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Ribeiro Sanches: na Guarda da cultura

por Correio da Guarda, em 06.03.23

 

Uma cidade, para além dos seus cartazes monumentais e artísticos mais emblemáticos, pode projetar-se por múltiplas referências, nem sempre devida e objetivamente valorizadas. Desde logo pela identificação com personalidades, nascidas ou ligadas ao território urbano, com vínculos afetivos de diferente graduação; factuais, contudo.

Na toponímia guardense (ainda que com uma diminuta e desproporcionada placa) está referenciada uma das figuras mais relevantes da ciência e da cultura europeias do século XVIII: Ribeiro Sanches. Este é o nome de uma artéria transversal da Rua Dr. Francisco dos Prazeres que liga esta à Rua Pedro Álvares Cabral e Monsenhor Alves Brás, permitindo também a circulação em direção à Rua António Sérgio.

Nascido em Penamacor, a 7 de Março de 1699, no seio de uma família de cristãos-novos, António Nunes Ribeiro Sanches viveu na Guarda, no período da adolescência, após ter concluído a formação escolar básica. Nesta cidade terá estudado música e, em particular, aprendeu a tocar cítara, seguindo as orientações paternas; alguns dos seus contactos citadinos possibilitaram-lhe a leitura de obras que o enriqueceram culturalmente, nomeadamente trabalhos de Damião de Góis.

Aos 16 anos foi estudar para Coimbra onde, mais tarde, cursou direito que, contudo, reconheceu não ser a sua vocação; o ambiente estudantil da cidade do Mondego provocou-lhe algum desagrado e em Novembro de 1720 matriculou-se na Universidade de Salamanca (Espanha); aí estudou medicina e granjeou a estima de vários mestres; foi mesmo convidado para ali ficar como assistente; naquela cidade espanhola viveu calmamente, sem a preocupação de o identificarem como cristão-novo.

No período em que estudou em Salamanca, Ribeiro Sanches passou várias épocas de férias na Guarda, tendo aqui praticado o exercício da medicina com um clínico desta cidade, seu amigo. Concluído o curso, em 1724, foi trabalhar para Benavente; os seus contactos familiares deram-lhe uma maior perceção da atividade, do peso e influência da Inquisição, a que foi denunciado como cristão-novo; facto que esteve, igualmente, na origem do impedimento de nomeação oficial como clínico, naquela localidade. Admite-se que esta situação, e o medo de vir a ser alvo da Inquisição, o tenham levado a sair de Portugal, nos finais de 1726. Terá partido, por via marítima em direção a Génova; em Itália frequentou, durante algum tempo, a Universidade de Pisa, visitando depois Montpellier e Londres (onde deu aulas e exerceu Medicina).

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Mais tarde, acompanhado por um irmão (que ficou a estudar cirurgia em Paris), saiu para Bordéus e daí para Leiden (Holanda). D. Luis da Cunha, representante de Portugal em Haia, intercedeu a favor de Ribeiro Sanches junto de um influente ministro de D. João V, sem nenhum acolhimento. Frequentou, a partir de 1730, a Universidade de Leiden onde recebeu ensinamentos de Bernhard Siegfried Albinus Hieronymus, David Gaubius e de Herman Boerhaav; este último terá contribuído para a ida de Ribeiro Sanches para a Corte de Moscovo, onde chegou em Outubro de 1731.

Nomeado médico do Senado e da cidade de Moscovo, foi transferido três anos depois para os serviços do exército russo. Em 1737 encontrava-se já em St. Petersburgo, como clínico do Corpo de Cadetes, uma estrutura de ensino e formação destinada à nobreza russa.

Ribeiro Sanches ingressou, por essa altura, na Academia das Ciências de Petersburgo, sendo nomeado em Março de 1740, médico da Corte e posteriormente segundo médico da Regente Ana Léopoldovna e do, ainda, jovem Imperador Joannn Antonovič, sendo muito apreciado nos círculos do poder russo.

Um ano depois, Isabel Petrovna (filha de Pedro o Grande) passou a dirigir os destinos do império e Ribeiro Sanches foi, igualmente, seu médico, bem como de Catarina II que curou em 1744, quando esta tinha apenas 15 anos; facto que a futura czarina não esqueceu.

Em 1747, invocando problemas de saúde, Ribeiro Sanches pediu a demissão das suas funções.

A Imperatriz Isabel Petrovna distinguiu-o com um certificado de bons serviços e Academia Imperial das Ciências, nomeando-o membro honorário. De acordo com alguns biógrafos, esta repentina partida terá sido originada por alguma intriga na corte czarina que avivou a sua ligação judaica. Após passar por Berlim, dirigiu-se a Paris onde passou a residir e a colaborar com os vultos mais eminentes do Iluminismo, escrevendo as suas principais obras: Dissertation sur la Maladie Vénérienne (1750), Tratado da Conservação da Saúde dos Povos (1756), Cartas sobre a Educação da Mocidade (1760), Método para Aprender e Estudar a Medicina(1763), Mémoire sur les Bains de Vapeur en Russie (1779).

Foi, até à sua morte, interlocutor de imensas figuras consideradas expoentes máximos da vida cultural e científica europeia, dessa época, sem ter tido a possibilidade de encontrar as condições para regressar a Portugal.

Ribeiro Sanches, um dos intelectuais portugueses que mais se distinguiu além-fronteiras e cuja vida passou pela mais alta cidade de Portugal, faleceu a 14 de Outubro de 1783. Esta será, sem dúvida, uma figura que bem se pode associar a uma Guarda culta e da ciência, merecendo adequado estudo e divulgação; figura que evocamos, hoje, a propósito da recente passagem de 324 anos após o seu nascimento.

 

Hélder Sequeira

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publicado às 08:20

Beatriz Silva: espírito académico distingue a Guarda

por Correio da Guarda, em 08.06.21

 

Beatriz Silva é uma jovem açoriana, recém-licenciada em Comunicação e Relações Públicas, que veio estudar para a Guarda em 2017.

Dirigente associativa, na Associação Académica da Guarda, Beatriz Silva elogia a hospitalidade guardense e sustenta que esta cidade é particularmente atrativa para os jovens mercê do “espírito académico que se vive na cidade”.

Rendida à cidade mais alta de Portugal, trocou, para já, “a Serra pelo Mar”.

 

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Qual a sua opinião sobre a cidade da Guarda?

A cidade da Guarda, para mim, é uma cidade bastante acolhedora mesmo tendo um aspeto frio e uma arquitetura gótica.

Esta cidade tem grande potencial de crescimento e está na população potencializar esse crescimento.

 

Recorda as primeiras impressões que teve ao chegar a esta cidade? Do que gostou mais e menos?

Eu cheguei à cidade da Guarda na segunda semana de setembro de 2017 e na altura estranhei imenso o frio que se sentia à noite, sendo que ainda estávamos no verão e eu vinha de um clima tropical ameno (Açores).

No entanto fui muito bem acolhida, tanto pelas pessoas da cidade que foram muito acessíveis, sempre que eu e o meu pai tínhamos alguma questão, como no IPG aquando de efetuar a matrícula.

Achei uma cidade muito pacata e um pouco triste porque estava habituada a ter sempre animação nas ruas nas noites de verão, porém essa animação iniciou-se com o ano letivo e com os jovens estudantes a ocupar todas as ruas da cidade.

 

Em termos sociais e culturais que diferenças ou semelhanças encontrou comparativamente com Ponta Delgada / São Miguel?

A maior semelhança de Ponta Delgada e da Guarda é a afabilidade da população, contudo sendo ambas regiões relativamente de menor densidade populacional sinto que em termos culturais Ponta Delgada está um passo mais à frente que a Guarda.

Os açorianos em geral são festivos e como tal os municípios adaptam esse espírito e organizam variados eventos durante o ano, de forma a dinamizar a cidade.

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Como surgiu a sua ligação ao associativismo e que balanço faz do caminho até agora percorrido?

A vida associativa é parte de mim desde os meus 9 anos quando entrei na Associação de Escuteiros de Portugal, desde então e até vir para a cidade da Guarda fiz sempre parte de várias associações juvenis algumas mais viradas para programas de intercâmbio até.

Assim, no meu primeiro ano de estudos superiores essa vertente associativa estava-me em falta e fazia-me falta estar ativa. Quando surgiu a oportunidade e o convite para a Associação Académica da Guarda nem pensei duas vezes em aceitar. Contudo não é sempre um percurso fácil; é preciso ter “amor à camisola” para realizar o melhor trabalho que se consegue.

É um percurso em que se ganham vários ensinamentos, em variadas áreas, mas que nem sempre se satisfaz toda a gente porque as pessoas às vezes não têm a noção que isto é algo que fazemos de forma voluntária, que fazemos porque gostamos mas temos a mesma carga ocupacional de estudos como todos os restantes alunos e por vezes temos que deixar a nossa vida pessoal para trás para trabalhar para o bem dos alunos.

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A Guarda é atrativa para os jovens? O que pode ainda ser feito?

A Guarda torna-se atrativa para os jovens pelo espírito académico que se vive na cidade, caso contrário acho que a cidade não se torna assim tão atrativa e que tem muito que crescer.

Há que investir na cultura, na diversão noturna, no comércio que ainda está virado para um lado da população menos ativa.

 

Se tivesse que acompanhar familiares ou amigos numa visita à Guarda que locais lhes indicaria?

Eu ainda tenho muito por “desbravar” na Guarda como tal não seria a melhor guia, mas do que é do meu conhecimento e o que gostaria de lhes mostrar em primeira instância, sem dúvida que, seria a Sé Catedral.

É um edifício histórico e lindíssimo de se ver, posteriormente levaria à Torre de Menagem, ao jardim da cidade, às eólicas, à alameda de Santo André, ao parque da Saúde, ou seja, locais que facilmente se visita a pé e são diferentes dos Açores.

 

E na região?

Na região levá-los-ia a lugares como a Serra da Estrela, Sortelha; se fosse na altura do verão a Valhelhas, aos passadiços do Mondego, lugares sempre diferentes da realidade das ilhas.

 

Acha que os jovens oriundos de outras regiões, e que para aqui vêm estudar, ficariam aqui se houvesse possibilidades de emprego?

Tenho a certeza de que se houvesse mais oportunidades de emprego haveria mais jovens estudantes a ficarem pela Guarda porque muitos afeiçoam-se à cidade e aos seus costumes; no entanto, não há muitas oportunidades para ficar.

 

E no seu caso, pensa trocar a Guarda pelos Açores?

No meu caso tive a sorte de surgirem oportunidades para me manter pela Guarda e estou a tirar o Mestrado em Marketing e Comunicação; por isso já estou a trocar o mar pela serra.

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O que acha do conhecimento dos seus colegas, dos habitantes da Guarda que tem contactado, acerca dos Açores?

Por norma deparo-me com muita ignorância por parte da população, em termos geográficos.

Sinto-me por vezes uma professora da primária a fazer distinção entre a Madeira e os Açores e tenho que explicar que o arquipélago é constituído por 9 ilhas, é algo que por vezes torna-se muito aborrecido… (risos).

 

Considera que a pandemia pode ter contribuído, face às limitações ao nível das deslocações para o estrangeiro, a um melhor conhecimento das terras e gentes do nosso país?

Acredito que no passado ano de 2020 muitos portugueses decidiram passar as suas férias “cá dentro” e ainda bem que assim o foi.

A economia local precisava dos portugueses mais do que nunca e se não fosse a pandemia nem a economia iria precisar tanto dos portugueses nem os portugueses iriam sentir necessidade de conhecer melhor o seu próprio país e sair da sua zona de residência.

 

 

 

 

 

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publicado às 23:20

Serenata na Guarda

por Correio da Guarda, em 07.06.21

 

 

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Na Guarda vai ter lugar na próxima quarta-feira, 9 de junho, a tradicional serenata.

Considerando o atual estado de pandemia, e as orientações definidas pelas entidades competentes, este evento será transmitido em direto na página da Associação Académica da Guarda.

De referir que para os estudantes finalistas haverá a possibilidade de assistirem presencialmente, havendo um número limite e lugares. Os interessados (estudantes finalistas) devem a fazer a inscrição aqui

A Associação Académica da Guarda apela, entretanto, para que os restantes estudantes assistam à serenata nas suas casas, “um dos momentos mais marcantes da nossa academia”.

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publicado às 12:45

Abel Virgílio: a Guarda é uma cidade inesquecível

por Correio da Guarda, em 24.05.21

 

 

Natural de Pinhel, Abel Virgílio viveu vários anos na Guarda, cidade que considera “com forte apego, ao longo dos séculos, ao nobre sentimento da nossa portugalidade”. A vida militar, o jornalismo e a rádio são páginas de uma vida plenamente assumida, onde a sua atividade principal e vocacional – como disse ao CORREIO DA GUARDA – foi sempre o ensino. Lecionou alunos dos vários graus de ensino desde, 1963 até 1978, ano em que passou a exercer funções pedagógico-administrativas na coordenação do ensino da Embaixada de Portugal em França. Ingressou em 1989 na Inspeção-Geral da Educação, onde manteve, até à sua aposentação, “uma atividade inspetiva a escolas e instituições públicas e privadas de todos os graus do ensino.”

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O que representa para si a Guarda?

A Guarda representa no meu espírito e na minha cultura uma cidade do interior do país com vasta história e imenso património artístico, no qual se salienta o seu ex-libris: a sé catedral, cabeça duma diocese multisecular.

Foi e é uma cidade altaneira, de montanha, granítica, com uma grande identidade das suas gentes e daqueles, como eu, que por lá viveram, na defesa dos seus valores e património ancestrais e na sua divulgação na diáspora, no estrangeiro.

Foi e é uma cidade, - honra lhe seja, - com forte apego, ao longo dos séculos, ao nobre sentimento da nossa portugalidade, mesmo se situada às portas de Castela-Leão.

Foi e é uma cidade da simbiose afetiva perfeita entre a sua academia, os militares do seu aquartelamento, os seus clérigos, as suas forças vivas, o seu bom povo.

Enfim, a Guarda deixou em nós todos uma forte ligação e empatia, porque nela vivemos respirando um espírito de tolerância, hospitalidade e compreensão.

Foi uma cidade inesquecível no meu itinerário de vida: lá namorei, lá casei, lá nasceram os meus dois filhos e lá estão sepultados os meus sogros.

 

Quando é que veio para a Guarda?

A primeira vez que subi à Guarda, ido da minha terra natal (Pinhel), foi no distante ano de 1954 para, no Liceu, prestar provas do exame de admissão. Recordo que fiquei alojado numa casa da rua dos Cavaleiros, ali bem perto da Sé e do Liceu, e pude deslumbrar-me com a imponência dos dois.

A partir dali passei a ir bastas vezes à Guarda, mas fixei-me em agosto de 1961, iniciando a preparação para o acesso à Escola do Magistério Primário, uma das mais conceituadas do país, que frequentei até finais de julho de 1963.

Mais tarde, em julho de 1967, regressei como oficial miliciano instalando-me no Regimento de Infantaria 12 onde permaneci até abril de 1970. Neste ano casei com uma guardense e por lá continuámos até ao início de novembro de 1975.

 

Como carateriza a cidade e a juventude dessa época?

Nesses tempos, a Guarda era o farol cultural das Beiras: tinha um ensino liceal público completo, uma escola do magistério muito prestigiada, uma escola comercial e industrial com cursos diversificados, um seminário maior com bastantes seminaristas e dois colégios católicos (um masculino e um feminino).

Neste âmbito rivalizava com as cidades vizinhas (a Covilhã, por exemplo, só possuía cinco anos do ensino público liceal).

Nesse tempo, a juventude da Guarda, saída de meios familiares relativamente pobres, era feliz e idealizava sonhos e realizava projetos para o futuro. Mas, a marca fundamental que ficou em nós todos foi a da amizade, da fraternidade e da solidariedade que nos continua a ligar ao longo da vida, decorridos já tantos anos.

 

O que tinha, então, a Guarda para oferecer aos jovens?

A Guarda oferecia aos jovens uma hospitalidade invulgar. As casas/pensões que nos acolhiam tratavam-nos como sendo da família. Num dos anos letivos eu estive alojado, no chamado largo João de Deus ou dos Correios, na casa da D. Cândida Mota (onde também esteve o antigo procurador-geral Pinto Monteiro e outros) e no seguinte, ao lado, na casa dos pais do saudoso companheiro Pedro Evangelista. Mas, fosse nos cafés, que nos tiravam do frio nas noites de inverno, fosse nas sessões do cine-teatro, fosse nas ruas geladas da cidade, tínhamos sempre o sorriso generoso e bom dos guardenses com uma saudação amiga para a “estudantada”.

Além disso, a academia da Guarda, com o uso coimbrão da capa e batina, tinha a particularidade de “oferecer” os seus caloiros uma praxe, ritual que os praxados não esqueceram nunca mais.

Ah! O que também a Guarda oferecia aos jovens eram a neve, o sincelo e o vento cieiro nos dias do inverno, imagens de marca de um tempo que nunca esqueci.

 

Quais as personalidades mais marcantes dessa época?

Nessa época a Guarda beneficiava do facto de ter em Lisboa, personalidades bairristas de relevo: o dr. João de Almeida, o dr. Soares da Fonseca, o professor dr. Veiga Simão (que viria a ser ministro da Educação no consulado de Marcelo Caetano), o dr. Augusto César de Carvalho, Prof. Dr. Fernando Carvalho Rodrigues e muitos mais.

Mas na Guarda, no meu tempo, as figuras mais marcantes eram os bispos da diocese, os governadores civis, os presidentes do Município, os professores dos estabelecimentos de ensino e os altos quadros do regimento, da medicina, da justiça, da indústria e dos serviços públicos.

Não poderei deixar de mencionar os bispos dos meus tempos da Guarda: D. Domingos Gonçalves, D. Policarpo da Costa Vaz, e mais recentemente essa eminente figura da igreja, o cardeal Saraiva Martins. E oradores sagrados de grande renome e prestígio, tais como o dr. Vitor Feytor Pinto e Afonso Sanches de Carvalho. Como governadores civis recordo os drs. Augusto César de Carvalho, Santos Júnior, Luis de Almeida, Mário Bento e Andrade Pereira. Como autarcas os drs. Lopes Quadrado e Aristides Prata. Como militares comandantes do R.I.12 os coronéis José Maria Vieira Abrunhosa, Jorge Inglês P. de Carvalho e Jorge Pereira de Carvalho. Como causídicos os drs. João Gomes, Francisco Bigote, Celínio Antunes, Andrade Pereira, Pires da Fonseca. Como médicos os drs. Martins Queirós, Silvano Marques, António Júlio, Alberto Garcia, Sardo, Martins das Neves, Pereira da Silva, Afonso Paiva, Orlindo Teles, Baeta de Campos, etc. Os professores que impulsionaram a nossa juventude para a vida ativa, e que se distinguiram até a nível nacional, tais como os drs. Abílio Bonito Perfeito, Costa Ramalho, Manuel Jorge Proença, Armando Saraiva de Melo, cónego Álvaro Quintalo, Beatriz Salvador, Maria Alice Quintela, Fernanda Cardinal, etc. etc. No tecido empresarial surgiam à cabeça Manuel Conde, a família Tavares, Lúcio Romão, e outros.

 

Como começou a sua ligação à imprensa regional e nacional? E que tipo de colaboração desenvolveu?

A minha ligação à imprensa regional iniciou-se em 1959, com apenas 15 anos.

Ao verificar que o campo de futebol municipal Astolfo da Costa, em Pinhel, servia simultaneamente para o desporto local e para a realização de feiras de gado, insurgi-me com tal atropelo sanitário e escrevi um artigo crítico que entreguei ao meu saudoso amigo Madeira Grilo, que então era, conjuntamente com Virgílio Afonso, um dos chefes da redação do semanário “Correio da Beira”.

O artigo foi publicado, e no seguimento dele tive o convite desses dois amigos para ser o correspondente do Jornal em Pinhel. Simultaneamente, também o abade de Pinhel, diretor do “Pinhel Falcão” me convidou para ser colunista neste mensário católico da cidade.

Mais tarde, em 1967, passei a ser correspondente em Pinhel do “Diário de Coimbra” e, depois, na Guarda do “Jornal de Notícias”. Pela mão do cónego Sanches de Carvalho passei a ser, além do correspondente do Jornal “A Guarda” em Pinhel, também seu editor da página desportiva e revisor de todo o Jornal antes de ser impresso. Logo que passei a colaborar no Jornal “A Guarda” abandonei a correspondência com o “Correio da Beira”.

Durante o serviço militar no R.I.12 recriei e editei o jornal regimental chamado “Fronteiros da Beira”. Mantive a colaboração com a imprensa escrita até à minha partida para França, em finais de 1975. Depois do meu regresso, em 1989, apenas continuei como colunista permanente no jornal “Pinhel Falcão”, publicando sob o pseudónimo de Eneida Beirão, até pouco depois do falecimento em 2015, do meu saudoso amigo e seu diretor Maia Caetano.

 

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E a ligação à Rádio e quais os companheiros que recorda?

Em 1967, quando cheguei ao quartel da Guarda, fui convidado pelo meu amigo Emílio Aragonez para com ele editar na Rádio Altitude um programa desportivo designado “Desporto Regional”, logo após a saída do programa dos saudosos amigos Madeira Grilo, Luís Coito e Luís Coutinho.

Acompanhávamos o desporto regional nos três distritos da Beira interior, mas com maior incidência no da Guarda. Dessa participação benévola mas dedicada recordo com imensa saudade o nosso diretor, dr. Martins Queirós, o nosso administrador A. Carvalhinho, e os companheiros inesquecíveis nessa genuína escola da rádio e alfobre de amizades: Antunes Ferreira, Vaz Júnior, Joaquim Pinheiro, Emílio Aragonez, António José Teixeira (atual diretor de informação da RTP), Joaquim Fonseca, Luís Coutinho, Luís Coito, Alcina Coito, Madeira Grilo, Lopes Craveiro, Helder Sequeira, Virgílio Ardérius, Maria José Trabulo, Fernando Bento, Vítor Santos, Luís Celínio, Rebelo de Oliveira, Francisco Carvalho, e tantos mais que contribuíram como uma família radialista para a dignificação, expansão e prestígio da mais antiga radio portuguesa. Alguns, infelizmente, já nos deixaram.

Além de inúmeras reportagens de exteriores de índole regionalista, política, social, cultural e religiosa que assegurei para a Rádio Altitude, também criei e dirigi, com os meus camaradas João Trabulo e Joaquim Fonseca, um programa semanal do Regimento militar “A voz do Doze”.

 

Tem na memória algum episódio, na Rádio, que gostasse de recordar?

Poderia aqui evocar os mais diversos episódios ocorridos nas transmissões que assegurávamos de vários pontos da região e do país, nuns tempos em que o sinal era levado aos estúdios através dos imponderáveis das linhas telefónicas dos CTT. Mas os episódios que me marcaram foram os relatos de futebol transmitidos a partir dos estádios de cidades como Portalegre, Castelo Branco, Covilhã, Viseu, Coimbra, Figueira da Foz, Gouveia, Seia, Lamego, Pinhel, Aveiro, Espinho, etc., etc.

Recordo que, quando fazíamos os relatos de futebol junto aos relvados dos estádios de algumas destas localidades, os espetadores da bola, que não sabiam como se faziam os relatos desportivos, cercavam-nos estupefactos e surpreendidos durante toda a emissão.

Também guardo memória das gravações que se faziam nas sedes dos concelhos, na época que antecedia o Natal, para se registarem as mensagens dos familiares dos militares que nesse tempo combatiam nas antigas colónias. Guardo a imagem de tanta gente anónima sénior que, de lágrimas nos olhos e saudades no coração, deixava no final das mensagens sempre a esperança num sentido “até ao teu regresso!”

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E as memórias sobre o R.I.12? A cidade perdeu muito com a extinção dessa unidade militar?

Tive o orgulho patriótico de durante cerca de três anos prestar serviço como oficial miliciano no velho R.I.12, aquartelado na Guarda. Apelido-o de “velho” porquanto foi descendente do terço de Chaves (1706) e herdeiro das tradições militares de unidades de grande prestígio no nosso país, por ações de resistência às invasões napoleónicas dos exércitos franceses no início do séc. XIX e por campanhas em África, na II guerra mundial e, depois, na guerra colonial.

O cumprimento do meu serviço militar obrigatório no R.I. 12 deixou-me algumas boas memórias, mormente na camaradagem e na amizade que construímos sob o lema do regimento “Firmes como rochas”.

A extinção da unidade militar deixou um vazio social e económico na cidade. Lembremos que o R.I. 12 proporcionava quatro turnos anuais de formação aos recrutas, e cada turno absorvia mais de 600 recrutas, provenientes na sua maioria da região norte do país.

Além desses, o pessoal do quadro permanente e milicianos somavam cerca de cem militares. Portanto, é fácil inferir o vultuoso investimento que a logística da unidade militar fazia no tecido empresarial da cidade e região, bem como os gastos que todos os militares, sem exceção, deixavam na habitação, no comércio e nos serviços locais.

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Acha que falta fazer a história do R.I.12?

Seria importante escrever em pormenor a história do R.I. 12, e, sobretudo, a história dos regimentos aquartelados na Guarda ao longo dos tempos: R. I. 34 e 2º Grupo de Metralhadoras (1911-26), Batalhão de Caçadores 7 (1814-16, depois 1939-61), Batalhão de Caçadores 29 (1840-42), Batalhão de Caçadores 4 (1842-43), Batalhão de Caçadores 1 (1844), e, finalmente o R.I. 12 (1846-1939 e, depois, de 1966 até à sua extinção.

Durante parte do tempo em que servi no R.I. 12, por decisão do então comandante coronel Jorge Inglês, fui incumbido de escrever dois opúsculos intitulados “Pequena história dum velho Regimento – O R.I.12” e “Relação dos comandantes efetivos do R.I. 12 (1706-1967)”. A pequena história resume sucintamente as unidades que precederam o R.I. 12, as suas origens, divisas e condecorações.

 

Qual foi o percurso da sua atividade profissional e o que gostou mais de fazer?

A minha atividade principal e vocacional foi sempre o ensino. Lecionei alunos dos vários graus de ensino desde 1963 até 1978.

A partir desse ano letivo passei a exercer funções pedagógico-administrativas na coordenação do ensino da Embaixada de Portugal em França, sob a tutela do Ministério da Educação e da conselheira cultural da Embaixada, em Paris.

Entre 1978 e 1989, no exercício dessas funções, percorri todo o território francês para diligenciar junto das várias Academias a criação de cursos de língua e cultura portuguesa.

Em 1989, quando regressei a Portugal, ficaram em França cerca de 550 professores a lecionar Português para mais de 55 mil alunos em escolas de toda a França. 

No ano letivo de 1989/90 ingressei na Inspeção-Geral da Educação, onde mantive, até à minha aposentação, uma atividade inspetiva a escolas e instituições públicas e privadas de todos os graus do ensino. 

Senti-me realizado no desempenho de todas as tarefas que envolveram alunos e colegas professores e inspetores, mas um dos momentos altos da minha carreira profissional ocorreu no dia de Portugal de 1981 quando me foi atribuída pelo presidente Ramalho Eanes, sob proposta do ministro da Educação Vítor Crespo, a condecoração do grau de oficial da instrução pública.

 

Acompanha o que se passa atualmente na Guarda?

Sim. Pelas razões atrás aduzidas acompanho à distância as atividades e eventos da Guarda através da comunicação social e dos relatos e comentários de familiares e amigos residentes.

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Como vê o estado atual da cidade?

Da Guarda da minha meninice e juventude até à atual cidade há um progresso enorme.

As auto estradas A 23, A 25 e IP2 desencravaram a região e ligaram-na mais facilmente ao litoral e aos grandes centros. A ferrovia, com as duas linhas (da Beira Alta e Baixa) em funcionamento pleno podem, no futuro, abrir mais perspetivas de desenvolvimento na Beira interior.

O Instituto Politécnico (que não existia no meu tempo) veio ser a locomotiva que fazia falta à juventude, tanto nacional como estrangeira, para sonhar e realizar projetos de vida e de futuro. O crescente número de alunos estrangeiros que procuram o I.P.G. para prosseguimento dos estudos revela bem o prestígio dos seus cursos superiores.

O turismo também é a mola impulsionadora da região serrana e mais será quando, além dos seus magníficos ares, dos seus monumentos e gastronomia, a Guarda lhes oferecer belas praias fluviais e passadiços na montanha. Na minha ótica, o porto seco na Guarda alavancará no futuro a indústria, o comércio e os transportes. Tudo isto é bom para melhorar o estado atual da Guarda.

 

E a candidatura da Guarda a capital europeia da cultura em 2027?

Aplaudo entusiasticamente a candidatura da Guarda a capital europeia da cultura 2027. Formulo votos para que a comissão, os municípios da região envolvidos, a comunicação social e as forças vivas trabalhem unidas nesse objetivo, que a ser conseguido, levará a Guarda para um patamar futuro de desenvolvimento e de imagem externa importantíssimos e duradoiros. Força Guarda!

 

 

 

 

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publicado às 00:36

Semana Académica em data a definir

por Correio da Guarda, em 08.04.20

 

A Associação Académica da Guarda (AAG) anunciou o cancelamento da Semana Académica 2020, agendada para o final do corrente mês.

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A decisão da AAG foi tomada face à atual situação de emergência sanitária e considerando igualmente o estado de emergência em vigor.

A serenata monumental e a missa de finalistas serão, assim, realizadas em data a definir oportunamente.

 

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publicado às 15:58

Adiada a passagem de ano académica

por Correio da Guarda, em 18.12.19

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A Passagem de Ano Académica agendada para amanhã, na Guarda, foi adiada devido às condições metereorológicas que estão previstas.

A Associação Académica da Guarda (AAG) deu a conhecer que este evento irá ser realizado no dia 9 de janeiro, mantendo-se o local previsto.

 

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publicado às 21:49

Noite de Serenata...

por Correio da Guarda, em 08.05.19

 

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 Guarda, serenata integrada na Semana Académica.

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publicado às 23:59

Na Guarda dos estudantes...

por Correio da Guarda, em 21.09.18

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    A importância da existência de ensino superior na Guarda é evidente, inquestionável, e pode ser analisada em várias vertentes, sempre com indicador positivo.

    Contudo, para além  do que se poderia dizer sobre a mais-valia do Politécnico para a cidade e região (do seu impacto económico, social, cultural e científico), gostaríamos de anotar, nestas breves e despretensiosas palavras, o papel desempenhado pelos seus alunos na divulgação da Guarda (global e territorialmente entendida).

    Desde o início, têm chegado aqui jovens das mais diversificadas proveniências geográficas, os quais cimentaram relações afetivas com a instituição e outrossim com a mais alta cidade de Portugal, para muitos desconhecida até à sua entrada num novo ciclo formativo.

    Concluídos os cursos, os estudantes do Politécnico levam para a vida “segredos desta cidade”, como sugestiva e emocionalmente se canta numa conhecida balada de despedida; levam na memória a Guarda do ensino, do saber, da hospitalidade, da história, das tradições, da amizade, do convívio, da juventude e da alegria, afirmam-se como embaixadores desta terra no país e no mundo.

    Por outro lado, nos últimos anos, o reforço na estratégia de internacionalização do Politécnico da Guarda tem trazido a esta cidade um crescente número de alunos europeus e de países africanos de língua oficial portuguesa, acentuando o panorama de multiculturalidade; este é particularmente evidenciado pelos testemunhos de alunos brasileiros, outro grupo significativo na área dos estudantes internacionais.

    Aqui encontram, no contexto académico, a possibilidade de convívio com colegas de diferentes línguas e culturas, assinalando e reconhecendo a Guarda como marco perene no seu processo formativo; evidenciando o que a cidade tem de diferente e de bom...

   Registar as suas apreciações é perceber melhor o significado desta presença e da aprendizagem na cidade portuguesa que escolheram para dar sequência aos seus estudos (mercê dos contactos, acordos ou protocolos existentes) e onde protagonizam experiências inesquecíveis, que reportam e promovem aquando do seu regresso às suas terras de origem...suscitando o interesse de familiares, amigos e colegas.

    Estas ligações podem ser também equacionadas ao nível dos contactos perspetivados, para o futuro, com os países africanos de língua oficial portuguesa, na medida em que muitos desses estudantes – a estudarem no Politécnico da Guarda – vão ser quadros técnicos da administração ou dinamizadores do tecido económico e empresarial das suas regiões.

    Acarinhar e apoiar este multifacetado universo estudantil que, ano após ano, renova e anima a cidade é contribuir para a afirmação da marca da Guarda dentro e fora de fronteiras; apoio que deixa lançadas pontes para o futuro e laços afetivos que devem ser valorizados. (Helder Sequeira) 

 

 

 

 

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Finalista...

por Correio da Guarda, em 08.05.16

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Semana Académica na Guarda

por Correio da Guarda, em 30.04.16

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