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Hoje assinala-se o Dia Mundial do Rádio, data que foi assim designada, em 2011, pelos estados-membros da UNESCO. No ano seguinte esta escolha seria validada pela Assembleia Geral das Nações Unidas.
A opção por 13 de fevereiro fica a dever-se ao facto de ter sido nesse dia, em 1946, que a Rádio das Nações Unidas emitiu pela primeira vez um programa em simultâneo para um grupo de seis países.
Nesse mesmo ano, recorde-se, ocorriam na Guarda as primeiras experiências de radiodifusão sonora que estiveram na origem da Rádio Altitude. Assinalar esta efeméride é, também, exercer o dever de memória e relembrar o pioneirismo da mais alta cidade portuguesa no campo da radiodifusão sonora.
Estúdio da Rádio Altitude (1979), emissão em onda média.
Este ano, o tema do Dia Mundial do Rádio sublinhou “um século de informação, entretenimento e educação”, iluminando “o passado notável, o presente relevante e a promessa de um futuro dinâmico”, como foi referido numa nota informativa divulgada pela da UNESCO. “(…) A oportunidade oferecida pelo marco de mais de 100 anos do rádio merece ser propagada a todo volume. O centenário é uma ocasião para celebrar com orgulho as amplas virtudes e a potência contínua deste meio. O momento é oportuno, pois o rádio enfrenta desafios cada vez maiores em relação aos números de audiência e receita obtidas por plataformas digitais, redes sociais, divisões digitais e geracionais, ventos contrários da censura e, para alguns meios de comunicação, dívidas sufocantes, bem como dificuldades económicas exacerbadas por um mercado de publicidade fraco”. Um cenário sobre o qual já escrevemos recentemente.
A propósito da comemoração, em 2024, do Dia Mundial do Rádio, a UNESCO acentuou a “história indelével” deste meio de comunicação e seu “poderoso impacto nas notícias, teatro, música, desportos”, não deixando de aludir ao “valor utilitário atual do rádio como uma rede de segurança pública relativamente gratuita e portátil durante emergências”. Uma mais-valia a que não se tem dado a devida atenção, talvez pela confiança que se tem colocado noutras redes de transmissão, as quais, por várias vezes (grandes fogos florestais, por exemplo) demonstraram fragilidades. As emissoras de rádio, apoiadas e apetrechadas com os adequados geradores de emergência seriam, podem ser, mais uma eficaz antena para a proteção civil.
Por outro lado, para a comemoração do Dia Mundial do Rádio foi igualmente apontado como mote de reflexão “o valor democrático contínuo do rádio para servir como um catalisador de base para a conexão entre grupos carentes, incluindo imigrantes, religiosos, minorias e populações atingidas pela pobreza; e como um termómetro instantâneo da opinião pública expressa por meio dos auspícios da liberdade de expressão no espaço público”. A UNESCO, no texto divulgado a propósito do Dia Mundial do Rádio, considerou ser “uma conquista notável para um importante meio de comunicação de massa manter sua relevância após 100 anos e ainda ser uma força para a liberdade de expressão, alegria e conhecimento. Ao contarmos com orgulho sua história, vamos dar as boas-vindas ao futuro do rádio no próximo século.”
Celebrando o Rádio, este dia mundial teve entre os seus objetivos a consciencialização do público e dos media sobre o valor do serviço público de áudio, e o alerta para a importância do incremento de estações livres, independentes, pluralistas capazes de reforçarem o seu papel e poder no quadro de uma rede de cooperação internacional; facilitada hoje pelas tecnologias da informação e por uma diversificada gama de equipamentos, que garantem novas potencialidades, num tempo de enormes dificuldades e desafios, sobretudo nas regiões com menor densidade populacional.
Contudo, o tempo presente continua a ser do rádio, interventivo que saiba construir e lutar pelo futuro. Deverá ser também o tempo de darmos uma nova e objetiva atenção às estações de radiodifusão existentes no interior de Portugal. É também o tempo de serem apoiadas as estações que, apesar das múltiplas dificuldades continuam a emitir. Apoiar estas emissoras – como já tivemos a oportunidade de escrever noutras ocasiões – é um imperativo moral e ato de justiça, pelo seu papel de serviço público que desenvolvem em prol das populações. Em apontamentos anteriores falámos já das dificuldades crescentes com que, nos últimos nos, se têm vindo a debater as estações de rádio.
O debate em torno do perfil da rádio, na atualidade e no futuro, tem suscitado posturas diferenciadas, mas convergentes quanto à sua continuidade. Para alguns, a rádio tem de resistir à tentação de perder a sua credibilidade na concorrência diária que enfrenta com as redes sociais e media socias. Essa credibilidade passa pelo rigor e salvaguarda permanente da sua função informativa, pela ação ao nível do entretenimento, nas várias vertentes.
Tendo em consideração a constante evolução tecnológica e as tendências dos consumidores, é também defendido que caminhamos para a existência de menos rádios físicas e mais virtuais. Mas não se esqueça que a humanização da rádio é fundamental; as pessoas não podem ser afastadas do processo evolutivo e do plano radiofónico. Temas de reflexão que se juntam aos apresentados pela UNESCO a propósito do Dia Mundial do Rádio que se assinala hoje, como já dissemos.
O importante é que a o rádio seja de todos os dias, pois este meio de comunicação deve continuar a ser indissociável das nossas vidas.
Hélder Sequeira
Embora o trabalho na Rádio não tenha sido a sua atividade principal, Carlos Martins não esquece a marca que as emissões radiofónicas lhe deixaram. “Na rádio fiz sempre o que gostava de fazer. Senti-me realizado. A grande marca teve a ver com as pessoas que faziam a rádio… uma grande família.” Hoje, afastado desse meio, considera que “uma rádio sem pessoas que a escutem é uma rádio com fim à vista”.
Natural da Vela (concelho da Guarda) veio estudar para a cidade quando tinha dez anos; no final da década de 70 iniciou a sua colaboração na Rádio Altitude (RA) , antes de, no início dos anos 80, ter começado a sua atividade profissional no ramo dos Seguros. “Atualmente continuo a exercer a minha atividade como independente e acumulando a situação de pré-reforma [da companhia a que esteve ligado]”, disse-nos Carlos Martins.
Olhando para a cidade onde reside, diz ao CORREIO DA GUARDA que “é urgente fixar empresas na Guarda para criarem empregos fixando os que cá estão e trazer outros do litoral.”
Como surgiu a Rádio na tua vida?
Era presidente da Associação Estudantes da Escola Secundária Afonso Albuquerque e na altura decidimos propor à Rádio Altitude um programa semanal de 30m onde abordaríamos a actividade estudantil e outros assuntos de interesse para a classe.
Eram colaboradores habituais a Fátima Vitória, a Hermínia Whanon, o Américo Rodrigues e eu. Após um ano de emissões o programa “Rádio Estudantil” termina.
Algum tempo depois, e algures na cidade da Guarda, encontrei o Dr. Virgílio Arderius, elemento da direção da RA, que após uma troca de palavras me propôs fazer um programa sobre livros e literatura. Numa conversa, de corredor, (na Escola Secundária Afonso Albuquerque) com o António José Fernandes e com o António José Teixeira (actual diretor da Informação na RTP) abordei a proposta que me tinha sido apresentada; o António José Teixeira ficou entusiasmado com a ideia e assim, os três, decidimos fazer o programa “Nós e os Livros”.
Como tudo tem um fim também o “Nós e os livros” acabou, sendo que foi um projecto interessantíssimo que nos motivou e de que maneira… A partir daí eu passei para as emissões regulares e o António José Teixeira enveredou pela informação da Rádio Altitude.
Como foram as primeiras experiências radiofónicas?
Nas emissões regulares da Onda Média, do Altitude, lembro-me que o primeiro programa que coloquei no ar foi um espaço radiofónico com muita audiência e patrocinado por uma marca de automóveis. Os ouvintes pediam para ouvir as suas músicas preferidas através do telefone 232.
Quem recordas desses tempos? E como era o ambiente de trabalho?
Nos anos 70 e 80 a rádio era tão importante como qualquer outra instituição da Guarda. O Altitude estava lá e tinha a informação pretendida.
A camaradagem, as relações pessoais eram como a de uma grande família.
Os colaboradores da RA eram convidados, com frequência, para apresentação de espetáculos no distrito. Que lembranças dessa experiência?
As Festas da Cidade da Guarda, os Festivais da Canção de Manteigas, Festivais de Folclore e muitos outros espectáculos contaram com a minha colaboração e de muitos outros colegas da rádio. Ter um apresentador que fosse locutor da Rádio Altitude, na opinião dos organizadores, era sinal de um bom espectáculo em perspectiva.
Recordo aqui uma das peripécias com a “nossa 4L”… fazíamos uma deslocação a Manteigas para mais um festival. Na ida a viagem correu mais ou menos bem (?). No regresso, a altas horas da noite, a viatura movimentava-se, mas a uma velocidade reduzida na estrada sinuosa e em mau estado. Estávamos todos apreensivos com o facto de a gasolina estar a baixar muito rapidamente no reservatório estarmos longe da Guarda.
Depois de 2 horas de viagem conseguimos chegar à entrada da cidade e aí ficou o veículo sem pinga de combustível. No dia seguinte o Antunes Ferreira foi com a Renault 4L ao mecânico e este verificou que a mesma apenas estaria a trabalhar com um ou dois cilindros. A “máquina” tinha razão para não andar e gastar muito combustível...
Qual foi o período mais desafiante na tua passagem pela RA?
Com a OM e com o FM nos anos 90, depois de ter passado algum tempo pela F, já com a direção do Helder Sequeira; acumulei as funções comerciais e as de locutor (animador de emissão).
A parte técnica era também uma das tuas preferências. Colaboravas, com frequência, com o Dr. Martins Queirós, sobretudo a partir de 1990, e também com o Antunes Ferreira. O que recordas? Que episódios gostarias de recordar para os leitores?
Com a frequência modulada no ar, o Dr. Martins Queirós entendeu que a mudança do emissor de Onda Média para um local mais próximo da antena era mais que urgente.
À noite, e depois das 21h, acompanhava o grande obreiro da RA nos trabalhos técnicos para a mudança do emissor. Este trabalho nocturno demorou alguns meses.
Finalmente foi possível mudá-lo e colocá-lo num local amplo e adequado para o efeito. Na altura estava apto a construir um emissor de raiz, tal foi a formação ministrada pelo médico Martins Queirós.
Que marca te deixou a Rádio Altitude?
Na rádio fiz sempre o que gostava de fazer. Senti-me realizado. A grande marca teve a ver com as pessoas que faziam a rádio… uma grande família.
Qual o programa que te deixou mais saudades?
Não podia ser outro, senão o “Sons da Madrugada”. Diariamente das 7 às 9h, inicialmente com o João Logrado, Helder Sequeira e eu, mais tarde o João foi substituído pelo Albino Bárbara.
Era o nosso despertar…
Achas que hoje é difícil fazer rádio no interior? E nos tempos da onda média?
As ferramentas atuais são outras. Tudo é mais fácil. O problema está na publicidade, fonte de receita das rádios; esta é cada vez mais diminuta e os pequenos empresários estão com dificuldades económicas.
Não é de estranhar que algumas rádios tenham fechado.
Nos anos 70 e 80 a concorrência era menor. O Altitude não tinha dificuldade em encontrar clientes para publicitar. Em qualquer loja ou casa era a rádio preferida. Existiam audiências consideráveis das emissões.
Que desafios se colocam, atualmente, às rádios locais?
Os custos com o pessoal são o maior desafio, as taxas, os custos da energia e a falta de apoios também não ajudam.
Muitas são as rádios que tiveram de reduzir o pessoal, funcionando a maior parte do tempo de forma automática. O contacto com o ouvinte deixa de existir e como tal as audiências evaporam-se. Há tanto por onde escolher…
Achas que rádio, em geral, tem futuro?
Tudo irá depender da ligação rádio/ouvinte. Uma rádio sem pessoas que a escutem é uma rádio com fim à vista.
É importante prender os ouvintes às emissões, ouvi-los e ter uma programação virada para os temas do quotidiano.
O que gostarias de ouvir nas rádios da região?
Pessoalmente gosto de estar informado. Gosto de uma informação credível, de qualidade.
O que fazes atualmente?
Afastei-me por razões pessoais da rádio. Depois de trinta e tal anos nos seguros, estou actualmente na situação de pré-reforma.
Como não sou pessoa para ficar parado, abri um escritório de Mediação de seguros na Rua Francisco Pissarra de Matos na Guarda, com a marca da empresa onde trabalhei a Ageas.
O que representa para ti a Guarda?
Desde os meus 10 anos que estou na Guarda. Foi aqui que fiz os meus estudos e desenvolvi a minha actividade profissional na área dos seguros. A rádio completava-me.
As pessoas da região cativaram-me. Apesar de fria, o calor humano, as amizades, os desafios, marcam-nos para sempre.
Como gostarias de ver a Guarda do futuro?
No futuro imediato é necessário criar condições para a fixação dos nossos jovens. Se estes forem embora para o litoral e para as grandes cidades, a Guarda fica a perder.
É urgente fixar empresas na Guarda para criarem empregos fixando os que cá estão e trazer outros do litoral.
A localização da Guarda, as duas auto estradas e as duas linhas férreas fazem da cidade um ponto estratégico de desenvolvimento, para isso o governo central tem de olhar pelo interior ou não fosse a Guarda a Porta da Europa!
A Rádio Altitude comemora hoje, dia 29 de julho, o 73º aniversário do início oficial das suas emissões.
Esta é uma emissora de muitas vozes e rostos, de sonhos, de diferenciados contributos, afetos, ideias, de originalidades, de presença e solidariedade. A sua génese, longevidade, o percurso ímpar e a matriz beirã conferem-lhe um estatuto especial.
Recorde-se, e como tivemos já a oportunidade de escrever no livro “O Dever da Memória – Uma Rádio no Sanatório da Montanha”, que esta emissora tem interessantes particularidades, originadas no seio das experiências radiofónicas vividas no Sanatório Sousa Martins (Guarda), cerca de 1946.
Nessa altura, as rudimentares emissões circunscreviam-se ao pavilhão onde estava concentrado o grupo de doentes pioneiros deste projeto; com a posterior utilização de novo emissor a aventura radiofónica foi ganhando, progressivamente, maior dimensão.
A 21 de outubro de 1947, Ladislau Patrício (cunhado do poeta Augusto Gil), o segundo diretor do Sanatório, assinou o primeiro regulamento desta emissora, documento onde estavam definidas orientações objetivas sobre o seu funcionamento.
Em finais desse mesmo ano as emissões da Rádio Altitude eram já escutadas na malha urbana da Guarda, cidade que seguiu, com entusiasmo, o início oficial das emissões regulares, ocorrido a 29 de julho de 1948; um ano depois (1949) foi-lhe atribuído o indicativo CSB 21 (emitindo no comprimento de onda de 212 metros e na frequência de 1496 quilociclos por segundo), identidade difundida por várias décadas a partir do alto da serra, “eterna como o sol que alumia o mundo”, na expressão de Nuno de Montemor.
Este escritor guardense fez parte do grupo inicial de ouvintes da rádio; sobre a estação emissora da cidade mais alta de Portugal deixou, aliás, as suas impressões nas páginas de outro projeto informativo/formativo do Sanatório: o jornal Bola de Neve.
Os programas (no ano de 1948) eram, então, emitidos em horários muito circunscritos; aos domingos entre as 17 e as 19 horas e nos restantes dias oscilavam entre as 18h30/19h30 e depois entre as 21 e as 22 horas; nessa altura apenas aos sábados havia emissões no período da manhã, entre as 11h30 e as 12h30. O primeiro aniversário da Rádio, em 1949, foi assinalado com “emissões especiais e extraordinárias”. A imprensa local, destacando o papel e a importância da emissora, salientava a necessidade de ser aumentada a potência “de forma a ouvirem-se as suas emissões em todo o distrito da Guarda”.
O emissor inicial era propriedade da Caixa Recreativa (CR) do Internados no Sanatório Sousa Martins e mais tarde (com a extinção da CR) passou para a titularidade do Centro Educacional e Recuperador da unidade hospitalar vocacionada para o tratamento da tuberculose. Através da criação do Centro Educacional e Recuperador dos Internados no Sanatório Sousa Martins (CERISSM) pretendeu-se auxiliar os doentes, especialmente no que dizia respeito “à sua promoção social e ocupação dos tempos livres”.
No seio dos sanatórios portugueses surgiram, aliás, interessantes projetos radiofónicos – como sejam a Rádio Pólo Norte, no Sanatório do Caramulo e a Rádio Pinóquio, no Sanatório das Penhas da Saúde (Covilhã), para referirmos apenas os mais próximos da Guarda.
O CERISSM foi uma autêntica instituição de solidariedade; para além de viabilizar a afirmação e implantação da Rádio Altitude desenvolveu uma vasta obra assistencial, sobretudo sob o impulso do médico Martins de Queirós, o quarto e último diretor do Sanatório da Guarda.
Em 1961, mediante autorização oficial, a RA passou a ter como suporte económico-financeiro as receitas publicitárias que em muito contribuiriam para o auxílio dos doentes mais carenciados. As emissões evoluíram, ao longo das primeiras décadas em função das disponibilidades técnicas, dos recursos humanos e financeiros, mas encontrando sempre no, crescente auditório, uma grande simpatia e um apoio incondicional.
A Rádio Altitude rapidamente alargou a sua área de influência, cativou colaborações, ultrapassou dificuldades, assumiu desafios, enriqueceu a sua programação, protagonizou criatividade, inovou e afirmou decisivas linhas de intervenção formativa e cultural.
Até 1980, a Rádio Altitude emitiu em onda média na frequência de 1495 Khz (abrangendo não só o distrito da Guarda, mas igualmente os distritos de Viseu e Castelo Branco e algumas das suas áreas limítrofes); nesse ano a sintonia da RA passou a ser feita no quadrante dos 1584 Khz.
Depois de 1986, e com a liberalização do espectro radioelétrico, passou também a operar as suas emissões em frequência modulada (FM), em 107.7 Mhz, que seria alterada (em 1991) para os 90.9 Mhz, na qual continua a emitir.
No ano de 1998, e depois de ter sido determinada a extinção do Centro Educacional e Recuperador dos Internados no Sanatório Sousa Martins, foi decidida a realização de uma consulta pública, com vista à “transmissão da universalidade designada Rádio Altitude”, considerada a “única estrutura em funcionamento do ex-CERISSM”.
A estação emissora entrou assim, com a sua aquisição por parte da Radialtitude–Sociedade de Comunicação da Guarda, num capítulo novo da sua existência, mantendo a ligação física ao antigo espaço sanatorial (tem os seus estúdios no edifício, onde está ainda hoje, desde o ano de 1953), mas desenvolvendo, desde então, todo um projeto de modernização e linhas programáticas pensadas em função das exigências da sociedade hodierna.
Contudo, não se pode olvidar que esta é uma rádio distinta, de memórias, vivências, amizades, dedicação, de serviço público, de criatividade, de formação; hoje uma rádio global, de futuro.
As emissões radiofónicas passam nos nossos dias, em larga medida, pelo meio digital, num recurso cada vez mais ligado às modernas aplicações e tecnologias. A rádio, a sua forma de estar e responder evoluiu e, felizmente, acaba por estar ainda mais perto, envolvendo o nosso quotidiano; a sua presença pode ser avaliada como plena confirmação de que o meio rádio não pereceu perante o digital e as novas tecnologias. A rádio encontrou novos pilares de sustentabilidade e de maior interação com o seu público.
A generalidade dos equipamentos que usamos no dia-a-dia, desde logo o telemóvel, o tablet ou outras expressões da materialização do progresso tecnológico, facilitam-nos e proporcionam o encontro com a rádio, mas para além das emissões em direto não se podem esquecer as vantagens proporcionadas pelo podcast. Neste contexto, para além de evidenciarmos que esta é uma das novas virtualidades exploradas pela rádio, convém anotar a mudança de paradigma do perfil da rádio local.
Ainda neste ponto, não será despropositado afirmar que a Rádio Altitude nunca esteve confinada a um figurino de rádio local. Recordemos que, enquanto existiram as emissões em onda média (até finais da década de 90 do século passado) – e mercê das condições de rentabilização do seu emissor, face à localização geográfica – o raio de abrangência englobou zonas muito diferenciadas e mais ou menos distantes desta cidade.
Posteriormente, e uma vez mais potencializando as vantagens de emitir a partir da cidade mais alta do país, a rádio projetou as suas emissões muito para além das fronteiras estipuladas nas páginas dos diplomas regulamentadores da atividade radiofónica; ou seja, a identificação como rádio local nunca foi a mais justa, e a dimensão de regional será, em qualquer análise, sempre mais adequada quando se escreve sobre a história da radiodifusão.
Hoje, para além do estatuto conseguido por mérito próprio – e pela sua ímpar longevidade, enquanto rádio que se afirmou a partir do denominado interior do país – a RA atingiu uma nova escala, mercê da realidade tecnológica. Mesmo assim, a Rádio continua a ter um relevante papel como consciência regional; tem, decorrente da sua função social, uma missão importante na gestão da mudança de mentalidades, do esclarecimento do público, do confronto de ideias e da salvaguarda da memória.
Esta função social da rádio deve continuar a prevalecer, mesmo face ao desenvolvimento das tecnologias da informação. A pluralidade de novos canais de informação criou cenários completamente novos, onde se torna fundamental uma atitude de inequívoco profissionalismo, objetivos claros, estratégias adequadas e uma atenção permanente aos desafios tecnológicos.
Esgotados muitos dos modelos tradicionais e modificados os graus de exigência por parte dos ouvintes, torna-se necessário aferir constantemente os projetos e acentuar o espírito criativo, empreendedor.
Os desafios da Rádio são imensos; hoje não é apenas no plano das ondas hertzianas que tem de ser posicionada a proposta radiofónica; a rádio tem de assegurar uma estratégia rigorosa e clara no vasto horizonte da emissão online.
O fortalecimento da sua presença será sustentado, em larga medida, pela atenção à realidade social, económica, cultural e política da região onde a Rádio está sediada. As pessoas, para além do entretenimento ou companhia que a rádio lhes proporciona, querem boas condições de audição, uma informação rápida, em cima da hora ou do acontecimento de proximidade; querem igualmente um interlocutor atento, objetivo e credível, uma rádio com gente dentro, de entrega a um serviço público, solidário, afetivo. Uma rádio que questione, esclareça, atue pedagogicamente, aponte erros, noticie triunfos, sinta e transmita o pulsar da região, chame a si novos públicos.
Sabemos que não é um trabalho fácil, mas o êxito constrói-se com competência, perseverança, humildade, diálogo, criatividade e sentido de responsabilidade.
Ao sublinharmos, hoje, os 73 anos da Rádio Altitude estamos também a evocar e homenagear os múltiplos os contributos pessoais e coletivos que guindaram a RA a uma posição de destaque no panorama radiofónico português e, diríamos, mesmo europeu (pelas décadas de emissões contínuas, pela sua originalidade, subsistência e consciência da sua função social).
Esta é uma marca informativa e cultural da nossa região e da cidade que não a deve esquecer, antes valorizar pela sua história, pelo seu papel, pela sua presença quotidiana. A Rádio será aquilo que quiserem os seus profissionais, se os sonhos forem arrojados, consistentes, capazes de garantirem uma apaixonante continuidade e deixarem uma marca polifacetada e perene.
Parabéns à Rádio Altitude!
Hélder Sequeira
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