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“A feminização do jornalismo regional em contexto português: o caso dos jornais centenários” é o título da tese de doutoramento que a jornalista Liliana Carona defendeu recentemente na universidade de Coimbra. A investigação contemplou a análise documental dos 40 jornais regionais centenários (localizados maioritariamente no norte do país) a aplicação de um inquérito a profissionais da imprensa regional, e a realização de entrevistas em profundidade.
Este trabalho permitiu concluir que a composição destes jornais reflete “uma evidente desigualdade de género, nomeadamente no que diz respeito ao número de mulheres a desempenhar cargos de chefia”.
Como foi sublinhado, “apenas 6 jornais têm diretoras mulheres (15%); 40% dos jornais são editados unicamente em papel, ou seja, a maioria tem presença no digital, mas com evidentes dificuldades de modernização tecnológica. Plataformas obsoletas ou não atualizadas”. De referir que 40% destes jornais são semanários e 11 (27,5%) são associados da AIC - Associação de Imprensa de Inspiração Cristã.
No que diz respeito aos resultados do Inquérito feito a profissionais da imprensa regional, “olhando ao total de respostas do inquérito realizado a profissionais da imprensa regional, concluímos que cerca de metade da amostra (44,3%) em análise, é a favor da inclusão de uma alínea/diretriz, dedicada exclusivamente à igualdade de género, no Código Deontológico dos jornalistas”, adiantou Liliana Carona.
Relativamente aos profissionais da imprensa regional, verifica-se uma população maioritariamente feminina (58,8%), com predomínio dos que possuem 41-50 anos (36,1%), havendo mais mulheres com grau de escolaridade de ensino superior (licenciatura, mestrado, doutoramento): 48,3% homens com licenciatura, 66,1% mulheres.
A autora desta tese de doutoramento destaca ainda que “em comparação com as mulheres, um maior número de homens afirma refletir sobre igualdade de género no jornalismo, sendo que do total de respostas, 7% admite nunca ter pensado no tema. 6,7% de homens garantem pensar ‘sempre’ sobre o tema, por oposto a 6,3% de mulheres a indicarem a mesma resposta”.
Os homens ‘concordam totalmente’ (8%) que jornalistas mulheres, em geral, têm mais aptidão para escrever assuntos relacionados com mulheres. As mulheres ‘concordam totalmente’ nessa afirmação, numa percentagem inferior (7%); já 28% dos homens desempenham o cargo de direção editorial, número superior às profissionais do género feminino na função de diretora da publicação (16% de mulheres).
A propósito desta investigação, Liliana Carona acrescentou que as mulheres consideram ter sido mais vezes alvo de discriminação de género, constatando-se uma média mais elevada para as mulheres. Nenhum homem referiu ter sido ‘muitas vezes’ alvo de discriminação por causa do género. 5% das mulheres indica ter sido alvo de discriminação ‘muitas vezes’. De salientar, e de acordo com o estudo em referência, que as mulheres são mais afetadas pela precariedade no jornalismo (24,2% das mulheres afirma ter contrato temporário de trabalho, face a 7% de homens).
Nesta tese é recomendada a definição, no âmbito da Carteira Profissional de Jornalista, do título de jornalista de imprensa regional, apresentando-se também a necessidade de inclusão de alínea específica e exclusiva, no Código Deontológico dos Jornalistas, dedicada à igualdade de género, no que diz respeito às fontes ouvidas.
Nas sugestões apresentadas pela jornalista autora deste trabalho académico, está ainda acentuada a necessidade urgente de “debater e analisar o tratamento desigual nas redações da imprensa regional, que é ocultado e negado”, bem como a importância da aposta na formação e redefinição e clarificação das normas de acesso à profissão.
A implementação de planos para a igualdade de género adaptados ao contexto dos media e jornalismo e o investimento na digitalização dos arquivos dos jornais centenários são outras medidas defendidas.
Liliana Carona, integra o grupo R/COM (Renascença) há 13 anos, enquanto jornalista correspondente na região interior centro, sendo também diretora do jornal Notícias de Gouveia (desde 2015); exerce ainda funções docentes Escola Superior de Educação de Viseu e na Escola Superior de Educação, Comunicação e Desporto da Guarda.
HS/CGuarda
O Arquivo Distrital da Guarda, em parceria com a Guarda Digital, disponibilizou, recentemente, um portal dedicado à “Primeira República na Região”.
Embora esteja já acessível aos interessados, este portal será inaugurado em breve. Pretende ser um sítio em permanente (re)construção de conteúdos, aceitando contributos externos.
“Está aberto à disponibilização de fontes em formato digital, assegurado as entidades coordenadoras do projecto os meios tecnológicos e técnicos necessários à sua reprodução e à disponibilização de tais fontes e conteúdos através deste sítio na internet”, esclarece Levi Coelho, director do Arquivo Distrital da Guarda.
Este projecto (www.arquivo.guarda.pt) surgiu no âmbito da comemoração do centenário da república, tendo em vista “a divulgação e a promoção do acesso às diversas fontes de informação que permitam melhor conhecer o impacto da implantação do regime republicano na evolução histórica das diversas comunidades do distrito da Guarda”.
O Director do Arquivo Distrital da Guarda salienta que “tais fontes, se quisermos, tais informações, estão dispersas por uma multiplicidade de entidades públicas e privadas”, nomeadamente arquivos históricos, arquivos de entidades públicas activas, arquivos de família, de associações, museus, ou bibliotecas. “Materializaram-se tais informações, provavelmente, em suportes e por processos diversificados – o documento escrito, a fotografia, a publicação monográfica ou periódica, a obra de arte, o registo sonoro, a peça museológica, ou outros”.
Para Levi Coelho, embora a dispersão e o desconhecimento da existência dessa informação constitua um “obstáculo ao conhecimento e à contínua reconstrução da nossa história”, a tecnologia actual associada às potencialidades da internet pode contribuir para “tornar acessível o que está inacessível”.
Neste portal vão estar disponíveis documentos, imagens, páginas de jornais do período da primeira República, biografias de personalidades, indicação de trabalhos editados e ligações para outros sítios com interesse para os potenciais utilizadores.
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