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O início do desconfinamento gradual, esta semana, foi encarado com um misto de entusiamo e receio, não faltando argumentos num e noutro sentido.
É certo que a sensatez deve prevalecer e continuar a orientar os comportamentos para medidas preventivas, pois vivemos ainda num quadro de incertezas.
Albert Camus, na sua conhecida obra “A Peste”, falava de cidadãos “impacientes do presente, inimigos do passado e privados do futuro”; lembrava, por outro lado que “nunca alguém será livre enquanto existirem os flagelos”. A atual pandemia tem mostrado como a liberdade é cerceada…
Para não ficarmos privados do futuro e fruirmos da liberdade teremos de, objetivamente, aprender com esta invulgar experiência do último ano, aferindo as necessárias adaptações ao nível da sociedade (globalmente entendida) e no plano individual, definindo prioridades, novas metodologias e fórmulas concretas de cooperação, acompanhadas de um constante exercício de cidadania.
Para ganharmos o futuro, mormente aqui nesta região do dito interior, é imprescindível um esforço coletivo, a modernização tecnológica, a rentabilização de recursos humanos e potencialidades endógenas, um diálogo franco entre todos os agentes de desenvolvimento económico, social, cultural e científico, um incremento da motivação e um apoio célere aos projetos inovadores.
O coletivo deve, mais do que nunca, sobrepor-se ao individual, deixando para trás protagonismos pessoais e promessas demagógicas.
Ao longo de décadas, entre o que se anuncia e concretiza vai uma enorme distância temporal, com planos definitivamente lançados para as gavetas do esquecimento onde repousam as mais ardentes afirmações mediáticas e as fotos para mais tarde recordar…
Este é um tempo de congregar esforços e incrementar a capacidade de resposta aos desafios do presente e do futuro; um tempo em que os cenários para as próximas eleições autárquicas começam a desenhar-se com maior nitidez, permitindo uma melhor perceção de anteriores movimentações e atitudes públicas de alguns.
Ciclicamente, nos meses que antecedem os atos eleitorais surgem as mais diversificadas acusações ou revelações, procurando emergir, junto do público, como a mais puras das coincidências, e sempre sob a bandeira do interesse geral e da justiça social; aparecem, também afirmações e determinações redobradas na resolução dos problemas, há muito inventariados, mas sem verem aplicada a necessária solução.
Aumenta, por outro lado, gradualmente o volume e a sonoridade das intervenções políticas, com o objetivo de marcar campos de ação e captar, em devido tempo, as atenções do eleitorado, o qual denota, ano após ano, um evidente cansaço perante estes reciclados expedientes e face ao balanço daquilo que outrora foi prometido e se encontra, realmente, executado.
As explicações, políticas, assumem as mais diversas facetas, onde cabem as discriminações do poder central, a insuficiência de verbas e, nos tempos que correm, as consequências da pandemia… Esta continua presente.
A referenciação, esta semana na França, de uma nova variante do vírus que tem transformado o mundo e as nossas vidas, deve suscitar a máxima atenção de todos nós, a envolvência na ajuda a resolução dos problemas, o exercício da nossa responsabilidade individual, o sentido crítico face às propostas políticas que nos vão ser apresentadas e às respostas necessárias no quotidiano.
Este é um tempo de mudança e de novos desafios.
Hélder Sequeira
(in O Interior, 18-3-2021)
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