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Em Almeida tem início hoje o programa da vigésima edição da recriação histórica do cerco daquela vila, ocorrido durante a terceira invasão francesa em 1810.
Recorde-se que no passado dia 24 de julho passou mais um aniversário da trágica batalha do Côa, ocorrida no decurso da progressão dos militares franceses.
As tropas anglo-lusas lutaram contra as forças do exército francês do Marechal Ney, no local do Cabeço Negro, junto às margens do rio. Esta batalha antecedeu a queda da fortaleza de Almeida e a sua ocupação pelas tropas que entraram em Portugal, sob o comando de Massena.
Este rio foi, até 1297, foi o limite da fronteira entre os territórios dos reinos de Portugal e Castela; atravessa o concelho de Almeida e é um dos poucos a correr de sul para norte. Com a assinatura do Tratado de Alcanices, por D. Fernando de Castela e D. Dinis de Portugal, o castelo de Almeida – entre outras fortalezas – passou para o domínio da coroa portuguesa.
Esta zona teve uma grande importância estratégica, do ponto de vista militar; aqui se travaram, ao longo dos séculos, várias batalhas. A importância da fortaleza de Almeida cedo foi acentuada; após o primeiro de dezembro de 1640, o rei D. João IV ordenou a sua reparação, face aos momentos e às difíceis contendas que se avizinhavam.
Desde logo ficou percetível o papel preponderante que Almeida ia ter no processo bélico de manutenção da independência. A vila foi transformada em sede do quartel-general do Governador de Armas da Beira, constituindo-se na mais importante praça do reino português.
Álvaro de Abranches, um dos conjurados da Revolução de 1640 e membro do Conselho de Guerra de D. João IV, foi o primeiro Governador de Armas de Almeida, empenhando-se, de imediato no seu eficaz guarnecimento, rentabilizado o sistema de fortificações de que estava dotada.
Mais tarde a história de Almeida cruza-se com as célebres, quanto dramáticas, invasões francesas. Destas, a terceira incursão conduzida por André Massena foi a que deixou marcas mais profundas na denominada “Estrela de Pedra”.
Após a conquista de Ciudad Rodrigo (Espanha), em 10 de Junho de 1810, pelas tropas francesas o objetivo do exército invasor era o domínio da praça portuguesa, que teria cerca de 2000 habitantes e estava guarnecida com 5 000 soldados e 115 peças de artilharia. Com a aproximação das forças francesas, o comando do exército anglo-luso apelou aos habitantes para abandonarem as suas casas e levarem os seus haveres.
Nos primeiros dias de agosto de 1810 o Marechal Massena mandou avançar o Oitavo Corpo do exército francês, sob o comando de Junot, dando início ao cerco de Almeida, a 10 de agosto, cuja guarnição militar era chefiada pelo coronel inglês Guilherme Cox, sendo Tenente-Rei o almeidense Francisco Bernardo da Costa.
O cerco decorria há 17 dias quando, ao cair da noite, uma granada francesa provocou uma explosão em cadeia que destruiu o paiol principal, onde estavam armazenadas 75 toneladas de pólvora; centenas de mortos e enormes danos no interior da fortaleza foi o balanço imediato da tragédia. Na manhã seguinte, 27 de agosto de 1810, Massena exigiu do comandante inglês a rendição imediata da praça, o que acabou por suceder nessa noite.
A fortaleza de Almeida, em estilo Vauban, tem uma planta em forma de estrela irregular, integrando seis baluartes: o de S. Francisco, São João de Deus, Santa Bárbara (designado também de Praça Alta), do Trem (ou de Nossa Senhora das Brotas), Santo António e São Pedro, articulados com idêntico número de revelins. O conjunto monumental deste baluarte beirão encontra-se rodeada por largos e profundos fossos. Para além das majestosas Portas de Santo António e São Francisco destacam-se no complexo desta fortaleza abaluartada as casamatas, espaços subterrâneos cuja estrutura e solidez os tornava imunes às bombas da época.
No interior do perímetro amuralhado encontra-se o Quartel das Esquadras que ficou a dever-se ao Conde de Lippe (Frederico Guilherme de Schaumburg-Lippe), edifício onde estiveram instaladas forças de infantaria; a antiga Casa dos Governadores da Praça de Almeida; o edifício do Corpo da Guarda Principal (onde funciona a Câmara Municipal), a Igreja da Misericórdia, a Casa dos Vedores Gerais, a Casa da Câmara e o Antigo Convento de Nossa Senhora do Loreto (atual Igreja Matriz) são outros edifícios emblemáticos desta vila do distrito da Guarda.
Programa de hoje
O programa de hoje inicia-se esta tarde com o hastear das bandeiras dos países participantes, no edifício da Câmara Municipal de Almeida
Às 18 ocorrerá a abertura e inauguração do Mercado Oitocentista e por essa mesma hora será apresentado o Hospital Militar, com exposição e teatralização no átrio exterior antigo Hospital Militar de D. Miguel Luís Jacob
Entre as 19 e as 22 horas “Nas tabernas saboreie um bom manjar”, funcionando no Terreiro do Poço do Rancho; pelas 20h30 será apresentado, na escadaria do antigo quartel das esquadras, um espetáculo de teatro, estando agendado para as 22 horas (entre Portas de São Francisco) um Baile e Sarau Cultural Oitocentista, seguindo-se pelas 23h30 um espetáculo musical (junto ao edifício da Câmara Municipal de Almeida).
Histórias das gentes de Almeida
“A Recriação Histórica do Cerco de Almeida é um conjunto de histórias bem urdidas que contribuem para a salvaguarda do Património e da História do Território, do Sítio e da sua Praça-Forte. As fabulosas histórias das gentes de Almeida estão por toda a parte e personagens como o camponês e a camponesa, o soldado e a criada, o burro de carga deambulam pelas Ruas.” É referido numa nota informativa divulgada pelo município de almeida”.
“Se passear pela Rua Dr. Chegão a decoração, brinda à Saúde dos Recriadores numa clara homenagem àqueles que têm participado e celebrado a História connosco, sendo simultaneamente uma alusão ao topónimo lembrando o Dr. Chegão, um renomado médico da Vila. Virando à esquerda a caminho da Rua de Entretendas, na Rua Comendador Cardoso, lembramos as azáfamas do mercado da Praça de S. João e aí mostramos um bonito estendal de várias cordas com roupas da época, como que se saídas de um baú.”
De referir que este ano, na Praça Dr. Casimiro Matias, antiga Praça de S. João, irá funcionar o “Espaço Família”: jogos tradicionais, oficinas e espetáculos para os mais pequenos e diversão garantida a todos.
“Descendo a Praça passe na Rua do Antigo Convento e aí recordamos o antigo convento das Freiras do Loreto, lembrando e assinalando a música. Na travessa do Convento, Caixas Mágicas de luz recriam pequenas cenas do cotidiano de 1810 utilizando a técnica do teatro de sombras chinês. Na Rua da Girota, homenageamos os soldados e o Giro do final da Ronda. Por seu turno, na Rua Conselheiro Hintze Ribeiro, são recordados os 20 anos de cerco e os 20 cartazes.” Acrescenta a informação da Câmara Municipal da Almeida, que lembra ainda a celebração das mulheres nas várias guerras, “mulheres de luta e de coragem combatendo em várias frentes, lembramos mulheres de armas.”
À noite a rua ilumina-se às cores da recriação histórica, as mesmas da bandeira do Regimento de Almeida, “entre elas diversas imagens alusivas à temática do Cerco, em clara homenagem a todos os que com resiliência nos defenderam”.
O programa geral desta recriação histórica, que começa hoje em Almeida, pode ser consultado aqui.
Hélder Sequeira
"Concelho de Almeida - Património com Alma: História, Cultura e Arte" é o título do livro que será apresentado no próximo dia 2 de julho, pelas 11 horas, na Biblioteca Municipal de Almeida, sessão integrada nas comemorações do aniversário daquele concelho.
Este livro sobre as freguesias do concelho de Almeida, da autoria de Augusto Moutinho Borges e António Reinas, será também apresentado em Vilar Formoso, no dia 6 de Julho, na Casa do Adro.
«Muito poderíamos desenvolver nesta obra, mas o nosso objetivo não é o de escrever uma monografia do concelho, nunca escrita e que esperamos que seja em breve, mas o de lançar “olhares e novas visões sobre o concelho de Almeida”, realçando aspetos mais direta e indiretamente ligados ao nosso tema, “Património com Alma”» salientam os autores.
O livro vai ter um total de 208 páginas com fotografias a cores e desenhos, de diversos autores.
Em Almeida vai decorrer, a partir da próxima sexta-feira (25 de agosto) e até domingo, a décima nona recriação histórica do cerco daquela vila, ocorrido durante a terceira invasão francesa em 1810.
No passado dia 24 de julho passou mais um aniversário da trágica batalha do Côa, ocorrida no decurso da progressão dos militares franceses. As tropas anglo-lusas lutaram contra as forças do exército francês do Marechal Ney, no local do Cabeço Negro, junto às margens do rio. Esta batalha antecedeu a queda da fortaleza de Almeida e a sua ocupação pelas tropas que entraram em Portugal, sob o comando de Massena.
Este rio, recorde-se, foi até 1297 foi o limite da fronteira entre os territórios dos reinos de Portugal e Castela; atravessa o concelho de Almeida e é um dos poucos a correr de sul para norte. Com a assinatura do Tratado de Alcanices, por D. Fernando de Castela e D. Dinis de Portugal, o castelo de Almeida – entre outras fortalezas – passou para o domínio da coroa portuguesa.
Esta zona teve uma grande importância estratégica, do ponto de vista militar; aqui se travaram, ao longo dos séculos, várias batalhas. A importância da fortaleza de Almeida cedo foi acentuada; após o primeiro de dezembro de 1640, o rei D. João IV ordenou a sua reparação, face aos momentos e às difíceis contendas que se avizinhavam.
Desde logo ficou percetível o papel preponderante que Almeida ia ter no processo bélico de manutenção da independência. A vila foi transformada em sede do quartel-general do Governador de Armas da Beira, constituindo-se na mais importante praça do reino português.
Álvaro de Abranches, um dos conjurados da Revolução de 1640 e membro do Conselho de Guerra de D. João IV, foi o primeiro Governador de Armas de Almeida, empenhando-se, de imediato no seu eficaz guarnecimento, rentabilizado o sistema de fortificações de que estava dotada.
Mais tarde a história de Almeida cruza-se com as célebres, quanto dramáticas, invasões francesas. Destas, a terceira incursão conduzida por André Massena foi a que deixou marcas mais profundas na denominada “Estrela de Pedra”.
Após a conquista de Ciudad Rodrigo (Espanha), em 10 de Junho de 1810, pelas tropas francesas o objetivo do exército invasor era o domínio da praça portuguesa, que teria cerca de 2000 habitantes e estava guarnecida com 5 000 soldados e 115 peças de artilharia. Com a aproximação das forças francesas, o comando do exército anglo-luso apelou aos habitantes para abandonarem as suas casas e levarem os seus haveres.
Nos primeiros dias de agosto de 1810 o Marechal Massena mandou avançar o Oitavo Corpo do exército francês, sob o comando de Junot, dando início ao cerco de Almeida, a 10 de agosto, cuja guarnição militar era chefiada pelo coronel inglês Guilherme Cox, sendo Tenente-Rei o almeidense Francisco Bernardo da Costa.
O cerco decorria há 17 dias quando, ao cair da noite, uma granada francesa provocou uma explosão em cadeia que destruiu o paiol principal, onde estavam armazenadas 75 toneladas de pólvora; centenas de mortos e enormes danos no interior da fortaleza foi o balanço imediato da tragédia. Na manhã seguinte, 27 de agosto de 1810, Massena exigiu do comandante inglês a rendição imediata da praça, o que acabou por suceder nessa noite.
A fortaleza de Almeida, em estilo Vauban, tem uma planta em forma de estrela irregular, integrando seis baluartes: o de S. Francisco, São João de Deus, Santa Bárbara (designado também de Praça Alta), do Trem (ou de Nossa Senhora das Brotas), Santo António e São Pedro, articulados com idêntico número de revelins. O conjunto monumental deste baluarte beirão encontra-se rodeada por largos e profundos fossos. Para além das majestosas Portas de Santo António e São Francisco destacam-se no complexo desta fortaleza abaluartada as casamatas, espaços subterrâneos cuja estrutura e solidez os tornava imunes às bombas da época.
No interior do perímetro amuralhado encontra-se o Quartel das Esquadras que ficou a dever-se ao Conde de Lippe (Frederico Guilherme de Schaumburg-Lippe), edifício onde estiveram instaladas forças de infantaria; a antiga Casa dos Governadores da Praça de Almeida; o edifício do Corpo da Guarda Principal (onde funciona a Câmara Municipal), a Igreja da Misericórdia, a Casa dos Vedores Gerais, a Casa da Câmara e o Antigo Convento de Nossa Senhora do Loreto (atual Igreja Matriz) são outros edifícios emblemáticos desta vila do distrito da Guarda, onde vai, uma vez mais, decorrer uma recriação histórica.
O programa pode ser conhecido aqui.
Helder Sequeira
O Padre Bernardo Terreiro faleceu hoje, com 101 anos de idade. Natural de Almeida foi o fundador do Coro Etnográfico daquela vila.
Musicólogo, maestro e compositor foi docente no Instituto Politécnico da Guarda (IPG), nos Seminários Diocesanos da Guarda e do Fundão, e Externato Frei Bernardo de Brito, em Almeida.
Bernardo Terreiro do Nascimento nasceu em Almeida no dia 3 de maio de 1921. No IPG integrou o corpo docente da Escola Superior de Educação, onde lecionou ao longo dez anos, tendo ajudado a criar a variante de Educação Musical do Curso de Professores do Ensino Básico.
Dirigiu vários coros, entre as quais o Orfeão da Covilhã, o Orfeão do Centro Cultural da Guarda e o Coro Etnográfico de Almeida. Dos seus trabalhos destacam-se composições como a música a 4 vozes mistas, composta a partir da “Balada da Neve”, de Augusto Gil.
Bernardo Terreiro teve um meritório trabalho de recolha, compilação e divulgação das canções tradicionais e populares do concelho de Almeida e concelhos vizinhos, tendo editado o livro “Património musical de Riba Côa”, em 1999.
O centenário do nascimento de José Pinto Peixoto - uma referência, nacional e mundial, na área da geofísica e da meteorologia - é hoje assinalado. Nasceu na Miuzela (Almeida) a 9 de Novembro de 1922; concluído o ensino primário, frequentou, na capital, o Liceu Gil Vicente, até 1940, ingressando depois na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, onde obteve a licenciatura.
No ano seguinte foi convidado para estagiar no Observatório Central Meteorológico Infante D. Luis, da Universidade de Lisboa, tendo passado a trabalhar, a partir de Abril de 1946, no Serviço Meteorológico Nacional (SMN); até 1969; em simultâneo – a depois de 1952 – exerceu funções docentes na Faculdade de Ciências.
Em 1948 fez uma curta estada no Serviço Meteorológico do Canadá e frequentou a Universidade de Toronto, naquele país. Seis anos depois, com o apoio de uma bolsa da Academia de Ciências, foi para o Massachussets Institute of Techology (MIT), relacionando-se com consagrados cientistas, como sejam os casos de Victor Starr, Edward Lorenz, Abraham Oort e Barry Saltzman.
Regressado a Portugal, em 1956, desenvolveu estudos sobre o ciclo da água à escala global, “produzindo os primeiros mapas de transporte global de água pela circulação atmosférica”; continuou a manter estreitos contactos com os cientistas do MIT e produziu intensa investigação. Com Abraham Oort, no Geophysical Fluid Dynamics Laboratory (Princeton, USA), colaboração,regular, que conduziu à publicação de vários trabalhos de grande importância.
Na Universidade de Lisboa concluiu, em 1959, o doutoramento, em Ciências Geofísicas. Vice-Reitor da Universidade de Lisboa, entre 1969 e 1973, Pinto Peixoto dirigiu também, a partir de 1970, o Instituto Geofísico e impulsionou a fundação do Centro de Geofísica.
Colaborou, mais tarde, com a Universidade Nova de Lisboa e Universidade da Beira Interior; foi professor convidado de várias universidades europeias. Presidiu, ainda, à Academia de Ciências e colaborou, como conferencista, em iniciativas de diversas organizações como a UNESCO, NATO e Organização Meteorológica Mundial (OMM/WMO), entre outras.
A produção científica de Pinto Peixoto é relevante; pela influência que ainda hoje continua a exercer poderemos destacar o seu livro “Physics of Climate” (publicado pelo American Institute of Physics); contudo, para além de importantes publicações neste domínio, escreveu ainda vários livros de divulgação que incidem em temáticas sobre o ambiente e clima.
José Pinto Peixoto faleceu em 6 de Dezembro de 1996.
Este breve apontamento não permite, obviamente, traçar o perfil completo e retratar a obra e a grandeza deste académico, cientista, meteorologista e físico, natural do distrito da Guarda; antes pretende ser sugestão para um melhor conhecimento da vida e do legado que deixou à comunidade científica e a todos nós. Na história das Ciências da Atmosfera, da Hidrologia, da Termodinâmica e da Teorias do Clima, o nome de José Pinto Peixoto sobressai na ilustrada galeria dos vultos mundiais.
Helder Sequeira
A Casa de Cutura Professor Doutor José Pinto Peixoto assinala também o centenário do nascimento do referido cientista com algumas atividades, destacando-se a conferência a proferir hoje pelo Prof Doutor Rui Perdigão, pelas 21h30, e à cerimónia da entrega do “Prémio Nacional Prof Dr José Pinto Peixoto, Ensino Secundário 2021-2022” nas instalações daquela associação, na Miuzela, pelas 15H00 do dia 12 Novembro. Mais informação aqui.
A oitava edição dos “Encontros Alma por Almeida” está a decorrer naquela vila desde ontem e até amanhã, 2 de outubro.
Os “Encontros Alma por Almeida” são uma iniciativa anual da Associação de Desenvolvimento das Encostas da Fonte Santa (ADEFS), organizados com o objetivo de despertar o interesse pelo património ambiental/ rural/cultural de Almeida enquanto espaço capaz de sensibilizar e motivar cidadãos do mundo a participarem na sua preservação/valorização e na sua dinamização económica.
Em cada ano têm um programa específico pretendendo-se, com o deste ano, proporcionar um encontro entre pessoas, ou com o nome Almeida ou de descendência almeidense ou com outras ligações a Almeida.
A edição de 2022 foca-se num projeto: “os Almeidas por Almeida”. O programa pode ser consultado aqui.
A onda de incêndios que está a assolar o país deixa atrás de si um cenário de guerra e tragédia, mas também de heroicidade e abnegação, num protagonismo assumido pelos nossos soldados da paz. A quem devemos gratidão, respeito, solidariedade permanente, e não apenas nos momentos difíceis. Este quadro negro que tem alastrado nas paisagens beirãs, e mesmo às portas da cidade mais alta (como aconteceu nesta segunda-feira) leva-nos a evocar uma página triste da nossa história.
No próximo domingo, 24 de julho, o ocorre a passagem do 212º aniversário da Batalha do Côa um dos combates mais violentos da terceira invasão francesa. Nesse dia, em 1810, no Cabeço Negro (Almeida, junto às margens do rio), as tropas anglo-lusas lutaram abnegadamente contra as forças do exército francês do Marechal Michel Ney (1.º Duque de Elchingen); uma batalha que antecedeu a queda da fortaleza de Almeida e a sua ocupação pelas tropas entradas em Portugal sob o comando do Marechal André Massena.
Este foi o primeiro combate travado no contexto da terceira invasão francesa que colocou frente a frente as forças militares portuguesas e inglesas, comandadas pelo Brigadeiro-General Robert Craufurd (1764-1812), com o 6º Corpo do exército francês que se deteve na margem leste do rio Côa com o objetivo de cercar a praça-forte de Almeida. Após a conquista de Ciudad Rodrigo (Espanha), em 10 de Junho de 1810, pelas tropas francesas o objetivo do exército invasor era o domínio da praça portuguesa, que teria cerca de 2000 habitantes e estava guarnecida com 5 000 soldados e 115 peças de artilharia.
Com a aproximação das forças francesas, o comando do exército anglo-luso apelou aos habitantes para abandonarem as suas casas e levarem os seus haveres. Nos primeiros dias de agosto de 1810 o Marechal Massena mandou avançar o Oitavo Corpo do exército francês, sob o comando de Jean-Andoche Junot, dando início ao cerco de Almeida, a 10 de agosto, cuja guarnição militar era chefiada pelo coronel inglês Guilherme Cox, sendo Tenente-Rei o almeidense Francisco Bernardo da Costa.
O cerco decorria há 17 dias quando, ao cair da noite, uma granada francesa provocou uma explosão em cadeia que destruiu o paiol principal, onde estavam armazenadas 75 toneladas de pólvora; centenas de mortos e enormes danos no interior da fortaleza foi o balanço imediato da tragédia.
Na manhã seguinte, 27 de agosto de 1810, o Marechal Massena exigiu do comandante inglês a rendição imediata da praça, o que acabou por suceder nessa noite.
A importância desta fortaleza era há muito conhecida; após o primeiro de dezembro de 1640, o rei D. João IV ordenou a sua reparação, face aos momentos e às difíceis contendas que se avizinhavam. Desde logo ficou percetível o papel preponderante que Almeida ia ter no processo bélico de manutenção da independência. A vila foi transformada em sede do quartel-general do Governador de Armas da Beira, constituindo-se na mais importante praça do reino português.
Álvaro de Abranches, um dos conjurados da Revolução de 1640 e membro do Conselho de Guerra de D. João IV, foi o primeiro Governador de Armas de Almeida, empenhando-se, de imediato no seu eficaz guarnecimento, rentabilizado o sistema de fortificações de que estava dotada.
Ao evocarmos esta efeméride, e para além importância histórica do ato associado que constitui uma página da nossa História, gostaríamos de sublinhar a importância que assume um mais amplo conhecimento da região – num quadro articulado de estudo interdisciplinar – que propicie a sua valorização e aproveitamento das suas potencialidades em várias vertentes, desde logo no plano do turismo cultural; igualmente ao nível do património paisagístico e ambiental, tão fortemente atingido, nas últimas décadas, pela catástrofe dos incêndios.
Uma efeméride que nos leva a um território onde o Côa vai vencendo obstáculos antes de chegar ao seu destino; rio de encantos vários, o Côa (um dos poucos a correr de sul para norte) é um guardião milenar de espólios arqueológicos e históricos, que bem merece uma maior atenção.
Seguir o seu percurso é como viajar através de algumas páginas da nossa memória coletiva e reencontrar expressivos testemunhos do passado, com diversificadas marcas humanas que moldaram o perfil destas terras. Recordemos que até 1297 o Côa foi o limite da fronteira entre os territórios dos reinos de Portugal e Castela; com a assinatura do Tratado de Alcanices, por D. Fernando de Castela e D. Dinis de Portugal, o castelo de Almeida – entre outras fortalezas – passou para o domínio da coroa portuguesa; esta zona teve uma grande importância estratégica, do ponto de vista militar; aqui se travaram, ao longo dos séculos, várias batalhas.
Como foi o caso da que ocorreu a 24 de julho de 1810, relembrada nestas despretensiosas notas.
É importante que a união dos portugueses não seja apenas em função de acontecimentos isolados (mais ou menos mediatizados) ou conjunturais, mas em torno do conhecimento e respeito pela História...com uma intervenção cívica e solidária constantes…
Hélder Sequeira
In O Interior, 20/7/2022
Castelo Mendo (Almeida).
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