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Conferência sobre Francisco de Pina

por Correio da Guarda, em 02.05.23

 

 

No Museu da Guarda vai decorrer na sexta-feira, 5 de maio, a Conferência “Francisco de Pina (1585-1625): O Contacto da Língua Portuguesa com Línguas e Culturas do Extremo Oriente”.

Na data em que se assinala o Dia Internacional da Língua Portuguesa, António Morgado propõe trazer elementos para a construção da biografia daquele padre português, nascido na Guarda.

Carlos Assunção e Gonçalo Fernandes ensaiarão uma reflexão sobre o alcance das transferências linguísticas e culturais da língua portuguesa para a língua vietnamita.

Esta conferência tem início às 14h30. Os interessados podem fazer a inscrição em www.museudaguarda.pt.

 

Francisco de Pina .jpg

 

Intervenções:

 

𝐀𝐧𝐭𝐨́𝐧𝐢𝐨 𝐒𝐚𝐥𝐯𝐚𝐝𝐨 𝐌𝐨𝐫𝐠𝐚𝐝𝐨,  “𝐏𝐞. 𝐅𝐫𝐚𝐧𝐜𝐢𝐬𝐜𝐨 𝐝𝐞 𝐏𝐢𝐧𝐚, 𝐒.𝐉. (𝟏𝟓𝟖𝟔–𝟏𝟔𝟐𝟓) 𝐌𝐢𝐬𝐬𝐢𝐨𝐧𝐚́𝐫𝐢𝐨 𝐞 𝐋𝐢𝐧𝐠𝐮𝐢𝐬𝐭𝐚 𝐧𝐚 𝐂𝐨𝐜𝐡𝐢𝐧𝐜𝐡𝐢𝐧𝐚 𝐝𝐞 𝐎𝐮𝐭𝐫𝐨𝐫𝐚”

O Pe. Francisco de Pina S. J. será a personalidade egitaniense que terá levado mais longe o nome da sua cidade natal, a Guarda. Esquecido ao longo de vários séculos, este sacerdote jesuíta ressurgiu recentemente na vida do Vietname como figura incontornável da história da língua e do cristianismo daquele país do Extremo-Oriente. Embora a sua ação viesse sendo referida desde as origens por mentores da história dos jesuítas, foram necessários os trabalhos de investigação do francês Roland Jacques para que a atividade de índole linguística deste jesuíta, na então Cochinchina, fosse trazida ao mundo da intelectualidade académica, quer no Vietname quer em Portugal. Guarda, Coimbra, Macau, Malaca e Hoi An (Vietname), constituem os pontos geográficos principais por onde se gastou a vida de Francisco de Pina. A estes acrescentamos o mar e a cidade de Roma, dois dos berços da amnésia portuguesa a que foi sendo condenado ao longo do tempo este genial guardense que está hoje presente na escrita vietnamita, romanizada com a luz e as virtualidades da Língua Portuguesa. A cidade da Guarda está lá e os vietnamitas bem o reconhecem e, por isso, o homenageiam.

 

𝐂𝐚𝐫𝐥𝐨𝐬 𝐀𝐬𝐬𝐮𝐧𝐜̧𝐚̃𝐨 / 𝐆𝐨𝐧𝐜̧𝐚𝐥𝐨 𝐅𝐞𝐫𝐧𝐚𝐧𝐝𝐞𝐬 (𝐔𝐓𝐀𝐃 / 𝐂𝐄𝐋). "𝐎𝐬 𝐩𝐫𝐢𝐦𝐞𝐢𝐫𝐨𝐬 𝐜𝐨𝐧𝐭𝐚𝐜𝐭𝐨𝐬 𝐝𝐨𝐬 𝐩𝐨𝐫𝐭𝐮𝐠𝐮𝐞𝐬𝐞𝐬 𝐧𝐨 𝐕𝐢𝐞𝐭𝐧𝐚𝐦𝐞 𝐧𝐨 𝐪𝐮𝐚𝐝𝐫𝐨 𝐝𝐚 𝐥𝐢́𝐧𝐠𝐮𝐚 𝐩𝐨𝐫𝐭𝐮𝐠𝐮𝐞𝐬𝐚 𝐜𝐨𝐦𝐨 𝐦𝐞𝐭𝐚𝐥𝐢́𝐧𝐠𝐮𝐚 𝐧𝐨 𝐎𝐫𝐢𝐞𝐧𝐭𝐞"

A língua portuguesa exerceu uma ação verdadeiramente civilizadora nas descrições de um conjunto alargado de línguas faladas no Oriente nos séculos pretéritos, que não encontra paralelo em nenhuma das outras línguas ocidentais. Com efeito, os descobrimentos portugueses no Oriente colocaram aos gramáticos e lexicógrafos missionários do Padroado Real Português o problema da descrição de numerosíssimas línguas de sistemas completamente diferentes do português ou do latim, a língua franca de então, como, por exemplo, o japonês, o chinês e o vietnamita.

O trabalho que se apresenta visa enunciar o papel que os missionários portugueses tiveram na descrição desses novos idiomas, num primeiro momento. Também destacaremos a geração dos missionários a quem Roland Jacques (n. 1943) chamou de jesuítas pioneiros, no território que corresponde hoje ao Vietname, e que os Portugueses denominaram Cochinchina. Os portugueses chegaram à região de Chăm Pa (região central e sul do Vietname) em meados de setembro de 1516. Os contactos iniciais não foram planeados e resultaram de uma tempestade que obrigou os barcos a mudar de rumo, mas a “descoberta” oficial da “Cochinchina” pelos portugueses ocorreu sete anos depois, em 1523 (comemora-se neste ano os 500 anos). Apesar de os portugueses nunca terem conquistado o Vietname, a sua presença lá durou mais de três séculos, com muitos relacionamentos casuais, principalmente através da evangelização dos missionários do Padroado Português. No entanto, as primeiras descrições linguísticas pertencem aos jesuítas pioneiros, onde o egitaniense Francisco de Pina, S.J. (1585 / 1586-1625), teve um papel verdadeiramente precursor e decisivo.

 

𝐆𝐨𝐧𝐜̧𝐚𝐥𝐨 𝐅𝐞𝐫𝐧𝐚𝐧𝐝𝐞𝐬 / 𝐂𝐚𝐫𝐥𝐨𝐬 𝐀𝐬𝐬𝐮𝐧𝐜̧𝐚̃𝐨 (𝐔𝐓𝐀𝐃 / 𝐂𝐄𝐋),  "𝐅𝐫𝐚𝐧𝐜𝐢𝐬𝐜𝐨 𝐝𝐞 𝐏𝐢𝐧𝐚, 𝐒.𝐉. (𝟏𝟓𝟖𝟓/𝟏𝟓𝟖𝟔–𝟏𝟔𝟐𝟓) 𝐞 𝐚 𝐋𝐮𝐬𝐢𝐭𝐚𝐧𝐢𝐳𝐚𝐜̧𝐚̃𝐨 𝐝𝐨 𝐕𝐢𝐞𝐭𝐧𝐚𝐦𝐢𝐭𝐚"

As primeiras descrições linguísticas do idioma Anamita ou Tonquinense (hoje chamado Quốc ngữ [língua nacional]) pertencem ao grupo a que Roland Jacques (n. 1943) chamou de jesuítas pioneiros, especialmente os padres portugueses Francisco de Pina (1585 / 1586-1625), Gaspar do Amaral (1594-1646) e António Barbosa (1594-1647) e o francês Alexandre de Rhodes (1593-1660). Parece ser hoje consensual entre os especialistas mundiais que foi o egitaniense Francisco de Pina o criador do sistema de romanização (ortografia baseada nos carateres latinos) do Vietnamita, através da influência do também jesuíta João Rodrigues "Tçuzu" (1562–1633), à semelhança do que este havia feito para o Japonês. Gaspar do Amaral, António Barbosa e Alexandre de Rhodes desenvolveram e melhoraram o método, mas o professor de todos eles foi Francisco de Pina. Já Lúcio Craveiro da Silva, S.J. (1914-2007), resumia o trabalho linguístico deste guardense como: “(…) verdadeiramente notável e excepcional foi o trabalho linguístico dos missionários nos reinos de Siam, Conchinchina e Anam, onde se notabilizou principalmente o Padre Francisco Pina, natural da Guarda, que criou uma escola da língua conchinchina, mais ou menos correspondente ao actual Vietnam (…)” (Silva 2000: 83).

Parece também ser hoje indesmentível a influência da ortografia da língua portuguesa na língua vietnamita, com a utilização do dígrafo português <nh> para representar o fonema /ɲ/, em detrimento do arquigrafema francês e italiano <gn>. No entanto, a influência de Pina em Rodes não foi apenas na utilização do sistema romanizado, mas também na descrição dos tons do vietnamita. Francisco de Pina, na Manuductio ad linguam Tunchinensem, refere que se deveria começar por explicar o alfabeto latino, seguindo a tradição, mas, para ele, a aprendizagem dos tons (ou “acentos”, na sua terminologia) seria muito mais importante. A sua descrição dos tons, com a colocação das notas numa pauta musical com clave de sol, é impressionante e deveras original.

 

Fonte: Museu da Guarda / CMG

 

 

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Francisco de Pina: um guardense ilustre

por Correio da Guarda, em 17.03.22

 

Na galeria de personalidades ilustres da Guarda há nomes que não têm tido a visibilidade merecida e continuam desconhecidas para muitos.

É o caso do jesuíta Francisco de Pina, “personalidade central de um notável encontro de línguas e de culturas no distante Oriente, no longínquo século XVII”, a quem o Dr. António Salvado Morgado – de quem são as palavras atrás transcritas – tem vindo a dedicar (há vários anos) particular atenção, estudando a sua vida e obra, afirmando um louvável empenho na sua divulgação.

Aliás, na última edição da revista “Praça Velha” (nº 41) António Salvado Morgado publicou um oportuno e elucidativo artigo intitulado “Francisco de Pina, revisitado”.

Francisco de Pina - missionário .png

Através de um excelente texto, documentalmente bem suportado, apresenta-nos este missionário guardense. Como sublinha, este “jesuíta, português, missionário e linguista” contribuiu para que a Guarda esteja perenemente ligada à história do atual Vietname, que adotou o alfabeto latino.

Um facto que fica a dever-se, especialmente, ao labor de Francisco de Pina, o qual aprendeu  no século XVII a língua local (o anamita) estudando-a pormenorizadamente e, consequentemente, avançando com a sua romanização.

Convém notar que os padres a quem era incumbida a missão evangelizadora tiveram, desde logo, a perceção de que esse trabalho, para ser eficaz, teria de passar pela utilização das línguas nativas, evoluindo para a elaboração de gramáticas e dicionários.

António Salvado Morgado, na publicação atrás mencionada, refere que graças ao missionário português e “a outros que continuaram o caminho que ele traçou, o presente do passado não é só memória. Com ele o presente do passado é realidade viva nas letras e signos linguísticos com que se exprime um povo de milhões de pessoas, o Quôc ngû, a língua nacional do Vietname. E isso é presente”.

Francisco de Pina terá nascido entre março e setembro de 1586, falecendo em 15 de dezembro de 1625, com 40 anos, e quando muito havia a esperar do seu saber e trabalho. “Esquecido pela História, ele tem andado desaparecido por detrás da obra iniciada por ele há mais de quatro séculos e que culminou há mais de um século na língua oficial do Vietname (…)”, escreveu António Salvado Morgado.

O Japão terá sido o destino inicial de Francisco de Pina, mas as perseguições que eram movidas aos cristãos alteraram os seus planos e fixou-se na Cochinchina, em 1617, depois de ter estado alguns anos em Macau.

De referir que este jesuíta esteve em destaque no seminário “Testemunhos de Amizade entre Portugal e o Vietname desde o Século XVII”, realizado em Lisboa há cinco anos, numa organizado da Sociedade Portuguesa de Geografia e pela NamPor – Associação de Amizade Portugal-Vietname.

Assim, a Guarda deverá honrar a memória deste seu filho ilustre, apoiando os estudos e iniciativas que viabilizem um melhor conhecimento da sua dimensão como português, religioso e linguista; proporcionando o “reencontro do mestre de língua com a História. História do Vietname e de Portugal e da Guarda”, como defende António Morgado, ao concluir o seu artigo na última edição da “Praça Velha”.

 

Hélder Sequeira 

 

in "O Interior", 16|Mar|2022

 

 

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