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No Museu da Guarda vai decorrer na sexta-feira, 5 de maio, a Conferência “Francisco de Pina (1585-1625): O Contacto da Língua Portuguesa com Línguas e Culturas do Extremo Oriente”.
Na data em que se assinala o Dia Internacional da Língua Portuguesa, António Morgado propõe trazer elementos para a construção da biografia daquele padre português, nascido na Guarda.
Carlos Assunção e Gonçalo Fernandes ensaiarão uma reflexão sobre o alcance das transferências linguísticas e culturais da língua portuguesa para a língua vietnamita.
Esta conferência tem início às 14h30. Os interessados podem fazer a inscrição em www.museudaguarda.pt.
Intervenções:
𝐀𝐧𝐭𝐨́𝐧𝐢𝐨 𝐒𝐚𝐥𝐯𝐚𝐝𝐨 𝐌𝐨𝐫𝐠𝐚𝐝𝐨, “𝐏𝐞. 𝐅𝐫𝐚𝐧𝐜𝐢𝐬𝐜𝐨 𝐝𝐞 𝐏𝐢𝐧𝐚, 𝐒.𝐉. (𝟏𝟓𝟖𝟔–𝟏𝟔𝟐𝟓) 𝐌𝐢𝐬𝐬𝐢𝐨𝐧𝐚́𝐫𝐢𝐨 𝐞 𝐋𝐢𝐧𝐠𝐮𝐢𝐬𝐭𝐚 𝐧𝐚 𝐂𝐨𝐜𝐡𝐢𝐧𝐜𝐡𝐢𝐧𝐚 𝐝𝐞 𝐎𝐮𝐭𝐫𝐨𝐫𝐚”
O Pe. Francisco de Pina S. J. será a personalidade egitaniense que terá levado mais longe o nome da sua cidade natal, a Guarda. Esquecido ao longo de vários séculos, este sacerdote jesuíta ressurgiu recentemente na vida do Vietname como figura incontornável da história da língua e do cristianismo daquele país do Extremo-Oriente. Embora a sua ação viesse sendo referida desde as origens por mentores da história dos jesuítas, foram necessários os trabalhos de investigação do francês Roland Jacques para que a atividade de índole linguística deste jesuíta, na então Cochinchina, fosse trazida ao mundo da intelectualidade académica, quer no Vietname quer em Portugal. Guarda, Coimbra, Macau, Malaca e Hoi An (Vietname), constituem os pontos geográficos principais por onde se gastou a vida de Francisco de Pina. A estes acrescentamos o mar e a cidade de Roma, dois dos berços da amnésia portuguesa a que foi sendo condenado ao longo do tempo este genial guardense que está hoje presente na escrita vietnamita, romanizada com a luz e as virtualidades da Língua Portuguesa. A cidade da Guarda está lá e os vietnamitas bem o reconhecem e, por isso, o homenageiam.
𝐂𝐚𝐫𝐥𝐨𝐬 𝐀𝐬𝐬𝐮𝐧𝐜̧𝐚̃𝐨 / 𝐆𝐨𝐧𝐜̧𝐚𝐥𝐨 𝐅𝐞𝐫𝐧𝐚𝐧𝐝𝐞𝐬 (𝐔𝐓𝐀𝐃 / 𝐂𝐄𝐋). "𝐎𝐬 𝐩𝐫𝐢𝐦𝐞𝐢𝐫𝐨𝐬 𝐜𝐨𝐧𝐭𝐚𝐜𝐭𝐨𝐬 𝐝𝐨𝐬 𝐩𝐨𝐫𝐭𝐮𝐠𝐮𝐞𝐬𝐞𝐬 𝐧𝐨 𝐕𝐢𝐞𝐭𝐧𝐚𝐦𝐞 𝐧𝐨 𝐪𝐮𝐚𝐝𝐫𝐨 𝐝𝐚 𝐥𝐢́𝐧𝐠𝐮𝐚 𝐩𝐨𝐫𝐭𝐮𝐠𝐮𝐞𝐬𝐚 𝐜𝐨𝐦𝐨 𝐦𝐞𝐭𝐚𝐥𝐢́𝐧𝐠𝐮𝐚 𝐧𝐨 𝐎𝐫𝐢𝐞𝐧𝐭𝐞"
A língua portuguesa exerceu uma ação verdadeiramente civilizadora nas descrições de um conjunto alargado de línguas faladas no Oriente nos séculos pretéritos, que não encontra paralelo em nenhuma das outras línguas ocidentais. Com efeito, os descobrimentos portugueses no Oriente colocaram aos gramáticos e lexicógrafos missionários do Padroado Real Português o problema da descrição de numerosíssimas línguas de sistemas completamente diferentes do português ou do latim, a língua franca de então, como, por exemplo, o japonês, o chinês e o vietnamita.
O trabalho que se apresenta visa enunciar o papel que os missionários portugueses tiveram na descrição desses novos idiomas, num primeiro momento. Também destacaremos a geração dos missionários a quem Roland Jacques (n. 1943) chamou de jesuítas pioneiros, no território que corresponde hoje ao Vietname, e que os Portugueses denominaram Cochinchina. Os portugueses chegaram à região de Chăm Pa (região central e sul do Vietname) em meados de setembro de 1516. Os contactos iniciais não foram planeados e resultaram de uma tempestade que obrigou os barcos a mudar de rumo, mas a “descoberta” oficial da “Cochinchina” pelos portugueses ocorreu sete anos depois, em 1523 (comemora-se neste ano os 500 anos). Apesar de os portugueses nunca terem conquistado o Vietname, a sua presença lá durou mais de três séculos, com muitos relacionamentos casuais, principalmente através da evangelização dos missionários do Padroado Português. No entanto, as primeiras descrições linguísticas pertencem aos jesuítas pioneiros, onde o egitaniense Francisco de Pina, S.J. (1585 / 1586-1625), teve um papel verdadeiramente precursor e decisivo.
𝐆𝐨𝐧𝐜̧𝐚𝐥𝐨 𝐅𝐞𝐫𝐧𝐚𝐧𝐝𝐞𝐬 / 𝐂𝐚𝐫𝐥𝐨𝐬 𝐀𝐬𝐬𝐮𝐧𝐜̧𝐚̃𝐨 (𝐔𝐓𝐀𝐃 / 𝐂𝐄𝐋), "𝐅𝐫𝐚𝐧𝐜𝐢𝐬𝐜𝐨 𝐝𝐞 𝐏𝐢𝐧𝐚, 𝐒.𝐉. (𝟏𝟓𝟖𝟓/𝟏𝟓𝟖𝟔–𝟏𝟔𝟐𝟓) 𝐞 𝐚 𝐋𝐮𝐬𝐢𝐭𝐚𝐧𝐢𝐳𝐚𝐜̧𝐚̃𝐨 𝐝𝐨 𝐕𝐢𝐞𝐭𝐧𝐚𝐦𝐢𝐭𝐚"
As primeiras descrições linguísticas do idioma Anamita ou Tonquinense (hoje chamado Quốc ngữ [língua nacional]) pertencem ao grupo a que Roland Jacques (n. 1943) chamou de jesuítas pioneiros, especialmente os padres portugueses Francisco de Pina (1585 / 1586-1625), Gaspar do Amaral (1594-1646) e António Barbosa (1594-1647) e o francês Alexandre de Rhodes (1593-1660). Parece ser hoje consensual entre os especialistas mundiais que foi o egitaniense Francisco de Pina o criador do sistema de romanização (ortografia baseada nos carateres latinos) do Vietnamita, através da influência do também jesuíta João Rodrigues "Tçuzu" (1562–1633), à semelhança do que este havia feito para o Japonês. Gaspar do Amaral, António Barbosa e Alexandre de Rhodes desenvolveram e melhoraram o método, mas o professor de todos eles foi Francisco de Pina. Já Lúcio Craveiro da Silva, S.J. (1914-2007), resumia o trabalho linguístico deste guardense como: “(…) verdadeiramente notável e excepcional foi o trabalho linguístico dos missionários nos reinos de Siam, Conchinchina e Anam, onde se notabilizou principalmente o Padre Francisco Pina, natural da Guarda, que criou uma escola da língua conchinchina, mais ou menos correspondente ao actual Vietnam (…)” (Silva 2000: 83).
Parece também ser hoje indesmentível a influência da ortografia da língua portuguesa na língua vietnamita, com a utilização do dígrafo português <nh> para representar o fonema /ɲ/, em detrimento do arquigrafema francês e italiano <gn>. No entanto, a influência de Pina em Rodes não foi apenas na utilização do sistema romanizado, mas também na descrição dos tons do vietnamita. Francisco de Pina, na Manuductio ad linguam Tunchinensem, refere que se deveria começar por explicar o alfabeto latino, seguindo a tradição, mas, para ele, a aprendizagem dos tons (ou “acentos”, na sua terminologia) seria muito mais importante. A sua descrição dos tons, com a colocação das notas numa pauta musical com clave de sol, é impressionante e deveras original.
Fonte: Museu da Guarda / CMG
O Centro de Estudos Ibéricos (CEI) vai promover a partir de hoje, e até 22 de abril, a sexta edição dos Encontros Imagem & Território.
Este evento decorre do projeto “Transversalidades – Fotografia sem Fronteiras” e do compromisso do CEI para com “os territórios de baixa densidade, onde relevam os transfronteiriços”, refere uma nota divulgada pelo Centro de Estudos Ibéricos.
Tendo como mote “Memória, Coesão e Literacia Visual” o 6º Encontro I&T integra exposições, debates, mostras e oficinas de fotografia, lançamento de publicações, maratona e roteiro fotográfico.
“Através do poder comunicativo que a fotografia encerra, as atividades deste 6º Encontro visam estimular um debate crítico sobre os espaços onde nos inserimos, procurando gerar uma dinâmica de desenvolvimento que reverta o ciclo vicioso em que mergulharam os territórios de baixa densidade.” Adianta o Centro de Estudos Ibéricos.
“Procura-se, a partir de novos olhares, uma (re)interpretação do Interior com uma consequente renovação imagética, enaltecendo sinais emergentes suscetíveis de fazer renascer um horizonte de esperança”.
À semelhança dos anos anteriores, os Encontros contam com o envolvimento da comunidade da Guarda, através de atividades em escolas, instituições sociais, de saúde e freguesias, visando levar esta arte a novos públicos, numa perspetiva de democratização cultural.
O programa integra a exposição “Rumores do Mundo”, Coletiva dos Concorrentes do Concurso Transversalidades, a inaugurar hoje pelas 18 horas na Galeria Evelina Coelho (Paço da Cultura).
No Bar do Pequeno Auditório, Teatro Municipal da Guarda, será realizado hoje pelas 21h30 um debate sobre “Imagem e coesão territorial: a Terra, as Gentes, o Interior emergente”, com a participação de Henrique Cayatte, Alberto Prieto, Rui Formoso, Fátima Gonçalves, Duarte Belo, Moderação. O debate será moderado por Valentín Cabero.
Amanhã, dia 15 de abril, será inaugurada no Mercado Municipal da Guarda, pelas 10 horas, a exposição “Terra e as Gentes, Coletiva do Fotoclube da Guarda”. No Museu da Guarda, a partir das 14h30, vai abrir a exposição “Memoria en la Raya”, de Victorino García Calderón. Pelas 15 horas será inaugurada, também no Museu da Guarda, a exposição “Reflexões em Preto e Branco: A Jornada de um Cine Teatro no Tempo”, de Pedro Carvalho.
Inauguração de Exposição.
Na Sala Tempo e Poesia, Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço terá lugar pelas 16h30 a inauguração da exposição “A face dos livros”, da Associação Cultural Ephemera, seguindo-se um debate sobre a “Imagem e Memória: A face dos livros” com José Pacheco Pereira e Carla Pacheco.
Para o Café-Concerto do Teatro Municipal da Guarda está agendada, pelas 21 horas, a inauguração da exposição fotográfica de Pedro Baltazar subordinada ao tema “100gentes”.
No mesmo espaço do TMG decorrerá a partir das 21h30 o debate “Imagem e coesão territorial: ecos e memórias da fronteira”, com intervenções de Álvaro Domingues, María Isabel Jiménez, Helder Sequeira, e Valentin Cabero. O debate será moderado por Lúcio Cunha).
No domingo, dia 16 de abril, decorrerá a partir das 9 horas a maratona fotográfica “Imagem & Território: Aldeias do Vale do Mondego”.
Os Gambozinos e Peobardos - Grupo de Teatro da Vela vão estrear na próxima sexta-feira, 3 de fevereiro, o espetáculo “O Dia Depois de Amanhã”.
Esta décima sétima criação dos Gambozinos e Peobardos resulta de “conversas com antigos combatentes da Guerra Colonial, narradas na primeira pessoa, com o olhar no capim, com o cheiro nas sanzalas, a voz ainda embargada e a memória a pregar partidas”, como é referido a propósito desta nova produção.
Trata-se de um espetáculo “criado com as estórias de quem viveu a Guerra Colonial nas três frentes, Angola, Guiné-Bissau e Moçambique. 60 anos passados”.
Foto: Gambozinos e Peobardos
O “Dia Depois de Amanhã” é uma “narrativa onde a realidade e a ficção se confundem, onde o passado é o presente e o presente é o passado e as lágrimas sabem a mar, sabem a despedida, sabem a partidas e a chegadas”.
Com dramaturgia de António Manuel Gomes e Pedro Sousa, que é também o encenador, este novo trabalho dos Gambozinos e Peobardos ( em coprodução com o Teatro Municipal da Guarda (TMG), com o apoio da Santa Casa da Misericórdia da Guarda – extensão do Lar da Vela e do Trigo Limpo Teatro ACERT de Tondela) é apresentado no Pequeno Auditório do TMG, pelas 21h30, sendo de novo levado à cena no sábado, 4 de fevereiro, pela mesma hora.
"Leitura Infinita de 'As Cidades Invisíveis' de Italo Calvino" foi o tema da conferência proferida nesta quinta-feira, 13 de outubro, por Marco Lucchesi, na Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço.
Esta iniciativa, promovida pela Câmara Municipal da Guarda, inseriu-se no Ciclo de Conferências Internacionais "A Europa dos Escritores". As conferências são também dirigidas aos jovens estudantes, havendo duas sessões na sala 'Tempo e Poesia' da BMEL: uma às 15h00 para o público mais jovem e outra às 18h00 para o público em geral e ambas com entrada livre.
O Ciclo de Conferências Internacionais: A Europa dos Escritores aborda temas da história das culturas e das cidades da Europa a partir de perspetivas relacionadas com obras literárias e dos seus autores, dando diretamente a palavra aos próprios escritores, mas também aos investigadores nas áreas da história das civilizações, da arte ou da teoria da cultura. Este Ciclo tem ainda em agenda, no dia 17 de novembro, uma conferência sobre as 'Representações da Guarda na obra de Augusto Gil', com a presença de Helder Sequeira e Thierry Proença dos Santos; no dia 13 de dezembro com Nuno Júdice com o tema 'A Cidade e a Poesia'.
A Europa dos Escritores é uma organização do Município da Guarda / Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço, com a coordenação ciêntifica de Jorge Maximino, em parceria com o Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, e conta com a colaboração do Instituto Politécnico da Guarda, dos Agrupamentos de Escolas da Sé e Escolas Afonso de Albuquerque da Guarda, da Rede Nacional de Bibliotecas Públicas e da Rede Intetermunicipal de Bibliotecas das Beiras e Serra da Estrela.
fonte: CMG
Na Guarda vai decorrer no próximo domingo, 5 de junho, a Feira de Antiguidades e Colecionismo.
Com esta iniciativa a autarquia guardense pretende atrair ao centro histórico da cidade visitantes, turistas, colecionadores e incrementar a divulgação e comercialização do objeto antigo, artístico e cultural
Nesta feira – realizada este ano na Praça Luís de Camões – está prevista a participação de cerca de 50 vendedores.
As próximas edições da feira terão lugar nos dias 3 de julho, 7 de agosto, 4 de setembro e 2 de outubro.
A Feira de Antiguidades é organizada pela da Câmara Municipal da Guarda.
“O passado passou. O presente agoniza.” Estas palavras de Miguel Torga podem ser uma legenda adequada para a imagem atual dos emblemáticos pavilhões do antigo Sanatório Sousa Martins.
Recentemente líamos, nas páginas deste jornal [O Interior], que tinha sido equacionada a decisão de transferir os serviços da Unidade Local de Saúde “A Ribeirinha” para o pavilhão D. António de Lencastre (e não Filipa de Lencastre como por vezes aparece nalgumas publicações ou declarações públicas…), após a necessária recuperação e adaptação.
Pavilhão D. António de Lencastre (Sanatório Sousa Martins, Guarda).
Esperemos que a ideia não seja mais uma das intenções manifestadas a propósito da recuperação dos degradados edifícios do antigo Sanatório Sousa Martins (SSM), sem concretização objetiva.
Aliás, ao longo de décadas, têm sido apresentadas várias soluções. Recordemos, a propósito o artigo de Martins de Queirós (o último diretor do SSM) publicado em 15 de dezembro de 1986, no jornal Notícias da Guarda, sob o título “A respeito da Saúde na Guarda – carta aberta à Senhora Ministra da Saúde”.
Referindo-se à reconversão do Sanatório, defendia a utilização das infraestruturas daquela unidade de “modo a que, nesta área de 27 hectares, se exercessem todas as disciplinas médico-sanitárias”, pensando esse espaço como “Cidade-Saúde”. O projeto daquele clínico tinha subjacente a sua permanente preocupação pela “procura de soluções para que os Serviços constituíssem fonte de dignificação e prazer para quem os presta e uma esperança reconfortante para quem os recebe”.
Martins de Queirós retomou, no mês seguinte, a explanação das suas ideias, no Notícias da Guarda, em artigos como “A Guarda à procura do hospital que lhe é devido” e “Ainda a propósito de Saúde”; neste último texto defende o projeto de um Centro Policlínico a instalar no Pavilhão I, do ex-Sanatório Sousa Martins.
Ainda em dezembro de 1986, Arminda Cepeda (administradora hospitalar), num artigo intitulado “Hospital Distrital da Guarda poderá passar para categoria inferior”, interrogava-se sobre o “que é feito do Plano Diretor para o nosso hospital, plano que previa o seu alargamento e junção de instalações, gizado e concebido há mais de 10 anos e que “jaz” nas gavetas dos gabinetes ministeriais, só porque “não há verbas, enquanto outros hospitais, já de grande porte, se vêem contemplados com obras de ampliação, no mínimo, megalómanas?”…
Decorridos estes anos, todos sabemos como tem sido a evolução do processo da nossa unidade hospitalar e, sobretudo, o sucessivo adiamento de um plano de recuperação e de utilização, adequada, dos antigos pavilhões do Sanatório, mormente dos edifícios D. António de Lencastre e Rainha D. Amélia.
Pavilhão Rainha D. Amélia (Sanatório Sousa Martins, Guarda)
Daí que se justifique, mais uma vez, sublinhar a importância da preservação do património de uma cidade que esteve na vanguarda da luta contra a tuberculose. Tanto mais que no próximo dia 18 de maio ocorrerá a passagem do centésimo décimo quinto aniversário da inauguração do Sanatório da Guarda, que foi – repetimos – uma das principais instituições de combate e tratamento da tuberculose, em Portugal.
A designação de “Cidade da Saúde”, atribuída à Guarda, em muito se fica a dever à instituição que a marcou indelevelmente, ao longo de sete décadas, no século passado. A Guarda foi, nessa época, uma das cidades mais procuradas do nosso país; a afluência de pessoas deixou inúmeros reflexos na sua vida económica, social e cultural.
A sua apologia como localidade “eficaz no tratamento da doença” foi feita por distintas figuras, pois era “a montanha mágica” junto à Serra. Muitas pessoas (provenientes de todo o país e mesmo do estrangeiro) subiam à cidade mais alta de Portugal com o objetivo de usufruírem do clima de montanha, praticando, assim, uma cura livre, não sendo seguidas ou apoiadas em cuidados médicos.
As deslocações para zonas propícias à terapêutica “de ares”, e a consequente permanência, contribuíram para o aparecimento de hotéis e pensões. Isto porque não havia, no início, as indispensáveis e adequadas unidades de tratamento; uma situação que originou fortes preocupações nas entidades oficiais.
No primeiro Congresso Português sobre Tuberculose, o médico Lopo de Carvalho tinha já destacado os processos profiláticos usados na Guarda. Este médico foi um dos mais empenhados defensores da criação do Sanatório guardense (do qual viria a ser o primeiro direto), que seria inaugurado, a 18 de maio de 1907, com a presença do rei D. Carlos e da Rainha D. Amélia.
O fluxo de tuberculosos superou, largamente, as previsões, fazendo com que os pavilhões construídos se tornassem insuficientes perante a procura. O Pavilhão 1 teve de ser aumentado um ano depois, duplicando a sua capacidade. Um novo pavilhão foi acrescentado, em 1953, aos três já existentes. O Sanatório Sousa Martins ganhou, consequentemente, maior dimensão e capacidade de tratamento dos tuberculosos.
Anotar a vergonhosa realidade dos antigos pavilhões e a passagem dos 115 anos após a inauguração deste Sanatório, não é um mero exercício de memória ritualista. É evidenciar o estado lastimoso em que se encontra o património físico de uma instituição com merecido relevo na história da saúde em Portugal.
Um Santório ligada à solidariedade, à cultura e à história da radiodifusão sonora portuguesa, mercê da emissora aqui criada (Rádio Altitude). É mais do que tempo para soluções e iniciativas concretas, em prol da reabilitação e aproveitamento desta memória, agonizante, no centro da cidade mais alta de Portugal.
in O INTERIOR, 20|04|2022
Helder Sequeira
correio.da.guarda@gmail.com
Mário Branquinho é o principal rosto do CineEco, um “dos festivais mais antigos do mundo neste género cinematográfico”, como afirmou ao CORREIO DA GUARDA. “Esta notoriedade tem sido ganha pelo percurso seguido, pelos desafios vencidos e por muitas ousadias levadas à prática”, acrescentou ainda.
Apostado no desenvolvimento de Seia, e do interior, Mário Branquinho diz-nos que “só sonhando alto, com os pés assentes na terra, podemos fomentar o seu desenvolvimento. E o CineEco é uma prova dessa afirmação, fruto de uma vasta equipa, que ano após ano inova e se lança em novos desafios”.
E é com espírito dinâmico e empreendedor que projeta a construção de um Centro de Artes no Sabugueiro, como nos adianta nesta entrevista onde aborda, igualmente a sua passagem pela política autárquica que abandonou e assim pretende permanecer. “Foi uma experiência enriquecedora, saí com muitas histórias para contar. O meu contributo para a comunidade é agora exercido em exclusivo na ação de cidadania, longe de ambientes político-partidários.”
Com o Mestrado em Animação Artística o nosso entrevistado é Técnico Superior do Município de Seia, responsável e programador da Casa Municipal da Cultura de Seia, coordenador do Seia Jazz & Blues, Diretor e fundador do CineEco e membro da Direção da GFN Green Film Network, com sede na Áustria. Autor dos livros de escrita criativa “Sentido Figurado”, (1996); “O Mundo dos Apartes”, (2002), “Estranhos Dias à Janela” (2015) e “Cinema Ambiental em Portugal, filmes do mundo em 25 anos de CineEco – 1995-2020” (2021), que vai ser apresentado no próximo dia 12 de fevereiro.
Quem é o Mário Jorge Branquinho?
É alguém que gosta de fazer, que não gosta de estar parado. Que gosta de viver e envolver pessoas em projetos inovadores e desafiantes. Alguém que procura dar contributos para o desenvolvimento local, com espírito de missão, desafiando outros a fazer o mesmo.
O interesse no associativismo começou bem cedo. Como surgiu e que projetos foram desenvolvidos?
O Associativismo começou na minha aldeia, o Sabugueiro, quando jovem, através da criação de uma associação cultural, fazendo teatro, jornalismo, cinema e mais tarde como Presidente da Associação de Estudantes da Escola Secundária de Seia, incrementando iniciativas estudantis.
Nessa altura frequentava muitos cursos de teatro, dinâmica de grupos, serigrafia, jornalismo e outras ações promovidas pelo FAOJ da Guarda, hoje Instituto da Juventude, com Saraiva Melo e Américo Rodrigues. Foram ações que me marcaram e me ajudaram a criar este caminho de programador cultural.
E como ocorreu a sua ligação à atividade teatral? Durou quanto tempo? Que memórias guarda?
Nessa altura tínhamos o Grupo de Teatro do Sabugueiro, que levou à cena várias peças, das quais a mais emblemática foi O Doido e a Morte, de Raul Brandão, com a qual participámos no Ciclo de Teatro do Inatel, pelas freguesias. Tínhamos também cursos de teatro orientados pelo Américo Rodrigues e outros na Pousada da Juventude das Penhas Douradas. Tudo isso, levou-me a ser Bolseiro do FAOJ durante um ano, procurando incrementar o associativismo juvenil no concelho de Seia.
No seu percurso está também uma estreita ligação com a rádio e a imprensa. Quando iniciou esta colaboração ativa com a comunicação social e quais foram os momentos ou períodos mais marcantes?
Simultaneamente fui escrevendo para jornais locais e regionais, assim como depois em rádios locais e regionais.
O primeiro embate que tive, foi um texto no Jornal Porta da Estrela de Seia, dando conta de que uma Comissão de Festas tinha dado uma parte dos lucros à igreja e a outra parte a tinha aplicado na compra de uma ambulância para a população. E rematava a notícia, perguntando se “o senhor padre era contra o progresso da freguesia?”. No domingo seguinte o pároco leu a notícia na missa, perguntou, furioso quem era o autor da notícia, levantei a mão, e ripostou que era o último dia que vinha dizer missa.
À saída tinha metade da aldeia contra mim, porque iriam ficar sem padre por causa de uma notícia. A pressão foi muita nos dias seguintes, para pedir desculpa, mas tal não aconteceu, nem o padre se foi embora.
Na Rádio comecei na Rádio Beira Alta, em Seia, depois, ainda no tempo das “rádios pirata”, tive a minha própria rádio, Rádio Clube Serra da Estrela (RCSE), que durou 9 meses e que foi para mim uma grande escola. Tinha quase 100 colaboradores a vários níveis, mas num domingo de Páscoa, obviamente nenhum foi fazer rádio e por isso, estive eu o dia todo a passar música, publicidade e a dizer as horas. Ao fim da tarde batem à porta, era um casal com uma travessa de bolos e vinho do Porto, porque se aperceberam da minha maratona radiofónica e quiseram ser simpáticos.
Mais tarde, criei uma produtora, que fazia as manhãs da rádio na RBA, que foi legalizada e relançámos o Jornal Noticias da Serra, durante algum tempo semanal e depois quinzenal.
Paralelamente ia colaborando com jornais regionais e nacionais, e fui durante vários anos correspondente da Rádio Altitude, a convite do Hélder Sequeira, o que foi uma excelente experiência.
Há uma maior paixão pela rádio ou pela imprensa? Continua a colaborar?
Fazer rádio no final dos anos 80 e primeiros anos da década de 90 era mágico. Da minha parte era mais informação, noticias, debates e entrevistas. Aqui e ali, alguns passatempos. Era a magia da rádio e toda a gente na cidade estava a ouvir, porque se fazia muita interação e as pessoas reviam-se na rádio da sua cidade. A imprensa também seduzia, pelo clima criativo que se vivia e sobretudo pelas crónicas que escrevia, o que mais tarde deu origem a alguns livros de crónicas numa lógica de escrita criativa.
No ano dois mil, enquanto proprietário do jornal, fui pela primeira vez ao Brasil, a um congresso da imprensa regional portuguesa, numa delegação da UNIR, que aproveitou para se integrar nas comemorações dos 500 anos do Descobrimento do Brasil.
Por coincidência, fui o primeiro a sair do avião, em Salvador da Bahia, onde estava uma equipa de reportagem da TV Globo, à espera da comitiva de jornalistas portugueses e me entrevistou, por ser o primeiro a sair do avião. No dia seguinte fizeram comigo e com o meu companheiro de Viagem Luciano Dias, filmagens do nosso primeiro dia, no Brasil, 500 anos depois de Pedro Alvares Cabral ali aportar. A reportagem passou depois no Fantástico, programa de maior audiência no Brasil, naquela altura.
A Rádio, na nossa região, continua a ter futuro?
A Rádio passa por dias difíceis dada a grande concorrência, sobretudo das redes sociais, mas tem de se reinventar constantemente. Em termos de conteúdo tem de criar impacto e sobressalto, ainda que por lapsos de tempo. Não pode ser com programas mansos e politicamente corretos, na perspetiva de passar despercebida.
Em termos tecnológicos, tem de saber conjugar-se com as novas tecnologias, em interação com as redes sociais e outras ferramentas online, como complemento. Levar os cidadãos da região para dentro da programação, como atores que se revejam e por outro lado, funcionando como agitador de consciências, estimulando à participação dos cidadãos nas causas e coisas públicas. Estimular a participação no exercício critico permanente. E sem ser derrotista, proporcionar condições para o incremento de maior vigilância e escrutínio junto dos políticos locais, para o cumprimento da missão.
Entendo que tudo isto se faz por ciclos, porque em tudo que é competitivo, o maior desafio é manter por muito tempo os desempenhos em alta. Como em todas as áreas criativas, na rádio, o melhor está sempre para vir, e não se pode nunca dormir à sombra de um qualquer pequeno êxito. Por isso, também a rádio tem futuro se em cada estação se introduzir inovação constante.
O que acha do jornalismo que é, atualmente, feito no interior?
Há um grande esforço por arte daqueles que se dedicam a esta nobre profissão, mas entendo muitas das dificuldades por que passam. Conheço bom e mau jornalismo, quer a nível nacional quer regional. Destacam-se os não preguiçosos, os que não fazem fretes, os que sabem promover a região e os que não vergam aos interesses. Os que vão além do jornalismo de comunicados e de agências.
Há nalguns jornais uma falta notória de criatividade para cativar leitores, conjugando o papel com o suporte digital, como complemento. Defendo inclusivamente projetos que juntem vários suportes, papel e online, vertendo neste último o jornal, a rádio e a televisão, quando possível. Jornalismo em pacote, numa lógica de complementaridade e de criação de escala; independentemente disto poder ser provocador e considerado descabido ou demasiado ambicioso.
O CineEco, de quem é o rosto principal, continua a ser uma das suas paixões. Como começou este projeto e quais foram as principais dificuldades em afirmar este festival?
Esta é outra conversa, mas que vem no seguimento do meu trabalho para a comunidade. Em meados da década de 90, acumulei a minha função de animador cultural do município de Seia com a de bolseiro da Associação de Telecentros Rurais de Portugal, que me permitiu viajar muito pelo Interior de Portugal e pela Europa e conhecer nas realidades.
Portugal estava a despertar para os fundos comunitários decorrentes da nossa adesão à então CEE, em 1986. Nessa altura colaborei com outros jovens do interior de Portugal na disseminação do espírito das associações de desenvolvimento rural. O objetivo era procurar estimular as pessoas a incrementar pequenos negócios, numa lógica de desenvolvimento sustentado.
Entre muitas iniciativas que lancei e ajudei a incrementar, destaco a realização de um concurso de vídeo sobre ambiente, em 1994, no âmbito dessa participação europeia e no quadro de trabalhador do município. A iniciativa correu bem e foi o impulso para propor ao então Presidente da Câmara a organização de um festival de cinema de âmbito internacional, e que fosse além das temáticas da paisagem, mas de ambiente em geral.
Procurámos parceiros e em pouco tempo o município de Seia tinha a adesão do Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE), do Instituto de Promoção Ambiental, da ADRUSE e da Região de Turismo. Nesta corrida, tive um aliado importante, o Nuno Santos de Gouveia, que tinha ganho o primeiro prémio do concurso anterior e era funcionário do PNSE. Depois convidámos o Lauro António para diretor artístico e eu mantive-me como diretor executivo, que garantia meios e organização.
Em 2012, depois de uma experiência falhada com a organização do Indie Lisboa, fui convidado para assumir a direção artística e daí para cá, essa tem sido a minha responsabilidade. Naturalmente que organizar um evento desta dimensão numa região do interior é muito mais desafiante do que numa região muito cosmopolita, por isso procuro não me cansar, porque sei que só sonhando alto, com os pés assentes na terra, podemos fomentar o seu desenvolvimento. E o CineEco é uma prova dessa afirmação, fruto de uma vasta equipa, que ano após ano inova e se lança em novos desafios.
Passados estes anos, como vê o CineEco, em termos mundiais?
O CineEco é uma referência no panorama internacional, desde logo porque é dos festivais mais antigos do mundo neste género cinematográfico. Esta notoriedade tem sido ganha pelo percurso seguido, pelos desafios vencidos e por muitas ousadias levadas à prática.
Anualmente temos a melhor produção de cinema ambiental nas competições, convidados de todos os cantos do mundo e pontualmente fazemos ações que atraem atenções internacionais. Uma delas foi a realização do primeiro fórum mundial de festivais de cinema de ambiente, que decorreu no CineEco de 2018 e o segundo em 2019, atraindo a Seia diretores de 35 festivais de todo o mundo, além de outros reputados oradores.
A participação no Fórum Mundial da Água, em Brasília, a convite da organização e agora a perspetiva de nova participação no Fórum que decorrerá em Dakar, no Senegal, através da organização de Mostras de curtas sobre a temática da água.
O facto de termos sido um dos fundadores da rede de festivais de cinema de ambiente, a Green Film Network, na qual sou secretário da direção e que junta 40 festivais de todo o mundo, é outro fator de afirmação. Para este ano, estamos a preparar uma Mostra de filmes em Cabo Verde e outra em Maputo, Moçambique.
Qual a importância do CineEco para a educação ambiental?
O CineEco cumpre uma missão de serviço público muito relevante e isso deve-se desde logo à vontade do município em apostar nesta vertente, disponibilizando o espólio fílmico a escolas e universidades de todo o país.
Neste momento há 84 entidades em Portugal que acolhem o festival em extensões, e a grande maioria inclui a componente de serviço educativo, através de curtas e “curtinhas de animação”.
E o entusiasmo é tanto maior quanto mais defendemos que o cinema é uma importante ferramenta de promoção dos valores ambientais, sobretudo nos dias de hoje, em que o tema faz parte das preocupações das pessoas, porque se percebeu, finalmente, que o fenómeno das alterações, climáticas, por exemplo é uma coisa muito séria, e não romantismo de ambientalistas.
Sendo um dos mais antigos festivais dedicados à temática ambiental, como pensa este evento para os próximos anos?
Para o futuro o CineEco tem de continuar a surpreender e estou certo de que o município reafirmará o seu posicionamento no incremento desta área artística.
Seia, que tem o seu Centro de Interpretação da Serra da Estrela, deve assumir esta centralidade e responsabilidade, atraindo indústrias criativas e eco inovadoras, sobretudo realizadores, produtores e distribuidores, numa perspetiva de desenvolvimento sustentado e posicionamento internacional. Através do estreitamento de relações com o IPG, que desde o início esteve sempre envolvido e a própria Universidade da Beira Interior, com curso de Cinema, e várias estruturas culturais da Comunidade Intermunicipal, pode-se atrair indústrias de cinema e projetos inovadores e amigos do ambiente, com destaque para residências artísticas e eventos paralelos.
O triângulo – cinema, ambiente e turismo – será primoroso para alavancar ainda mais a região, a partir deste festival de referência e diferenciador.
Vai apresentar, a 12 de fevereiro, um livro intitulado “Cinema Ambiental em Portugal”. É uma obra dedicada ao CineEco? E que interpelações coloca com este trabalho?
Este é um livro que me senti na obrigação de escrever, para contar na primeira pessoa o historial de um festival com mais de um quarto de século.
Um percurso que assinala filmes e personalidades do mundo, do estado do cinema ambiental em Portugal e das dinâmicas desenvolvidas ao longo dos anos, em Seia, uma cidade do interior do país, que resiste no panorama cultural nacional.
A edição é do Município de Seia e da Associação de Arte e Imagem de Seia e conta com o apoio da Direção Geral do Ambiente, do ICA — Instituto de Cinema e Audiovisual, da Lipor, da Câmara Municipal de Lisboa | Capital Verde Europeia, Ciência Viva e Turistrela.
Há outras publicações suas em agenda?
Há sempre ideias. Falta tempo e oportunidade. Quando surgirem estes últimos, certamente que haverá mais obras.
Dirige a Casa da Cultura de Seia. Quando começou a sua ligação a esta estrutura cultural?
Há quase 20 anos que desempenho a tarefa de responsável desta estrutura cultural de Seia, enquanto Técnico Superior do município.
Quais os eventos ou iniciativas que destaca, até agora, enquanto programador?
A programação da Casa da Cultura, sobretudo ao longo destes quase 20 anos, tem registado vários fenómenos na oferta cultural ao concelho e região.
Desde logo, porque além do cinema comercial exibido ao longo do ano, com duas sessões semanais, contempla alguns eventos âncora e programação pontual de várias áreas artísticas.
Destaco por isso, o CineEco, enquanto evento maior e que cumpre em 2022 a sua 28ª edição, o Seia Jazz & Blues, que vai na sua 17ª edição, o Festival de Artes - Artis, organizado agora pela Associação de Arte e Imagem em parceria com o município. Em termos de adesão de público, já houve anos com cerca de 50 mil espetadores por ano, número que nos últimos anos antes da pandemia se situou na casa dos 35 mil.
Depois de dois anos de pandemia, estamos agora a recuperar alguma normalidade, com uma candidatura à DGArtes, depois da certificação desta estrutura que passou a integrar a Rede de Teatros e Cineteatros Portugueses.
As estruturas culturais do distrito têm trabalhado isoladas ou em rede?
Sim, tem sido feito um trabalho notável ao nível da programação em rede da Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela (CIMBSE), com vários projetos culturais e comunitários em rede, sobretudo na área da música, teatro e dança.
A própria candidatura da Guarda a Capital Europeia da Cultura deu mais um contributo para o reforço da rede, que está de novo no terreno com o Festival Cultural da Serra da Estrela, que contempla uma bolsa artística com projetos de cada um dos 15 concelhos e que terão oportunidade de se apresentar em diferentes concelhos.
E como tem sido a sua experiência autárquica? Tem projetos para os próximos anos?
Fui durante 3 mandatos líder da bancada do PS na Assembleia Municipal de Seia e no último mandato, de 2013 a 2017, nessa qualidade desempenhei o cargo de Presidente da Assembleia da Comunidade Intermunicipal – CIMBSE. Todavia abandonei a política autárquica e assim pretendo permanecer.
Foi uma experiência enriquecedora, saí com muitas histórias para contar. O meu contributo para a comunidade é agora exercido em exclusivo na ação de cidadania, longe de ambientes político-partidários.
Como vê, atualmente, a realidade social, económica e cultural do interior?
Vejo com muita dificuldade, a possibilidade de se virar uma página se não se mudar de mentalidades dos agentes políticos, de quem muito depende. O que se verifica é que os governos são cada vez mais centralistas e cada vez menos descentralizadores, o que aumenta as dificuldades dos agentes económicos e culturais da região.
A própria Ministra da Coesão confessou a sua impotência para inverter a situação. Os políticos do Interior que são eleitos para lugares da administração, sobretudo para o Parlamento, terminam todos numa subserviência muito grande à lógica do líder do partido e pouco fiéis às necessidades da região. Assumem um discurso na oposição e outro completamente diferente na governação.
Perante este cenário pouco encorajador, resta aos resistentes que ficam, o redobrar de forças, aumentar entusiasmo e dinamismo para empreender lógicas de desenvolvimento sociais, económicas ou culturais.
O que gostaria de ver concretizado a curto prazo?
A curto prazo, o maior empenhamento vai para a necessidade que tenho de resistir à vontade de partir, como a maioria tem feito ao longo das últimas décadas e continuar o percurso de resiliência, para fazer o que estiver ao meu alcance.
Seja no plano profissional, seja no de cidadania. Enquanto cidadão, estou empenhado em novos projetos da Associação de Beneficência do Sabugueiro, que além do trabalho desenvolvido numa Estrutura Residencial para Pessoas Idosos, desenvolve atividades no âmbito do Projeto Alavanca, para pessoas com dependências alcoólicas nos concelhos de Seia e Gouveia. Tem ainda o Hostel Criativo, que acolhe Residências artísticas de várias áreas.
O próximo projeto será a construção de um Centro de Artes no Sabugueiro, como complemento às atividades do Hostel, para dar resposta ao grande fluxo turístico desta eco aldeia, que tem o seu centro histórico quase todo remodelado e regista mais de 400 camas de alojamento local, hotel e hostel.
CORREIO DA GUARDA
No Museu Arqueológico do Carmo, em Lisboa, vai ser apresentado hoje o livro "Côa Symposium - Novos Olhares sobre a Arte Paleolítica".
Este livro tem a coordenação de Thierry Aubry, André Santos e Andrea Martins.
A apresentação decorrerá a partir das 17h30.
Em Seia vai ser apresentado no próximo dia 12 de fevereiro, pelas 21h30, o livro “Cinema Ambiental em Portugal - Filmes do mundo, em 25 anos de CineEco, Seia, 1995-2020” , da autoria de Mário Jorge Branquinho, fundador e principal impulsionador de um dos mais referenciados festivais de cinema ambiental do mundo.
Neste livro, o autor Mário Branquinho relata-nos, na primeira pessoa, o historial do Festival Internacional de Cinema Ambiental da Serra da Estrela – CineEco. Escrito durante a pandemia, esta obra baseia-se na experiência vivida pelo fundador, sustentada numa pesquisa feita pelos documentos dos arquivos municipais e do próprio CineEco.
O livro faz justiça à história do festival, uma narrativa marcada por momentos inolvidáveis, atos de coragem e resistência, por histórias emotivas, por pessoas que marcaram a trajetória do CineEco, pelos testemunhos de personalidades do mundo do cinema, das artes, da cultura, investigadores, cientistas e pensadores.
“Senti que era uma obrigação partilhar estas memórias e convidar os leitores a partirem numa viagem pelo passado deste Festival de resistência, que surgiu em 1995 não por modas ou tendências, mas por sabermos que era premente abordarmos a questão ambiental através de uma linguagem tão nobre, como é a sétima arte, o cinema”, afirmou Mário Branquinho. “Estava longe de imaginar que volvidos 25 anos, o CineEco fosse considerado um Festival de referência a nível internacional, um veículo fundamental na Educação Ambiental em Portugal, com a urgência climática a assumir a agenda da atualidade”, referiu depois o autor deste novo livro.
“Cinema Ambiental em Portugal - Filmes do mundo, em 25 anos de CineEco, Seia, 1995-2020” conta com o prefácio de Fátima Alves, professora associada da Universidade Aberta, Investigadora do Centro de Ecologia Funcional, Ciência para as Pessoas e para o Planeta, da Universidade de Coimbra. A obra é editada pelo Município de Seia e pela Associação de Arte e Imagem de Seia e conta com o apoio da Direção Geral do Ambiente; ICA - Instituto de Cinema e Audiovisual; Lipor; Câmara Municipal de Lisboa - Capital Verde Europeia; Ciência Viva; e Turistrela.
A Câmara Municipal da Guarda apresentou na passada quinta-feira, 16 de dezembro, um novo número da revista cultural Praça Velha. Trata-se da 41º edição desta publicação cultural editada semestralmente pela autarquia da Guarda, desde 1997.
Com este número a Revista criou uma nova organização e distribuição de conteúdos por dois volumes, a editar semestralmente.
Este quadragésimo primeiro volume da Revista Praça Velha desdobra-se em quatro áreas distintas: Património e História, Grande Entrevista, Portfólio e Súmula de Atividades.
Na secção de “Património e História” podemos ler um artigo de Fernando Carvalho Rodrigues, que nos fala da medida de coesão para o nosso país e das questões da desertificação.
Como refere, “é tratando muito mais das autarquias de altíssima densidade e cuidando da baixa densidade que o todo se pode curar”.
Elsa Salzedas, apresenta um interessante e elucidativo artigo sobre a geologia guardense; destaca que é importante “valorizar a pedra a partir do conhecimento científico e destacar a sua enorme importância para a natureza e para a humanidade, porque a rocha local é um bem extremamente valioso, não só do ponto de vista científico, mas ainda arquitetónico, económico e histórico”.
A concluir, faz um apelo para que todos contribuam no sentido de se “proteger mais esta região, das mais exclusivas do país” e se sintam orgulhosos com o seu território.
“A Cabeça em Pedra de Vale da Ribeira” é o título do artigo de António Marques e João Carlos Lobão.
Como referem, a identificação e estudo da cabeça em pedra encontrada em Vale da Ribeira “pretende contribuir, de algum modo, para um melhor conhecimento do que terá sido a ocupação humana no período proto-histórico do concelho de Celorico da Beira”
Vítor Pereira, Alcina Camejo, Ana Leonor Pereira da Silva, e Tiago Ramos escreveram sobre a “Intervenção Arqueológica na Casa do Sineiro (Mileu/Guarda)”.
Refira-se que este local integra o espaço onde em 1951 foi feita a descoberta “de um dos sítios arqueológicos mais importantes e enigmáticos da Beira Interior: o sítio romano da Póvoa do Mileu”.
Face aos resultados dessa intervenção, e perante os dados conhecidos até hoje, os articulistas apontam que o contexto “funerário do Mileu se enquadra no século II depois de Cristo”. Concluem afirmando que é desejável a continuidade da intervenção arqueológica neste sítio, trabalho que poderá dar resposta a novas questões.
António Salvado Morgado, num excelente texto e documentalmente bem suportado, leva-nos a conhecer o guardense Francisco de Pina; personalidade central “de um notável encontro de línguas e de culturas no distante Oriente, no longínquo século XVII.”
Como sublinha, Francisco de Pina, “jesuíta, português, missionário e linguista” contribuiu para que a Guarda faça parte da história do atual Vietname.
Francisco de Pina que terá nascido entre março e setembro de 1586, faleceu em 15 de dezembro de 1625. Ou seja, passaram nesta semana 396 anos, após a sua morte.
“Esquecido pela História, ele tem andado desaparecido por detrás da obra iniciada por ele há mais de quatro séculos e que culminou há mais de um século na língua oficial do Vietname (…) escrita e falada por milhões de pessoas”. Escreveu, neste artigo, o Dr. António Salvado Morgado.
Manuel Luís dos Santos fala-nos, neste último número da Praça Velha, do Terreiro da Loiça, melhor dizendo do Largo do Governo Civil; ou, permitam-me a correção, do Largo Serpa Pinto, mais precisamente do Largo Frei Pedro da Guarda.
Com a clareza e factualidade histórica a que há muito nos habituou, o autor intitula o seu artigo “Da Toponímia da Guarda sobre o Largo Frei Pedro da Guarda”, onde não esquece a memória do Dr. Francisco dos Prazeres perpetuada naquele espaço central da cidade, aqui bem ao lado deste edifício onde nos encontramos.
“Para se colocar o painel de Frei Pedro, foi necessário tirar a pedra com as armas da cidade, do século XVII, que foi recolhida no Museu da Guarda”; diz Manuel Luís dos Santos, para quem “a escolha do Largo Serpa Pinto para homenagear Frei Pedro da Guarda talvez não tenha sido a mais feliz, o virtuoso filho da Guarda poderia ter sido homenageado na zona de São Vicente, onde nasceu e onde viveu uma boa parte da sua vida”.
“Ladislau Patrício: quando os médicos são também escritores” é o título do artigo escrito por Anabela Matias e Dulce Helena Borges.
Para além do inquestionável interesse da abordagem que fazem das facetas do terceiro diretor do Sanatório Sousa Martins, mormente no plano da escrita, o artigo é muito oportuno; a sua publicação ocorre no mês em que se celebra o aniversário do nascimento e da morte deste ilustre clínico guardense. Nasceu a 7 de dezembro de 1883 e faleceu na noite de natal de 1967.
Como escrevem as autoras deste artigo, “Ladislau Patrício foi um médico que modernizou áreas emergentes da ciência, exerceu a sua atividade médica com grande rigor e competência.
Desenvolveu técnicas clínicas e profiláticas inovadoras que foram uma referência durante muito tempo na medicina. Além desta vertente, prestigiou o mundo da literatura, cultivando vários estilos de escrita tão distantes ontologicamente, mas que encontram um ponto de fusão”.
Francisco Manso e Ana Manso escrevem, neste último volume da Praça Velha, sobre aspetos da história local de uma aldeia do nosso concelho. Especificamente “Videmonte: Lei da Separação e a Propriedade dos Bens da Igreja Católica no século XX”.
Após o devido enquadramento e contextualização, concluem que “o processo de aplicação da Lei da Separação numa aldeia praticamente isolada e longe da sede do concelho decorreu de uma forma quase pacífica. Não se cumpriu a lei, não se constituíram cultuais, nenhuma igreja foi fechada, não houve sanções. O povo reclamou, mas acatou, e os tempos que se seguiram vieram repor quase tudo como estava antes.”
Uma nota para a foto da “Encomendação da Almas a São Francisco de Assis”, relativa à pintura mural de grandes dimensões existente na igreja matriz de Videmonte. Foi descoberto após a remoção de um altar, para restauro.
António Manuel Prata Coelho apresenta-nos o “Roteiro de Arte Déco na Guarda”.
Depois de lembrar que esta cidade, nos finais do século XIX e princípios do século XX, conheceu “uma substancial modernização urbanística” propõe “um percurso valorativo da arquitetura contemporânea, no que concerne ao gosto Arte Decó, patente nestas principais artérias urbanas (…)”.
Como acentua, a finalizar o seu artigo, “o percurso proposto pelas ruas onde permanecem esses edifícios, corresponde ao propósito de se inventariar um conjunto de estruturas próprias da Arte Déco que urge valorizar, promovendo a Guarda e o seu centro histórico”.
Aires Antunes Diniz escreve sobre as “Deficiências no fornecimento de energia elétrica à Guarda e seu concelho”, conduzindo-nos até à década de 30, do passado século. Reporta o descontentamento do comércio e indústria da cidade que “estavam a sofrer graves prejuízos por o fornecimento de eletricidade ser cada vez pior, provocando indignação geral”.
Apresenta, no decorrer do texto uma reclamação do Diretor do Sanatório (Ladislau Patrício) que se insurge contra o facto de “a Empresa de Luz Elétrica estar a “abusar constantemente da paciência inverosímil de uma cidade inteira”; acrescenta que privou de luz, com absoluta indiferença, uma casa de saúde onde se encontram dezenas de doentes em tratamento (…)”.
A Empresa de Luz Elétrica da Guarda acabaria por ser “incorporada na Companhia Elétrica das Beiras em 20 de abril de 1951.” Aliás, e como é dito neste artigo, a Empresa de Luz Elétrica da Guarda já em julho de 1938 tinha começado a utilizar a energia fornecida pela Empresa Hidroelétrica da Serra da Estrela.
José Quelhas Gaspar, publica neste volume, o texto “O património-histórico-arqueológico um recurso endógeno com valor económico e social”.
Alerta, no seu trabalho, para a identificação de “situações contraditórias e quase opostas relacionadas com o património arqueológico, ao mesmo tempo que verificamos a resistência que a administração pública continua a fazer à proteção efetiva do património histórico-arqueológico”.
Evidencia, depois, que não tem havido “capacidade para perceber a emergência de um novo olhar sobre a realidade e a necessidade do seu ajustamento a novas e variáveis funcionais, que sirvam as populações, enquanto promovem a continuidade e a salvaguarda de bens”.
“A Coleção de Armas do Museu da Guarda – Conservação, Restauro e Musealização” é o tema do artigo de Inês Costa que começa por falar da génese dessa coleção.
Como escreveu, o “estudo desta coleção permite conhecer os principais centros de produção de armas da Europa entre o século XVI e XX (…)”.
A sua variedade e qualidade permite conhecer várias tipologias de armas utilizadas nos séculos referidos, assim como “algumas raridades e particularidades”.
Aludindo às limitações do espaço museológico, que não permitem expor um grande número de exemplares desta importantíssima coleção, está pensada, diz, “uma rotatividade desses exemplares para os dar a conhecer ao público”.
Antes da Grande entrevista temos ainda a possibilidade de ler um artigo subordinado ao tema “Retábulo-Mor da Sé da Guarda – intervenção de conservação e Restauro”, da autoria de Olga Santa Bárbara.
Com oportunas e exemplificativas ilustrações, o texto elucida que a intervenção realizada permitiu “restabelecer a unidade estética e de leitura do retábulo, respeitando a integridade física e valorizando a vertente conservativa”.
Por outro lado, chama a atenção para o facto de as condições ambientais no interior do edifício não serem propícias “a uma boa conservação, a médio prazo, pelo que deverá ser expectável o ressurgimento das patologias assinaladas, ou mesmo a formação de novas.”
Entre as páginas 267 e 274 está a grande entrevista conduzida por Thierry Santos; tem como convidado o antropólogo Paulo Lima, enquanto responsável pela elaboração da Carta de Paisagem do concelho da Guarda.
Recorde-se, e como se pode ler, que “com vista a valorizar o património identitário” deste concelho, a Câmara da Guarda lançou, no passado ano, “o projeto de um registo dos bens culturais imateriais presentes no território, que vai desde o cobertor de papa à cestaria de Gonçalo, passando pelas tradições e vivências locais das 43 freguesias do concelho”.
No decorrer da entrevista, António Lima afirma que o “inverno” demográfico é a maior das ameaças que impendem sobre o nosso território; acrescenta, depois, o envelhecimento da população. Ainda segundo ele, “o património e a paisagem resultam da presença de pessoas. Sem elas nada existe”.
Antes de concluirmos, façamos agora uma referência ao “Portfólio” que tem por tema “A Guarda pelos Olhos de pintores do século XIX ao século XXI: proposta de um itinerário pelos lugares mais representados da cidade altaneira – uma amostra da coleção do Museu da Guarda”, constituída por desenhos, aguarelas, óleos, acrílicos e uma serigrafia digital”.
Dos 24 trabalhos de iconografia guardense reproduzidos, dois são da autoria de Luís Rebello, a quem a presente edição prestou homenagem.
Nas últimas páginas da edição da Praça Velha, está a habitual Súmula de Atividades Culturais que decorreram no Concelho da Guarda em 2021 e 2022.
Hélder Sequeira
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