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No calendário guardense há datas que importa sublinhar de forma a não se perderem nas sombras do esquecimento…
Outrora, um dos cartazes de promoção da Guarda, durante largas décadas, foi a feira São João que desempenhava um eminente papel de dinamização económica e social, integrando um conjunto de certames com forte projeção regional.
A feira anual de São João, que ocorre no dia 24 de junho na Guarda, foi criada em 1255 (a 25 de março) por carta régia de D. Afonso III; este documento estabelecia, como assinalou a historiadora Virgínia Rau, que “devia começar oito dias antes da festa de S. João Baptista e durar quinze dias. Todos os que viessem à feira com as suas mercadorias estariam seguros e isentos de penhora durante trinta dias”.
No decorrer da segunda dinastia a feira de São João na Guarda continuava a registar grande importância e no século XV era costume os “criadores e lavradores de Castelo Branco e do seu termo levarem os gados da sua criação para venda na feira da Guarda”.
Será igualmente no decorrer desse século que se começa a desenhar uma evidente decadência das feiras no reino português, panorama a que não é estranho o novo mapa dos centros comerciais, no litoral, alimentados pelos descobrimentos; contudo, com maior ou menor impacto, elas sobreviveram; a feira de São João continuou a ser um destacado evento citadino.
Nos finais do século dezanove a cidade enchia-se, muitos dias antes de “grande quantidade de forasteiros”, e não faltavam, pelas principais artérias as “costumadas fogueiras com danças e cantos”.
O teatro, os concursos de gado e as touradas constituíam alguns dos pontos de atração do cartaz citadino, nesses dias de enorme agitação festiva e de muitas transações comerciais.
A viagem de comboio até à Guarda era incentivada com significativas reduções nos preços, oportunidade aproveitada por numerosas pessoas, que engrossavam a multidão de visitantes espalhados por todos os cantos da cidade. De referir que o local da realização da feira foi sendo sucessivamente alterado; passou pelo Largo de S. Vicente, pela Praça Velha (atual Praça Luís de Camões), pelo Largo Serpa Pinto, Largo da Boa Vista (junto à área onde existiu o antigo Mercado Municipal e onde está hoje o edifício da Câmara Municipal), pela zona da Mata e Lameirinhas e, posteriormente, pela avenida dos Bombeiros Voluntários.
Este quadro, festivo, comercial e religioso – componente que também não faltava – repetiu-se, com mais ou menos cambiantes, durante décadas, deixando um inquestionável impacto na vida da cidade.
Aliás, a própria Câmara Municipal da Guarda deliberou solicitar ao Governo, em julho de 1954, a “necessária autorização para considerar como feriado municipal do concelho da Guarda o dia 24 de junho de cada ano”.
O executivo municipal, de então, argumentava que os festejos de São João “desde tempos imemoriais atingem proporções de relevo”, sendo por isso considerado “dia festivo em toda a região”; por outro lado, a Câmara Municipal aduzia a realização da “importante feira anual de S. João, reputada a de maior expansão e amplitude da região por a ela acorrerem com os seus produtos e gados as populações de toda a região beirã e até transmontana”; as estas razões, acrescentava-se ainda a intenção de o dia passar a figurar no período das “futuras Festas da Cidade” da Guarda.
O médico e escritor Ladislau Patrício (o terceiro diretor do Sanatório Sousa Martins) anotava, numa das suas obras, que “nas vésperas do dia 24 de junho, noite e madrugada, é contínuo o formigueiro de feirantes, a pé, a cavalo, em carroças e em carros de bois, tropeçando nos calhaus soltos dos caminhos impérvios, ou batendo o macadame das estradas poeirentas e brancas”.
Ao longo das últimas décadas a movimentação de outrora, em torno da feira de São João tem vindo a diminuir, mormente em termos do período de duração deste certame.
Se é certo que na sociedade hodierna as motivações dos consumidores são de longe bem diferentes, mercê de múltiplos fatores, também é verdade que a Feira de São João (à semelhança de outras congéneres) poderia ter reconquistado uma nova afirmação no contexto regional, aplicadas que fossem as adequadas fórmulas e garantindo os apoios inerentes a uma realização com este perfil.
Salvaguardar e projetar atividades que estão profundamente ligados às tradições citadinas, como é o caso da feira de São João, é evidenciar uma identidade – que não se fique apenas pelo tradicional e saboroso caldo de grão – e recuperar um cartaz que está ainda na memória de muitos; um cartaz a revitalizar num adequado equilíbrio de interesses de vendedores, consumidores e visitantes, articulando-o com novos projetos complementares e sequenciais no tempo, afirmando-o no conjunto de festividades/atividades que ocorrem habitualmente ao longo dos meses de junho e julho
Num quadro de diversidade e oferta de opções para quem nos procura ou visita está, certamente, uma das vias que podem abrir novos ciclos de desenvolvimento económico, social e turístico.
Hélder Sequeira
Na Guarda (Café Concerto do Teatro Municipal da Guarda) vai ser apresentado hoje, pelas 16 horas, o livro "Carlos Brito - Vidas sem Álcool". Recordamos, a propósito, a entrevista com Carlos Brito, que publicámos aqui no Correio da Guarda, em 7 de janeiro de 2022.
Carlos Brito é, inquestionavelmente, o rosto mais conhecido do Centro de Alcoólicos Recuperados do Distrito da Guarda e um empenhado protagonista da solidariedade.
Com toda a frontalidade, diz-nos que “é um alcoólico tratado há 41 anos que após a sua recuperação, em 1980, tomando consciência das inúmeras mudanças positivas que daí advieram, cedo começou a difícil tarefa de sensibilizar e motivar ao tratamento amigos, conhecidos e desconhecidos”.
O guardense Carlos Brito converteu a sua vida numa missão e tem lutado “em prol de pessoas com problemas ligados ao abuso e dependência de álcool e das suas famílias”.
Tendo sempre presente o lema “Em ajuda aos alcoólicos do distrito”, o nosso entrevistado de hoje é uma pessoa incansável na resposta às solicitações de intervenção e de ajuda; ao CORREIO DA GUARDA referiu que à sua missão foi somando "a preocupação com a população em geral e em particular com as camadas jovens, assumindo um papel interventivo na área da prevenção primária através da realização e dinamização de sessões de esclarecimento, em diversos estabelecimentos de ensino”. Intervenção que alargou ao Estabelecimento Prisional da Guarda e à comunidades em geral. “Um árduo e longo percurso de intervenção na sociedade na luta contra o alcoolismo, a nível nacional”. A partir da Guarda, a sua cidade, que não deve esquecer o seu exemplo e trabalho.
Quando surgiu, e como, o Centro de Alcoólicos Recuperados?
Após o meu tratamento, as pessoas (sobretudo familiares) batiam à minha porta para pedir ajuda para uma situação de alcoolismo de um marido, de um familiar, de um amigo!
Entre 1980 e 1983, ajudei e sensibilizei 78 pessoas que encaminhei para o Centro de Recuperação de Alcoólicos de Coimbra (hoje Unidade de Alcoologia Maria Lucília Mercês de Mello de Coimbra – UAC).
Era difícil conciliar a minha atividade profissional e a minha vida pessoal com esta tarefa, quase sempre muito árdua.
Senti que precisava de uma estrutura sólida para poder continuar. Juntei algumas pessoas, quase todos alcoólicos tratados e ajudados por mim, que quiseram assumir o risco e a 7 de dezembro de 1983 nascia o Centro de Alcoólicos Recuperados do Distrito da Guarda (CARG), um projeto pioneiro a nível nacional.
Sócios fundadores
Quais foram as principais dificuldades para a sua concretização? E quais foram os apoios mais significativos?
Foram muitas as dificuldades! No momento da fundação da instituição possuía apenas 40.000$00, que serviriam para pagar 2 meses de renda!
Um grande risco…Muitas vezes se pediram livranças ao banco (que tinham de ser assinadas por mim e pela minha esposa, bem como pelo tesoureiro e pela sua esposa) para o CARG poder continuar. “Hipotequei” muitas vezes a minha vida para que a “minha” obra não morresse!
Hoje, felizmente, a situação é diferente porque gradualmente o nosso trabalho foi sendo reconhecido, enquanto IPSS, que presta um serviço gratuito.
Assim, contamos com alguns apoios. Em 1987 foi assinado um Protocolo Atípico com a Segurança Social. Este tem sido felizmente renovado anualmente, e hoje constitui o nosso principal apoio financeiro.
Em janeiro de 1982, foi assinado um Acordo de Cooperação Atípico com a Administração Regional de Saúde da Guarda, que ainda se mantém.
De louvar o grande apoio, ao longo dos anos, da Câmara Municipal da Guarda que nos atribuiu o primeirito subsídio, aquando da fundação do CARG.
Foi também a Câmara Municipal da Guarda que nos cedeu as instalações da atual sede, em 2006, e que sempre nos contemplou, ao longo dos anos, com a atribuição de um subsídio.
Entrega da medalha de reconhecimento à atividade do CARG, pela autarquia guardense.
De realçar, ainda, o grande apoio da Junta de Freguesia da Guarda e de algumas Câmaras Municipais do Distrito que, pontualmente, nos atribuem subsídios.
Uma palavra de gratidão à Unidade de Alcoologia Maria Lucília Mercês de Mello (de Coimbra), que sempre acreditou no nosso trabalho e nos apoiou desde a primeira hora ao nível internamentos e consultas, e ainda a Unidade Local de Saúde da Guarda, E.P.E./Hospital Distrital Sousa Martins da Guarda que, através do seu serviço de psiquiatria, nos ajuda ao nível de internamentos pontuais.
Das atividades realizadas, qual a que lhe deixou memórias particulares, e porquê?
A que mais me marcou, para além da recuperação de todos os doentes que ajudei, foi a comemoração dos 25 anos de CARG, realizado na Câmara Municipal da Guarda.
Comemoração que contou com a participação de cerca de 500 pessoas (alcoólicos tratados, suas famílias e pessoas da comunidade), onde me foi atribuída a medalha de prata do município.
Foi para mim um momento gratificante. O reconhecimento de uma obra em que muito poucas acreditaram no início. 25 anos é muito tempo na vida de uma instituição. Fiquei muito feliz e orgulhoso por ter atingido esse patamar.
A realidade de ontem e de hoje, ao nível dos casos de alcoolismo, é diferente?
Sem dúvida! Ontem, o alcoolismo era tabu, para além de não ser reconhecido como uma doença pela maior parte das pessoas. O bêbado era o agricultor, o trolha, o coitadinho…que bebia porque queria.
Era uma vergonha social! Hoje, o alcoolismo é considerado uma doença que atinge também o advogado, o professor… que atinge todos da mesma forma, que destrói vidas!
Sem falsa modéstia, penso que o CARG contribuiu muito para esta desmistificação do alcoolismo, para as pessoas perceberem que o alcoolismo é uma doença crónica, uma reconhecida pela OMS.
Uma doença para toda a vida, que só pode ser “controlada” com a abstinência do doente, para sempre.
Há concelhos com maior incidência de taxas de alcoolismo? Quais?
Não há dados estatísticos recentes. Melhor nem há dados estatísticos! Beber é um ato socialmente aceite, como medir a incidência das taxas de alcoolismo?...
O que podemos medir é o número de doentes que conseguimos sensibilizar e levar a tratamento na UAC (embora muitos se percam pelo caminho!)
Com base nesse número, referente apenas ao distrito da Guarda, podemos dizer que a maior incidência é no concelho da Guarda (também por ser o maior), com 905 internamentos, seguido do concelho de Celorico da Beira com 114, e do concelho do Sabugal com 113 doentes internados. Embora estes números estejam longe de quantificar o nosso trabalho.
Um internamento pode significar dezenas de quilómetros percorridos, inúmeras intervenções, incontáveis telefonemas! Cada caso é um caso, uma história de vida, atrás da qual há muitas outras vidas, uma família que sofre!
Preocupa-o a incidência do alcoolismo na Juventude?
É um problema que me preocupa muito, sem dúvida!
Os jovens consomem cada vez mais! Já não é o vinho o mau da fita, mas o shot, que se tornou o rei da festa! São as bebidas brancas. Isso explica a alcoolização mais rápida.
Antes, um processo de alcoolização, de alguém que consumisse sobretudo vinho, demorava cerca de 20 anos. Hoje, a alcoolização é muito mais rápida, em 5, 10 anos “criamos um alcoólico!
É importante realçar que a alcoolização é mais rápida na mulher do que no homem devido às suas características corporais diferentes.
É preocupante, a prevenção é fundamental. É importante que os pais se deixem de se preocupar apenas com a droga, e se preocupem também (arrisco-me a dizer sobretudo) como o álcool.
Temos de consciencializar! Fazer perceber que dar um copo a um miúdo antes dos 18 anos, não é torná-lo um homem (como muitas vezes ouvi da boca de pais) é torná-lo um potencial alcoólico, no futuro.
Tem sido muito solicitado para ações de sensibilização? Que impacto têm tido essas ações?
A prevenção primária sempre foi uma prioridade na vida da instituição. Somos cada vez mais solicitados para fazer sessões de esclarecimento. Isso mostra-nos que as pessoas estão mais alertas para o problema, sobretudo ao nível dos jovens.
A partir do ano 2000, as solicitações aumentaram substancialmente! São as instituições de ensino que mais nos solicitam.
Realço aqui a Escola Afonso de Albuquerque (Guarda) onde todos os anos, realizamos várias sessões, a convite do Dr. Madeira, um professor muito atento para o problema. Muitas vezes, há miúdos que nos procuram na sequência de uma sessão, reconheceram nas nossas palavras o problema vivido em casa. Pedem ajuda! Muitos choram.
Já me aconteceu muitas vezes, vários anos depois, alguém me reconhecer e dizer que se lembra da sessão que fiz na sua escola, dizer que se lembra de cada palavra, dizer que o meu testemunho o marcou profundamente. Fico feliz!
Sinto que pelo menos para aquelas pessoas fiz a diferença!
Também fazemos muitas sessões para a comunidade e, regularmente, somos solicitados pelo estabelecimento prisional da Guarda, onde fazemos sessões de esclarecimento para os presos.
Muitos chegaram ali por causa do álcool e muitas vezes percebem-no depois de me ouvirem! Contamos com cerca de 450 sessões realizadas em vários pontos do país e ilhas.
O Centro é uma referência em termos nacionais?
Foi longo o percurso, foi sinuoso, mas podemos dizer que somos uma referência nacional!
Somos falados e procurados por que fazemos diferente. Não somos Alcoólicos Anónimos (não tenho nada contra o AA), somos alcoólicos recuperados, pessoas que dão a cara, que assumem o seu alcoolismo e isso faz toda a diferença.
Digo sempre que um alcoólico que não assume a sua doença é um alcoólico recaído… raramente me engano, infelizmente.
Entrevistas na imprensa, testemunhos em diversos programas de televisão. Já não é só a minha história de vida que conta, é o trabalho que fazemos, os resultados que temos, com uma taxa de sucesso de cerca de 80%. Somos falados em congressos, em encontros académicos, pelo trabalho que realizamos. E isso é muito gratificante.
Como se sente, face ao trabalho que tem realizado após estes anos?
Sinto que criei um filho. O meu quinto filho, como costumo dizer. Tenho um sentimento de missão cumprida!
Quando morrer, sei que deixarei um legado, uma herança, que desejo que continue para além de mim! Continuarei esta missão enquanto puder, um pai não deixa morrer um filho, certo?
Desejo que alguém a continue depois de mim, se possível com a mesma entrega, a mesma resiliência com que eu o faço! Desejo que este “filho” continue o seu caminho…
“A rádio terá sempre o seu lugar e o seu papel”. Esta a convicção de João Paulo Diniz, um consagrado nome da rádio portuguesa que hoje sublinhamos neste apontamento.
Lembramos “um homem de liberdade” que “num conluio tão sigiloso como arriscado, lançou a deixa musical na rádio para o arranque do dia mais claro e luminoso da geração sofrida e silenciada a que pertencemos”, como escreveu Júlio Isidro no prefácio à publicação “Cuidado com os Cabelos Brancos”.
João Paulo Diniz, autor desse livro e um “brilhante profissional”, é uma voz da liberdade, tendo com algumas breves palavras evidenciado o papel da rádio num importante momento da história portuguesa; na noite de 24 de abril de 1974 colocou no ar – através dos Emissores Associados de Lisboa – a primeira senha do movimento dos capitães, ao anunciar “faltam 5 minutos para as 23 horas”, seguindo-se a apresentação da música de Paulo de Carvalho, “E depois do adeus”.
“A música foi escolhida inicialmente quando fui abordado pelo capitão Costa Martins, da Força Aérea, e pelo Otelo Saraiva de Carvalho, com quem eu tinha estado na Guiné.” Recordou-nos João Paulo Diniz.
Quando o questionámos se as pessoas têm consciência da importância da rádio e do seu contributo para a revolução e subsequente afirmação da democracia, respondeu-nos: “não sei se têm. Há uma coisa que me custa um pouco. É que tenho a sensação que, de hoje em dia, os jovens sabem muito pouco sobre o que foi o 25 de Abril.”
Daí acrescentar-nos ser “extremamente importante sensibilizar toda a população, mas em especial os mais jovens, para a importância” dessa data e de “todas as liberdades que nos permitiu. Liberdade sempre, obviamente, com a máxima responsabilidade. Uma e outra não se separam. É um casamento.”
João Paulo Diniz protagonizou diversos projetos radiofónicos e desenvolveu uma intensa e distinta atividade jornalística, em vários órgãos de informação, mormente na rádio; atividade que evoca e descreve no livro a que aludimos anteriormente.
A sua passagem pela BBC contribuiu, como nos disse recentemente, para reaprender algumas “lições, sobretudo em termos do rigor, da informação, de ter a certeza que a notícia só é dada quando estiver a cem por cento tudo confirmado.”
Hoje, diz João Paulo Diniz, “fazem falta na rádio profissionais de cabelos brancos”, pretendendo dizer com isso que é importante haver neste meio pessoas com “uma experiência mais ampla, maiores conhecimentos”, capazes de transmitir memória; sem esquecer que é fundamental “ensinar aos mais novos como se faz a Rádio e, sobretudo, como não se faz…”.
Na necessária reinvenção da rádio, na sua desejada aproximação com o seu público, na reafirmação do seu perfil identitário e no amplo aproveitamento das suas características e capacidades esses contributos idóneos – pautados por um inquestionável profissionalismo e saber fazer – são relevantes e oportunos.
Aliás, há décadas atrás, o jornalista que hoje evocamos, descentralizava as emissões do programa que conduzia – na emissora pública portuguesa – pelo território nacional; como já destacava também a função social da sonora radiodifusão no interior do país, partindo do exemplo da Rádio Altitude, no decorrer de um colóquio realizado na Guarda em 1990, no âmbito da comemoração do aniversário desta rádio, que a 29 de julho completará 77 anos de emissões oficiais regulares; uma marca informativa e cultural da nossa região e da cidade, que não deve ser esquecida.
Na Guarda, em 1990. No colóquio intregrado na comemoração do aniversário da Rádio Altitude. Na foto (esq. para a dir ) João Marques de Almeida, Hélder Sequeira e João Paulo Diniz.
A proximidade e a humanização do meio rádio continuam a ser necessárias, pertinentes e fundamentais, pois as pessoas (e tendo em conta os cenários criados pela inteligência artificial e pelos desenvolvimentos ao nível de equipamentos técnicos) não podem ser afastadas do seu processo evolutivo; a Rádio a continua a ter futuro, apesar dos múltiplos condicionalismos e desafios.
Concluindo estas Anotações com palavras de João Paulo Diniz, “a rádio tem realmente uma dimensão extraordinária. É portátil, é leve, é gratuita e é fascinante.” Saibamos perceber, valorizar e apreciar esse fascínio!...
Hélder Sequeira
in O INTERIOR, 18 junho 2025
No Grande Auditório do Teatro Municipal da Guarda (TMG) vai ser apresentado amanhã, 14 de junho, pelas 21h30, o espetáculo relativo à terceira edição do projeto “Beat na Montanha”.
Este espetáculo – com entrada gratuita, mediante o levantamento prévio do bilhete – é “o culminar de uma residência artística focada no desenvolvimento de competências criativas ligadas à música, à imagem, ao palco e à expressão individual. Um momento de partilha onde os participantes revelam o resultado do seu trabalho colaborativo, através de atuações que refletem identidade, liberdade criativa e inovação.” Refere a informação divulgada pelo TMG. Na terceira edição do Beat na Montanha (projeto idealizado por B.Riddim/Luís Sequeira) os protagonistas são os alunos do Agrupamento de Escolas da Sé, Guarda. “Durante vários meses, crianças e jovens mergulharam num processo criativo intenso, sob orientação artística de Luís Sequeira, Maze e Miguel Silva — figuras destacadas das áreas da música urbana e da produção audiovisual”.
Criação, ritmo e imagem no topo da montanha é a proposta para este espetáculo multidisciplinar (música e imagem) que será apresentado amanhã no TMG. “É uma forma de prescrição social, onde a criatividade se torna uma ferramenta de bem-estar. A arte tem um impacto direto na nossa saúde mental”. Comentou a psicóloga Vanessa Rei a propósito do Beat na Montanha 3.0. “A música, o movimento, a palavra criativa ativam partes do cérebro ligados à emoção, à empatia e à nossa autorregulação, porque nem todos nós conseguimos expressar através das palavras; a imagem acaba por se tonar uma ponte entre o nosso mundo interno e externo”.
Recorde-se que em novembro de 2024, decorreu uma Showcase dirigida aos alunos das Escolas da Sé e Carolina Beatriz Ângelo, onde Luís Sequeira apresentou o projeto Beat na Montanha 3, que foi desenvolvido com os alunos do 3º ciclo e secundário do Agrupamento de Escolas da Sé; projeto inseriu-se no Plano Nacional das Artes e enquadrou-se no Plano Cultural de Escola, numa parceria entre o Câmara Municipal/Teatro Municipal da Guarda e o Agrupamento de Escolas da Sé. Os alunos tiveram a possibilidade de desenvolver a sua vertente criativa no âmbito da música hip hop, fotografia analógica e digital bem como a escrita criativa.
No passado ano, no âmbito da segunda edição do Beat na Montanha, a música e a escrita serviram também de estímulo à criatividade de 20 mulheres e homens reclusos num projeto de inclusão que os levou ao palco do Teatro Municipal da Guarda.
Foi “um projeto de inclusão social, com incidência na cultura cigana” que permitiu “levar as pessoas da etnia cigana ao TMG”, afirmou, então, Luís Sequeira, para quem esse trabalho representou “uma capacidade de mudança, não só de mentalidades, mas também do paradigma sobre as pessoas que estão privadas de liberdade".
O Beat na Montanha começou em 2023. A inclusão social aliada ao estímulo criativo na área da música e da escrita foi a ideia chave do projeto concebido por B.Riddim, dirigido a crianças e jovens entre os 6 e os 16 anos. Nessa primeira edição, o projeto implementou uma fusão sonora de vários instrumentos clássicos com eletrónica, gerando texturas que possam ser usadas para uma ligação com textos em prosa e verso; não esquecerá, também, a exploração de capacidades vocais. O primeiro “Beat na Montanha” foi, nesse ano, desenvolvido com o envolvimento de crianças e jovens do Centro Escolar de Gonçalo e Aldeia S.O.S. da Guarda.
Amanhã, no Grande Auditório do TMG, será apresentado o resultado do trabalho desenvolvido ao longo dos últimos meses, no âmbito do projeto “Beat na Montanha 3.0”.
A delegação distrital da Guarda da QUERCUS – Associação Nacional de Conservação da Natureza vai criar uma Rede de Embaixadores.
Segundo ai informação divulgada pela QUERCUS, esta iniciativa pretende “apoiar cidadãos e cidadãs que queiram desenvolver projetos ambientais com impacto positivo no território.”
Esta rede tem como objetivo criar um espaço de colaboração, capacitação e apoio direto a quem deseje contribuir para a proteção, regeneração e valorização das paisagens naturais da região. As candidaturas estão abertas até 5 de setembro de 2025.
Pode aderir todas as pessoas “com vontade de contribuir para um território mais resiliente e biodiverso, independentemente da sua área de atuação”, nomeadamente professores, empresários, técnicos municipais, agricultores, membros de juntas de freguesia e jovens ou reformados.
A QUERCUS Guarda compromete-se a apoiar os Embaixadores com acompanhamento e mentoria ao longo do desenvolvimento do projeto; apoio na identificação de parcerias locais e regionais; divulgação das iniciativas através dos canais da associação; acesso a apoios adaptados às necessidades de cada projeto, que podem incluir recursos, contactos, visibilidade ou outras formas de colaboração.
Esta iniciativa enquadra-se na missão da QUERCUS de promover a conservação da natureza e o envolvimento das comunidades locais na gestão sustentável do território. Os interessados podem obter mais informações e o formulário de candidatura através do email guarda@quercus.pt.
Sobre porta emparedada do conjunto arquitetónico que envolve o edifício do antigo Convento de S. Francisco (onde esteve instalado o Regimento de Infantaria 12 e agora funciona o Arquivo Distrital) existe um letreiro, enigmático e pouco conhecido até agora. Um recente trabalho de Dulce Helena Borges e José d'Encarnação veio revelar os “segredos” dessa inscrição e, ao mesmo tempo, alertar para a atenção que devemos ter com a nossa História e o nosso património.
O CORREIO DA GUARDA, deixa aqui, este interessante e oportuno estudo (já divulgado no site informativo Duas Linhas), felicitando os autores por mais um valioso contributo para o conhecimento do nosso passado.
Na cidade fundada por D. Sancho, após a atribuição de foral em 27 de novembro de 1199, existiram, ao longo dos tempos, vários edifícios de matriz religiosa que, por diversas razões, foram erguidos fora do perímetro amuralhado. Além do Convento de S. Francisco, encontramos, por exemplo, referência à existência de mais cinco igrejas medievais.
Foi esse convento fundado em 1236, no governo do segundo (?) bispo da Guarda, D. Vicente I. Construiu-se, por ser de ordem mendicante e tal como ao tempo era costume, fora da malha urbana, que começava então a ser delimitada pela continuada construção das muralhas, neste caso, no arrabalde sul da cidade medieval.
Há notícia de que as obras de edificação do convento franciscano, feitas a expensas dos moradores da cidade, em 1246 já estavam concluídas. Tinha capacidade para albergar 28 frades e parece ter sido, ao longo de séculos, essa a sua principal ocupação: acolher a comunidade monástica.
Já no que se refere à igreja conventual, sabemos que teve a proteção da fidalguia da Guarda, tendo ali sido sepultada D. Isabel de Pina, filha do cronista-mor do reino, Rui de Pina, e seus descendentes e, ainda, entre outras personalidades, ali repousaram os restos mortais da condessa de Linhares, D. Lopa de Sequeira. Embora D. Isabel de Pina tenha concorrido com verbas para dotar a igreja de melhores condições, tal não invalidou que, alguns anos depois, Filipe II, o Pio, tivesse lançado uma finta de 100$000 réis aos habitantes da cidade e seu termo «para restauro da igreja do Convento de S. Francisco», como se lê no respetivo documento.
Aqui se formaram muitos frades ilustres, figuras de grandes virtudes e santidade, de que importa dar destaque àquele que maior fama de santidade adquiriu, o beato Frei Pedro da Guarda, que faleceu no Funchal em 1505, tendo ficado conhecido como “Santo Servo de Jesus”. Sobre este frade, por ter fama de santidade, chegou a ser constituído um tribunal com vista a promover a sua beatificação.
Conta Carlos de Oliveira (Apontamentos para a Monografia da Guarda, Câmara Municipal da Guarda 1940, p. 254) que, em 1568, este convento mendicante foi objeto de reformas e sabe-se também – segundo Carlos Manuel Ferreira Caetano (p. 673 da História da Guarda, publicada o ano passado pela Câmara Municipal) – que, por volta dessa data, foi alvo de uma reconstrução, se não integral, muito próxima disso. José Osório de Castro, por seu turno, escreve – na p. 86 da sua preciosa obra, Diocese e Districto da Guarda: série de apontamentos históricos e tradicionaes sobre as suas antiguidades, algumas observações respeitantes à actualidade e notas referentes à cathedral egitaniense e respectivos prelados, publicada, em 1902, pela Typographia Universal, no Porto – que, em1600, «o convento teve notáveis restaurações, sobretudo na igreja que se fez de novo», segundo os cânones da arquitetura chã.
Depois da extinção das Ordens Religiosas, o Convento de S. Francisco passou a servir de instalação aos aquartelamentos militares da cidade, tendo tido obras de ampliação, entre outras alterações, com a construção, em 1868 e 1869, de uma casa anexa de grandes dimensões. Desde então, outras dependências foram construídas no recinto que outrora terá sido a enorme cerca dos frades.
Assim, no edifício que hoje nos é dado observar estão alojados, desde a década de 80 do século passado (1984), o Arquivo Distrital da Guarda, uma dependência do Ministério das Finanças, a GNR e a Liga dos Combatentes e é, sobretudo, o resultado das múltiplas intervenções arquitetónicas que, ao longo dos séculos, ali foram realizadas.
Uma característica arquitetónica dos conventos é a indispensável presença do claustro. Também aqui ele é observável e, pese embora o mesmo, segundo Carlos Caetano, não ser já o original, mas muito próximo do projeto inicial, apresenta planta retangular com arcadas de arco abatido e dois andares. Ao centro, o tanque com uma fonte de água, cuja estrutura é encimada por esfera armilar. No andar superior da face norte do claustro, identificamos uma cartela em forma de concha, onde está inscrita a data 1734. O edifício conventual desenvolve-se em torno deste claustro e apresenta, no lado norte, a igreja (há décadas sem restauro nem uso), de planta longitudinal, sendo observáveis, no seu interior, estruturas da primitiva igreja medieval.
A fachada principal do edifício do convento está organizada em dois andares. O corpo superior possui um janelão com uma composição visual bem conseguida, com os ornatos talhados em granito pouco exuberantes, que nos remetem para as características da arquitetura chã.
No piso térreo, uma ampla porta com arco abatido introduz-nos na galilé, por onde se acede à igreja e ao interior do convento. Esta fachada principal tem no topo norte um acrescento, muito tardio, ao qual se acede por uma varanda alpendrada, típica de arquitetura residencial vernácula. Ao nível desse piso térreo, e na parede que suporta as escadas desta varanda alpendrada, existe uma porta cega em cujo lintel mal se descortina uma inscrição.
foto de Dulce Borges
Que estará por ali escrito?
À semelhança do que por muitos sítios desse Portugal além acontece, tais inscrições antigas vão-se gastando, mercê da erosão das intempéries, ninguém se preocupou em delas dar conta quando ainda se liam bem e, hoje, quando não sucumbem sob as inclementes pancadas dum qualquer camartelo, ninguém lhes liga importância nem curiosidade tem em saber o que lá está escrito. De facto, nem observando-a de perto desta aqui algo se consegue decifrar!…
Contou-se atrás a história do convento, das suas vicissitudes ao longo dos séculos. E aqui o que se conta? Novidade haverá alguma para acrescentar?
Fotos: Dulce Borges. A epígrafe está por baixo da sede da Liga dos Combatentes.
Para nos ajudarem estão hoje ao nosso dispor, pela perícia de Alexandre Canha, técnicas fotográficas específicas que, sem necessidade de inoportunas e eventualmente deletérias escovas de limpeza que as letras poderiam estragar, trazem à luz do dia o que há longas décadas se não lia e de cuja mensagem não havia memória. Aí está, pois, o que ora se vê (bem hajas, Alexandre!):
CAZA DA ORDEM 3A q FES PARA SI ANO 1734
Ou seja: «Casa da Ordem 3ª, que fez para si. Ano de 1734».
Duas novidades, portanto, que, do anterior relato não constavam: a Ordem Terceira de S. Francisco ali construiu para si esta casa. E a segunda novidade: a coincidência da data com a que se lê na cartela do claustro. Uma história a refazer, quem sabe!?
E a conclusão necessária: o cuidado a ter com inscrições antigas. Importa não as estragar e, caso estejam bastante deterioradas já, o recurso a quem ainda as saiba ler revela-se fundamental. Quantas lápides sepulcrais das nossas igrejas sujeitas ao contínuo pisoteio dos fiéis não correm mui sério risco de serem, também elas, memórias a morrer?!…
Dulce Helena Borges
José d'Encarnação
O Rotary Club da Guarda vai promover nesta cidade, no próximo dia 7 de junho, pelas 12h30, num, um almoço/debate dedicado ao tema “O Poder do Associativismo na Região da Guarda”.
Este evento reúne várias associações do distrito, com o objetivo claro de debater e valorizar o papel do associativismo na construção de comunidades participativas, mais coesas e resilientes. “Num tempo em que os desafios sociais e económicos são cada vez mais complexos, as associações desempenham um papel essencial na resposta às necessidades das populações. Combatem o isolamento, promovem o convívio entre gerações e preservam tradições e memórias comunitárias.” Refere uma nota informativa do Rotary Club da Guarda.
Acrescenta, depois, que as associações “são também espaços de participação cívica e voluntariado, oferecem apoio social e dinamizam atividades culturais, educativas e desportivas. Além disso, contribuem para a economia local ao promoverem produtos regionais e atrair visitantes.”
O Rotary Club da Guarda pretende que esta iniciativa seja mais do que uma simples partilha de experiências, procurando assegurar “um encontro de diálogo e de reconhecimento pelo trabalho desenvolvido por algumas associações. Pretende-se também fomentar parcerias e reforçar o sentimento de pertença a um esforço coletivo.” Neste encontro, cinco associações do distrito da Guarda vão apresentar os seus projetos e perspetivas. Serão abordadas diversas temáticas, da cooperação interassociativa à valorização do voluntariado, da formação ao fortalecimento da participação cívica, da preservação do património à inovação e sustentabilidade.
Este almoço/debate incluirá a homenagem a uma jovem residente numa Casa de Acolhimento da região, “cujo percurso de superação, envolvimento cívico e generosidade é digno de reconhecimento. Esta jovem representa tantos outros que, longe dos holofotes, enfrentam a vida com coragem e esperança.”
A participação nesta aticidade é aberta a todos os interessados, mediante inscrição até ao dia 5 de junho.
Na Guarda decorreu hoje, no campus do Politécnico da Guarda, a Missa de Finalistas e a tradicional Benção das Pastas. Mais fotos aqui.
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