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Seminário sobre Incêndios na Serra da Estrela

por Correio da Guarda, em 06.05.25

 

O Rotary Club da Guarda vai promover nesta cidade, no próximo dia 9 de maio, o seminário “Incêndios na Serra da Estrela – Lições do Passado e Ação no Presente”.

Este seminário, que conta com colaboração dos Clubes Rotários da Beira Serra (Celorico da Beira, Covilhã, Mangualde, Seia, Trancoso, Viseu e Tondela), terá início pelas 9 horas, no auditório dos Serviços Centrais do Politécnico da Guarda.

Este evento marca o início do Ciclo de Seminários “Patrimonius da Beira Serra”, uma iniciativa anual organizada pelos Clubes Rotários da região.

Com este ciclo, “pretende-se explorar e valorizar os diferentes tipos de património da Serra da Estrela e das regiões próximas, desde o património natural e ambiental até ao histórico e cultural, promovendo a preservação e o desenvolvimento sustentável do território.” Refere uma nota informativa divulgada pelo Rotary Club da Guarda que acrescenta pretender “facilitar o encontro e a partilha de agentes do território para mais facilmente se encontrarem estratégias sustentáveis que promovam projetos que protejam os ecossistemas e melhorem a vida das populações.”

No caso da Serra da Estrela, este seminário surge como uma resposta ativa aos desafios enfrentados pelo território, reforçando a necessidade de cooperação entre municípios, instituições e cidadãos na defesa do ambiente.

Incêndios na Serra

O Rotary Club da Guarda sublinha, a propósito desta iniciativa, que “os incêndios florestais têm causado danos irreparáveis na Serra da Estrela, afetando a biodiversidade, as comunidades locais e a economia da região.”

Nesta primeira edição, realizada na Guarda, serão abordados os principais desafios relacionados com os incêndios florestais, debatendo estratégias concretas para a gestão dos espaços florestais e rurais assim como a recuperação das áreas afetadas.

De acordo com a organização, neste seminário irão estar presente especialistas, autarcas, forças de segurança, técnicos e membros da sociedade civil, que irão dialogar de forma construtiva sobre medidas de proteção e resiliência na Serra da Estrela.

O seminário contará com a participação de bombeiros, elementos da GNR, investigadores, técnicos das áreas ambientais, autarcas e gestores florestais, que irão apresentar perspetivas e técnicas científicas sobre incêndios florestais, resiliência ambiental e proteção da biodiversidade.

A inscrição é gratuita e pode ser feita aqui.

 

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António Gomes: artesão de afetos

por Correio da Guarda, em 24.11.24

 

António Manuel Gomes é um conceituado médico psiquiatra e igualmente um exímio artífice de palavras que florescem em textos de inegável recorte literário. Este clínico guardense – homem culto, observador atento, dialogante – nunca se negou a desafios ao nível da intervenção cívica e cultural, numa manifesta expressão de exemplar cidadania. Avesso a holofotes, nem sempre a sua atividade teve a justa e merecida visibilidade. “O reconhecimento, não o nego, afaga a alma e dá consistência à identidade” diz nesta entrevista ao CORREIO DA GUARDA quando questionado sobre a distinção que vai receber no dia da Cidade da Guarda, na próxima quarta-feira, a 27 de novembro. Homenagem que faz questão em distribuir com “os outros que são parte de mim”. Ao CG afirma que a escolha da Medicina não foi resultado de um “chamamento ou vocação”, mas cedo compreendeu que “não me tinha enganado no destino”. Considerando que “os êxitos, fracassos e problemas, são inerentes à vida de um médico”, António Manuel Gomes classifica, “em termos sincréticos” como “muito positivo um longo período do SNS em que as turbulências eram claramente menores e a relação interpessoal tinha outra densidade humana.”

Nascido nas Vendas da Vela, em outubro de 1954, António Manuel Gomes estudou na Covilhã e em Coimbra, trabalhou no Hospital Psiquiátrico do Lorvão, dirigiu o Departamento de Psiquiatria do Hospital Sousa Martins, integrou os corpos sociais da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários Egitanienses, foi fundador do grupo de Teatro à Vela e do grupo coral Recanto do Canto, tendo encenado três peças de teatro e sido o autor de contos e textos publicados em jornais e revistas.

 

António Manuel Gomes

Estudou a partir dos 7 anos na Covilhã. Qual a razão que o levou a ir para essa cidade?

Os meus pais sempre residiram na Covilhã. Foi por acaso e urgência que nasci nas vendas da vela, em casa dos meus avós maternos, onde a minha mãe se encontrava naquele dia, com 24 anos, e aconchegada no ninho original.

Fiz a quarta classe numa obra da fundação Melo e Castro, designada Associação Protectora da Infância Desvalida. Este longo e expressivo nome, resultava do facto de a escola dar resposta aos filhos das operárias e operários dos lanifícios; ao tempo já tinha cantina para as crianças.

Devo às preocupações do meu pai com o meu ingresso na escola primária, a descoberta de um tal professor Manuel Poeta. Conseguiu que eu entrasse naquela instituição onde, de resto, pelas mesmas razões de excelência do docente, também tive alguns filhos de industriais como colegas. Foi determinante no meu futuro escolar. Quando concluí a quarta classe foi-me atribuído o prémio de melhor aluno pela fundação Melo e Castro.

Foi ainda na Covilhã que concluí o sétimo ano do liceu, sendo na altura o único aluno que dispensou do exame de admissão ao ensino superior em todas as disciplinas.

 

Como via, nessa altura, a cidade da Guarda? Que contraponto fazia com a Covilhã?

As minhas deslocações à Guarda eram esporádicas. A viagem na camioneta do Tonico começava na Covilhã e acabava nas Vendas da Vela. Ainda assim recordo a Guarda como uma cidade aconchegada, de humanidade sadia, como uma extensão rural e telúrica que o meu avô me tinha ensinado.

A Covilhã, era um uivo de sirenes quase permanente. O corrupio dos operários e operárias, ora saindo, ora entrando, nas dezenas de fábricas de lanifícios, dava às ruas e às travessas um alarido enérgico e contagiante que me enchia a estreita paisagem da janela de casa.

 

O que representou a sua ida para Coimbra e como foi a adaptação à vida académica da cidade? A vivência na residência do Colégio de São Teotónio é um período com boas recordações?

As lágrimas de despedida de casa secaram depressa. Não ia só. Éramos vários colegas de liceu, dispersos por vários cursos, e já tínhamos laços consistentes. A residência universitária do colégio de São Teotónio deu-nos um conforto e um acréscimo de novas relações; as maluqueiras coletivas e as discussões no refeitório são ainda hoje retalhos da minha memória distante que muito prezo.

A Universidade de Coimbra, em 1972, mantinha o luto académico que já vinha dos 4 anos anteriores. Não havia praxe nem queima das fitas; as capas e batinas concentravam-se num número muito exíguo de estudantes e as conotações conservadoras eram vorazes.

António Manuel Gomes_médico _3

O ambiente académico era propício ao incremento de atividades culturais? Como viveu Coimbra em termos culturais?

Viver Coimbra antes, durante e depois do 25 de abril, foi um privilégio que tocou a poucos, mas calhou-me a mim.

O antes já era uma surdina de palavras proibidas e irreversíveis cujo contágio era imparável. Um dia, ao sair da minha primeira aula teórica de química médica, juntamente com mais três colegas, saiu do Nívea (Volkswagen da polícia) um agente que veio junto de nós e nos mandou dispersar. Éramos quatro e íamos almoçar à cantina. Era a própria polícia que, paradoxalmente, nos tirava a ingenuidade e incentivava à resistência.

O durante foi uma flutuação frenética entre a incredulidade e a esperança; mas o primeiro 1º de Maio tornou-se o grande clamor da irreversibilidade.

O depois, na academia, traduzia o país. As paixões despontavam numa fragmentação política de marcado pendor à esquerda. As derivas tornavam-se evidentes e as discussões descomprimidas e abertas inundavam as mesas dos cafés e as reuniões gerais de estudantes. No cinema, no teatro e nas palavras escritas, surgia um mundo novo até então desconhecido pela maioria de nós.

 

Quais as leituras e as músicas que ouvia mais nessa época? Os seus gostos alteraram-se?

As músicas eram partilhadas por todos e as descobertas eram permanentes. Woodstock operou uma viragem nos gostos e na liberdade. Os cantores de intervenção, portugueses e estrangeiros, eram obrigatórios nas noitadas de alegria e copos. Lembro-me de um opúsculo clandestino com letras do Manuel Alegre musicadas que era obrigatório em todos os encontros.

Ainda a propósito do poeta, sintonizávamos a rádio Argel, antes da revolução, e lá estava a sua voz inconfundível. Os meus gestos caminharam com o tempo e a idade, e ainda hoje são feitos de muitas partilhas e descobertas. Não fiquei ancorado nos deslumbramentos de juventude, mas ainda hoje são referências que partilho com os meus netos, e eles também gostam.

 

O que recorda de mais positivo e de mais negativo na sua passagem pela Universidade de Coimbra?

Vivi em Coimbra dos 17 aos 34 anos. Ao tempo, a academia era um amplo espaço de convívios e estímulo. A Praça da República era o grande pátio da universidade. Por ali deambulavam as figuras de referência das várias faculdades. Este borbulhar era fascinante, e todas as conversas nos guindavam para novos planos de descoberta e liberdade. Mesmo na discórdia, estava instalada uma alegria inaugural que contagiava a comunicação.

De negativo, talvez recorde momentos de tensão estudantil desencadeados por processos de manipulação e radicalismo, levados a cabo por correntes ideológicas múltiplas onde o padrão de alienação se instalava de modo acrítico e obstinado.

 

Formou-se em Medicina e especializou-se em Psiquiatria? Porquê esta opção?

Fui para a medicina por uma espécie de acordo de grupo entre alguns colegas de liceu. Não me lembro de sentir um chamamento ou vocação; mas cedo percebi que não me tinha enganado no destino.

A psiquiatria aconteceu pela influência específica e incentivo do doutor Manuel Lousã Henriques. Era uma referência de Coimbra em termos psiquiátricos, culturais e humanistas. Tive a sorte de o ter como assistente de psiquiatria quando fazia a cadeira, e quando acabava a aula ninguém tinha dado pelo passar do tempo. Aconselhou-me o Lorvão.

 

A partir da especialização como foi o seu percurso profissional? Que êxitos e que problemas registou, sucintamente, ao longo do período em que exerceu a sua atividade, no SNS? E que importância teve a sua passagem pelo Hospital do Lorvão?

A especialização decorreu no hospital psiquiátrico do Lorvão, onde 3 jovens psiquiatras residentes tiveram, pela abrangência, pelo entusiasmo, pelo arejamento e pela inovação, uma influência determinante na minha formação.

Os êxitos, fracassos e problemas, são inerentes à vida de um médico. Mas, em termos sincréticos, sinto como muito positivo um longo período do SNS em que as turbulências eram claramente menores e a relação interpessoal tinha outra densidade humana.

O facto de ter pertencido às gerações que prestaram o serviço médico à periferia, enraizou para sempre uma crença no recém-implantado SNS. Mas o curso dessa crença tem vindo a desagregar-se. As razões não cabem aqui nem são lineares; mas, o resultado final insatisfaz os doentes e desanima os profissionais de saúde. Não sei quando nem como nos vamos reencontrar.

 

O Hospital da Guarda diferenciou-se na área da Psiquiatria? As instalações condicionaram/condicionam a atividade médica?

Quando há 37 anos fui convidado, com o Paulo e o Antídes, para abrir um serviço de psiquiatria na guarda, a decisão não foi demorada. Inicialmente na Praça velha, como centro de saúde mental, sem serviços de internamento próprio, desenvolvíamos consultas em articulação com os 14 centros de saúde do distrito e os casos urgentes eram encaminhados para o internamento do Lorvão.

Quando passámos a ocupar as atuais instalações do departamento de psiquiatria, integrados no hospital Sousa Martins, sempre sentimos a casa e a causa como nossas. Fomos muitos e sucessivos a arregaçar as mangas. Talvez por isso nunca nos sentimos condicionados nem num espaço exíguo.

A psiquiatria tornara-se centrífuga e ainda continuamos a visitar no seu domicílio mais de 300 doentes por mês, em todo o distrito.

 

Que projetos não viu concretizados, em termos hospitalares?

Volvidos 37 anos, com novas realidades e ambições, lamento, sem hesitação, que não se tenha construído um novo departamento.

 

Como vê, atualmente, a saúde mental em Portugal? Há falta de recursos humanos e de unidades de tratamento e acompanhamento?

Penso, como em tudo, que já estivemos pior. Ainda assim há muitas assimetrias e a resposta não é linear.

A maior densidade populacional; novas patologias sociais de desenraizamento e deslaçamento afetivo; défice crescente de comunicação corpo a corpo; imputação de responsabilidades e deveres aos outros; eu sei lá… Mais do que problemas de saúde mental, há um caldo doentio que nos circunda e inquieta. Às vezes não são os percursos é o modo como se recorre aos recursos.

 

Acha que a recente pandemia agravou os problemas no contexto da saúde mental? Aumentou a conflitualidade social?

Nos idosos a pandemia teve um efeito devastador. Para além da morte, e sobretudo nos doentes institucionalizados, o embate nas funções cognitivas e motoras foi imenso e irreversível.

Nos restantes grupos etários, com a plasticidade inerente a cada idade, houve um claro acréscimo das doenças ansiosas e depressivas com fenómenos de antecipação e medo. As fobias obsessivas em menor expressão, assim como as patologias paranóides.

Quanto à conflitualidade social, sinto-a hoje teimosamente residente e sem carecer de pandemias para se alimentar.

 

Como aconteceu a sua ligação aos Bombeiros da Guarda? Que balanço faz desse período?

Foi o Pedro Lopes e o Álvaro Guerreiro que me convidaram para integrar uma direção. Depois fiquei mais de vinte anos. É uma casa que ficou a fazer parte de mim como de muitos outros que por lá passaram.

Os bombeiros são simultaneamente homens e mulheres com um imenso espírito de solidariedade e entrega, como “vidrinhos” de uma sensibilidade ressentida. É como se uma cristalização da adolescência lhes ficasse agarrada à pele. É essa mistura mágica que faz aquela casa e o sentido a que se propõe.

 

Acha que o voluntariado está em crise?

Esta pergunta acrescenta novas nuances à resposta anterior. A crescente e necessária profissionalização dos bombeiros para que se ajustem à sempre velha e nova realidade do fogo, conduziu ao decréscimo do voluntariado tradicional.

Ainda assim continuo a acreditar nesta determinação estruturalmente humana. Enquanto houver uma criança de olhos desorbitados deslumbrada com a enormidade elegante dum carro de bombeiros, o voluntariado terá sempre um fogo interior que o move. E todas as formas de voluntariado carecem desse fogo interior que anule o individualismo e o alheamento.

 

Está profundamente ligado à criação do grupo de “Teatro à Vela” e do grupo coral “Recanto do Canto”. O que representaram para si, e para a Vela, estes dois grupos e qual a projeção que tiveram?

O que representaram para Vela, talvez não me caiba a mim a avaliação. É preciso que o tempo aglutine a distância e as memórias. O que representou para mim é um desassossego enorme de vivências e emoções. Vou aglutinar-me: tinha regressado de Coimbra com a família; a Vela ainda lambia as feridas de cisões políticas estéreis; o Álvaro era mordomo e desafiou me a escrever uma peça; lembrei-me da adolescência na quinta dos meus avós; do Padre Amarelo me vir buscar para entrar no teatro; fui à procura dos “velhos” que eu tinha visto em palco quando garoto; todos me disseram que sim; esbocei o projeto e li-o em grupo; no final vi algumas lágrimas, talvez estivesse certo; depois foi meter no palco avós, filhos e netos; a Taverna comportava a vida; transformou-se numa peregrinação de alegria que nos ultrapassou (e a mim, sobretudo).

O Recanto do Canto veio mais tarde como um complemento de disciplina e organização. O Mário Barreiros e a sua tranquilidade gentil levaram-nos a quatro vozes numa polifonia que mais tarde emudeceu, mas ainda a oiço na memória.

 

Escreveu e encenou três peças de teatro. O que significa para si o teatro e como vê hoje, à distância de alguns anos, estas peças e o sucesso que alcançaram?

Sim. A Taverna (en)cantada; o Sagrado e o profano e a Cesta de fantoches. A Taverna durou mais de doze anos e somou cinquenta e quatro representações em vários pontos do país. Éramos saltimbancos de alegria. Ver avós, filhos e netos, no mesmo palco, era uma gratificação extraordinária. Três dos que então chamávamos bando de estorninhos, começaram com seis anos e são hoje atores profissionais. Disse muitas vezes que era melhor plantar um alfobre do que comprar couves.

O teatro é ver num palco uma amostra da vida ou a própria vida; com a luz e a sombra; o delírio e a crueza; o amor e a indiferença; a esperança e a solidão; nós e os outros ou, sobretudo, o que os outros têm de nosso e nós temos dos outros. O teatro é sobretudo esta escola de estética com poesia por dentro do corpo.

Sinto hoje que, quando escrevi a Taverna, era um artesão ingénuo dos afetos e ainda hoje, por entre as penumbras do tempo, não me sinto muito diferente de mim.

 

E como vê, hoje, a cultura na Guarda e no interior do país?

Se me reportar há trinta e sete anos, quando vim de Coimbra, a decadência é notória ainda que com algumas flutuações. Então esta cidade fervilhava e nunca me senti órfão de Coimbra.

Assisti na Guarda a múltiplas manifestações culturais na sua mais diversa expressão. Esta dinâmica tinha o dedo e a obstinação do Américo Rodrigues. Há razões também de natureza demográfica e de modificação de hábitos.

As redes sociais não nos grudavam aos pequenos ecrãs como uma crescente clausura de alienados. Ao tempo, a desoras, com um grupo de amigos, para beber um fino no Zé da Praça ou no Caçador, era preciso ter a sorte de um lugar.

António Manuel  Gomes_médico_ 2_

Ainda “permanece amante das palavras vadias”, como referia numa sua nota biográfica?

Permaneço, ainda que com menor densidade de momentos que há umas décadas atrás. Talvez me tornasse mais seletivo e conciso.

Normalmente escrevo por impulso e obedeço a chamamentos interiores ligados às coisas da vida (ou à vida das coisas). Isolo-me numa casa antiga, com a lareira por dentro da salamandra de inverno e com uma grande amplitude de músicas de referência a flutuar no espaço.

Depois é começar a ligar a filigrana das palavras com a delicadeza que elas merecem: são por natureza muito solidárias e atraem-se com a mesma multiplicidade de sentimentos que os humanos. Às vezes fazem-me chorar e isso significa que se agarraram a mim pela ponta dos dedos

 

Possui uma diversidade de contos e textos publicados em jornais e revistas. Para quando uma obra que reúna essa produção?  E para quando um livro novo?

Nunca esteve nos meus horizontes a publicação. Mesmo quando saiu o “Litoral” foi um desafio teimoso do João Luís Neca, do Bando de Palmela.

Julgo ter sido o Vergílio Ferreira que um dia escreveu que mesmo aqueles que escrevem para a gaveta, estão sempre à espera que um dia lh’a abram. Eu escrevi muito para a gaveta e era a minha mulher que a arrumava e organizava. Mais tarde o meu filho disciplinou-me no computador, mas continua a ser a minha gaveta informática.

Sem falsa modéstia, é o momento em que escrevo - à mão - que me seduz e alimenta; depois, muito raramente revisito o que escrevi; tenho medo do desconsolo. Nos últimos tempos, por “encomenda” de um estorninho da Taverna, o Pedro Sousa do Acert de Tondela e dos Gambuzinos e Peobardos, tenho escrito textos para teatro, e não me desagrada a publicação oral.

 

Escrevia no seu livro “Litoral”: “quando regressei às origens nada de mim morreu. Vendo bem, aconteci de outra maneira”. A ligação ao seu Avó contribui para esse regresso? Que memórias guarda desses primeiros anos da sua infância?

E continuo a acontecer de outra maneira porque a vida nos chama de muitas encruzilhadas e distâncias. O regresso de Coimbra foi o fecho do triângulo. Nasci na quinta. Na Covilhã era uma criança urbana; pedia autorização para ir brincar para o Jardim com os amigos; Eu e o João éramos os acólitos da missa da tarde na igreja de São Francisco; o padre Lemos (que depois deixou de o ser) emprestou-nos, aos dois, com conhecimento dos pais, um livro sobre educação sexual para crianças; era o tempo do Vaticano II; mais tarde, pelas dezassete horas, já eu e o João tínhamos extorquido, às respetivas mães, vinte cinco tostões cada um, para jogar snooker no Ginásio Clube.

No fim de semana e nas férias lá vínhamos na camioneta do Tonico para a quinta. O meu avô era um pedagogo nato. Dotado de uma subtileza invulgar tinha o humor clarividente de Monsieur de la Palisse que denunciava a essência por detrás do óbvio. Com ele, desde muito pequeno, aprendi todos os trabalhos e ciclos rurais. Muito pequeno, saltei um dia para um cesto de uvas de mesa e comecei a pisá-las, imitando os homens no balceiro; indiferente ao meu orgulho, o meu avô passou por mim e disse à minha mãe: ó Clementina vai lá ver o Tó! E mais aqui não cabe do Homem que me ensinou a dimensão das pequenas coisas que ainda hoje preenchem a essência mais nobre do meu pensamento.

 

O que continua a representar para si a Vela, globalmente entendida?

A Vela era o meu lado rural e telúrico. Quando mais tarde, já na faculdade, me afundei nos livros do Torga (com quem um dia falei), tinha encontrado por inteiro o lado granítico da existência.

Os sítios do silêncio nos lilases do crepúsculo. E ainda hoje, quando olho para a Serra do Seixo, vejo o dedo gordo e indicador do meu avô a ensinar-me onde o Sol se punha no pino do verão; depois começava a pôr-se cada vez mais abaixo – dizia. Eu viria a aprender o que era um solstício; o meu avô não precisava disso para nada.

A Vela continua a ser isto: um mosaico imenso de memórias à solta e, claro os amigos com quem continuo a entusiasmar-me na liberdade livre de uma boa conversa.

 

O que pensa desta homenagem que lhe faz o Município da Guarda?

Ouvi um dia a Jairzinho, jogador de excelência da seleção canarinha campeã do mundo, que falar sobre nós é indigesto. O reconhecimento, não o nego, afaga a alma e dá consistência à identidade. Mas foi com muitos outros, no trilho profissional; nas aventuras culturais; na partilha mais abrangente da vida; foi com os outros que são parte de mim, que esta homenagem é parte deles.

 

H.S. /Correio da Guarda

 

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publicado às 12:00

Uma palavra para os nossos Bombeiros...

por Correio da Guarda, em 02.09.24

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O incêndio que deflagrou, na madrugada do passado sábado, numa habitação devoluta localizada entre a Rua Sacadura Cabral e a Rua da Torre na cidade da Guarda, é mais um alerta preocupante para a salvaguarda e segurança do centro histórico.

O cenário de habitações devolutas, em ruínas ou com o seu interior transformado em perigosas lixeiras, não é apenas de hoje, mas prevalece há vários anos; um sério problema que se vai agravando progressivamente e poderá abrir as portas a uma tragédia com consequências imprevisíveis. Estamos perante um autêntico barril de pólvora que, face ao mais ligeiro descuido ou atitude criminosa, poderá colocar em risco muita coisa, nomeadamente vidas humanas.

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Mais do que intervenções inflamadas na praça pública (leia-se também redes sociais) e comentários desfocados daquilo que importa realmente resolver (sempre com a preocupação de zelar pelos reais interesses da Guarda e comunidade), urge a aplicação de medidas pragmáticas e adequadas à dimensão do problema; a par de uma consciencialização das responsabilidades individuais na defesa de uma identidade citadina, da sua valorização e promoção que terá reflexos positivos em múltiplas vertentes.

Contudo, e retomando o parágrafo inicial deste breve apontamento, é justo realçar aqui o trabalho dos Bombeiros da Guarda que – com rapidez, eficácia, empenho e elevado sentido de missão – neutralizaram o incêndio e travaram a sua propagação a outras habitações; aliás, no meio de condições de trabalho com diferenciadas dificuldades, se tivermos em conta o local e as condições de acesso para as viaturas e equipamentos. E quanto a acessibilidades dentro do centro histórico muito há a dizer…

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Os nossos bombeiros merecem, pois, uma palavra de gratidão e o apoio da comunidade sempre que solicitado.

 

Hélder Sequeira

 

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publicado às 12:17

Simulacro de incêndio na Guarda

por Correio da Guarda, em 06.08.23

 

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Na Guarda decorreu ontem um simulacro de incêndio no edifício do antigo Hotel Turismo, organizado pelos Bombeiros Voluntários desta cidade e integrado nas comemorações do seu 147º aniversário.

No decorrer desta ação foram demonstradas diversas valências. Recorde-se que em setembro do passado ano deflagrou naquele edifício um incêndio, aliás prontamente combatido pelos bombeiros guardenses.

Hoje, prosseguiram as comemorações do 147º aniversário da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários Egitanienses, com o hastear da bandeira, formatura, sessão solene e desfile motorizado por algumas das principais artérias da cidade.

Mais fotos aqui.

 

 

 

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publicado às 15:47

Respeito e gratidão...

por Correio da Guarda, em 20.08.22

 

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Ao escrevermos estas palavras [já na noite de segunda-feira] não conhecemos ainda o cenário resultante dos fogos que estão a atingir Gonçalo, Seixo Amarelo, Famalicão da Serra, Vale de Amoreira, Valhelhas, Colmeal da Torre e outras zonas circunvizinhas, mas adivinha-se trágico e desolador…

Com estes novos incêndios [já depois de enviado o texto para publicação foi registado mais um incêndio no concelho de Gouveia] e reacendimentos é, infelizmente, ampliada a mancha negra que tem ferido a Serra da Estrela há mais de uma semana; realidade que se traduz em graves consequências para a economia local e regional, para um elevado número de pessoas, para o património florestal e ambiental, para a biodiversidade…

O interior ficou, inquestionavelmente mais pobre e débil com este golpe violento do fogo impiedoso numa Serra “alta, imensa, enigmática” cuja “presença física é logo uma obsessão”, como escreveu Miguel Torga.

A Estrela, contudo, “não divide, concentra”, dizia ainda o poeta. Nestes fatídicos dias a Serra voltou a concentrar os esforços de centenas de bombeiros e outros operacionais (de instituições e serviços diversos) que merecem o nosso elevado respeito e gratidão por tudo quanto têm feito em prol da defesa de pessoas, bens, animais, floresta; travando uma luta difícil, em condições inimagináveis para muitos.

Sobretudo para aqueles que, em especial no comodismo e anonimato proporcionado pelas redes sociais, criticam, elaboram teorias, emitem opiniões que roçam o ridículo, deturpam realidades, enquadram as suas expressões numa atitude maldizente e tendenciosa…perante a situação que estamos a viver é fundamental uma postura cívica e colaborante, o apoio os homens e mulheres que estão no terreno, perante as chamas, o perigo constante.

E por vezes há gestos simples que traduzem o apreço e admiração por aqueles que envergam a farda dos bombeiros, da GNR, das forças especiais, sapadores, etc. Assim, não poderíamos deixar de transcrever as palavras que um bombeiro de Almada – que esteve aqui na Serra da Estrela a combate – escreveu numa rede social (as redes sociais também têm, obviamente, virtualidades quando utilizadas com responsabilidade e bom senso).

“Olá Criança: Desculpa tratar-te assim , mas não sei como te chamas [soube-se depois tratar-se de um menino chamado Gonçalo], nem tive oportunidade de falar contigo, sou o Chefe da equipa do veículo dos Bombeiros de Almada que passou por ti perto do Vale de Amoreira (…), tínhamos tido umas horas de combate complicado estávamos cansados, mas passámos na estrada junto ao café onde estavas com os teus familiares, de repente voltaste - te para nós e bateste-nos continência; na altura e porque havia trabalho a fazer, respondemos apenas com o toque da buzina de ar, mas o teu gesto aliviou o nosso cansaço e deu-nos ânimo. Dizem que as crianças são puras e que não enganam, como eu gostaria que os adultos fossem assim. Pelo ânimo dado a esta equipa com o teu gesto e como Chefe da mesma, retribuo o gesto dizendo-te em nosso nome: Muito Obrigado.”

Passados que forem estes dias de tragédia certamente serão conhecidas muitas outras expressivas atitudes de agradecimento para quem tem estado, dias e dias seguidos, no teatro de operações; ou mesmo para realçar exemplos de coragem.

No local do Covão da Abelha (zona da Serra de Baixo), Parque Natural da Serra da Estrela elementos da GNR resgataram um cidadão ameaçado pelas chamas. O próprio fez o relato, num agradecimento que dirigiu ao Comandante do Posto da Guarda Nacional Republicana de Manteigas (e posteriormente divulgado pelo Comando Territorial da Guarda): “salvaram a minha vida, com a sua rápida e decisiva entrada na zona já circunscrita em chamas. Este facto verificou-se após inesperado e violento reacendimento, com acelerada progressão das chamas, provocado por fortíssima e permanente intensidade de vento na zona onde me encontrava. Em local de difícil acesso em montanha (1300 metros), irromperam na sua viatura para o meu resgate, em tempo de sair da zona onde o fogo progrediu em forma de tenaz. Esta ação demonstra, a meu ver, ato heroico de bravura, de excecional abnegação e valentia, com comprovado perigo da sua vida (…)”.

Haverá tempo para serem conhecidos outros atos como este, a par da resposta que algumas associações e grupos de cidadãos deram de imediato ao nível do apoio a pastores e agricultores que foram atingidos fortemente pela onda devastadora dos fogos. E há que sublinhar o papel ativo das gentes locais na ajuda ao combate às chamas, quer com intervenção direta, quer com a orientação no terreno cujo conhecimento dominam.

Haverá tempo para se perceber o que falhou no combate inicial ao fogo na Serra (não sendo especialista na matéria, parece-me haver um consenso de que a situação não terá sido devidamente avaliada no que concerne à provável evolução das chamas e aos meios terrestres e aéreos necessários a uma resposta mais musculada), que dificuldades houve ao nível da coordenação e comunicações, na logística de apoio às corporações de bombeiros, etc…

Contudo não há tempo a perder na implementação dos apoios necessários a quem perdeu bens e sustento, no desenvolvimento das necessárias ações tendentes a neutralizar as falhas verificadas, na aplicação das medidas conducentes a uma rápida revitalização deste território, no rigoroso planeamento da reflorestação. São precisas decisões e atos e não mera retórica mediática.

Enquanto isso, evidenciamos, de novo, o respeito e gratidão para com todos os operacionais, agentes e corporações que têm estado na linha da frente no combate ao fogo.

 

Hélder Sequeira

 

In "O Interior", 17 de agosto 2022

 

 

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publicado às 18:30

Dia do Concelho do Sabugal

por Correio da Guarda, em 06.11.21

 

Na próxima quarta-feira, 10 de novembro, será comemorado o Dia do Concelho do Sabugal, que assinala os 725 anos da confirmação do foral de Dinis, atribuído em 1296.

O programa comemorativo inicia-se às 9h30 nos Paços do Concelho, com o hastear das bandeiras, ao som do Hino Nacional e perante guarda de honra formada por elementos das Corporações das Associações Humanitárias de Bombeiros Voluntários do Sabugal e do Soito.

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De acordo com informação da autarquia, na ocasião, terá ainda lugar a assinatura de protocolo e cedência de viatura à GNR – Comando Territorial da Guarda, destinada ao policiamento de proximidade no âmbito dos programas especiais ‘Escola Segura’ e ‘Programa Apoio 65 – Idoso em Segurança’.

A sessão solene comemorativa continua às 10 horas, no Auditório Municipal, com um momento musical, seguindo-se as intervenções do Presidente da Câmara Municipal, Vítor Proença, e do Presidente da Assembleia Municipal, Manuel Meirinho. A cerimónia prosseguirá com a condecoração dos trabalhadores da autarquia com 15, 25 e 35 anos de serviço efetivo no Município, votos de louvor a trabalhadores aposentados e atribuição de Medalha de Mérito Cívico ao Brigadeiro-General António Manuel de Oliveira Bogas.

 

Fonte: CM Sabugal

 

 

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publicado às 19:00

Homenagem aos profissionais de saúde da ULS

por Correio da Guarda, em 16.04.20

 

Hospital Sousa Martins - Guarda - Foto Helder Sequ

Na Guarda vai ter lugar amanhã uma homenagem aos profissionais de saúde da Unidade Local de Saúde.

Esta homenagem simbólica será prestada pelas forças e serviços de segurança e corpos de Bombeiros.

Trata-se de uma iniciativa da Direção Nacional da PSP e decorrerá à mesma hora (16 horas) em todo o país, junto aos hospitais indicados como hospitais de referência no combate à COVID-19.

Médicos - fot.jpg

No Hospital Sousa Martins da Guarda terá lugar em frente ao Pavilhão da Consulta Externa.

 

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publicado às 22:35

Fogos na Guarda

por Correio da Guarda, em 24.08.17

Incêndio na EN 18 - Guarda - Foto HS.jpg

     A cidade da Guarda continuou hoje sob intenso manto de fumo originado, sobretudo, pelo incêndio que começou ontem, pelas 13h44, em Fernão Joanes e que progrediu para as zonas de Seixo Amarelo, Vela, Aldeia do Bispo e Vale de Estrela.

    Hoje, durante a tarde, a Estrada Nacional 18 (EN 18) esteve cortada entre o troço da Santa Cruz (em frente a Aldeia do Bispo) e a Vela (cruzamento da ligação à A23) devido às chamas que, vindas do vale entre aquelas localidades e o referido eixo viário, atravessaram a estrada e subiram pela Serra em direção à A23.

    Segundo página na internet da Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC) o incêndio estava, durante a tarde, a ser combatido por 370 homens, auxiliados por 105 veículos e dois meio aéreos.

Estrada Cortada - HS.JPG

 

Incêndio 4 - HSequeira.jpg

 

 

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publicado às 19:49

Bombeiros Voluntários Egitanienses: 141º aniversário

por Correio da Guarda, em 05.08.17

 

 

     A Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários Egitanienses assinala, amanhã, o seu 141º aniversário.
    O programa comemorativo foi, entretanto, iniciado ontem com a realização de um simulacro junto ao edifício do Hotel Turismo.

BOMBEIROS.jpg

 


       A Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários Egitanienses resultou da iniciativa de um grupo de guardenses preocupados com inexistência de um corpo de bombeiros na cidade da Guarda.
     A reunião que desencadeou o processo de criação desta associação humanitária ocorreu a 5 de Agosto de 1876, na residência de Geraldo José Batoréu, que liderou o grupo fundador. Foi assim constituída a “Companhia dos Bombeiros Voluntários”.
Geraldo José Batoréu, Manuel Jacinto, António Gonçalves Ribas, Jerónimo Rodrigues Leal, José Lopes Faia Júnior, Jerónimo Rodrigues Outeiro, Alfredo d´Almeida Barbas, António da Cruz, João Bernardo d´Oliveira, José Joaquim Rodrigues, Joaquim Gonçalves Ribas e Amândio Augusto Ferreira foram os elementos da comissão que fundou este corpo de bombeiros.

Quartel dos Bombeiros.jpg

     Parabéns aos Voluntários da Guarda !

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publicado às 12:33

Apreço e gratidão

por Correio da Guarda, em 21.07.17

 

     As chamas andaram, esta segunda-feira, dentro da Guarda. A meio da tarde o fogo deflagrou junto à Via de Cintura Externa, atingindo também a zona residencial da Senhora dos Remédios e, pouco tempo depois, um outro foco de incêndio eclodiu a meio da encosta do Bairro do Pinheiro.

    O incêndio, que se iria aproximar perigosamente das habitações, foi felizmente travado pelo rápido alerta desencadeado e pela pronta intervenção dos Bombeiros Voluntários.

    Este incêndio, à semelhança de muitos outros não deixou de suscitar a revolta dos moradores, múltiplas interrogações e comentários bem como o registo das condições propícias à propagação das chamas.

    Como é habitual nestas circunstâncias não faltaram os comentários dos persistentes “peritos” de ocasião, confortáveis na sua posição de ávidos espectadores de um flagelo que tem deixado profundas marcas na região e no País; não deixa de ser curioso que estes “especialistas” não sejam capazes de esboçar um gesto de auxílio, uma atitude de disponibilidade para ajudar (que, e bem, se verifica noutros casos e lugares, com o devida orientação quando há operacionais no terreno) com os meios que possam afetar para debelar as chamas; nestas circunstâncias é mais fácil manejar a câmara fotográfica dos telemóveis do que uma enxada, uma pá…e nas redes sociais sempre se colocam umas imagens suportadas por uns “emojis” encarnados, lacrimejantes ou expressando um incompreensível “like”…fica bem é confere uma pretensa tonalidade de intervenção cívica…

Bombeiro - foto HS-Guarda.jpg

    E por ali ficam a olhar para a atuação dos Bombeiros como se estes estivessem a ser os protagonistas de uma qualquer peça dramática…e estes homens, e mulheres, vivem todos os dias dramas reais e assumem, em cada dia, exemplos que deve merecer (não apenas nas festas ou galas de homenagem…) o nosso apoio, solidariedade e gratidão.

    E, discorrendo ainda pelo referido incêndio, gostaria de anotar uma atitude simples mas extremamente expressiva: um jovem morador, quando os bombeiros se preparavam para sair do local, aproximou-se do voluntário mais próximo e tocando-lhe no ombro disse-lhe “obrigado!”.

    Recebeu, da parte do Bombeiro, um sorriso que certamente traduzia uma íntima satisfação pela valorização dada, de forma simples e sincera, ao seu trabalho…ao verdadeiro espírito do Voluntariado, à sua relevante missão humanitária e social.

   Estes homens e mulheres que vemos, nestes e noutros dias dramáticos, a enfrentar as chamas, arriscando as suas vidas, auxiliando, socorrendo, servindo até à exaustão, devem merecer o nosso respeito e admiração. Bem hajam!

 

     in O Interior, 19.07.2017

 

 

 

 

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publicado às 19:20


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