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Na Guarda foi apresentada ontem a curta-metragem “Discos Pedidos”, realizada por Luís Sequeira. Este trabalho revela a realidade de um dos mais carismáticos programas da Rádio Altitude, nas décadas que antecederam a revolução de 25 de Abril de 1974.
O realizador referiu que o filme “aborda o contexto dos programas de discos pedidos e da forma como eram feitos os pedidos”, por parte dos ouvintes que escolhiam as músicas da sua preferência para ouvirem na rádio.
No filme/ documentário é também evocado o contexto político e social, bem como referidas algumas das músicas que eram alvo da censura e a formas como eram contornados os obstáculos para a sua difusão, por parte dos locutores/animadores de emissão.
A curta-metragem (que contou com a participação de antigos colaboradores e profissionais da Rádio Altitude, como é o caso de Emílio Aragonez) tem exteriores gravados no Parque da Saúde da Guarda, onde funcionou o antigo Sanatório Sousa Martins, e filmagens nas instalações da estação emissora guardense.
Luís Sequeira esclareceu que foram muitas as horas de gravação e as imagens recolhidas só na conversa gravada entre Emílio Aragonez e Albino Bárbara têm cerca de duas horas de duração; tiveram de ser objeto de “muita triagem”, pois tratou-se de um projeto académico, com as exigências daí resultantes.
Contudo, o realizador guardense não exclui a possibilidade de que a informação e as imagens recolhidas possam ser aproveitadas no futuro, ampliando o trabalho em torno desta temática e no contexto da história da Rádio Altitude, que emite, oficialmente, desde 29 de julho de 1948.
Para além de Luís Sequeira na realização, o filme/ documentário contou com participação de Beatriz Lourenço (como assistente de realização), Miguel Rebelo (diretor de imagem), Hugo Marques (montador) e Mariana Sobral (diretora de produção).
A Rádio Altitude é uma emissora associada a muitas vozes e rostos, a sonhos, diferenciados contributos, afetos e ideias. Emílio Aragonez (com quem trabalhei largos anos) é uma grata referência no historial desta estação.
Emílio Aragonez – que hoje comemora mais um aniversário – foi, durante décadas, uma das vozes mais populares das emissões radiofónicas feitas, em onda média, a partir da cidade mais alta de Portugal.
Nascido no ano de 1934 (21 de setembro), em Portalegre, António Emílio Carrajola Aragonez veio para a Guarda com a idade de cinco anos; posteriormente, face às contingências resultantes da atividade profissional do pai, foi viver para Cascais, Pinhel, Peniche e Seia, após o que ocorreu o regresso definitivo à Guarda.
Com onze anos começou a trabalhar na Ourivesaria Correia, na Guarda. “Fui para lá ganhar 80 escudos por mês e passados dois meses fui aumentado para cem”. As aulas no Liceu ficaram para trás, pois os horários não eram compatíveis com o trabalho; o estudo circunscreveu-se ao período da noite. Emílio Aragonez frequentou o Colégio de S. José, a Escola Comercial e Industrial e a Escola dos Gaiatos, nesta cidade.
Aos dezoito anos abriu o seu primeiro estabelecimento comercial, na Rua 31 de Janeiro. Três anos depois mudou-se para a Rua do Campo, instalando-se no antigo espaço da Espingardaria Sport, que pertencera a um antigo chefe da Polícia; iniciava-se um ciclo de atividades na área da relojoaria e ótica; contudo, circunstâncias diversas contribuíram, muitos anos depois, para o abandono da vida comercial e empresarial. Ficou, deste modo, aberto o caminho para uma dedicação total ao jornalismo e à rádio.
Desde os dezanove anos que mantinha, aliás, uma permanente paixão pela Rádio Altitude, onde começou a colaborar no início da década de cinquenta. “Foi aberto concurso para pessoas externas ao Sanatório, concorri e fui admitido. Para mim era um desafio. Trabalhava durante o dia e à noite ia para a Rádio, a apresentar discos pedidos, que eram imensos. Contudo isto representava o início da concretização de um sonho, de estar ligado à rádio e à informação”.
Nos primórdios da sua atividade radiofónica teve por companheiros alguns dos internados no Sanatório Sousa Martins. “Havia, naturalmente, muito receio deste contacto com os doentes”, temor a que não escapava a própria cidade. Nessa época, as emissões da Rádio Altitude eram à noite, tendo depois passado a existir um espaço na hora do almoço. “Comecei também a fazer algumas das emissões desse horário, mas o trabalho mais alargado era aos fins-de-semana, dado que alguns doentes faltavam; havia um que tinha um programa desportivo, outro era responsável por um programa vocacionado para as questões culturais e um outro realizava o “Vento do Norte”, que foi um programa muito polémico”.
Predominavam os programas de discos pedidos, os quais registavam uma permanente avalanche de solicitações, cujo atendimento se ia prolongando por semanas sucessivas. “Eram tantos os pedidos e o espaço tão reduzido que era colocado um disco num dia e outros em programas posteriores. Por vez para se ouvirem quatro dedicatórias tinha de se esperar um mês”, lembra Emílio Aragonez, mais tarde rendido ao fascínio das reportagens.
Nesse período, e anos subsequentes, havia regras rígidas relativamente às emissões radiofónicas e, como aconteceu até ao 25 de Abril de 1974, a polícia política estava sempre atenta, e atuante. Mesmo assim, Emílio Aragonez desvaloriza essa interferência. “As notícias que eram transmitidas, nos primeiros tempos, eram baseadas nos jornais e estes já tinham passado pela censura”. O que não impediu diversas chamadas de atenção por parte do Administrador ou Diretor da Rádio, e a deslocação, por duas vezes, às instalações de P.I.D.E., contudo sem quaisquer consequências.
A seguir ao 25 de Abril, a estação viveu momentos de grande agitação e geraram-se tentativas de “tomar o Altitude”. “Alguns dias após a data da revolução cheguei a estar 24 horas sem poder sair da Rádio, por imposição do MFA, onde esteve uma força militar comandada pelo alferes Pardalejo”. Ainda hoje não tem uma explicação cabal para esse facto.
Pessoa de improviso fácil, e anotações rápidas, Emílio Aragonez assegurava os diretos da rádio de uma forma atrativa, suscitando o interesse informativo, curiosidade e audição atenta. A Rádio foi, sem reservas, uma grande afeição da sua vida, feita de trabalhos, desencontros, incompreensões silêncios, amarguras e felicidade; vida simultaneamente enraizada em convicções e em princípios, passando ao lado, de eventuais críticas ou atitudes injustificadas.
Ao longo de décadas deu voz à notícia, trouxe à luz da ribalta questões tantas vezes ignoradas; desencadeou o confronto de opiniões, denunciou injustiças, foi porta-voz de múltiplas aspirações de terras e gentes. “Estive, sempre, na vanguarda da informação, sem nunca hipotecar a minha consciência profissional nem trair os meus princípios”.
Emílio Aragonez assumiu o jornalismo e a rádio sem nunca esquecer a função social subjacente; o que, aliás, foi sempre reconhecido pelos ouvintes, a quem nunca negou a sua presença, e voz, mesmo em situações nas quais motivos de ordem pessoal, o cansaço ou a doença aconselhavam repouso. “Muitas vezes acabava por dormir na Rádio, nomeadamente quando vinha às tantas da noite de alguma reportagem e tinha de abrir a emissão no dia seguinte”.
O nascimento de Emílio Aragonez para a rádio, e a projeção que alcançou através desta emissora, ocorreu na época das emissões em onda média, quando a frequência modulada estava longe de ser uma realidade na estação CSB-21, o indicativo atribuído à Rádio da mais alta cidade portuguesa.
Emílio Aragonez disse-nos ter havido um largo período “em que os outros tinham um certo receio de levantar os problemas. Eu dei sempre a cara, mesmo sabendo que iria sofrer dissabores; não só eu como a minha família.” Embora a faceta de jornalista seja a mais conhecida, era um intransigente defensor da música portuguesa, presença constante nos espaços radiofónicos por ele animados (é o caso do popular programa Domingo a Domingo), sem cair no gosto medíocre.
A sua aparência descontraída, porventura mesmo descuidada, reflexo da sua peculiar forma de ser e do desprendimento pelos bens materiais, não raro originava humorísticos episódios, partilhados depois nos círculos de colegas e amigos, os quais facilmente lhe reconhecem mais virtudes do que defeitos.
A Rádio Altitude representa para Emílio Aragonez “praticamente uma vida toda. Uma pessoa que entra para ali aos 19 anos e fica lá até aos 68 obviamente que representa tudo”, dizia-nos há algum tempo atrás. “Esqueci-me muitas vezes que tinha família, esqueci-me dos amigos e vivia para o Altitude. Era tudo para mim!...”.
Emílio Aragonez, hoje desligado da atividade radiofónica devido à sua idade é uma memória viva da Rádio e da Guarda – das suas estórias e tradições – igual a si próprio, referência de um tempo cúmplice das ondas hertzianas, quais laços de solidariedade com a cidade e a Beira Serra.
Parabéns, Emílio Aragonez. Feliz dia de Aniversário.
Hélder Sequeira
Emílio Aragonez, que hoje completa 88 anos, foi durante décadas uma das vozes mais populares das emissões radiofónicas feitas, em onda média, a partir da cidade mais alta de Portugal.
por Helder Sequeira
Personalidade com profundas ligações à Rádio Altitude, Emílio Aragonez nasceu em 21 de setembro de 1934, em Portalegre. Para a Guarda veio com cinco anos. Posteriormente, face às contingências resultantes da atividade profissional do pai, foi viver para Cascais, Pinhel, Peniche e Seia, após o que ocorreu o regresso definitivo à Guarda.
Com onze anos começou a trabalhar na Ourivesaria Correia, na Guarda. “Fui para lá ganhar 80 escudos por mês e passados dois meses fui aumentado para cem”. As aulas no Liceu ficaram para trás, pois os horários não eram compatíveis com o trabalho; o estudo circunscreveu-se ao período da noite. Emílio Aragonez frequentou o Colégio de S. José, a Escola Comercial e Industrial e a Escola dos Gaiatos, nesta cidade.
Aos dezoito anos abriu o seu primeiro estabelecimento comercial, na Rua 31 de Janeiro. Três anos depois mudou-se para a Rua do Campo, instalando-se no antigo espaço da Espingardaria Sport, que pertencera a um antigo chefe da Polícia; iniciava-se um ciclo de atividade na área da relojoaria e ótica; contudo, circunstâncias diversas contribuíram, muitos anos depois, para o abandono da vida comercial e empresarial. Ficou, deste modo, aberto o caminho para uma dedicação total ao jornalismo e à rádio.
Desde os dezanove anos que mantinha, aliás, uma permanente paixão pela Rádio Altitude, onde começou a colaborar no início da década de cinquenta. “Foi aberto concurso para pessoas externas ao Sanatório, concorri e fui admitido. Para mim era um desafio. Trabalhava durante o dia e à noite ia para a Rádio, a apresentar discos pedidos, que eram imensos. Contudo isto representava o início da concretização de um sonho, de estar ligado à rádio e à informação”.
Nos primórdios da sua atividade radiofónica teve por companheiros alguns dos internados no Sanatório Sousa Martins. “Havia, naturalmente, muito receio deste contacto com os doentes”, temor a que não escapava a própria cidade. Os tuberculosos eram cuidadosamente evitados pela generalidade da população da cidade, onde, então, se via muita pobreza. “Recordo-me de haver largas dezenas de pessoas que se dirigiam ao Lactário para obterem o leite destinado à alimentação dos filhos; iam buscar a sopa à Cozinha Económica, na altura a funcionar noutras instalações. Aos dias de mercado, sobretudo, apareciam muitos rapazes e raparigas descalços e isso já diz muito sobre a realidade social”.
Nessa época, as emissões da Rádio Altitude eram à noite, tendo depois passado a existir um espaço na hora do almoço. “Comecei também a fazer algumas das emissões desse horário, mas o trabalho mais alargado era aos fins-de-semana, dado que alguns doentes faltavam; havia um que tinha um programa desportivo, outro era responsável por um programa vocacionado para as questões culturais e um outro realizava o “Vento do Norte”, que foi um programa muito polémico”.
Predominavam os programas de discos pedidos, os quais registavam uma permanente avalanche de solicitações, cujo atendimento se ia prolongando por semanas sucessivas. “Eram tantos os pedidos e o espaço tão reduzido que era colocado um disco num dia e outros em programas posteriores. Por vez para se ouvirem quatro dedicatórias tinha de se esperar um mês”, lembrava (numa entrevista que registámos há alguns anos) Emílio Aragonez, mais tarde rendido ao fascínio das reportagens.
Nesse período, e anos subsequentes, havia regras rígidas relativamente às emissões radiofónicas e, como aconteceu até ao 25 de Abril de 1974, a polícia política estava sempre atenta, e atuante. Mesmo assim, Emílio Aragonez desvaloriza essa interferência. “As notícias que eram transmitidas, nos primeiros tempos, eram baseadas nos jornais e estes já tinham passado pela censura”. O que não impediu diversas chamadas de atenção por parte do Administrador ou Diretor da Rádio, e a deslocação, por duas vezes, às instalações de P.I.D.E., contudo sem quaisquer consequências.
Uma delas foi “por causa de um disco que tinha sido transmitido e depois desapareceu; o disco tinha sido gravado em França e era de uma voz portuguesa, já não sei se era do Zeca Afonso ou do Adriano Correia de Oliveira”.
A seguir ao 25 de Abril, a estação viveu momentos de grande agitação e geraram-se tentativas de “tomar o Altitude”. “Alguns dias após a data da revolução cheguei a estar 24 horas sem poder sair da Rádio, por imposição do MFA, onde esteve uma força militar comandada pelo alferes Pardalejo” Ainda hoje não tem uma explicação cabal para esse facto.
Pessoa de improviso fácil, e anotações rápidas, Emílio Aragonez assegurava os diretos da rádio de uma forma atrativa, suscitando o interesse informativo, curiosidade e audição atenta. “Na década de setenta, quando Marcelo Caetano se deslocou a Manteigas, julgo que para inaugurar o edifício da Câmara, houve um atraso de mais de uma hora, em relação ao horário previsto. Como não havia possibilidades de desfazermos a ligação e voltar a retomá-la – os meios eram bem diferentes dos atuais – tive de aguentar a transmissão, recorrendo apenas a duas curtas entrevistas. O resto do tempo falei de Manteigas, da Serra, das potencialidades turísticas e de outras informações e descrições que fui considerando oportunas”.
A Rádio foi, sem reservas, uma grande afeição da sua vida, feita de trabalhos, desencontros, incompreensões silêncios, amarguras e felicidade; vida simultaneamente enraizada em convicções e em princípios, passando ao lado, de eventuais críticas ou atitudes injustificadas.
Ao longo de décadas, deu voz à notícia, trouxe à luz da ribalta questões tantas vezes ignoradas; desencadeou o confronto de opiniões, denunciou injustiças, foi porta-voz de múltiplas aspirações de terras e gentes. “Estive, sempre, na vanguarda da informação, sem nunca hipotecar a minha consciência profissional nem trair os meus princípios”.
Emílio Aragonez assumiu o jornalismo e a rádio sem nunca esquecer a função social subjacente; o que, aliás, foi sempre reconhecido pelos ouvintes, a quem nunca negou a sua presença, e voz, mesmo em situações nas quais motivos de ordem pessoal, o cansaço ou a doença aconselhavam repouso.
“Muitas vezes acabava por dormir na Rádio, nomeadamente quando vinha às tantas da noite de alguma reportagem e tinha de abrir a emissão no dia seguinte”. Quando a cidade acordava envolta em espesso manto de neve “a rádio chegava a abrir mais cedo e era a partir daí que praticamente se comandava a cidade. Era um trabalho de autêntico serviço público, com informações sobre os vários estabelecimentos de ensino, circulação nas estradas, funcionamento dos serviços públicos. Ouvir o Altitude era essencial”.
Sempre atento ao quotidiano, na sua memória circulam, volvidos estes anos, muitas imagens e sons que pertencem aos bastidores da rádio; fora do estúdio de emissão havia lugar a dramas individuais, sofrimentos, dificuldades a superar, batalhas contra o tempo, necessidade de discernir e graduar com rapidez aquilo que era matéria informativa e não mero adereço de projeções institucionais ou pessoais; ocorriam confrontos marcantes no percurso individual e profissional; impressões muitas vezes gravadas de maneira indelével, que não pactuam com o esquecimento.
Emílio Aragonez no dia da homenagem que lhe foi prestada pelo Rotary Club da Guarda. Na foto (esquerda para a direita): António Martinho, Albino Bárbara, António José Teixeira, Emílio Aragonez, Helder Sequeira, Carlos Martins.
O nascimento de Emílio Aragonez para a rádio, e a projeção que alcançou através desta popular emissora, ocorreu na época das emissões em onda média, quando a frequência modulada estava longe de ser uma realidade na estação CSB-21, o indicativo atribuído à Rádio da mais alta cidade portuguesa.
A sua voz aquecia as noites guardenses, esbatia a solidão, aumentava progressivamente o auditório, despertando incontidas manifestações de simpatia. “Diziam-me que a minha voz era agradável e depois, também pelo que me é dito, tinha uma maneira muito peculiar de falar. Isto começou, realmente, nos programas da noite, quando a cidade precisava de companhia e a companhia era a rádio. Foram anos, anos e anos com a minha voz a entrar pela casa das pessoas”.
Por outro lado, Emílio Aragonez salientou-nos ter havido um largo período “em que os outros tinham um certo receio de levantar os problemas. Eu dei sempre a cara, mesmo sabendo que iria sofrer dissabores; não só eu como a minha família.” Mas não há lugar a arrependimentos, dizia-nos, há alguns anos, em tom inequívoco. Embora a faceta de jornalista seja a mais conhecida, era um intransigente defensor da música portuguesa, presença constante nos espaços radiofónicos por ele animados, sem cair no gosto medíocre.
A sua aparência descontraída, porventura mesmo descuidada, reflexo da sua peculiar forma de ser e do desprendimento pelos bens materiais, não raro originava humorísticos episódios, partilhados depois nos círculos de colegas e amigos, os quais facilmente lhe reconhecem mais virtudes do que defeitos.
A Rádio Altitude representou para Emílio Aragonez “praticamente uma vida toda. Uma pessoa que entra para ali aos 19 anos e fica lá até aos 68 obviamente que representa tudo”, como nos afirmava, sem hesitações. “Esqueci-me muitas vezes que tinha família, esqueci-me dos amigos e vivia para o Altitude. Era tudo para mim!...”.
Emílio Aragonez é uma memória viva da Guarda – das suas estórias e tradições – igual a si próprio, referência de um tempo cúmplice das ondas hertzianas, quais laços de solidariedade com a cidade e uma vasta região…
Parabéns, Emílio Aragonez!
Luísa Coimbra tem na rádio uma das suas paixões. A rádio cruzou-se na sua vida quando tinha 16 anos. Natural de Almofala, (Figueira de Castelo Rodrigo) onde nasceu em 1959, reside na Guarda desde os dois meses de idade.
“Mar de música, mar de gente” e “Sintonia” são alguns dos programas radiofónicos que evoca com saudade, agora que está desligada da rádio, de cuja magia nunca se afastou. Talvez por isso mesmo tenha criado o podcast “Menina da Rádio”, “um projeto pessoal, intimista, para deixar correr os “sentidos” como disse ao CORREIO DA GUARDA.
Nesta conversa fala-nos igualmente da cidade onde, referiu, faltam “novas oportunidades de trabalho”.
Como surgiu, e quando, a tua ligação com a Rádio?
Aos 16 anos, quando me inscrevi e participei num dos concursos da Rádio Altitude.
Foi fácil a adaptação ao ambiente da rádio?
Muito fácil. Jovem como era, tinha a certeza que aquele seria o meu caminho, contrariando embora todos os objetivos sonhados para mim, pelos meus pais.
Quais foram os teus primeiros trabalhos e em que programas?
Recordo-me muito bem eram fins-de-semana inteirinhos a passar “Discos Pedidos”, os programas da manhã “Mar de Música, Mar de Gente”, o programa “Sintonia” que me levou até às Produções Sintonia no Porto, na RDP - Rádio Guarda, a aposta na formação no âmbito do Jornalismo e, por último, a Rádio F e os programas da noite.
Quais os/as colegas que recordas dessa época?
Todos sem exceção! Claro que uns marcaram mais do que outros.
Estive nas três estações de Rádio sempre por convite (o que muito me orgulha) sem querem magoar ninguém, lembro com muita saudade o João Lopes, e enfim o velho amigo Emílio Aragonez, a quem devo realmente esta grande paixão pela Rádio.
Como era a relação que se estabelecia com os ouvintes?
Íntima, verdadeiramente íntima!
Criei laços que guardo até hoje e que ficarão para sempre, na cumplicidade, no sorriso que transparecia e até nos muitos olhares de admiração/ interrogação, quando com surpresa me encontram ainda hoje na Junta de Freguesia … a pergunta que fica no ar… “Mas, não era a menina, a Luísa da Rádio? “
As pessoas identificavam-te no exterior?
Sim claro, vivíamos numa cidade pequena, a Rádio era companhia assídua de muita gente e todos nos conhecíamos.
Como era feita a seleção musical para os programas que apresentavas?
Todas as rádios por onde passei dispunham de uma discografia excecional, entre os velhinhos Singles, LPs, depois pelos CDs, procurava com alguma antecedência ir ao encontro dos gostos musicais dos ouvintes e fazer um programa onde acima de tudo estava o interesse por quem estava e ouvia no lado de lá.
Como vias a relação entre a Rádio e a Cidade/Região? As pessoas apreciavam a rádio?
Como já disse, creio que a Rádio tinha um grande poder, que é o poder de cativar, de informar e isso creio ter-se conseguido.
Eu pelo menos tenho a sensação de dever cumprido.
Tens algum episódio que possa ilustrar essa relação?
Puxando pela memória, recordo-me de alguns diretos feitos para a “Informação”, onde as populações se manifestavam, pela ausência do que consideravam essencial, quer pelos tantos convites que nos faziam e onde pude testemunhar/ vivenciar situações que em pleno Sec. XX, era na Rádio que se faziam ouvir…
Lembro-me por exemplo, num dos últimos trabalhos que fiz na Rádio F, com o meu querido Tó Jó (António Jorge Sepúlveda) de existir uma escola, no nosso concelho, onde a grande luta da professora era manter os meninos na escola, porque os pais exigiam que eles fossem trabalhar, logo pela manhã. Meninos a quem a professora levava o pequeno-almoço, porque sabia que estariam sem comer…
E enfim, tantos outros episódios, relatos de vidas com história…
Qual foi a experiência mais positiva na rádio? E a mais negativa?
Positivas todas...não tenho experiências negativas!
Os condicionalismos técnicos impediam a criatividade?
Não gosto de dizer no “meu tempo”, porque o meu tempo é hoje, mas tenho para mim, que naquele período, tive tudo, em todas as Rádios e a criatividade surgia de forma natural.
Sempre me adaptei de forma fácil, aliás o meu gosto pela Rádio era tanto, que não havia impedimento algumJ, aliás conto em jeito de brincadeira um episódio que me aconteceu no primeiro dia, na minha estreia radiofónica.
Estava no estúdio na Rádio Altitude, ocupadíssima entre discos e publicidade e esqueci-me de fechar o microfone, quando irrompe pelo estúdio o saudoso Antunes Ferreira, que me diz “menina, menina tem o microfone aberto e só se ouve “Ai minha nossa senhora!… “
Bom, se fosse hoje, o desabafo seria outro com certeza… (risos)
Quais as principais diferenças que notas entre a rádio de ontem e de hoje, nomeadamente ao nível dos estúdios e programação?
Estou longe da Rádio já algum tempo, por isso creio que apenas do que possa falar seja do que ouço e assim sendo, creio que se abusa demasiado das “play list”.
Julgo que a Rádio ainda hoje é, ou pelo menos para mim é, comunicação e não creio que hoje exista, pelo menos da forma como eu, e muitos outros como eu, a vivemos.
Hoje é mais fácil fazer rádio?
Creio que hoje, é menos empolgante fazer Rádio.
São horas e horas de música...mas claro que existem exceções e os bons comunicadores continuam a existir!
Depois da rádio, como foi o teu percurso profissional?
Deixei a Rádio por opção, mudei de cidade, mudei de vida.
Hoje, e já há algum tempo, sou funcionária da Junta de freguesia da Guarda.
Após o teu regresso à Guarda houve novo contacto com a rádio?
Existiu sim, muito superficial.
Há algum tempo atrás iniciaste um podcast, sobre rádio. Como surgiu essa ideia e qual o principal objetivo?
Surgiu porque os meus filhos me conhecem como ninguém, sabem desta minha paixão e o Tiago, (filho do meio) que se move muito bem nesta área criou o “Menina da Rádio” que é tão só um passatempo que me transporta para “esses dias da Rádio” …
Como tem sido a reação das pessoas?
Creio que gostam, gostam de me ouvir.
E a mim a cima de tudo dá-me imenso prazer em fazer, em partilhar.
Gostavas de regressar ao trabalho numa rádio? E com que projeto?
A Rádio vai sempre fazer parte de mim… foram 20 anos, a fazer Rádio e claramente sim! Porque não, as noites da Rádio?
Achas que a história da Rádio, em Portugal, passa também pela Guarda?
Sem dúvida, ou não existisse a nossa velhinha Rádio Altitude com todo o seu saber, com toda a sua história da qual eu também faço parte.
Como vês hoje a Guarda?
Uma cidade “nova “, em expansão e quero acreditar com potencial para criar novos projetos e novos futuros.
O que falta na cidade?
Essencialmente novas oportunidades de trabalho.
Como gostas de ocupar os teus tempos livres?
Escrevendo, lendo e aprendendo e acima de tudo partilhando uma boa conversa, com bons amigos, como agora, o que naturalmente agradeço.
Ismael Marcos desenvolveu ao logo de algumas décadas a sua atividade profissional na Guarda, na área da comunicação. Inicialmente na rádio e depois na televisão, acompanhou o pulsar da região beirã, através de múltiplos trabalhos.
Hoje a sua atenção centra-se noutros territórios do país; mas nas suas memórias está a sempre a Guarda, como aliás expressou ao CORREIO DA GUARDA.
Onde está a desenvolver, atualmente, o seu trabalho?
Neste momento estou na delegação da RTP em Évora numa área de cobertura que vai de Portalegre a Ourique e Mértola
Porquê a opção por Évora?
Na altura era uma região que me fascinava e foi também juntar o útil ao agradável, pois o meu filho mais velho entrou esse ano2015 na universidade de Évora
Que comparação ou diferenças acentua entre a Guarda e a cidade onde vive atualmente?
São cidades completamente diferentes, em todos os aspetos, desde a própria geografia delas à construção, à preservação, etc. ..
Guarda boas memórias da sua passagem pela Rádio? O que gostou mais de fazer?
Claro que guardo excelentes memórias da minha passagem pela Rádio Altitude, desde a aprendizagem à própria camaradagem e penso que também deixei algum contributo com os conhecimentos que trazia de outra grande casa que é a Rádio Renascença.
Tenho boas memórias dos diretos que fazia com o Emílio Aragonês, aos fim-de-semana, das diversas câmaras municipais.
O trabalho na televisão marcou um novo ciclo na sua vida?
Sim o trabalho em televisão é um trabalho mais desafiante muito diferente da rádio, na televisão temos que estar lá, não podemos fazer à distância, temos que tratar não só do som mas também da imagem, preparados para qualquer situação e qualquer tema, desde a sociedade à política, passando pelo desporto etc.
Como estou numa delegação tenho a vantagem da polivalência, ou seja desde a captação da imagem à edição da peça e depois ao envio prontinha para emissão tudo é feito por mim.
Que episódios positivos ou negativos regista do seu trabalho, em televisão?
São muitos os episódios positivos, que passam desde o conhecimento de pessoas novas e diferentes diariamente, assim como locais, às várias deslocações ao estrangeiro, cobertura de eleições em todo o território nacional, voltas a Portugal em bicicleta e muito mais…
Notas negativas, aquelas que inerentes à concorrência, as nossas chefias se vêm obrigadas a nos pedirem coisas que por vezes não tem qualquer interesse (basicamente as secas que muitas vezes apanhámos quer seja por exemplo à porta de um tribunal ou à porta de uma prisão, muitas vezes à chuva e ao frio ou ao calor tórrido do Alentejo)
Qual o evento que mais gostou de acompanhar?
Sem dúvida a cobertura dos jogos paraolímpicos em Pequim 2008
O seu futuro vai cruzar-se ainda com a Guarda?
Nunca podemos dizer desta água não beberei, mas não me importava, são as minhas raízes.
A Guarda tem potencialidades para um maior desenvolvimento? Qual a sua maior riqueza?
A Guarda tem todas as potencialidades, desde as pessoas que são trabalhadoras e empreendedoras, à própria localização geográfica da cidade, as vias de acesso e comunicação; tem todas as potencialidades para ser uma grande cidade e uma grande região, assim haja sinergias e vontade política!...
Tem pensado algum projeto pessoal que queira implementar?
Para já projetos...e com a pandemia à nossa volta, é viver o dia a dia!...
O jornalista Emílio Aragonez foi hoje homenageado pelo Rotary Clube da Guarda. A homenagem no decorreu durante um almoço-palestra (numa unidade hoteleira) onde António José Teixeira falou sobre “Jornalismo e Democracia” e Helder Sequeira referenciou o percurso pessoal e profissional do homenageado.
Durante décadas, Emílio Aragonez foi uma das vozes mais populares das emissões radiofónicas feitas, em onda média, a partir da cidade mais alta de Portugal.
Emílio Aragonez, figura com profundas ligações à Rádio Altitude, nasceu em 1934 em Portalegre; para a Guarda veio com cinco anos. Posteriormente, face às contingências resultantes da atividade profissional do pai, foi viver para Cascais, Pinhel, Peniche e Seia, após o que ocorreu o regresso definitivo à Guarda.
Com onze anos começou a trabalhar na Ourivesaria Correia, nesta cidade; as aulas no Liceu ficaram para trás, pois os horários não eram compatíveis com o trabalho; o estudo circunscreveu-se ao período da noite. Emílio Aragonez frequentou o Colégio de S. José, a Escola Comercial e Industrial e a Escola dos Gaiatos, nesta cidade.
Aos dezoito anos abriu o seu primeiro estabelecimento comercial, na Rua 31 de Janeiro. Três anos depois mudou-se para a Rua do Campo, instalando-se no antigo espaço da Espingardaria Sport, que pertencera a um antigo chefe da Polícia; iniciava-se um ciclo de atividades na área da relojoaria e ótica; contudo, circunstâncias diversas contribuíram, muitos anos depois, para o abandono da vida comercial e empresarial. Ficou, deste modo, aberto o caminho para uma dedicação total ao jornalismo e à rádio.
Desde os dezanove anos que mantinha, aliás, uma permanente paixão pela Rádio Altitude, onde começou a colaborar no início da década de cinquenta. “Foi aberto concurso para pessoas externas ao Sanatório, concorri e fui admitido. Para mim era um desafio. Trabalhava durante o dia e à noite ia para a Rádio, a apresentar discos pedidos, que eram imensos. Contudo isto representava o início da concretização de um sonho, de estar ligado à rádio e à informação”.
Nessa época, as emissões da Rádio Altitude eram à noite, tendo depois passado a existir um espaço na hora do almoço. Predominavam os programas de discos pedidos, os quais registavam uma permanente avalanche de solicitações, cujo atendimento se ia prolongando por semanas sucessivas. “Eram tantos os pedidos e o espaço tão reduzido que era colocado um disco num dia e outros em programas posteriores. Por vez para se ouvirem quatro dedicatórias tinha de se esperar um mês”, lembra Emílio Aragonez, mais tarde rendido ao fascínio das reportagens.
Por essa altura, e anos subsequentes, havia regras rígidas relativamente às emissões radiofónicas e, como aconteceu até ao 25 de Abril de 1974, a polícia política estava sempre atenta, e atuante. Mesmo assim, Emílio Aragonez desvaloriza essa interferência. “As notícias que eram transmitidas, nos primeiros tempos, eram baseadas nos jornais e estes já tinham passado pela censura”. O que não impediu diversas chamadas de atenção por parte do Administrador ou Diretor da Rádio, e a deslocação, por duas vezes, às instalações de P.I.D.E., contudo sem quaisquer consequências.
Pessoa de improviso fácil, e anotações rápidas, Emílio Aragonez assegurava os diretos da rádio de uma forma atrativa, suscitando o interesse informativo, curiosidade e audição atenta. A Rádio foi, sem reservas, uma grande afeição da sua vida, feita de trabalhos, desencontros, incompreensões silêncios, amarguras e felicidade; vida simultaneamente enraizada em convicções e em princípios, passando ao lado, de eventuais críticas ou atitudes injustificadas.
Ao longo de décadas, deu voz à notícia, trouxe à luz da ribalta questões tantas vezes ignoradas; desencadeou o confronto de opiniões, denunciou injustiças, foi porta-voz de múltiplas aspirações de terras e gentes.
Emílio Aragonez assumiu o jornalismo e a rádio sem nunca esquecer a função social subjacente; o que, aliás, foi sempre reconhecido pelos ouvintes, a quem nunca negou a sua presença, e voz, mesmo em situações nas quais motivos de ordem pessoal, o cansaço ou a doença aconselhavam repouso.
Sempre atento ao quotidiano, na sua memória circulam, volvidos estes anos, muitas imagens e sons que pertencem aos bastidores da rádio; fora do estúdio de emissão havia lugar a dramas individuais, sofrimentos, dificuldades a superar, batalhas contra o tempo, necessidade de discernir e graduar com rapidez aquilo que era matéria informativa e não mero adereço de projeções institucionais ou pessoais; ocorriam confrontos marcantes no percurso individual e profissional; impressões muitas vezes gravadas de maneira indelével, que não pactuam com o esquecimento.
O nascimento de Emílio Aragonez para a rádio, e a projeção que alcançou através desta popular emissora, ocorreu na época das emissões em onda média, quando a frequência modulada estava longe de ser uma realidade na estação CSB-21, o indicativo atribuído à Rádio da mais alta cidade portuguesa. A sua voz aquecia as noites guardenses, esbatia a solidão, aumentava progressivamente o auditório, despertando incontidas manifestações de simpatia. “Diziam-me que a minha voz era agradável e depois, também pelo que me é dito, tinha uma maneira muito peculiar de falar. Isto começou, realmente, nos programas da noite, quando a cidade precisava de companhia e a companhia era a rádio. Foram anos, anos e anos com a minha voz a entrar pela casa das pessoas”.
A Rádio Altitude representa para Emílio Aragonez “praticamente uma vida toda. Uma pessoa que entra para ali aos 19 anos e fica lá até aos 68 obviamente que representa tudo”.
Emílio Aragonez é uma memória viva da Guarda e da sua emblemática estação emissora – das suas estórias e tradições – igual a si próprio, referência de um tempo cúmplice das ondas hertzianas, quais laços de solidariedade com a cidade e uma vasta região. (H.S.)
O jornalista Emílio Aragonez vai ser homenageado, amanhã, pelo Rotary Clube da Guarda no decorrer de um almoço-palestra que contará com intervenções de António José Teixeira e Helder Sequeira.
António Emílio Aragonez, figura com profundas ligações à Rádio Altitude, nasceu em 1934 em Portalegre, tendo vindo para a cidade da Guarda com cinco anos. Na estação emissora guardense começou a colaborar por volta de 1950 e desde então a paixão pela Rádio nunca o abandonou, bem como a atividade jornalística.
Desligado, atualmente, da rádio e da imprensa, Emílio Aragonez é um memória viva da Guarda – onde reside – igual a si próprio, referência de um tempo cúmplice das ondas hertzianas, quais laços de solidariedade com a cidade e uma vasta região.
Durante décadas, Emílio Aragonez foi uma das vozes mais populares das emissões radiofónicas feitas, em onda média, a partir da cidade mais alta de Portugal.
Emílio Aragonez, uma figura com profundas ligações à Rádio Altitude, nasceu em 21 de Setembro de 1934, em Portalegre; veio para a Guarda com cinco anos. Posteriormente, face às contingências resultantes da atividade profissional do pai, foi viver para Cascais, Pinhel, Peniche e Seia, após o que ocorreu o regresso definitivo à cidade da Guarda, onde começou a trabalhar aos onze anos, na Ourivesaria Correia.
Aos dezoito anos abriu o seu primeiro estabelecimento comercial, na Rua 31 de Janeiro. Três anos depois mudou-se para a Rua do Campo, instalando-se no antigo espaço da Espingardaria Sport, que pertencera a um antigo chefe da Polícia; iniciava-se um ciclo de atividades na área da relojoaria e ótica; contudo, circunstâncias diversas contribuíram, muitos anos depois, para o abandono da vida comercial e empresarial. Ficou, deste modo, aberto o caminho para uma dedicação total ao jornalismo e à rádio.
Desde os dezanove anos que mantinha, aliás, uma permanente paixão pela Rádio Altitude, onde começou a colaborar no início da década de cinquenta.
Pessoa de improviso fácil, e anotações rápidas, Emílio Aragonez assegurava os diretos da rádio de uma forma atrativa, suscitando o interesse informativo, curiosidade e audição atenta. A Rádio foi, sem reservas, uma grande afeição da sua vida, feita de trabalhos, desencontros, incompreensões silêncios, amarguras e felicidade; vida simultaneamente enraizada em convicções e em princípios, passando ao lado, de eventuais críticas ou atitudes injustificadas.
Ao longo de décadas, deu voz à notícia, trouxe à luz da ribalta questões tantas vezes ignoradas; desencadeou o confronto de opiniões, denunciou injustiças, foi porta-voz de múltiplas aspirações de terras e gentes. Emílio Aragonez assumiu o jornalismo e a rádio sem nunca esquecer a função social subjacente; o que, aliás, foi sempre reconhecido pelos ouvintes, a quem nunca negou a sua presença, e voz, mesmo em situações nas quais motivos de ordem pessoal, o cansaço ou a doença aconselhavam repouso.
A sua voz aquecia as noites guardenses, esbatia a solidão, aumentava progressivamente o auditório, despertando incontidas manifestações de simpatia.
A Rádio representa para Emílio Aragonez “praticamente uma vida toda. Uma pessoa que entra para ali aos 19 anos e fica lá até aos 68 obviamente que representa tudo”, disse-nos há algum tempo. Emílio Aragonez é um memória viva da Guarda – das suas estórias e tradições – igual a si próprio, referência de um tempo cúmplice das ondas hertzianas, quais laços de solidariedade com a cidade e uma vasta região.
É mais do que justificado um reconhecimento público a este homem da Rádio e do Jornalismo; a este homem da Guarda que não esquecemos e felicitamos.
(Helder Sequeira)
"A minha vida dá um livro" é o nome de um ciclo regular que leva à Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço (Guarda) convidados cuja história de vida é repleta de emoções e aventuras.
O próximo convidado é Emílio Aragonez, “um homem que dedicou toda a sua vida à rádio; uma voz conhecida e reconhecida; uma figura que marcou a comunicação social na Guarda”. A sessão com Emílio Aragonez terá lugar na próxima terça-feira, 30 de Junho, às 18 horas. A entrada é livre.
Durante décadas, Emílio Aragonez foi uma das vozes mais populares das emissões radiofónicas feitas, em onda média, a partir da cidade mais alta de Portugal.
Aragonez, figura com profundas ligações à Rádio Altitude, nasceu em 1934, a 22 de Setembro, em Portalegre; para a Guarda veio com cinco anos. Posteriormente, face às contingências resultantes da atividade profissional do pai, foi viver para Cascais, Pinhel, Peniche e Seia, após o que ocorreu o regresso definitivo à Guarda.
Com onze anos começou a trabalhar na Ourivesaria Correia, nesta cidade; as aulas no Liceu ficaram para trás, pois os horários não eram compatíveis com o trabalho; o estudo circunscreveu-se ao período da noite. Emílio Aragonez frequentou o Colégio de S. José, a Escola Comercial e Industrial e a Escola dos Gaiatos, nesta cidade.
Aos dezoito anos abriu o seu primeiro estabelecimento comercial, na Rua 31 de Janeiro. Três anos depois mudou-se para a Rua do Campo, instalando-se no antigo espaço da Espingardaria Sport, que pertencera a um antigo chefe da Polícia; iniciava-se um ciclo de atividades na área da relojoaria e ótica; contudo, circunstâncias diversas contribuíram, muitos anos depois, para o abandono da vida comercial e empresarial. Ficou, deste modo, aberto o caminho para uma dedicação total ao jornalismo e à rádio.
Desde os dezanove anos que mantinha, aliás, uma permanente paixão pela Rádio Altitude, onde começou a colaborar no início da década de cinquenta. “Foi aberto concurso para pessoas externas ao Sanatório, concorri e fui admitido. Para mim era um desafio. Trabalhava durante o dia e à noite ia para a Rádio, a apresentar discos pedidos, que eram imensos. Contudo isto representava o início da concretização de um sonho, de estar ligado à rádio e à informação”.
Nessa época, as emissões da Rádio Altitude eram à noite, tendo depois passado a existir um espaço na hora do almoço. Predominavam os programas de discos pedidos, os quais registavam uma permanente avalanche de solicitações, cujo atendimento se ia prolongando por semanas sucessivas. “Eram tantos os pedidos e o espaço tão reduzido que era colocado um disco num dia e outros em programas posteriores. Por vez para se ouvirem quatro dedicatórias tinha de se esperar um mês”, lembra Emílio Aragonez, mais tarde rendido ao fascínio das reportagens.
Nesse período, e anos subsequentes, havia regras rígidas relativamente às emissões radiofónicas e, como aconteceu até ao 25 de Abril de 1974, a polícia política estava sempre atenta, e atuante. Mesmo assim, Emílio Aragonez desvaloriza essa interferência. “As notícias que eram transmitidas, nos primeiros tempos, eram baseadas nos jornais e estes já tinham passado pela censura”. O que não impediu diversas chamadas de atenção por parte do Administrador ou Diretor da Rádio, e a deslocação, por duas vezes, às instalações de P.I.D.E., contudo sem quaisquer consequências.
Pessoa de improviso fácil, e anotações rápidas, Emílio Aragonez assegurava os diretos da rádio de uma forma atrativa, suscitando o interesse informativo, curiosidade e audição atenta. A Rádio foi, sem reservas, uma grande afeição da sua vida, feita de trabalhos, desencontros, incompreensões silêncios, amarguras e felicidade; vida simultaneamente enraizada em convicções e em princípios, passando ao lado, de eventuais críticas ou atitudes injustificadas.
Ao longo de décadas, deu voz à notícia, trouxe à luz da ribalta questões tantas vezes ignoradas; desencadeou o confronto de opiniões, denunciou injustiças, foi porta-voz de múltiplas aspirações de terras e gentes. Emílio Aragonez assumiu o jornalismo e a rádio sem nunca esquecer a função social subjacente; o que, aliás, foi sempre reconhecido pelos ouvintes, a quem nunca negou a sua presença, e voz, mesmo em situações nas quais motivos de ordem pessoal, o cansaço ou a doença aconselhavam repouso.
Sempre atento ao quotidiano, na sua memória circulam, volvidos estes anos, muitas imagens e sons que pertencem aos bastidores da rádio; fora do estúdio de emissão havia lugar a dramas individuais, sofrimentos, dificuldades a superar, batalhas contra o tempo, necessidade de discernir e graduar com rapidez aquilo que era matéria informativa e não mero adereço de projeções institucionais ou pessoais; ocorriam confrontos marcantes no percurso individual e profissional; impressões muitas vezes gravadas de maneira indelével, que não pactuam com o esquecimento.
O nascimento de Emílio Aragonez para a rádio, e a projeção que alcançou através desta popular emissora, ocorreu na época das emissões em onda média, quando a frequência modulada estava longe de ser uma realidade na estação CSB-21, o indicativo atribuído à Rádio da mais alta cidade portuguesa. A sua voz aquecia as noites guardenses, esbatia a solidão, aumentava progressivamente o auditório, despertando incontidas manifestações de simpatia. “Diziam-me que a minha voz era agradável e depois, também pelo que me é dito, tinha uma maneira muito peculiar de falar. Isto começou, realmente, nos programas da noite, quando a cidade precisava de companhia e a companhia era a rádio. Foram anos, anos e anos com a minha voz a entrar pela casa das pessoas”.
A Rádio Altitude representa para Emílio Aragonez “praticamente uma vida toda. Uma pessoa que entra para ali aos 19 anos e fica lá até aos 68 obviamente que representa tudo”.
Emílio Aragonez é um memória viva da Guarda e da sua emblemática estação emissora – das suas estórias e tradições – igual a si próprio, referência de um tempo cúmplice das ondas hertzianas, quais laços de solidariedade com a cidade e uma vasta região.
Helder Sequeira
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