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Fermando Pinto Ribeiro: um poeta da Guarda

por Correio da Guarda, em 21.02.09

 

Em Lisboa faleceu ontem o poeta guardense Fernando Pinto Ribeiro, nascido em 1928.
“Fernando Pinto Ribeiro era um homem de profundo saber, de grande afectividade e que prezava muito a amizade. Procurava encontrar a perfeição, tentando que cada poema tivesse uma quadratura musicável, com rima e métrica. Foi assim que os seus poemas passaram a ser musicados e cantados”, como escreveu Inês Ramos no blog “Porosidade Éterea” (http://porosidade-eterea.blogspot.com/). (…) Um poeta a quem não foi feita justiça. Um poeta que, pela sua humildade, nunca procurou a ribalta e por isso não lhe chegou a ser reconhecido o seu grande valor. Um poeta perfeccionista que fazia poesia com amor”, acrescentou no apontamento a propósito da morte de Fernando Pinto Ribeiro.
Entretanto, e com a devida vénia, transcrevemos aqui o texto de Paulo Leitão Baptista escrito no “Capeia Arraiana”, no passado ano, a 27 de Março (http://capeiaarraiana.wordpress.com):
 
«Nasci numa madrugada fria de Janeiro, numa casa remediada, no seio de uma família oriunda da burguesia rural», declarou-nos no seu ar compenetrado, procurando explanar alguns pormenores da sua história de vida.
Privou com o escritor quadrazenho Nuno de Montemor, que era amigo da família. «A minha tia materna, Maria do Carmo Alves da Silva, era a secretária do Senhor Capelão, como chamávamos a Nuno de Montemor. Foi até na casa dessa minha tia, em Lisboa, que Nuno de Montemor faleceu». Guarda do escritor gratas recordações e nutre por ele uma grande admiração: «Pelo seu talento, pela sua estrutura moral e pelo seu carácter. Tinha o poder nos olhos. Era um olhar dominador, a que ninguém ficava indiferente. Mas era também um grande conversador. Gostava da minha companhia e chamava-me para ouvirmos música clássica».
Alzira Veloso Álvares de Almeida, irmã de Nuno de Montemor, foi professora de Fernando Pinto Ribeiro e isso também foi decisivo para a ligação que teve com o autor de «Maria Mim».
«Nasci para a poesia em parte devido à admiração pelos textos de Nuno de Montemor», revela-nos. Mas acrescenta que houve outros factos que foram decisivos. «Da janela do meu quarto ouvia as ceifadeiras a cantar logo de madrugada, quando, no início do Verão, chegavam à cidade em ranchos, a fim de encontrarem quem as contratasse para as ceifas. Encantava-me com as suas canções ritmadas. Aquilo era para mim um deslumbramento. Esperava de ano para ano pelo ritual e quando via os ranchos a dançar e a cantar envolvia-me com eles, apreciando o espectáculo».
As exibições dos ranchos contribuíram para o gosto que Fernando Pinto Ribeiro teria pelas quadras e pela poesia. «Comecei até a cantar e a receber elogios de quem me ouvia. Desejei mesmo ser cantor popular. Desatei a escrever quadras, mas muito mal feitas, o que me levava a escondê-las no sobrado. Dali passei a ver na poesia uma necessidade, que passou a acompanhar-me pela vida fora».
Quis encontrar a perfeição, procurando que cada poema tivesse uma quadratura musicável, com rima e métrica. Foi assim que os seus poemas passaram a ser musicados e cantados.
De um só fôlego revela alguns dos que lhe musicaram poemas: Arlindo Carvalho, António Melo, Jorge Fontes, Valdemar Silva, Helena Moreira Viana, Jaime Santos, Mariel de Sousa, Pedro Jordão, Branco de Oliveira. E refere também os que cantaram as suas poesias, onde avultam muitos fadistas: Tristão da Silva, António Mourão, Beatriz da Conceição, Tonicha, Simone de Oliveira, António Passão, Julieta Reis, Salete Tavares, Pedro Moutinho, Raquel Tavares, Vanessa Alves, António Severino, Anita Guerreiro, Artur Garcia, Arlindo Carvalho, Branco de Oliveira, Lenita Gentil, Gina Esteves, Natércia Maria, Humberto de Castro, Pedro Jordão, Toni de Almeida, Vítor Duarte (Marceneiro III). «Tenho de procurar dizê-los todos, para evitar melindres», confessa.
Radicado desde jovem em Lisboa, Fernando Pinto Ribeiro fez carreira nos jornais, trabalhando como revisor de textos e colaborando com alguns poemas em suplementos literários. Durante anos esteve ligado ao Diário de Notícias e também ao Diário Ilustrado, onde foi chefe do serviço de revisão. Foi ainda director da prestigiada revista cultural Contravento, com concepção gráfica de Artur Bual, e onde colaboraram nomes sonantes da nossa cultura. Foi também durante anos coordenador das chamadas «pastinhas de poesia» da Queima das Fitas de Coimbra.
«Nunca viajei na vida, sou muito sedentário», confessa. Mas no ano de 1996 encontrou forças para ir até ao Sabugal, por ocasião das comemorações dos 700 anos do foral dionisino. Coordenou a exposição bibliográfica integrada nas comemorações.
«Foi a única vez que estive no Sabugal, onde fui muito bem acolhido e onde tive a oportunidade de observar o acervo de documentos da Biblioteca Municipal, que era riquíssima em colecções de manuscritos de autores da região».
Aos 80 anos de idade, Fernando Pinto Ribeiro nunca publicou um livro de raiz, escrevendo os seus poemas em colectâneas de poesia, revistas culturais e jornais. «Confesso que nunca publiquei porque nunca vi nisso uma necessidade ou mesmo qualquer interesse», declara-nos. «A poesia é para mim um acto natural, pelo que sou imediatamente compensado pelo simples acto de escrever poemas e de os rever continuamente. Vejo aliás na revisão permanente dos meus poemas uma espécie de volúpia, uma busca incessante pela perfeição, mas ciente de que nunca a atingirei».
In “Capeia Arraiana
 
 

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