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No próximo dia 30 de maio vai decorrer em Fernão Joanes (Guarda) uma prova integrada no Campeonato Europeu e Nacional de Motocross.
António Bico, Presidente da Associação Cultural e Recreativa de Fernão Joanes, disse ao CORREIO DA GUARDA que organizar "um evento desta dimensão é sempre algo bastante complexo e que requer um grande exercício burocrático. Este ano, devido à atual situação pandémica, o desafio torna-se ainda maior”.
Como surgiu o projeto de criar condições, em Fernão Joanes, para a realização de provas de Motocross?
Enquanto associação, sempre acreditámos que Fernão Joanes era um local único, com muito para oferecer, e vimos neste evento a oportunidade de lhe dar uma nova vida, de o rejuvenescer.
O espírito do motocross foi algo sempre presente em Fernão Joanes, desde há cerca de 20 anos quando ainda só se realizavam provas amadoras, e então decidimos aproveitar essas raízes para investir num crossódromo e concorrer para que uma das etapas do campeonato se realizasse nesta aldeia beirã. Felizmente conseguimos, e é algo que nos deixa cada vez mais felizes a cada ano que passa.
Acha que Fernão Joanes tem características diferenciadoras para afirmar as suas pistas face a outras congéneres, dentro e fora do país?
Sim, totalmente. Além do Crossódromo Internacional das Lajes possuir todas as infraestruturas consideradas necessárias para organizar qualquer tipo de evento desta modalidade, o facto de estar situado em pleno Parque Natural da Serra da Estrela, faz com que possua características muito próprias e diferenciadoras, dando-lhe um traçado muito técnico e competitivo.
Considera que a projeção dada a esta localidade, através do Motocross, ultrapassou as expetativas iniciais?
Inicialmente, quando decidimos dar este passo no sentido de profissionalizar a cultura do motocross na região, não tínhamos noção do real impacto que isso teria na nossa aldeia.
Contudo, sentimos que a organização deste evento foi algo que começou a unir cada vez mais as pessoas da aldeia, que todos os anos se voluntariam para ajudar em todas as tarefas necessárias. Além disso, o número de visitantes tem sido também crescente, o que impulsionou o desenvolvimento e aparecimento de novos negócios em Fernão Joanes para acolher o campeonato e os turistas que começam a escolher a aldeia para umas férias descansadas com família ou amigos.
É certo que não esperávamos que tivesse um impacto tão positivo, mas ficamos imensamente gratos e felizes por assim o ser.
No atual contexto de emergência sanitária, provocada pelo Covid 19, acha que a realização de mais uma importante prova, integrada no Campeonato Europeu e Nacional de Motocross, assume um desafio diferente e acrescidas dificuldades?
Sim, sem dúvida. Organizar um evento desta dimensão é sempre algo bastante complexo e que requer um grande exercício burocrático. Este ano, devido à atual situação pandémica, o desafio torna-se ainda maior, no sentido em que nos obriga a adotar um conjunto de medidas, ações logísticas e organizacionais que num ano "normal" não seriam necessárias.
Vai haver medidas especiais para os participantes nas provas e para o público?
A pandemia obrigou-nos a alterar toda a logística habitual da organização do evento para garantir que os participantes têm todas as condições para realizar a competição em segurança.
Por outro lado, e ainda que o evento seja realizado ao ar livre, de forma a evitar a concentração de pessoas, a competição decorrerá ainda sem a presença de público.
Está pensada a transmissão através de plataformas digitais para viabilizar o acompanhamento do desenrolar destas provas por parte de um maior número de pessoas.
Sim, o evento poderá ser acompanhado através do Canal Youtube da Federação de Motociclismo de Portugal e será gravado com câmaras estrategicamente posicionadas para que os espectadores tenham a melhor experiência possível a partir do conforto e segurança das suas casas.
Como vê o impacto económico de uma prova desta natureza em Fernão Joanes e o seu contributo para a dinamização do tecido comercial e da atividade turística?
Fernão Joanes adaptou-se às circunstâncias e todos os habitantes e pequenos comerciantes acolheram este evento da melhor forma possível.
O campeonato é, sem dúvida, uma grande ajuda para o desenvolvimento do setor do turismo uma vez que, sendo uma prova com reconhecimento a nível europeu, ajuda a dinamizar a região ao trazer participantes, interessados e fãs da modalidade à região.
Os impactos socioculturais da atividade turística são, na perceção dos residentes em cidades pequenas, mais importantes do que os impactos económicos. Esta a conclusão de um estudo conduzido por investigadores da Universidade de Coimbra (UC) e do Instituto Politécnico de Viseu (IPV).
Esta investigação, que teve por objetivo analisar a relação entre a ligação ao lugar e os impactos percecionados pelos residentes em cidades de pequena dimensão relativamente à atividade turística, envolveu 350 habitantes de várias cidades, entre as quais a Guarda, Gouveia e Seia, Aveiro, Covilhã, Figueira da Foz, Leiria e Viseu.
«A investigação sobre a visão dos residentes relativamente à atividade turística é pouco explorada, mais ainda em cidades de pequena dimensão. Por isso, este estudo pretende precisamente colmatar essa lacuna na literatura e contribuir para um melhor planeamento destes destinos que, fruto da pandemia, vão ter uma maior procura», referiu Cláudia Seabra, investigadora e docente da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC).
Uma explicação para os dados obtidos no estudo, financiando pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), prende-se com o facto de «nas pequenas cidades o espírito de comunidade ainda ser forte. As pessoas estão mais conscientes dos efeitos sociais que o desenvolvimento do turismo tem nas suas vidas do que os efeitos económicos ou ambientais. Em geral, as pequenas cidades têm uma população pequena e envelhecida, com menos oportunidades de emprego, cuidados de saúde e grandes infraestruturas de comunicação», afirma Cláudia Seabra.
Nessas comunidades, fundamenta, «as pessoas geralmente estão ansiosas para conhecer novas pessoas e se conectar com outras culturas e gerações diferentes. Em geral, os impactos negativos dos grandes centros urbanos onde milhares de turistas se aglomeram não são sentidos. Os turistas são vistos como pessoas que trazem oportunidades de negócios, visitando bares, restaurantes, hotéis e atrações da região, ao mesmo tempo que compram produtos locais para levar. Por outro lado, os turistas são fontes de rejuvenescimento cultural».
A docente e investigadora do Centro de Estudos em Geografia e Ordenamento do Território (CEGOT) considera que os resultados deste estudo, além de contribuírem para uma «maior consciência dos efeitos que o desenvolvimento do turismo está a ter na comunidade dos destinos das pequenas cidades, porque o turismo pode ser um desafio para as pequenas localidades e cidades, sobretudo de forma sustentável», podem ajudar «os gestores a fornecer benefícios económicos, sociais e culturais de longo prazo para a comunidade local, melhorando a qualidade de vida e, assim, fortalecendo o lugar e o vínculo com a comunidade».
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