No recuado ano de 1911 escrevia o poeta Augusto Gil que “os homens só valem pelo que de bondade e verdade tragam aos outros homens, porque, uma ou a outra, não caíram nunca em terra estéril, nem mesmo quando tombam na indiferença de rochedos”.
Estas palavras, e apesar de decorridas dezenas de anos, continuam actuais, incisivas.
O autor da “Balada da Neve”, num texto que assinalava uma efeméride particularmente grata para ele, do ponto de vista ideológico, pretendia transmitir um sentido global a essa afirmação, sustentada na sua cultura e experiência.
A verdade e bondade, as ideias abrangentes dos interesses gerais, os projectos credíveis, as regras moralizadoras e justas, a exigência e responsabilização, o reconhecimento da capacidade e profissionalismo, a atitude dialogante e compreensiva, o incremento dos contributos individuais em prol da eficácia dos serviços, a rentabilização cabal das potencialidades humanas e técnicas continuam, na sociedade hodierna, a esbarrar em várias trincheiras: do individualismo, da mediocridade, das conveniências (sejam de que natureza forem), dos interesses político-partidários, do laxismo instalado em tantos sectores.
A frontalidade é inversamente proporcional à cobardia e, para muitos, a estagnação é sempre preferível à mudança, pois importa garantir o equilíbrio mais conveniente, consoante a conjuntura; por norma, a ostracização é a resposta para quem não acompanhar o sabor das ondas ou manifeste, inequívoca e claramente, uma diferente forma de estar e pensar.
Tudo isto se pode verificar no dia-a-dia, na região, no país. O esquecimento da ética, a falta de integridade, a irresponsabilidade, o desrespeito pela lei, a falta de formação cívica e moral, a avidez pelo poder, o clientelismo ou as prepotências da mediocridade provocam um contínuo constrangimento na evolução da sociedade portuguesa; impedem a capitalização dos valores e das capacidades existentes.
O passado e o presente têm inúmeras lições de determinação e de triunfo, sem ser preciso lançar o olhar para além-fronteiras com o objectivo de formular diagnósticos e aplicar terapêuticas.
Há, desde logo, uma necessidade de alterar mentalidades, atitudes e comportamentos; fazer valer os direitos mas cumprir os deveres; aceitar e reflectir sobre as ideias diferentes; saber dialogar; protagonizar, sempre, a verdade e a bondade, mesmo que, perante a força das marés, seja tarefa penosa e incompreendida.
Oxalá o espírito natalício desperte para uma nova predisposição…