O 111º aniversário da morte do médico Sousa Martins é hoje assinalado. O nome de Sousa Martins está associado à Guarda desde o início do século passado, mercê da estrutura sanatorial que existiu nesta cidade. A toponímia guardense consagra, igualmente, a memória deste vulto da medicina portuguesa, numa das ruas do moderno Bairro da Senhora dos Remédios.
José Tomás de Sousa Martins nasceu em Alhandra, a 7 de Março de 1843, no seio de uma família com escassos recursos económicos. Orfão de pai, aos sete anos, foi com a idade de doze trabalhar como praticante para a Farmácia Ultramarina, em Lisboa, propriedade de um tio seu, Lázaro Joaquim de Sousa Pereira.
Frequentou o Liceu Nacional de Lisboa e a Escola Politécnica; com aulas de manhã, trabalhava de tarde na farmácia e à noite dava explicações de forma a conseguir receitas para as despesas inerentes à sua formação académica. Concluído o curso de farmácia, em 1864, continuou a frequentar a Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, terminando o curso de medicina aos 23 anos, em 1866; foi sempre um aluno distinto.
Sousa Martins defendeu a implantação de Casas de Saúde nesta zona serrana, impulsionando a fundação, em 1888, do “Club Herminio”, uma associação de carácter humanitário que se manteve durante cerca de quatro anos; o conceituado tisiologista foi aclamado, pelos membros fundadores, sócio honorário e presidente perpétuo desta instituição de solidariedade. O “Club Herminio” tinha por finalidades promover directa e indirectamente “o melhoramento das condições naturaes da Serra da Estrella, considerada como estação sanitária” através do estabelecimento de casas de saúde sob direcção médica”, o socorro aos doentes mais necessitados do ponto de vista financeiro, e o exercício de “policia hygienica em todos os pontos da Serra e nas habitações”.
Ainda em 1888, e correspondendo aos argumentos de Sousa Martins e de Guilherme Teles de Meneses, o médico Basílio Freire, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, instalou-se na Serra da Estrela, no Verão desse ano, onde assegurou consultas gratuitas aos doentes que o procuravam.
Os esforços que Sousa Martins desenvolveu, fortalecidos pelas suas esclarecidas convicções, em muito contribuíram para a construção do Sanatório que viria a ter o seu nome, perenemente ligado à mais alta cidade de Portugal; para a Guarda vieram milhares de doentes que procuravam aqui a cura desta doença infecto-contagiosa provocada pela micro-bactéria conhecida por “bacilo de Koch”.
A Rainha D. Amélia materializou no sanatório guardense (o primeiro a ser construído pela ANT, inaugurado a 18 de Maio de 1907) a homenagem a Sousa Martins, atribuindo a esta instituição o nome daquele clínico, cuja acção e dinamismo ela tinha já evocado numa intervenção pública da Associação Nacional aos Tuberculosos, realizada em 1889. Sousa Martins, refira-se, tinha falecido dois anos antes, em Alhandra, no dia 18 de Agosto de 1897, depois de ter sido atingido pela tuberculose.
Na Guarda não têm faltado pessoas que apontam Sousa Martins como o autor de autênticos milagres, na linha de uma devoção popular que se manifesta, objectivamente, em Lisboa (no Campo de Santana) ou em Allhandra. O singelo monumento que se ergue dentro dos muros do ex-Sanatório da Guarda continua, diariamente, a ser alvo de preces e agradecimentos, apresentando-se quase sempre emoldurado de flores e envolvido em manifestações materiais de agradecimentos.