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No calendário guardense há datas que importa sublinhar de forma a não se perderem nas sombras do esquecimento…
Outrora, um dos cartazes de promoção da Guarda, durante largas décadas, foi a feira São João que desempenhava um eminente papel de dinamização económica e social, integrando um conjunto de certames com forte projeção regional.
A feira anual de São João, que ocorre no dia 24 de junho na Guarda, foi criada em 1255 (a 25 de março) por carta régia de D. Afonso III; este documento estabelecia, como assinalou a historiadora Virgínia Rau, que “devia começar oito dias antes da festa de S. João Baptista e durar quinze dias. Todos os que viessem à feira com as suas mercadorias estariam seguros e isentos de penhora durante trinta dias”.
No decorrer da segunda dinastia a feira de São João na Guarda continuava a registar grande importância e no século XV era costume os “criadores e lavradores de Castelo Branco e do seu termo levarem os gados da sua criação para venda na feira da Guarda”.
Será igualmente no decorrer desse século que se começa a desenhar uma evidente decadência das feiras no reino português, panorama a que não é estranho o novo mapa dos centros comerciais, no litoral, alimentados pelos descobrimentos; contudo, com maior ou menor impacto, elas sobreviveram; a feira de São João continuou a ser um destacado evento citadino.
Nos finais do século dezanove a cidade enchia-se, muitos dias antes de “grande quantidade de forasteiros”, e não faltavam, pelas principais artérias as “costumadas fogueiras com danças e cantos”.
O teatro, os concursos de gado e as touradas constituíam alguns dos pontos de atração do cartaz citadino, nesses dias de enorme agitação festiva e de muitas transações comerciais.
A viagem de comboio até à Guarda era incentivada com significativas reduções nos preços, oportunidade aproveitada por numerosas pessoas, que engrossavam a multidão de visitantes espalhados por todos os cantos da cidade. De referir que o local da realização da feira foi sendo sucessivamente alterado; passou pelo Largo de S. Vicente, pela Praça Velha (atual Praça Luís de Camões), pelo Largo Serpa Pinto, Largo da Boa Vista (junto à área onde existiu o antigo Mercado Municipal e onde está hoje o edifício da Câmara Municipal), pela zona da Mata e Lameirinhas e, posteriormente, pela avenida dos Bombeiros Voluntários.
Este quadro, festivo, comercial e religioso – componente que também não faltava – repetiu-se, com mais ou menos cambiantes, durante décadas, deixando um inquestionável impacto na vida da cidade.
Aliás, a própria Câmara Municipal da Guarda deliberou solicitar ao Governo, em julho de 1954, a “necessária autorização para considerar como feriado municipal do concelho da Guarda o dia 24 de junho de cada ano”.
O executivo municipal, de então, argumentava que os festejos de São João “desde tempos imemoriais atingem proporções de relevo”, sendo por isso considerado “dia festivo em toda a região”; por outro lado, a Câmara Municipal aduzia a realização da “importante feira anual de S. João, reputada a de maior expansão e amplitude da região por a ela acorrerem com os seus produtos e gados as populações de toda a região beirã e até transmontana”; as estas razões, acrescentava-se ainda a intenção de o dia passar a figurar no período das “futuras Festas da Cidade” da Guarda.
O médico e escritor Ladislau Patrício (o terceiro diretor do Sanatório Sousa Martins) anotava, numa das suas obras, que “nas vésperas do dia 24 de junho, noite e madrugada, é contínuo o formigueiro de feirantes, a pé, a cavalo, em carroças e em carros de bois, tropeçando nos calhaus soltos dos caminhos impérvios, ou batendo o macadame das estradas poeirentas e brancas”.
Ao longo das últimas décadas a movimentação de outrora, em torno da feira de São João tem vindo a diminuir, mormente em termos do período de duração deste certame.
Se é certo que na sociedade hodierna as motivações dos consumidores são de longe bem diferentes, mercê de múltiplos fatores, também é verdade que a Feira de São João (à semelhança de outras congéneres) poderia ter reconquistado uma nova afirmação no contexto regional, aplicadas que fossem as adequadas fórmulas e garantindo os apoios inerentes a uma realização com este perfil.
Salvaguardar e projetar atividades que estão profundamente ligados às tradições citadinas, como é o caso da feira de São João, é evidenciar uma identidade – que não se fique apenas pelo tradicional e saboroso caldo de grão – e recuperar um cartaz que está ainda na memória de muitos; um cartaz a revitalizar num adequado equilíbrio de interesses de vendedores, consumidores e visitantes, articulando-o com novos projetos complementares e sequenciais no tempo, afirmando-o no conjunto de festividades/atividades que ocorrem habitualmente ao longo dos meses de junho e julho
Num quadro de diversidade e oferta de opções para quem nos procura ou visita está, certamente, uma das vias que podem abrir novos ciclos de desenvolvimento económico, social e turístico.
Hélder Sequeira
“A rádio terá sempre o seu lugar e o seu papel”. Esta a convicção de João Paulo Diniz, um consagrado nome da rádio portuguesa que hoje sublinhamos neste apontamento.
Lembramos “um homem de liberdade” que “num conluio tão sigiloso como arriscado, lançou a deixa musical na rádio para o arranque do dia mais claro e luminoso da geração sofrida e silenciada a que pertencemos”, como escreveu Júlio Isidro no prefácio à publicação “Cuidado com os Cabelos Brancos”.
João Paulo Diniz, autor desse livro e um “brilhante profissional”, é uma voz da liberdade, tendo com algumas breves palavras evidenciado o papel da rádio num importante momento da história portuguesa; na noite de 24 de abril de 1974 colocou no ar – através dos Emissores Associados de Lisboa – a primeira senha do movimento dos capitães, ao anunciar “faltam 5 minutos para as 23 horas”, seguindo-se a apresentação da música de Paulo de Carvalho, “E depois do adeus”.
“A música foi escolhida inicialmente quando fui abordado pelo capitão Costa Martins, da Força Aérea, e pelo Otelo Saraiva de Carvalho, com quem eu tinha estado na Guiné.” Recordou-nos João Paulo Diniz.
Quando o questionámos se as pessoas têm consciência da importância da rádio e do seu contributo para a revolução e subsequente afirmação da democracia, respondeu-nos: “não sei se têm. Há uma coisa que me custa um pouco. É que tenho a sensação que, de hoje em dia, os jovens sabem muito pouco sobre o que foi o 25 de Abril.”
Daí acrescentar-nos ser “extremamente importante sensibilizar toda a população, mas em especial os mais jovens, para a importância” dessa data e de “todas as liberdades que nos permitiu. Liberdade sempre, obviamente, com a máxima responsabilidade. Uma e outra não se separam. É um casamento.”
João Paulo Diniz protagonizou diversos projetos radiofónicos e desenvolveu uma intensa e distinta atividade jornalística, em vários órgãos de informação, mormente na rádio; atividade que evoca e descreve no livro a que aludimos anteriormente.
A sua passagem pela BBC contribuiu, como nos disse recentemente, para reaprender algumas “lições, sobretudo em termos do rigor, da informação, de ter a certeza que a notícia só é dada quando estiver a cem por cento tudo confirmado.”
Hoje, diz João Paulo Diniz, “fazem falta na rádio profissionais de cabelos brancos”, pretendendo dizer com isso que é importante haver neste meio pessoas com “uma experiência mais ampla, maiores conhecimentos”, capazes de transmitir memória; sem esquecer que é fundamental “ensinar aos mais novos como se faz a Rádio e, sobretudo, como não se faz…”.
Na necessária reinvenção da rádio, na sua desejada aproximação com o seu público, na reafirmação do seu perfil identitário e no amplo aproveitamento das suas características e capacidades esses contributos idóneos – pautados por um inquestionável profissionalismo e saber fazer – são relevantes e oportunos.
Aliás, há décadas atrás, o jornalista que hoje evocamos, descentralizava as emissões do programa que conduzia – na emissora pública portuguesa – pelo território nacional; como já destacava também a função social da sonora radiodifusão no interior do país, partindo do exemplo da Rádio Altitude, no decorrer de um colóquio realizado na Guarda em 1990, no âmbito da comemoração do aniversário desta rádio, que a 29 de julho completará 77 anos de emissões oficiais regulares; uma marca informativa e cultural da nossa região e da cidade, que não deve ser esquecida.
Na Guarda, em 1990. No colóquio intregrado na comemoração do aniversário da Rádio Altitude. Na foto (esq. para a dir ) João Marques de Almeida, Hélder Sequeira e João Paulo Diniz.
A proximidade e a humanização do meio rádio continuam a ser necessárias, pertinentes e fundamentais, pois as pessoas (e tendo em conta os cenários criados pela inteligência artificial e pelos desenvolvimentos ao nível de equipamentos técnicos) não podem ser afastadas do seu processo evolutivo; a Rádio a continua a ter futuro, apesar dos múltiplos condicionalismos e desafios.
Concluindo estas Anotações com palavras de João Paulo Diniz, “a rádio tem realmente uma dimensão extraordinária. É portátil, é leve, é gratuita e é fascinante.” Saibamos perceber, valorizar e apreciar esse fascínio!...
Hélder Sequeira
in O INTERIOR, 18 junho 2025
Hoje, 18 de maio, ocorre a passagem do centésimo décimo oitavo aniversário da inauguração do Sanatório Sousa Martins que, durante décadas, desenvolveu uma eminente ação assistencial na cidade mais alta de Portugal.
A inauguração (inicialmente prevista para 28 de abril e depois para 11 de maio) dos três pavilhões que integravam o Sanatório teve lugar a 18 de maio de 1907, com a presença do rei D. Carlos e da Rainha D. Amélia.
“Aos dezoito dias do mês de Maio de mil novecentos e sete, num dos edifícios recentemente construídos no reduto da antiga Quinta do Chafariz, situada à beira da estrada número cinquenta e cinco, nos subúrbios da cidade da Guarda, estando presentes Sua Majestade a Rainha Senhora Dona Amélia (...), procedeu-se à solenidade da abertura da primeira parte dos edifícios do Sanatório Sousa Martins e da inauguração deste estabelecimento da Assistência Nacional aos Tuberculosos, fundada e presidida pela mesma Augusta Senhora (...)”.
Assim ficou escrito no auto que certificou a cerimónia inaugural da referida estância de saúde. O Sanatório Sousa Martins foi uma das principais instituições de combate e tratamento da tuberculose em Portugal. A designação de “Cidade da Saúde” atribuída à Guarda em muito se fica a dever à instituição que a marcou, indelevelmente, no século passado.
A Guarda foi, nessa época, uma das cidades mais procuradas do nosso país, tendo a elevada afluência de pessoas deixado inúmeros reflexos na sua vida económica, social e cultural. A apologia desta cidade como centro urbano “eficaz no tratamento da doença” foi feita por distintas figuras, pois era “a montanha mágica” junto à Serra. Muitas pessoas (provenientes de todo o país e mesmo do estrangeiro) rumaram à cidade mais alta de Portugal com o objetivo de usufruírem do seu clima, praticando, assim, uma cura livre; não sendo seguidas ou apoiadas em cuidados médicos.
As deslocações para zonas propícias à terapêutica “de ares”, e a consequente permanência, contribuíram para o aparecimento de hotéis e pensões; isto porque não havia, no início, as indispensáveis e adequadas unidades de tratamento; situação que originou fortes preocupações sanitárias às entidades oficiais.
No primeiro Congresso Português sobre Tuberculose, o médico Lopo de Carvalho destacou os processos profiláticos usados na Guarda; este clínico foi um dos mais empenhados defensores da criação do Sanatório guardense, do qual viria a ser o primeiro diretor. O fluxo de tuberculosos que vieram para o Sanatório guardense superou, largamente, as previsões, fazendo com que os pavilhões construídos se tornassem insuficientes perante a enorme procura. O Pavilhão 1 (onde funciona atualmente a sede da Unidade Local de Saúde da Guarda) teve de ser aumentado um ano depois, duplicando a sua capacidade.
Em 31 de maio 1953 um novo pavilhão (que ladeia hoje a atual Avenida Rainha D. Amélia) foi acrescentado aos três já existentes. Com a construção deste novo pavilhão, o Sanatório Sousa Martins procurou aumentar a capacidade de resposta às crescentes solicitações das pessoas afetadas pela tuberculose, ampliando assim o seu papel na luta contra essa doença. O elevado número de doentes com fracos recursos há muito fazia sentir a necessidade de dotar esta conhecida unidade de saúde com novas instalações; pretensão que os responsáveis pelo Sanatório Sousa Martins tinham já manifestado ao Ministro das Obras Públicas, aquando da sua visita, à Guarda, em 1947. O Sanatório Sousa Martins ganhou, consequentemente, maior dimensão e capacidade de tratamento de tuberculosos.
Hoje, anotar a decrepitude dos antigos pavilhões, o perigo iminente de derrocada (ou outras eventuais ocorrências) e a passagem dos 118 anos após a inauguração deste Sanatório, não é um mero exercício de memória ritualista. É evidenciar o estado lastimoso em que se encontra o património físico de uma instituição com merecido relevo na história da saúde e da medicina em Portugal; um Sanatório ligado também à solidariedade, à cultura e à história da radiodifusão sonora portuguesa, mercê da emissora (Rádio Altitude) aqui criada em finais da década de quarenta do passado século.
“A ausência de interesse tem sido gritante, imperdoável e inaceitável. Os edifícios em completa ruína, além de constituírem um perigo permanente, são um verdadeiro atentado à história local. Creio que é mesmo um dos maiores, se não o maior atentado patrimonial, cometido na Guarda, no último século.” Como sublinhou, ao Correio da Guarda, Dulce Borges (com meritório trabalho de investigação, estudo e divulgação sobre o Sanatório) ao Correio da Guarda. Uma entrevista que pode reler aqui.
Os históricos pavilhões Rainha D. Amélia e D. António de Lencastre continuam, apesar de sucessivos alertas e artigos publicados, a ser desprezados, esquecidos.
A sua recuperação permitiria que fossem utilizados para fins assistenciais ou outros; houve já projetos para a criação de um espaço museológico no Pavilhão Rainha D. Amélia, para a valorização do património florestal da antiga cerca do Sanatório; em 2001/2002 foi elaborado “um projeto para o Hospital da Guarda, que englobava o Pavilhão D. Amélia para as Consultas Externas, acoplado com outro pavilhão moderno. O pavilhão D. António de Lencastre estava destinado à parte administrativa, fazia parte de um complexo para a parte administrativa, acoplado a outros espaços”, como nos disse o Dr. José Guilherme (que dirigiu o Hospital da Guarda), em entrevista publicada na Revista Praça Velha. Nas últimas décadas outras ideias foram surgindo, para utilização desses edifícios, sem que tivessem qualquer concretização até à presente data.
O abandono e degradação dos antigos pavilhões do Sanatório Sousa Martins não dignifica uma cidade que se quer afirmar pela história, pela cultura, pelo ensino, pelo turismo, pela qualidade do seu ar, pela sua localização…
A bandeira da cidade deve ser arvorada diariamente, por todos quantos sentem e vivem a Guarda, pensando globalmente e não se circunscrever a intervenções articuladas com calendários políticos ou pessoais; não devemos ser “socialmente, uma coletividade pacífica de revoltados”, na expressão de Miguel Torga.
É importante que contrariemos este estado de coisas, reivindicando soluções, apelando à união de esforço e à procura dos melhores planos/estratégias no sentido de serem recuperados, salvaguardados e utilizados esses edifícios seculares, elementos integrantes do ex-libris da Cidade da Saúde. “Tudo é ousado para quem a nada se atreve”, escrevia Pessoa. Haja firmeza na ousadia e salvaguardemos um património ímpar da cidade e do país. E nada como uma visita ao local para nos apercebermos da vergonhosa realidade daqueles pavilhões do antigo Sanatório Sousa Martins, 118 anos depois da sua inauguração festiva a 18 de maio.
Amanhã pode ser tarde demais…
Hélder Sequeira
A rádio continua a ter um papel fundamental na informação e com distinta flexibilidade na aproximação às pessoas; seja no meio urbano ou rural.
Ao longo do dia de hoje – com a interrupção no fornecimento de energia elétrica – foi, uma vez mais percetível o papel que a rádio desempenha em situações de catástrofe.
A UNESCO, na última comemoração do Dia Mundial da Rádio, destacava este meio “como um dos meios de comunicação mais confiáveis e amplamente utilizados no mundo.” Foi também pertinente a anotação que a UNESCO fez a propósito da definição, para as emissoras, de um plano de emergência climática (até porque a referida efeméride foi subordinada ao tema “O Rádio e as Alterações Climáticas”); esse plano “deve incluir mapeamento pré-preparado de áreas de risco; listas de contato de especialistas e autoridades para vários cenários de desastres; rotinas de resposta; instruções de segurança específicas para cada desastre natural”.
Acrescentava que ele também deve prever a manutenção de equipamentos necessárias para cenários de emergência para garantir fácil acesso a kits de sobrevivência e geradores para cortes de energia prolongados (um assunto a que há vários anos nos temos vindo a referir…). E o dia de hoje foi mais uma lição para o futuro…
Foi esta disponibilidade de fonte alternativa de energia (os geradores) que fez toda a diferença, permitindo a milhares de portugueses receberem informação fidedigna através do “velhinho” rádio portátil ou no recetor dos automóveis. Falharam os telemóveis, os recetores de televisão ficaram escuros, as redes socias estiveram ausentes, mas a rádio (ouvimos, particularmente, o excelente trabalho da Antena 1) esteve connosco. A Rádio esteve presente!
O dia de hoje deve suscitar uma reflexão consciente a vários níveis, e também no plano do papel das rádios locais, mormente no seu apetrechamento técnico para que em momentos como estes possam estar “no ar”, cumprindo a sua função social, transmitindo a informação oportuna veiculada pelos competentes serviços e estruturas.
Estas emissoras – com o devido apoio estatal para a aquisição dos necessários equipamentos – podem funcionar como autênticas antenas de proteção civil, reforçando a sua identidade e aprofundando a sua ligação com a comunidade local e regional.
Entre tantos comentários registados, a propósito e a despropósito do “apagão” de hoje, não se falou acerca do papel da rádio nas regiões do interior e da atenção que lhes deve ser dada, assim como da responsabilidade que elas devem assumir nestes contextos, através de uma informação séria, serena, pedagógica.
Hélder Sequeira
O “Culto Privado das Almas” foi a temática do percurso pedestre que a Associação de Jogos Tradicionais da Guarda (AJTG) promoveu no passado dia 5 de abril, nas aldeias de Trinta, Corujeira, Fernão Joanes e Meios (concelho da Guarda). Uma iniciativa que foi realizada em parceria com o município guardense.
Como foi referido a propósito deste percurso, pretendeu-se levar os participantes à descoberta do património cultural material e imaterial, mas também do património natural daquela área do concelho da Guarda, num trajeto de sete quilómetros. A AJTG já no ano passado tinha promovido (a 23 de março) o “Percurso das Alminhas” que com início na Menoita passou por várias localidades da freguesia de Pêra do Moço: Menoita, Rapoula, Pêra do Moço e Verdugal; com incidência no património local e na identificação de alminhas.
Singelos monumentos expressivos da religiosidade popular, as “Alminhas” constituem um património ímpar que não tem merecido a devida atenção e a necessária salvaguarda; deste modo, iniciativas como esta protagonizada pela Associação de Jogos Tradicionais da Guarda são de registar, aplaudir, incentivar e apoiar.
Na nossa região existem inúmeros testemunhos do culto das almas, sob diversificadas manifestações de arte e nos mais distintos lugares, embora os caminhos e as encruzilhadas tenham constituído locais privilegiados para a sua implantação.
A representação do Purgatório num oratório, retábulo ou painel, com chamas envolvendo as almas que suplicam aos santos e apelam ao auxílio das preces de quem passa, materializou-se, inicialmente em pinturas, a partir do século XVI; conheceu uma maior difusão no século seguinte, no território português, com maior incidência a norte do Mondego (a sul essa manifestação artística ficou, muitas vezes, no interior das igrejas e nas capelas das Irmandades).
Embora alguns estudiosos desta temática sustentem que as “Alminhas” se tenham inspirado e sejam uma herança das “civilizações clássicas de Roma e Grécia que nas suas deambulações já haviam erguido monumentos junto às estradas para devoção aos seus deuses”, sabemos que a origem das alminhas surge na Idade Média.
A partir do Concílio de Trento,1563, a ideia do Purgatório (anteriormente, e em especial nos primeiros séculos do cristianismo existia apenas o Céu e o Inferno) é imposta como dogma, atitude que é interpretada como uma resposta da Igreja Católica à reforma implementada pelos protestantes. Assim, o Purgatório surgia como um local (entre o Céu, para os bons, e o Inferno, para os maus) onde as almas passavam por um estado, forçado, de purificação. Aliás, estas manifestações de religiosidade popular e de arte eram, simultaneamente, um alerta permanente para a fragilidade da vida, perante a certeza da morte.
As “Alminhas” eram erguidas, normalmente, por iniciativa individual como homenagem, em memória de familiares ou no cumprimento de promessas. Esta devoção popular atravessou séculos e embora a meio do século passado tenha sido evidente um rejuvenescimento através da introdução da azulejaria (e alterado o culto inicial para manifestação de fé em santos da predileção pessoal), muitos destes pequenos monumentos, mercê do tempo e da desertificação das regiões, caíram no esquecimento e em progressiva degradação.
“Ó vós que ides passando, lembrai-vos de nós que estamos penando”… Este apelo, inscrito em inúmeras “Alminhas”, bem pode ser, na atualidade, dirigido a todos nós que temos esquecido este peculiar património (não são conhecidos muitos mais exemplos – com exceção para alguns casos, raros – na Europa), disperso por caminhos, muros, pontes, campos, estradas…
Assim, o projeto da AJTG centrado no “Culto Privado das Almas” é um eminente contributo para a salvaguarda, estudo e defesa deste património que pode ancorar uma diversidade de roteiros, mas também suscitar investigações contextualizadas em épocas ou tipologias dessas expressões de religiosidade, permitindo a sua descrição/história através de códigos disponibilizados pelas novas tecnologias; exigindo igualmente a adequada sinalética e iluminação (mesmo nos locais mais ermos isso já é viável, através de focos/luminárias com energia solar).
No concelho e no distrito da Guarda (como noutras regiões, obviamente) é urgente, fundamental, a referenciação (ou continuidade desse trabalho), a defesa, o estudo (por equipas interdisciplinares) e a divulgação das Alminhas, sob o risco de perdermos mais um importante traço identitário do nosso património e cultura.
Hélder Sequeira
Soito. Sabugal
Hoje é assinalado o Dia Mundial do Rádio.
Recorde-se que esta data foi proclamada em 2011 pelos Estados-membros da UNESCO e adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 2012, como Dia Mundial da Rádio.
A UNESCO escolheu para celebração desta data o tema “O Rádio e as Alterações Climáticas”, considerando que numa “era marcada pela velocidade vertiginosa da inovação tecnológica o rádio está a entrar no segundo século de serviço como um dos meios de comunicação mais confiáveis e amplamente utilizados no mundo.”
Como todos sabemos, por todos os continentes se têm verificado inquestionáveis cenários de alterações climáticas, com as mais diversas e trágicas consequências. Os casos mais recentes confirmam esta afirmação e apontam, claramente, para uma preocupante realidade da qual não nos podemos alhear, coletiva e individualmente.
Neste dia, a UNESCO deixa o desafio para se dar maior enfâse aos factos que evidenciam as constantes manifestações das alterações climáticas, e também para uma reflexão e enriquecimento das fontes de informação sobre a temática.
É também pertinente a anotação que a UNESCO faz a propósito da definição, para as emissoras, de um plano de emergência climática. Esse plano “deve incluir mapeamento pré-preparado de áreas de risco; listas de contato de especialistas e autoridades para vários cenários de desastres; rotinas de resposta; instruções de segurança específicas para cada desastre natural”.
Acrescenta que ele também deve prever a manutenção de equipamentos necessárias para cenários de emergência para garantir fácil acesso a kits de sobrevivência e geradores para cortes de energia prolongados.
No texto divulgado sobre o Dia Mundial da Rádio, é reconhecido o papel essencial e o poder dos jornalistas e emissoras de exporem a desinformação climática, promoverem o diálogo informado e aumentarem a conscientização ambiental; através da produção de informações precisas e confiáveis.
Assinalar este dia e debater a temática proposta é assumirmos um verdadeiro compromisso com o futuro do nosso planeta, com o nosso futuro.
O Rádio não pode ficar indiferente.
Hélder Sequeira
O Dia Mundial do Rádio vai ser assinalado a 13 de fevereiro e a proposta comemorativa é centrada, este ano, nas alterações climáticas.
A UNESCO, e num momento em que o Acordo de Paris assume uma importância primordial, sublinha que o rádio contribui para a concretização dos seus objetivos internacionais; contributo que se pode traduzir no apoio às populações – perante os reflexos das alterações climáticas – divulgando informação objetiva, dando voz às pessoas, emitindo programas específicos sobre o papel individual, das instituições e dos poderes na defesa da natureza e do planeta. Lembramos que o Acordo de Paris é um tratado internacional sobre mudanças climáticas, adotado em 2015, que estabeleceu o compromisso de serem adotadas medidas para a redução de gases com efeito estufa.
Em todos os continentes se têm verificado inquestionáveis cenários de alterações climáticas, com as mais diversas e trágicas consequências. Os casos mais recentes confirmam estas palavras e apontam para uma preocupante realidade da qual não nos podemos alhear, coletiva e individualmente.
O Dia Mundial do Rádio foi proclamado em 2011 pelos estados-membros da UNESCO e adotado pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 2012, como data de celebração deste meio de comunicação social. A UNESCO, considera que “numa era marcada pela velocidade vertiginosa da inovação tecnológica o rádio entrou no segundo século de atividade como um dos meios de comunicação mais confiáveis e amplamente utilizados no mundo.” Isto para além de o rádio ser “um meio poderoso para celebrar a humanidade em toda a sua diversidade” e constituir “uma plataforma para o discurso democrático”.
Daí a UNESCO sublinhar, a propósito da comemoração do Dia Mundial do Rádio, que “na era da inteligência artificial, juntamente com as omnipresentes redes sociais, o rádio de qualidade continua a ser universal e popular, considerada o meio mais fiável. Para além de popularizar os conceitos ambientais, ao divulgar informação verificada e independente dos poderes económicos, ideológicos e políticos, a rádio pode influenciar a perceção dos ouvintes sobre as alterações climáticas e a importância dada ao tema”.
No contexto desta comemoração, a UNESCO divulgou algumas sugestões com vista à sua implementação por parte das estações emissoras de radiodifusão; deixa, assim, o desafio para se dar maior enfâse aos factos que evidenciam as constantes manifestações das alterações climáticas e, outrossim, à análise e enriquecimento das fontes de informação sobre a temática. Este cuidado por parte dos responsáveis pelas estações, seja qual for o seu âmbito, não deve ficar apenas pela programação a emitir nesse dia, mas deve ter uma desejada sequência com a participação, em antena, de especialistas.
Por outro lado, é também suscitada a necessidade de inquirir o que pensam os profissionais do rádio sobre as alterações climática, qual é o seu grau de informação e preocupação; para além desta sugestão, e no caso de não haver recursos para a realização de estudos quantitativos e qualitativos necessários para garantir uma programação especial, a UNESCO lembra a possibilidade do envolvimento de voluntários ou estudantes para a realização de entrevistas, existindo ainda possibilidade de recolher opiniões através do sítio do rádio na internet, por correio eletrónico ou nas redes sociais. Aliás, da informação recolhida podem resultar excelentes indicadores para novos conteúdos programáticos.
Ainda nesta linha de sugestões da UNESCO, para a comemoração do Dia Mundial da Rádio, é igualmente realçado que “além de explicações e soluções para as mudanças climáticas, há um grande número de histórias de negócios, notícias e factos de interesse público que se cruzam com outros temas”, sobre os quais é importante ouvir as pessoas, questionando-as sobre o que representam para elas as mudanças climáticas.
Os diretos a partir do exterior realçam o perfil da rádio e enriquecem a sua função social; no caso de existirem condições atmosféricas adversas, não esqueçamos que se pode pedir o envio de mensagens para a rádio através do correio de voz, registos áudio que transmitam o pensamento das pessoas, o seu grau de preocupação face às alterações climáticas e eventuais relatos de experiências individuais em cenários associados a essa mudança.
No conjunto de sugestões divulgadas pela UNESCO, a propósito do Dia Mundial da Rádio há um ponto intitulado “Prepare-se para a tempestade” onde é mencionado que “inundações, incêndios florestais, ondas de calor e outros eventos semelhantes” se tornaram tão frequentes que agora “as condições de trabalho são mais exigentes para emissoras e seus profissionais (…). Ao esforçarem-se para obter relatos em primeira mão de populações afetadas e tomadores de decisão, eles também serão expostos às mesmas condições climáticas extremas que a população no curso de suas reportagens”.
De referir, a propósito de perigos, que nos últimos 15 anos, foram mortos 44 jornalistas e registados 749 ataques em 89 países. A UNESCO publicou uma nota informativa com dados e tendências sobre os ataques a jornalistas, que inclui também um novo inquérito aos jornalistas sobre as ameaças que enfrentam quando cobrem questões ambientais. Mais de 70% dos jornalistas inquiridos relataram ter sofrido ataques, ameaças ou pressões. “Uma questão a abordar é, portanto, a importância da segurança dos jornalistas que informam o público sobre as alterações climáticas, particularmente os desafios que enfrentam.”
É oportuna a anotação feita a propósito da definição, para as emissoras, de um plano de emergência climática no Dia Mundial do Rádio (2025.) Esse plano, é descrito, “deve incluir mapeamento pré-preparado de áreas de risco; listas de contato de especialistas e autoridades para vários cenários de desastres; rotinas de resposta; instruções de segurança específicas para cada desastre natural”. Acrescenta que ele também deve prever a manutenção de equipamentos necessárias para cenários de emergência, mormente geradores para cortes de energia prolongados.
Esta uma necessidade a que, em anterior apontamento sobre as estações de radiodifusão sonora, fizemos já referência; em episódios de falta de energia, se a rádio não tiver outra alternativa ao dispor, fica sem emissão e as populações sem um canal informativo onde poderão obter indicações essenciais, precisas e claras e cuja utilidade num contexto de catástrofe nunca será demais relembrar.
No texto divulgado sobre o próximo Dia Mundial do Rádio, é reconhecido o papel essencial e o poder dos jornalistas e emissoras de exporem a desinformação climática, promoverem o diálogo informado e aumentarem a conscientização ambiental; através da produção de informações precisas e confiáveis. Outra interessante sugestão, para o referido dia, é a transmissão de sons ambientais da natureza; uma audição oportuna que proporcionará um maior envolvimento dos ouvintes na celebração do dia e da temática subjacente; há uma "Biblioteca de Sons" publicada para o Dia Mundial do Rádio. Isto não inviabiliza que as emissoras possam e devam estruturar bancos de sons sobre mudanças climáticas, arquivando registos áudio adaptados aos seus programas e às realidades ambientais das zonas onde estão inseridas.
A praticamente três semanas do Dia Mundial do Rádio, deixamos algumas anotações no sentido de o tema escolhido para este ano ser devidamente assinalado, num verdadeiro comprometimento com o futuro do nosso planeta, do nosso futuro. O Rádio não pode ficar indiferente.
Hélder Sequeira
in O INTERIOR, 22 janeiro 2025
Guarda. Parque da Saúde.
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