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António Gomes: artesão de afetos

por Correio da Guarda, em 24.11.24

 

António Manuel Gomes é um conceituado médico psiquiatra e igualmente um exímio artífice de palavras que florescem em textos de inegável recorte literário. Este clínico guardense – homem culto, observador atento, dialogante – nunca se negou a desafios ao nível da intervenção cívica e cultural, numa manifesta expressão de exemplar cidadania. Avesso a holofotes, nem sempre a sua atividade teve a justa e merecida visibilidade. “O reconhecimento, não o nego, afaga a alma e dá consistência à identidade” diz nesta entrevista ao CORREIO DA GUARDA quando questionado sobre a distinção que vai receber no dia da Cidade da Guarda, na próxima quarta-feira, a 27 de novembro. Homenagem que faz questão em distribuir com “os outros que são parte de mim”. Ao CG afirma que a escolha da Medicina não foi resultado de um “chamamento ou vocação”, mas cedo compreendeu que “não me tinha enganado no destino”. Considerando que “os êxitos, fracassos e problemas, são inerentes à vida de um médico”, António Manuel Gomes classifica, “em termos sincréticos” como “muito positivo um longo período do SNS em que as turbulências eram claramente menores e a relação interpessoal tinha outra densidade humana.”

Nascido nas Vendas da Vela, em outubro de 1954, António Manuel Gomes estudou na Covilhã e em Coimbra, trabalhou no Hospital Psiquiátrico do Lorvão, dirigiu o Departamento de Psiquiatria do Hospital Sousa Martins, integrou os corpos sociais da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários Egitanienses, foi fundador do grupo de Teatro à Vela e do grupo coral Recanto do Canto, tendo encenado três peças de teatro e sido o autor de contos e textos publicados em jornais e revistas.

 

António Manuel Gomes

Estudou a partir dos 7 anos na Covilhã. Qual a razão que o levou a ir para essa cidade?

Os meus pais sempre residiram na Covilhã. Foi por acaso e urgência que nasci nas vendas da vela, em casa dos meus avós maternos, onde a minha mãe se encontrava naquele dia, com 24 anos, e aconchegada no ninho original.

Fiz a quarta classe numa obra da fundação Melo e Castro, designada Associação Protectora da Infância Desvalida. Este longo e expressivo nome, resultava do facto de a escola dar resposta aos filhos das operárias e operários dos lanifícios; ao tempo já tinha cantina para as crianças.

Devo às preocupações do meu pai com o meu ingresso na escola primária, a descoberta de um tal professor Manuel Poeta. Conseguiu que eu entrasse naquela instituição onde, de resto, pelas mesmas razões de excelência do docente, também tive alguns filhos de industriais como colegas. Foi determinante no meu futuro escolar. Quando concluí a quarta classe foi-me atribuído o prémio de melhor aluno pela fundação Melo e Castro.

Foi ainda na Covilhã que concluí o sétimo ano do liceu, sendo na altura o único aluno que dispensou do exame de admissão ao ensino superior em todas as disciplinas.

 

Como via, nessa altura, a cidade da Guarda? Que contraponto fazia com a Covilhã?

As minhas deslocações à Guarda eram esporádicas. A viagem na camioneta do Tonico começava na Covilhã e acabava nas Vendas da Vela. Ainda assim recordo a Guarda como uma cidade aconchegada, de humanidade sadia, como uma extensão rural e telúrica que o meu avô me tinha ensinado.

A Covilhã, era um uivo de sirenes quase permanente. O corrupio dos operários e operárias, ora saindo, ora entrando, nas dezenas de fábricas de lanifícios, dava às ruas e às travessas um alarido enérgico e contagiante que me enchia a estreita paisagem da janela de casa.

 

O que representou a sua ida para Coimbra e como foi a adaptação à vida académica da cidade? A vivência na residência do Colégio de São Teotónio é um período com boas recordações?

As lágrimas de despedida de casa secaram depressa. Não ia só. Éramos vários colegas de liceu, dispersos por vários cursos, e já tínhamos laços consistentes. A residência universitária do colégio de São Teotónio deu-nos um conforto e um acréscimo de novas relações; as maluqueiras coletivas e as discussões no refeitório são ainda hoje retalhos da minha memória distante que muito prezo.

A Universidade de Coimbra, em 1972, mantinha o luto académico que já vinha dos 4 anos anteriores. Não havia praxe nem queima das fitas; as capas e batinas concentravam-se num número muito exíguo de estudantes e as conotações conservadoras eram vorazes.

António Manuel Gomes_médico _3

O ambiente académico era propício ao incremento de atividades culturais? Como viveu Coimbra em termos culturais?

Viver Coimbra antes, durante e depois do 25 de abril, foi um privilégio que tocou a poucos, mas calhou-me a mim.

O antes já era uma surdina de palavras proibidas e irreversíveis cujo contágio era imparável. Um dia, ao sair da minha primeira aula teórica de química médica, juntamente com mais três colegas, saiu do Nívea (Volkswagen da polícia) um agente que veio junto de nós e nos mandou dispersar. Éramos quatro e íamos almoçar à cantina. Era a própria polícia que, paradoxalmente, nos tirava a ingenuidade e incentivava à resistência.

O durante foi uma flutuação frenética entre a incredulidade e a esperança; mas o primeiro 1º de Maio tornou-se o grande clamor da irreversibilidade.

O depois, na academia, traduzia o país. As paixões despontavam numa fragmentação política de marcado pendor à esquerda. As derivas tornavam-se evidentes e as discussões descomprimidas e abertas inundavam as mesas dos cafés e as reuniões gerais de estudantes. No cinema, no teatro e nas palavras escritas, surgia um mundo novo até então desconhecido pela maioria de nós.

 

Quais as leituras e as músicas que ouvia mais nessa época? Os seus gostos alteraram-se?

As músicas eram partilhadas por todos e as descobertas eram permanentes. Woodstock operou uma viragem nos gostos e na liberdade. Os cantores de intervenção, portugueses e estrangeiros, eram obrigatórios nas noitadas de alegria e copos. Lembro-me de um opúsculo clandestino com letras do Manuel Alegre musicadas que era obrigatório em todos os encontros.

Ainda a propósito do poeta, sintonizávamos a rádio Argel, antes da revolução, e lá estava a sua voz inconfundível. Os meus gestos caminharam com o tempo e a idade, e ainda hoje são feitos de muitas partilhas e descobertas. Não fiquei ancorado nos deslumbramentos de juventude, mas ainda hoje são referências que partilho com os meus netos, e eles também gostam.

 

O que recorda de mais positivo e de mais negativo na sua passagem pela Universidade de Coimbra?

Vivi em Coimbra dos 17 aos 34 anos. Ao tempo, a academia era um amplo espaço de convívios e estímulo. A Praça da República era o grande pátio da universidade. Por ali deambulavam as figuras de referência das várias faculdades. Este borbulhar era fascinante, e todas as conversas nos guindavam para novos planos de descoberta e liberdade. Mesmo na discórdia, estava instalada uma alegria inaugural que contagiava a comunicação.

De negativo, talvez recorde momentos de tensão estudantil desencadeados por processos de manipulação e radicalismo, levados a cabo por correntes ideológicas múltiplas onde o padrão de alienação se instalava de modo acrítico e obstinado.

 

Formou-se em Medicina e especializou-se em Psiquiatria? Porquê esta opção?

Fui para a medicina por uma espécie de acordo de grupo entre alguns colegas de liceu. Não me lembro de sentir um chamamento ou vocação; mas cedo percebi que não me tinha enganado no destino.

A psiquiatria aconteceu pela influência específica e incentivo do doutor Manuel Lousã Henriques. Era uma referência de Coimbra em termos psiquiátricos, culturais e humanistas. Tive a sorte de o ter como assistente de psiquiatria quando fazia a cadeira, e quando acabava a aula ninguém tinha dado pelo passar do tempo. Aconselhou-me o Lorvão.

 

A partir da especialização como foi o seu percurso profissional? Que êxitos e que problemas registou, sucintamente, ao longo do período em que exerceu a sua atividade, no SNS? E que importância teve a sua passagem pelo Hospital do Lorvão?

A especialização decorreu no hospital psiquiátrico do Lorvão, onde 3 jovens psiquiatras residentes tiveram, pela abrangência, pelo entusiasmo, pelo arejamento e pela inovação, uma influência determinante na minha formação.

Os êxitos, fracassos e problemas, são inerentes à vida de um médico. Mas, em termos sincréticos, sinto como muito positivo um longo período do SNS em que as turbulências eram claramente menores e a relação interpessoal tinha outra densidade humana.

O facto de ter pertencido às gerações que prestaram o serviço médico à periferia, enraizou para sempre uma crença no recém-implantado SNS. Mas o curso dessa crença tem vindo a desagregar-se. As razões não cabem aqui nem são lineares; mas, o resultado final insatisfaz os doentes e desanima os profissionais de saúde. Não sei quando nem como nos vamos reencontrar.

 

O Hospital da Guarda diferenciou-se na área da Psiquiatria? As instalações condicionaram/condicionam a atividade médica?

Quando há 37 anos fui convidado, com o Paulo e o Antídes, para abrir um serviço de psiquiatria na guarda, a decisão não foi demorada. Inicialmente na Praça velha, como centro de saúde mental, sem serviços de internamento próprio, desenvolvíamos consultas em articulação com os 14 centros de saúde do distrito e os casos urgentes eram encaminhados para o internamento do Lorvão.

Quando passámos a ocupar as atuais instalações do departamento de psiquiatria, integrados no hospital Sousa Martins, sempre sentimos a casa e a causa como nossas. Fomos muitos e sucessivos a arregaçar as mangas. Talvez por isso nunca nos sentimos condicionados nem num espaço exíguo.

A psiquiatria tornara-se centrífuga e ainda continuamos a visitar no seu domicílio mais de 300 doentes por mês, em todo o distrito.

 

Que projetos não viu concretizados, em termos hospitalares?

Volvidos 37 anos, com novas realidades e ambições, lamento, sem hesitação, que não se tenha construído um novo departamento.

 

Como vê, atualmente, a saúde mental em Portugal? Há falta de recursos humanos e de unidades de tratamento e acompanhamento?

Penso, como em tudo, que já estivemos pior. Ainda assim há muitas assimetrias e a resposta não é linear.

A maior densidade populacional; novas patologias sociais de desenraizamento e deslaçamento afetivo; défice crescente de comunicação corpo a corpo; imputação de responsabilidades e deveres aos outros; eu sei lá… Mais do que problemas de saúde mental, há um caldo doentio que nos circunda e inquieta. Às vezes não são os percursos é o modo como se recorre aos recursos.

 

Acha que a recente pandemia agravou os problemas no contexto da saúde mental? Aumentou a conflitualidade social?

Nos idosos a pandemia teve um efeito devastador. Para além da morte, e sobretudo nos doentes institucionalizados, o embate nas funções cognitivas e motoras foi imenso e irreversível.

Nos restantes grupos etários, com a plasticidade inerente a cada idade, houve um claro acréscimo das doenças ansiosas e depressivas com fenómenos de antecipação e medo. As fobias obsessivas em menor expressão, assim como as patologias paranóides.

Quanto à conflitualidade social, sinto-a hoje teimosamente residente e sem carecer de pandemias para se alimentar.

 

Como aconteceu a sua ligação aos Bombeiros da Guarda? Que balanço faz desse período?

Foi o Pedro Lopes e o Álvaro Guerreiro que me convidaram para integrar uma direção. Depois fiquei mais de vinte anos. É uma casa que ficou a fazer parte de mim como de muitos outros que por lá passaram.

Os bombeiros são simultaneamente homens e mulheres com um imenso espírito de solidariedade e entrega, como “vidrinhos” de uma sensibilidade ressentida. É como se uma cristalização da adolescência lhes ficasse agarrada à pele. É essa mistura mágica que faz aquela casa e o sentido a que se propõe.

 

Acha que o voluntariado está em crise?

Esta pergunta acrescenta novas nuances à resposta anterior. A crescente e necessária profissionalização dos bombeiros para que se ajustem à sempre velha e nova realidade do fogo, conduziu ao decréscimo do voluntariado tradicional.

Ainda assim continuo a acreditar nesta determinação estruturalmente humana. Enquanto houver uma criança de olhos desorbitados deslumbrada com a enormidade elegante dum carro de bombeiros, o voluntariado terá sempre um fogo interior que o move. E todas as formas de voluntariado carecem desse fogo interior que anule o individualismo e o alheamento.

 

Está profundamente ligado à criação do grupo de “Teatro à Vela” e do grupo coral “Recanto do Canto”. O que representaram para si, e para a Vela, estes dois grupos e qual a projeção que tiveram?

O que representaram para Vela, talvez não me caiba a mim a avaliação. É preciso que o tempo aglutine a distância e as memórias. O que representou para mim é um desassossego enorme de vivências e emoções. Vou aglutinar-me: tinha regressado de Coimbra com a família; a Vela ainda lambia as feridas de cisões políticas estéreis; o Álvaro era mordomo e desafiou me a escrever uma peça; lembrei-me da adolescência na quinta dos meus avós; do Padre Amarelo me vir buscar para entrar no teatro; fui à procura dos “velhos” que eu tinha visto em palco quando garoto; todos me disseram que sim; esbocei o projeto e li-o em grupo; no final vi algumas lágrimas, talvez estivesse certo; depois foi meter no palco avós, filhos e netos; a Taverna comportava a vida; transformou-se numa peregrinação de alegria que nos ultrapassou (e a mim, sobretudo).

O Recanto do Canto veio mais tarde como um complemento de disciplina e organização. O Mário Barreiros e a sua tranquilidade gentil levaram-nos a quatro vozes numa polifonia que mais tarde emudeceu, mas ainda a oiço na memória.

 

Escreveu e encenou três peças de teatro. O que significa para si o teatro e como vê hoje, à distância de alguns anos, estas peças e o sucesso que alcançaram?

Sim. A Taverna (en)cantada; o Sagrado e o profano e a Cesta de fantoches. A Taverna durou mais de doze anos e somou cinquenta e quatro representações em vários pontos do país. Éramos saltimbancos de alegria. Ver avós, filhos e netos, no mesmo palco, era uma gratificação extraordinária. Três dos que então chamávamos bando de estorninhos, começaram com seis anos e são hoje atores profissionais. Disse muitas vezes que era melhor plantar um alfobre do que comprar couves.

O teatro é ver num palco uma amostra da vida ou a própria vida; com a luz e a sombra; o delírio e a crueza; o amor e a indiferença; a esperança e a solidão; nós e os outros ou, sobretudo, o que os outros têm de nosso e nós temos dos outros. O teatro é sobretudo esta escola de estética com poesia por dentro do corpo.

Sinto hoje que, quando escrevi a Taverna, era um artesão ingénuo dos afetos e ainda hoje, por entre as penumbras do tempo, não me sinto muito diferente de mim.

 

E como vê, hoje, a cultura na Guarda e no interior do país?

Se me reportar há trinta e sete anos, quando vim de Coimbra, a decadência é notória ainda que com algumas flutuações. Então esta cidade fervilhava e nunca me senti órfão de Coimbra.

Assisti na Guarda a múltiplas manifestações culturais na sua mais diversa expressão. Esta dinâmica tinha o dedo e a obstinação do Américo Rodrigues. Há razões também de natureza demográfica e de modificação de hábitos.

As redes sociais não nos grudavam aos pequenos ecrãs como uma crescente clausura de alienados. Ao tempo, a desoras, com um grupo de amigos, para beber um fino no Zé da Praça ou no Caçador, era preciso ter a sorte de um lugar.

António Manuel  Gomes_médico_ 2_

Ainda “permanece amante das palavras vadias”, como referia numa sua nota biográfica?

Permaneço, ainda que com menor densidade de momentos que há umas décadas atrás. Talvez me tornasse mais seletivo e conciso.

Normalmente escrevo por impulso e obedeço a chamamentos interiores ligados às coisas da vida (ou à vida das coisas). Isolo-me numa casa antiga, com a lareira por dentro da salamandra de inverno e com uma grande amplitude de músicas de referência a flutuar no espaço.

Depois é começar a ligar a filigrana das palavras com a delicadeza que elas merecem: são por natureza muito solidárias e atraem-se com a mesma multiplicidade de sentimentos que os humanos. Às vezes fazem-me chorar e isso significa que se agarraram a mim pela ponta dos dedos

 

Possui uma diversidade de contos e textos publicados em jornais e revistas. Para quando uma obra que reúna essa produção?  E para quando um livro novo?

Nunca esteve nos meus horizontes a publicação. Mesmo quando saiu o “Litoral” foi um desafio teimoso do João Luís Neca, do Bando de Palmela.

Julgo ter sido o Vergílio Ferreira que um dia escreveu que mesmo aqueles que escrevem para a gaveta, estão sempre à espera que um dia lh’a abram. Eu escrevi muito para a gaveta e era a minha mulher que a arrumava e organizava. Mais tarde o meu filho disciplinou-me no computador, mas continua a ser a minha gaveta informática.

Sem falsa modéstia, é o momento em que escrevo - à mão - que me seduz e alimenta; depois, muito raramente revisito o que escrevi; tenho medo do desconsolo. Nos últimos tempos, por “encomenda” de um estorninho da Taverna, o Pedro Sousa do Acert de Tondela e dos Gambuzinos e Peobardos, tenho escrito textos para teatro, e não me desagrada a publicação oral.

 

Escrevia no seu livro “Litoral”: “quando regressei às origens nada de mim morreu. Vendo bem, aconteci de outra maneira”. A ligação ao seu Avó contribui para esse regresso? Que memórias guarda desses primeiros anos da sua infância?

E continuo a acontecer de outra maneira porque a vida nos chama de muitas encruzilhadas e distâncias. O regresso de Coimbra foi o fecho do triângulo. Nasci na quinta. Na Covilhã era uma criança urbana; pedia autorização para ir brincar para o Jardim com os amigos; Eu e o João éramos os acólitos da missa da tarde na igreja de São Francisco; o padre Lemos (que depois deixou de o ser) emprestou-nos, aos dois, com conhecimento dos pais, um livro sobre educação sexual para crianças; era o tempo do Vaticano II; mais tarde, pelas dezassete horas, já eu e o João tínhamos extorquido, às respetivas mães, vinte cinco tostões cada um, para jogar snooker no Ginásio Clube.

No fim de semana e nas férias lá vínhamos na camioneta do Tonico para a quinta. O meu avô era um pedagogo nato. Dotado de uma subtileza invulgar tinha o humor clarividente de Monsieur de la Palisse que denunciava a essência por detrás do óbvio. Com ele, desde muito pequeno, aprendi todos os trabalhos e ciclos rurais. Muito pequeno, saltei um dia para um cesto de uvas de mesa e comecei a pisá-las, imitando os homens no balceiro; indiferente ao meu orgulho, o meu avô passou por mim e disse à minha mãe: ó Clementina vai lá ver o Tó! E mais aqui não cabe do Homem que me ensinou a dimensão das pequenas coisas que ainda hoje preenchem a essência mais nobre do meu pensamento.

 

O que continua a representar para si a Vela, globalmente entendida?

A Vela era o meu lado rural e telúrico. Quando mais tarde, já na faculdade, me afundei nos livros do Torga (com quem um dia falei), tinha encontrado por inteiro o lado granítico da existência.

Os sítios do silêncio nos lilases do crepúsculo. E ainda hoje, quando olho para a Serra do Seixo, vejo o dedo gordo e indicador do meu avô a ensinar-me onde o Sol se punha no pino do verão; depois começava a pôr-se cada vez mais abaixo – dizia. Eu viria a aprender o que era um solstício; o meu avô não precisava disso para nada.

A Vela continua a ser isto: um mosaico imenso de memórias à solta e, claro os amigos com quem continuo a entusiasmar-me na liberdade livre de uma boa conversa.

 

O que pensa desta homenagem que lhe faz o Município da Guarda?

Ouvi um dia a Jairzinho, jogador de excelência da seleção canarinha campeã do mundo, que falar sobre nós é indigesto. O reconhecimento, não o nego, afaga a alma e dá consistência à identidade. Mas foi com muitos outros, no trilho profissional; nas aventuras culturais; na partilha mais abrangente da vida; foi com os outros que são parte de mim, que esta homenagem é parte deles.

 

H.S. /Correio da Guarda

 

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publicado às 12:00

Exposição sobre Ladislau Patrício

por Correio da Guarda, em 28.01.20

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Na Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço, Guarda, está patente a partir de hoje, e até 27 de março, a exposição "Ladislau Patrício entre a Saúde e a Escrita".

Esta exposição está integrada no Projeto “A Terra da Escrita”, apresentando a vida e obra de Ladislau Patrício, médico e escritor.

 

Ladislau Patrício, nascido na Guarda a 7 de dezembro de 1883, foi um médico distinto, apreciado escritor, um acérrimo defensor da sua terra, das qualidades das suas gentes, das riquezas históricas e culturais desta cidade.

Após ter concluído os seus estudos na sua terra natal rumou a Coimbra, onde conviveu “fraternalmente com alunos das diversas Faculdades, alguns dos quais se distinguiram mais tarde, pela vida fora, no campo das ciências, das artes, das letras e da política”, nomeadamente António Sardinha, Alfredo Pimenta, Hipólito Raposo, Alfredo Monsaraz, Cândido Guerreiro, Ramada Curto, João de Barros, entre outros.

Antes de terminar os estudos conducentes à obtenção da licenciatura em Medicina (o que ocorreu em 30 de setembro de 1908) Ladislau Patrício já prestava cuidados médicos, como ele próprio revelou, tendo “praticado no Sanatório” em 1907, aquando da entrada em funcionamento desta conhecida unidade de tratamento da tuberculose.

Em 1909 foi opositor a um concurso para exercer as funções de médico municipal em Loulé, cargo para o qual foi nomeado em 2 de setembro desse ano.

Com a implantação da República, este clínico teve uma fugaz passagem pela vida política; em 1910 aparece como Vice-Presidente da Comissão Executiva do Centro Republicano da Guarda, presidida por seu cunhado, o poeta Augusto Gil. Em 1911 esteve à frente dos destinos do município guardense; foi breve a sua permanência como autarca.

Augusto Gil, juntamente com o matemático Mira Fernandes (também cunhado de Ladislau Patrício), tentou convencer o médico guardense a fixar-se em Lisboa, para aí desenvolver a sua atividade profissional; contudo nunca o conseguiu demover da ideia de permanecer na localidade que o viu nascer. “Eu tenho três terras no meu coração: a Guarda, minha amada terra natal, Coimbra onde me formei e a distante Parada, berço da minha mulher”, escreveu, mais tarde, num dos seus trabalhos.

O registo biográfico de Ladislau Patrício passa ainda pelo Liceu Nacional da Guarda, onde lecionou a partir de 1911, à semelhança de outras destacadas figuras dessa época.

Entre 1917 e 1919 dirigiu o Sanatório Militar de S. Fiel, em Louriçal do Campo (Castelo Branco), atividade da qual deixou interessantes indicações num relatório que publicou, em 1920, sob o título “A Assistência em Portugal aos feridos da guerra por tuberculose”.

Em 1922, a convite do médico Amândio Paul, passou a trabalhar (como subdiretor) no Sanatório Sousa Martins, dirigido nessa época por aquele clínico, a quem viria a suceder, em 1932; nessas funções permaneceu até 7 de Dezembro de 1953; recordemos que os sanatórios constituíram, aliás como aconteceu com os Dispensários, um dos elementos essenciais da luta contra a tuberculose

Na vida de Ladislau Patrício sobressai, de facto, um “autêntico sacerdócio pela Guarda e pelos doentes do Sanatório”, onde, como é sabido, se encontravam doentes de todas as condições sociais e económicas.

O seu labor clínico estendeu-se ao Hospital Francisco dos Prazeres, tendo presidindo à Liga de Amigos daquela unidade de saúde; trabalhou ainda na Delegação de Saúde da Guarda e no Lactário desta cidade, após a morte do Dr. António Proença

No ano de 1939, Ladislau Patrício foi eleito vogal da Ordem dos Médicos, estrutura profissional que teve como primeiro bastonário o Prof. Elísio de Moura, docente na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. Na sequência de uma proposta do médico guardense foi criada, no âmbito da Ordem, a especialidade de Tisiologia, “com o acordo unânime dos membros do Conselho Geral”.

No Sanatório Sousa Martins sabemo-lo empenhado em apoiar, em finais da década de quarenta, a radiodifusão sonora no seio daquela unidade de tratamento da tuberculose.

O primeiro regulamento da Rádio Altitude (outubro de 1947) tem a chancela de Ladislau Patrício, que por diversas vezes utilizou os microfones desta rádio para contactar os seus concidadãos; na passagem do 750º aniversário da cidade, assinalou a efeméride naquela emissora, através de uma intervenção onde exaltava a Guarda, como terra da saúde e de progresso…

Um dos sonhos de Ladislau Patrício concretizou-se em 31 de Maio de 1953, através da inauguração do Pavilhão Novo do Sanatório Sousa Martins, um “edifício gigantesco com 250 metros de comprido e com 350 leitos destinados exclusivamente a doentes pobres”; meses depois completou 70 anos, “atingindo assim o limite de idade oficial como delegado de Saúde e diretor do Sanatório, onde prestou serviço durante 31 anos, 12 como médico assistente e 19 como diretor.

Em finais de fevereiro de 1955 Ladislau Patrício foi viver para Lisboa, onde foi escolhido para Presidente do Conselho Regional da Casa das Beiras, função que viria mais tarde abandonar, a seu pedido; faleceu na noite de Natal de 1967.

Ladislau Patrício é um dos nomes consagrados na galeria de médicos-escritores, tendo manifestado bem cedo a sua faceta de homem de cultura. No Sanatório Sousa Martins apoiou projetos com indiscutível alcance cultural e social; veja-se o caso do jornal “Bola de Neve” e da Rádio Altitude, que estiveram dependentes, inicialmente, da Caixa Recreativa daquela unidade hospitalar.

O “Bacilo de Kock e o Homem” é uma das suas obras, de cariz científico mais divulgadas, a qual se integra na Biblioteca Cosmos, dirigida por Bento de Jesus Caraça; não deixa de ser elucidativa a presença de Ladislau Patrício nesta colecção.

“Altitude: o espírito na Medicina” é um dos mais significativos trabalhos de Ladislau Patrício, reunindo impressões, “vivas reacções dum temperamento perante determinada série de factos”, onde o autor deixa vincado que o médico, para além das suas funções técnicas, “tem uma missão espiritual a cumprir. A sua atitude na vida, e sobretudo no tratamento dos doentes, deverá ser a do sábio que procura a verdade e a do artista que cultiva a ilusão”.

“A Doente do Quarto 23” foi outra das obras que alcançou grande notoriedade; esta peça chegou a ser representada em Goa. Ladislau Patrício escreveu ainda “Teatro Sem Actores” “Casa Maldita” e “O Mundo das Pequenas Coisas”.

O médico Ladislau Patrício dá o seu nome, desde 1893, a uma das artérias da zona urbana da Quinta do Pinheiro, na Guarda. A Câmara Municipal da Guarda deliberou a designação de uma das ruas desta zona da cidade em reunião do executivo realizada a 22 de fevereiro de 1983; o ato de atribuição do nome ocorreu a 15 de maio de 1983.

O nome deste clínico guardense está igualmente presente na toponímia lisboeta, atribuição feita em 27 de maio de 1987, por decisão do executivo da Câmara Municipal de Lisboa.

Honrar a memória de Ladislau Patrício é um inquestionável acto de justiça, pelo seu exemplo, pela sua dedicação aos doentes, pela postura intransigente na defesa da Guarda. (Hélder Sequeira)

 

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publicado às 22:31

Jornadas de Educação

por Correio da Guarda, em 19.07.18

 

     A Escola Superior de Educação, Comunicação e Desporto do Instituto Politécnico da Guarda vai promover, nos dias 6 e 7 de novembro de 2018, as III Jornadas de Educação intituladas: "Desafios, Práticas e Reflexões".

    Estas jornadas têm como objetivo fundamental criar um espaço de partilha de conhecimento em torno de temáticas relacionadas com a educação sexual ao longo da vida, a iniciação da leitura e da escrita, o Referencial de Educação para o desenvolvimento na formação inicial de educadores/professores e os maus tratos em crianças e jovens.

   Os participantes terão a oportunidade de assistir a conferências, painéis, que envolverão oradores de reconhecido mérito. O programa das jornadas é aberto à apresentação de comunicações livres e posters.

   Os interessados podem obter mais informações aqui

 

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publicado às 00:01

Jornadas de Educação na Guarda

por Correio da Guarda, em 18.06.18

 

     A Escola Superior de Educação, Comunicação e Desporto do Instituto Politécnico da Guarda vai promover, nos dias 6 e 7 de novembro de 2018, as III Jornadas de Educação intituladas: "Desafios, Práticas e Reflexões".

     Estas jornadas têm como objetivo fundamental criar um espaço de partilha de conhecimento em torno de temáticas relacionadas com a educação sexual ao longo da vida, a iniciação da leitura e da escrita, o Referencial de Educação para o desenvolvimento na formação inicial de educadores/professores e os maus tratos em crianças e jovens.

   Os participantes terão a oportunidade de assistir a conferências, painéis, que envolverão oradores de reconhecido mérito. O programa das jornadas é aberto à apresentação de comunicações livres e posters.

      Os interessados podem obter mais informações aqui.

cartaz III Jornadas.jpg

 

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publicado às 09:00

Novo livro de Américo Rodrigues

por Correio da Guarda, em 27.04.17

 

     "Arquivo Morto" é o novo livro de poesia de Américo Rodrigues, obra que será apresentada amanhã, 28 de Abril, pelas 21h30, na Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço, na Guarda.

   "Arquivo Morto" é uma designação inapropriada, quase absurda, para o espaço onde se guardam os documentos fora de uso, a papelada a que julgamos não regressar por aparentemente não necessitarmos dela. Uma obra sobre a perda da memória.

   O autor nasceu na Guarda e escreveu já vários livros de poesia, nomeadamente  "A estreia de outro gesto", "Instante exacto", "Acidente poético fatal", "A casa incendiada" e "Ponto cego". É também autor de obras de teatro, crónicas e poesia sonora.

   A obra, edição da Bosq-íman:os,  será apresentada por Norberto Rodrigues. O livro segue um projecto gráfico de Jorge dos Reis, professor e designer.

capa arquivo morto 3.jpg

 

 

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publicado às 21:46

"Abílio, Guardador de Abelhas"

por Correio da Guarda, em 04.03.16

 

     O Teatro Municipal da Guarda, através do seu Serviço Educativo, vai promover na próxima quarta-feira, 9 de março, uma sessão de conto seguida de oficina destinada ao público sénior.

    A iniciativa, intitulada “Abílio, Guardador de Abelhas”, terá lugar no Pequeno auditório às 14h30 e será orientada por Graeme Pulleyn e Ricardo Augusto;trata-se de coprodução do Teatro Viriato com os interpretes/criadores desta história que tem o apoio da Associação de Apicultores da Beira Alta.
   Entre provas de mel e memórias voadoras, esta oficina tem como objetivo trabalhar de uma forma integrada a expressão escrita (mesmo para quem não é escritor), a criação plástica em três dimensões (mesmo para quem não é escultor),o movimento e a expressão corporal (mesmo para quem não é bailarino).

   Os participantes irão criar abelhas, que serão portadoras de mensagens, pequenas frases construídas a partir de memórias ligadas ao mel. No final, juntar-se-ão todas estas abelhas num enxame de palavras e sentidos. O resultado final é uma “micro-metragem” (filme curtíssimo) intitulado "Enxame de Memórias".

 

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publicado às 22:29

A Terra da Escrita

por Correio da Guarda, em 19.10.15

 

     A Câmara Municipal da Guarda promove, em conjunto com o Agrupamento de Escolas Afonso de Albuquerque e o Agrupamento de Escolas da Sé, entre Outubro de 2015 e Junho de 2016, a segunda edição do Projeto “A Terra da Escrita”, que visa a promoção do livro e da leitura na Guarda.

    Trata-se de uma iniciativa de divulgação e promoção de escritores locais (concelho e distrito da Guarda) e das suas obras, a desenvolver nas escolas do Concelho da Guarda. Adriano Vasco Rodrigues (autor de importantes obras nas áreas da Arqueologia e da História), José Augusto de Castro (Fundador do jornal “O Combate” e acérrimo defensor dos ideais republicanos) e Jorge Carvalheira (autor contemporâneo nascido no distrito) são os autores em destaque no presente ano letivo.

    A edição deste ano de “A Terra da Escrita” comportará um variado número de iniciativas, nomeadamente conferências, tertúlias, encontros com o autor, exposições, visitas, um percurso fotográfico literário, criação de trabalhos artísticos com base nas obras dos autores, edição de um livro, oficinas de papel, de encadernação, de animação tipográfica, de ilustração e de escrita. As ações destinam-se a alunos do pré-escolar ao secundário, professores, público em geral e utilizadores da BMEL e estima-se que envolvam cerca de 4 000 participantes.

    O projeto “A Terra da Escrita”, liderado pela Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço, tem como principais objetivos: tornar conhecida da comunidade escolar do nosso concelho a obra de autores ligados à Guarda por nascimento ou pelos afetos; sensibilizar alunos e professores para a importância do trabalho literário dos autores locais; desenvolver, junto dos alunos, laços de identificação com a vida e obra de autores da Guarda ou que escreveram sobre a nossa terra; fomentar o sentido de pertença à comunidade da Guarda, através da língua e da literatura; estimular o espírito crítico em relação ao trabalho criativo de autores conterrâneos; dar oportunidade aos alunos de participarem em várias iniciativas que apelam à criatividade, a partir da obra de autores do distrito. Esta iniciativa faz parte do “Plano Municipal de Educação” da Câmara Municipal da Guarda. (fonte: BMEL)

Terra da Escrita.jpg

 

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Prémio Literário Manuel António Pina

por Correio da Guarda, em 10.06.10

    

     A Câmara Municipal da Guarda tem abertas as candidaturas para a primeira edição do Prémio Literário Manuel António Pina.

     Este prémio, instituído pela autarquia guardense, tem por objectivo homenagear o referido escritor e poeta, nascido no Sabugal.

     De acordo com a regulamentação deste concurso, o galardão a que foi atribuído o nome de Manuel António Pina, será entregue anualmente, distinguindo, em anos pares, poesia e, em anos ímpares, literatura infanto-juvenil.

     Na primeira edição deste prémio serão considerados os trabalhos inéditos de poesia, de autores portugueses, que cumpram os procedimentos previstos no respectivo regulamento, o qual pode ser consultado em www.mun-guarda.pt. As candidaturas devem ser efectuadas até ao dia 30 de Julho.

 

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Escrevo Risco

por Correio da Guarda, em 12.03.09

 

     Um novo lançamento agendado para o próximo dia 24 de Março, no Café Concerto do TMG, pelas 18 horas.

 

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