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Hoje, 18 de maio, ocorre a passagem do 114º aniversário da inauguração do Sanatório Sousa Martins. Os guardenses têm hoje uma pálida imagem daquilo que foi uma das principais instituições de combate e tratamento da tuberculose, em Portugal.
A designação de “Cidade da Saúde”, atribuída à Guarda, em muito se fica a dever a uma instituição que a marcou indelevelmente, ao longo de sete décadas, no século passado.
Embora a situação geográfica e as especificidades climatéricas associadas tenham granjeado a esta cidade esse epíteto, a construção do Sanatório Sousa Martins certificou e rentabilizou as condições naturais da cidade para o tratamento da tuberculose, doença que vitimou, em Portugal, largos milhares de pessoas.
A Guarda foi, nessa época, uma das cidades mais procuradas de Portugal, afluência que deixou inúmeros reflexos na sua vida económica, social e cultural; a sua apologia como localidade “eficaz no tratamento da doença” foi feita por distintas figuras da época, pois era “a montanha mágica” junto à Serra.
Muitas pessoas (provenientes de todo o país e mesmo do estrangeiro) subiam à cidade mais alta de Portugal com o objetivo de usufruírem do clima de montanha, praticando, assim, uma cura livre, não sendo seguidas ou apoiadas em cuidados médicos.
As deslocações para zonas propícias à terapêutica “de ares”, e a consequente permanência, contribuíram para o aparecimento de hotéis e pensões, dado não haver, de início, as indispensáveis e adequadas unidades de tratamento; situação que desencadeou fortes preocupações nas entidades oficiais da época.
A inauguração (inicialmente prevista para 28 de abril e depois para 11 de maio) dos três pavilhões que integravam o Sanatório ocorreu a 18 de maio de 1907, com a presença do rei D. Carlos e da Rainha D. Amélia.
“Aos dezoito dias do mês de Maio de mil novecentos e sete, num dos edifícios recentemente construídos no reduto da antiga Quinta do Chafariz, situada à beira da estrada número cinquenta e cinco, nos subúrbios da cidade da Guarda, estando presentes Sua Majestade a Rainha Senhora Dona Amélia (...), procedeu-se à solenidade da abertura da primeira parte dos edifícios do Sanatório Sousa Martins e da inauguração deste estabelecimento da Assistência Nacional aos Tuberculosos, fundada e presidida pela mesma Augusta Senhora (...)”. Assim ficou escrito no auto que certificou a cerimónia inaugural da referida estância de saúde.
Cerimónia que foi recriada, precisamente nesta cidade, aquando da comemoração do centenário da inauguração, suscitando o interesse de largas centenas de pessoas. Deixamos aqui algumas imagens da comemoração do 100º aniversário.
Hoje, o estado de abandono e degradação dos antigos pavilhões do Sanatório Sousa Martins não dignifica uma cidade que se quer afirmar pela história e anseia ser capital europeia da Cultura. É urgente uma união de esforço e a procura dos melhores planos no sentido de serem recuperados, salvaguardados e utilizados esses edifícios seculares.
Anotar a passagem dos 114 anos após a inauguração do Sanatório Sousa Martins não é cair em exercício de memória ritualista, mas apelar – uma vez mais – para a preservação do património físico de uma instituição, indissociável da História da Medicina Portuguesa, da solidariedade social, da cultura (pelos projetos que criou e desenvolveu).
Embora o diagnóstico esteja feito, tarda o tratamento da doença que vai minando aquilo que resta do ex-libris da Cidade da Saúde.
Helder Sequeira
Em 2018 o Ano Europeu do Património Cultural foi celebrado pela primeira vez, por iniciativa da União Europeia, balizado pelos objetivos da promoção da diversidade e do diálogo interculturais e da coesão social.
Foram, assim, pensadas “realização de iniciativas envolvendo as comunidades, os cidadãos, as organizações, as entidades públicas e privadas, contribuindo para uma maior visibilidade da cultura e do património e para o reconhecimento da sua importância e do seu caráter transversal em todos os setores da sociedade.”
Se atentarmos numa especificação mais pormenorizada desse objetivos, verificamos que eles apontaram para incentivar uma abordagem centrada nos cidadãos, inclusiva, prospetiva, integrada e transectorial; incentivando modelos inovadores de governação e de gestão a vários níveis do património cultural capazes de envolverem diferentes partes interessadas; realçando o contributo positivo do património cultural para a sociedade e para a economia; promovendo estratégias de desenvolvimento local na perspetiva da exploração do potencial do património cultural através da promoção do turismo cultural sustentável.
O conceito de património não se circunscreve, atualmente, à conceção que prevalecia há algumas décadas anos atrás, resumindo-o a monumentos, às coleções de pintura, às esculturas e a palácios. “A memória coletiva de uma determinada população estende-se aos territórios onde vive, aos seus monumentos, aos vestígios do passado e do presente, aos seus problemas, à cultura material e imaterial e às pessoas”.
Assim, o património edificado é uma das várias abordagens que podem ser efetuadas de entre a definição mais lata de património cultural. É, aliás, a este nível que têm sido cometidos os maiores atentados, perante a indiferença e a impunidade de quem, por direito, tinha obrigação de atuar.
Essa apatia começa, como tivemos já a oportunidade de escrever anteriormente, no próprio cidadão comum, conquistado por um doentio comodismo que orienta os seus padrões culturais no limitado horizonte do quotidiano profissional ou dos amenos diálogos e discursos (convenientes) dos círculos de convívio e lazer. Escasseia a sensibilidade cívica…
Na Guarda, os pavilhões que outrora pertenceram ao Sanatório Sousa Martins são um exemplo dessa falta de sensibilidade cívica e outrossim do desleixo continuado de entidades oficiais ou da incapacidade reivindicativa (de sucessivas administrações) para contrariarem o caminho da ruína e destruição conducente a “um túmulo de memória”.
Uma atitude tanto mais criticável quanto o Sanatório foi uma instituição que marcou – temos repetido esta nota em inúmeras ocasiões – o desenvolvimento da cidade durante a primeira metade do passado século.
A passagem, hoje dia 18 de maio de 2019, de mais um aniversário da sua inauguração é um bom pretexto para voltarmos a sublinhar o estado de ruína deste património citadino.
A inauguração (inicialmente prevista para 28 de abril e depois para 11 de Maio) dos três pavilhões que integravam o Sanatório ocorreu a 18 de maio de 1907, com a presença do rei D. Carlos e da Rainha D. Amélia que materializou nesta instituição de tratamento da tuberculose a homenagem a Sousa Martins, atribuindo-lhe o nome daquele clínico, cuja ação e dinamismo ela tinha já evocado numa intervenção pública, no seio da Associação Nacional aos Tuberculosos, realizada em 1889.
“Aos dezoito dias do mês de Maio de mil novecentos e sete, num dos edifícios recentemente construídos no reduto da antiga Quinta do Chafariz, situada à beira da estrada número cinquenta e cinco, nos subúrbios da cidade da Guarda, estando presentes Sua Majestade a Rainha Senhora Dona Amélia (...), procedeu-se à solenidade da abertura da primeira parte dos edifícios do Sanatório Sousa Martins e da inauguração deste estabelecimento da Assistência Nacional aos Tuberculosos, fundada e presidida pela mesma Augusta Senhora (...)”.
Assim ficou escrito no auto que certificou a cerimónia inaugural da referida estância de saúde, da qual, por muitos e diversos motivos, resta hoje uma pálida imagem.
O Sanatório foi, durante décadas, o grande cartaz de propaganda da Guarda, “a cidade da saúde”; hoje, o que resta, está com péssimo prognóstico e certamente nem os “ares” do Ano Europeu do Património Cultural, nem os objetivos anteriormente mencionados vão minorar a “doença” ainda com cura…
Na Guarda do património e da cultura o estado de degradação dos Pavilhões D. António de Lencastre e Rainha D. Amélia exige e merece medidas concretas e eficazes de defesa e salvaguarda, pois fazem parte da história da cidade e da história da saúde em Portugal.
Esperemos que o número de emergência, 112, associado a este aniversário da inauguração do Sanatório Sousa Martins desencadeie decisões e medidas, a par da uma intervenção cívica esclarecida e reivindicativa!
Helder Sequeira
No próximo domingo é assinalado o Dia Mundial da Tuberculose, data que se assume como alerta para uma realidade mundial e outrossim para a necessidade de reforço dos procedimentos adequados à eliminação desta doença.
Apesar de os casos de tuberculose, a nível mundial, terem registado – desde 1990 – uma redução de 40%, a OMS lembra que persistem ainda muitos e sérios problemas.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, calcula-se que em 2011 ocorreram 8,7 milhões de novos casos de tuberculose, tendo sido vitimadas, por esta doença, 1,4 milhões de pessoas; a tuberculose está entre as três principais causas de morte de mulheres com idades compreendidas entre os 15 e os 44 anos; em 2011 meio milhão de crianças foram atingidas por esta doença, registando-se 64 000 casos de morte.
Como tem sido sublinhado em anos anteriores, é importante continuar a “inspirar a inovação na pesquisa e nos cuidados aos doentes, reforçando a atenção na vertente social, mediante um esforço organizacional entre todos os agentes da saúde e da sociedade civil centrado no doente e nas populações afetadas”.
Em Portugal, e face aos dados disponíveis, a tuberculose continua a diminuir; contudo, constitui ainda um sério problema de saúde pública, em especial perante a ameaça da TB multirresistente.
A data de 24 de Março recorda o dia do ano de 1882 em que Robert Koch anunciou à comunidade científica, da época, que havia descoberto a causa da tuberculose, o bacilo a que ficaria associado o seu nome; foi o primeiro passo para diagnosticar e curar a tuberculose.
A nossa cidade viria a ser um dos principais centros de tratamento da tuberculose, em Portugal, ombreando com outras destacadas estâncias sanatoriais da Europa. A designação de “Cidade da Saúde”, atribuída à Guarda, em muito se fica a dever a uma instituição que a marcou indelevelmente, ao longo de sete décadas, no século passado.
Embora a situação geográfica e as especificidades climatéricas associadas tenham granjeado à cidade esse epíteto, a construção do Sanatório Sousa Martins certificou e rentabilizou as condições naturais da cidade para o tratamento da tuberculose, doença que vitimou, em Portugal, largos milhares de pessoas.
A Guarda foi, nessa época, uma das cidades mais procuradas de Portugal, afluência que deixou inúmeros reflexos na sua vida económica, social e cultural; a sua apologia como localidade “eficaz no tratamento da doença” foi feita por distintas figuras da época, pois era “a montanha mágica” junto à Serra.
A poucos dias da comemoração do Dia Mundial da Tuberculose, será oportuno recordar que a Guarda é um expressivo capítulo da história da luta e tratamento da tuberculose em Portugal. E é fundamental que não se apague a memória, sobretudo quando está em risco o desaparecimento dos antigos pavilhões do Sanatório e a completa descaracterização de um espaço onde sobrevivem árvores centenárias; algumas consideradas mesmo das mais altas do país.
Embora o diagnóstico há muito esteja feito, tarda o tratamento da “doença” que vai minando um original ex-libris da Cidade da Saúde.
Um dia talvez seja tarde demais...
Helder Sequeira
in "O Interior", 21-3-2013
Em dia de aniversário citadino, é ainda oportuna uma palavra sobre o recente espectáculo “Guarda: sopro vital”, apresentado pelo TMG.
Essa oportunidade percebeu-se, de forma mais evidente, na mensagem/apelo do final do espectáculo que conjugou de forma harmoniosa a participação de largas dezenas de elementos (o que não é um trabalho fácil…) e ofereceu aos guardenses mais um reencontro com esta cidade, com as suas memórias, as suas virtualidades, com personalidades ilustres, com o sonho e a esperança!
Esta singular mobilização de pessoas (de diferenciadas idades e origens) em torno de uma iniciativa cultural com estas características deve orgulhar a Guarda, cidade que não se deve ficar pela comemoração ritualista do seu aniversário, antes deve ter nesta data (como em todos os dias) uma atitude determinada para enriquecer o presente e ganhar o futuro.
E “Guarda: sopro vital” (produção da CMG, Teatro Municipal da Guarda e Teatro ACERT) foi mais uma, excelente, lição; uma aragem de frescura e de inconformismo que utilizando factos do passado, ou ficcionando ideias e anseios, reforçou a necessidade de sentirmos e vivermos mais esta cidade, num esforço conjunto, com rumos definidos, em liberdade e respeito pelas diferenças. Tudo isto numa cidade com bons ares – nos mais diversos campos – e culturalmente prestigiada.
Deseja-se que a mensagem tenha sido apreendida por todos e se materialize no quotidiano de cada um, através da sua forma de estar e de ser.
“Sopro Vital” foi uma excelente prenda para a Guarda, em tempo do seu 813º aniversário. Parabéns aos seus mentores e a todos quantos estiveram envolvidos.
Hoje, 18 de Maio, ocorre a passagem do 104º aniversário da inauguração do Sanatório Sousa Martins. Os guardenses têm hoje uma pálida imagem daquilo que foi uma das principais instituições de combate e tratamento da tuberculose, em Portugal.
A designação de “Cidade da Saúde”, atribuída à Guarda, em muito se fica a dever a uma instituição que a marcou indelevelmente, ao longo de sete décadas, no século passado.
Embora a situação geográfica e as especificidades climatéricas associadas tenham granjeado a esta cidade esse epíteto, a construção do Sanatório Sousa Martins certificou e rentabilizou as condições naturais da cidade para o tratamento da tuberculose, doença que vitimou, em Portugal, largos milhares de pessoas.
A Guarda foi, nessa época, uma das cidades mais procuradas de Portugal, afluência que deixou inúmeros reflexos na sua vida económica, social e cultural; a sua apologia como localidade “eficaz no tratamento da doença” foi feita por distintas figuras da época, pois era “a montanha mágica” junto à Serra.
Muitas pessoas (provenientes de todo o país e mesmo do estrangeiro) subiam à cidade mais alta de Portugal com o objectivo de usufruírem do clima de montanha, praticando, assim, uma cura livre, não sendo seguidas ou apoiadas em cuidados médicos. As deslocações para zonas propícias à terapêutica “de ares”, e a consequente permanência, contribuíram para o aparecimento de hotéis e pensões, dado não haver, de início, as indispensáveis e adequadas unidades de tratamento; situação que desencadeou fortes preocupações nas entidades oficiais da época.
Actualmente, os mais emblemáticos pavilhões encontram-se numa situação lamentável.
Hoje, embora o diagnóstico esteja feito, tarda o tratamento da doença que vai minando aquilo que resta do ex-libris da Cidade da Saúde.
Helder Sequeira
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