 21.06.23

 

O panorama atual das rádios portuguesas é substancialmente diferente daquele que era vivido há duas ou três décadas. Houve uma seleção natural das estações nascidas sob o alvor da regulamentação do espectro radioelétrico, face a condicionalismos de vária ordem; mormente da necessidade de serem afirmados projetos pautados pelo profissionalismo, com um esclarecido entendimento da função social da rádio.

O suporte económico-financeiro não deixou de ser um fator importante, sobretudo em zonas de baixa densidade populacional, como a nossa, onde as fontes de receita proporcionadas pela publicidade diminuíram de forma drástica. A pandemia fez-se também notar de forma impiedosa, ainda que chamando a atenção para novas fórmulas de desenvolvimento do trabalho na rádio.

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A diminuta fatia (quando existente) da publicidade institucional acentuou ainda mais a preocupante realidade de muitas estações. Os projetos radiofónicos não evoluem se não for garantida a sua sustentabilidade financeira, a sua autonomia e, simultaneamente, criadas dinâmicas capazes de reforçarem a qualidade dos conteúdos programáticos, ampliarem audiências, aproximarem-se dos seus destinatários e interlocutores.

Será oportuno recordar que nos fins genéricos da atividade de radiodifusão se inscreve a obrigação de contribuir para a informação do público, garantindo aos cidadãos o direito de informar, de se informar e de ser informado, sem impedimentos nem discriminações. Por outro lado, a lei estabelece que às rádios compete contribuir para a valorização cultural da população, assegurando a possibilidade de expressão e o confronto das diversas correntes de opinião, através do estímulo à criação e à livre expressão do pensamento e dos valores culturais que traduzem a identidade nacional.

O debate em torno do perfil da rádio, na atualidade e no futuro, tem suscitado posturas diferenciadas, mas convergentes quanto à sua continuidade. Para alguns, a rádio tem de resistir à tentação de perder a sua credibilidade na concorrência diária que enfrenta com as redes sociais e media socias. Essa credibilidade passa pelo rigor e salvaguarda permanente da sua função informativa, pela ação ao nível do entretenimento, nas várias vertentes.

Tendo em consideração a constante evolução tecnológica e as tendências dos consumidores, é também defendido que caminhamos para a existência de menos rádios físicas e mais virtuais; para uma rádio interativa no plano musical, com a escolha por parte do ouvinte. Este cenário faz emergir novas exigências para os seus profissionais que têm de estar dotados de competências ao nível da utilização das redes sociais, da edição de áudio e vídeo relativa aos seus trabalhos; sejam peças informativas, sejam as intervenções específicas na programação regular.

Não esqueçamos que a humanização da rádio é fundamental; as pessoas não podem ser afastadas do processo evolutivo e do plano radiofónico. Um radialista espanhol escrevia, a este propósito, que quanto mais complexa é a tecnologia mais se valorizam os conteúdos humanos que existem no seu interior. Assim, importa evidenciar e valorizar a importância da voz na rádio, a presença do animador de emissão, que nos envolva no fascínio da rádio; o qual não é incompatível com a adequação das suas emissões a novas plataformas e meios de receção.

Longe vai o tempo da mobilidade que o transístor nos permitia; hoje o telemóvel está presente no nosso quotidiano, ultrapassando largamente a função de fazer ou receber chamadas. É arquivo, é meio de consulta e informação, meio de registo áudio ou vídeo, elo permanente de ligação com o mundo. A audição da rádio passa, igualmente, pelos dispositivos móveis. A rádio não pode olvidar estes novos recetores e a adequação das suas emissões para estes equipamentos; adequação que pode ser complementada com aplicações que agilizem e agendem alertas para programas, notícias, trabalhos específicos que interessem ao cidadão.

Neste contexto é fundamental centrar a atenção nos conteúdos programáticos. Percebe-se, cada vez mais, que o ouvinte escolha perfis identitários numa emissora onde a diferença da oferta informativa e musical constitua uma possibilidade de opção face à uniformidade das propostas radiofónicas; geralmente com a exaustiva repetição de músicas, com a sucessiva reedição de temas de política nacional ou local, com demasiado peso da opinião de comentadores, com a redundância de temáticas que podem ser gratas aos intervenientes de um espaço de debate radiofónico, mas não têm o mesmo interesse para a generalidade de quem escuta.

Escrevíamos, nas linhas anteriores, que os conteúdos humanos são fundamentais, mesmo com o atual quadro tecnológico. De facto, é por uma rádio com gente dentro, por uma rádio atenta à realidade local dando expressão a quem tenha algo de novo e diferente para dizer, que passa também o futuro da rádio, muito para além dos limites definidos pelas ondas hertzianas.

Aliás, “O Rádio sem Onda – convergência digital e novos desafios na radiodifusão” é o sugestivo título de um livro de Marcelo Kischinhevsky; uma publicação onde foi feita uma síntese da trajetória do rádio nas últimas décadas e de alguns caminhos para o futuro (alguns já do presente), onde ficam balizados o podcasting ou o rádio digital por assinatura.

Estes novos cenários da rádio devem merecer a indispensável atenção de forma que se potenciem recursos humanos, agilizem estratégias, se alcancem objetivos de audiência e se garanta uma posição de vanguarda. Claro que não podemos ser redutores quanto à questão de a rádio tradicional ter limites temporais na sua existência, nem ficarmos presos ao debate se a o rádio na internet é rádio.

Esta atividade não se pode alhear da evolução tecnológica, por um lado, nem alimentar, por outro, a ideia sublinhada por muitos de que o rádio tradicional ficará obsoleto como os discos de vinil. Não é verdade, muito menos para este exemplo, pois sabemos que o vinil emergiu com uma nova força e qualidade sonora.

Uma boa e completa informação (distribuída equilibradamente ao longo da emissão), numa estação de rádio, reforça a sua presença na zona onde se insere, atribui-lhe identidade, e visibilidade no contexto global. Como têm defendido vários investigadores da área dos media, “a força do jornalismo numa emissora de rádio local é o instrumento que lhe dá a sensação de plenitude local e regional”. A informação a privilegiar pela rádio local é a que está relacionada aos acontecimentos da proximidade; na opinião de Cebrián Herreros "o mais importante é cobrir as notícias que os demais não dão", mesmo que menos sensacionais.

O êxito de uma estação de rádio, em especial neste espaço geográfico do interior do país, passa por um entendimento objetivo dessa realidade e pela permanente aproximação e interação com a mesma. Desde logo com os setores populacionais circunscritos ao meio rural e que, não seguindo conteúdos informativos do meio televisão – por variadas razões – encontram na rádio a companhia diária, um interlocutor de proximidade, uma maior identificação.

Este trabalho das rádios implica um grande labor diário, uma permanente formação, atualização, a par de uma imprescindível interpretação dos contextos sociais, culturais, políticos e económicos. Um trabalho sério e isento, equidistante, sem declinar, naturalmente, uma salutar relação profissional sempre com a devida consciência das normas deontológicas e éticas.

O futuro da rádio – alicerçado em pilares de competência, profissionalismo e experiência – passa pela sua reinvenção e perceção da sua inconfundível magia.

 

Helder Sequeira

 

in jornal O Interior, 21_junho_2023

 

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publicado às 23:42

Finalistas

por Correio da Guarda, em 28.05.23

Finalistas 2023_GRD_HS_.JPG   

Na Guarda decorreu hoje a tradicional Missa de Finalistas dos estudantes do IPG e a Benção das Pastas. Durante a tarde muitos finalistas, apesar do tempo chuvoso, não deixaram de passar pela Praça Luís de Camões para umas fotos de despedida. 

 

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publicado às 19:02

Na Catedral

por Correio da Guarda, em 23.05.23

Sé Catedral da Guarda - interior HS_2017 .JPG Sé Catedral da Guarda. Interior.

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publicado às 22:00


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