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D. António dos Santos, Bispo Emérito da Diocese da Guarda, faleceu, ao final da tarde de hoje, no Hospital Sousa Martins, Guarda; era natural de Santo António de Vagos, onde nasceu a 14 de abril de 1932, tendo sido ordenado padre em 1 de julho de 1956, em Albergaria-a-Velha. Foi também pároco de Ílhavo e Bispo auxiliar de Aveiro, onde esteve até 1979.
A 17 de novembro desse ano foi nomeado Bispo da Guarda, cargo que desempenhou até 1 de dezembro de 2005, tendo resignado por motivos de saúde e sido substituído por D. Manuel Felício. Após a resignação viveu na localidade da Quintã (Santo António de Vagos) e, nos últimos tempos, na cidade da Guarda onde faleceu hoje.
Amanhã será velado, após as 10h30, na Igreja da Misericórdia, Guarda, estando previstas as exéquias solenes para quarta-feira, 28 de março, na Sé Catedral, pelas 15 horas.
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Há anos atrás, quando se assinalou o 25º aniversário de D. António dos Santos à frente dos destinos da Diocese da Guarda tive o ensejo de efetuar, a convite de um dos jornais da cidade, um breve comentário sobre o prelado egitaniense; palavras que reedito nesta data.
“Ainda que, para muitos, a visibilidade pública do Bispo da Guarda devesse ter sido, ao longo destes anos, mais acentuada, julgo que D. António dos Santos soube alcançar um adequado equilíbrio e marcar a sua presença, sempre que oportuna ou necessária.
As suas funções implicavam uma conduta rigorosa, sóbria e uma perceção constante dos caminhos a percorrer, das realidades – a considerar numa diocese do interior. Aliás, só quem não esteve atento, olvidou os alertas e as preocupações deixadas por D. António Santos.
Há seis anos atrás, na sua mensagem natalícia, recordo que o Bispo da Guarda se interrogava “como podemos viver e dormir tranquilos perante a fome, o frio a carência de remédios, de casa e de tantas coisas que faltam a muitos? O nosso supérfluo é, sem dúvida, o necessário dos outros”. E D. António Santos manifestava a sua apreensão perante a impossibilidade de se “continuar indiferente diante da ignorância, da solidão, exploração, falta de fé, sofrimento de multidões!?”.
E assim, o Bispo da Guarda sublinhava que “os cristãos têm especial dever de aceitar a gigantesca mas entusiasmante tarefa de renovação do mundo”, começando, desde logo, “por tomar a sério a sua filiação divina”. Um estatuto que, na sua perspetiva, lhes dá uma responsabilidade acrescida para auxiliarem e defenderem as “vítimas da opressão”. E tal como apontava o prelado egitaniense, estas são numerosas: “os desempregados, os escravizados da noite, os dominados pela droga, pelo álcool, os impedidos dos necessários cuidados de saúde, os emigrantes forçados, os trabalhadores explorados, as vítimas da violência familiar ou social”. E como estão, infelizmente, atuais estas palavras, escritas em 1999...desejando a “realização da justiça social, a promoção dos mais débeis, o respeito pelos direitos do homem; o fim da violência e da intolerância; o trocar a inveja pelo amor”.
Este, na sua opinião, “mesmo que escondido sobre as cinzas de muitos escombros, é uma energia moral capaz de reconstruir a própria família”, defendida por D. António dos Santos como “o verdadeiro fundamento da sociedade. A família é natural ao homem”.
Neste contexto, por mais de uma vez, fez notar a urgência em “valorizar o lugar dos idosos na família, na comunidade civil e eclesial. Há – realçava em 2002 o Bispo da Guarda – situações inaceitáveis de esquecimento e solidão, que são fontes de atrozes sofrimentos para os próprios e de empobrecimento espiritual para os mais novos”.
Helder Sequeira
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