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A partir da próxima segunda-feira, dia 2, o trânsito automóvel vai estar condicionado na Avenida Cidade de Waterbury, na Guarda, uma das vias mais movimentadas.
De acordo com informação da autarquia guardense, será necessário proceder ao controlo do trânsito e recorrer à circulação alternada com recurso a semáforos e reforçada a sinalização com um agente de trânsito, na manhã do dia 02 de dezembro, por forma a se efetuarem trabalhos em segurança de colocação de lancil e pavimentações com misturas betuminosas.
Este condicionamento surge no âmbito da empreitada “Reabilitação da Avenida Cidade de Bejar e Área Envolvente”. O condicionamento está previsto por um período de 3 dias.
A história da Guarda está indissociavelmente ligada ao segundo rei de Portugal que há 825 anos atribuiu carta de foral a esta cidade. Hoje é evocada a outorga desse documento e comemorado o feriado municipal, sendo oportuno conhecermos um pouco da vida deste monarca.
Sancho I, segundo rei de Portugal e cognominado como O Povoador, era filho de D. Afonso Henriques e D. Mafalda de Saboia. Nascido em Coimbra, em 11 de novembro de 1154, o herdeiro da coroa bem cedo ficou ligado à vida político-militar do reino português, com uma associação efetiva à governação a partir de 1172.
Dois anos depois, o futuro rei casou com D. Dulce de Aragão (filha da Rainha de Aragão e do Conde de Barcelona), continuando a assumir as responsabilidades decorrentes do seu estatuto real; em 1178 é D. Sancho que comanda uma expedição em território sob domínio muçulmano, incursão que chegou aos arredores de Sevilha.
Com a morte do pai, D. Sancho subiu ao trono em 6 de dezembro de 1185, sendo aclamado três dias depois na cidade de Coimbra. A reorganização do território português e a defesa das localidades junto às ainda indefinidas e instáveis fronteiras com os domínios de Leão e dos muçulmanos (a sul), foram duas das suas primeiras prioridades, que se articularam com a imperiosa necessidade de incrementar o povoamento e defesa das zonas conquistadas.
Assim, promoveu a vinda de colonos estrangeiros, doou terras e fortalezas às ordens militares, criou concelhos e mecanismos de administração pública, fomentou o surto económico e agrícola e concedeu forais a cerca de cinco dezenas de localidades, nomeadamente à Guarda, em 27 de novembro de 1199 (documento que segue o modelo do foral de Salamanca).
Antes desta data (1199), a Guarda confinava-se a uma pequena comunidade “guardada por uma pequena atalaia ou torre – uma guarda – que vigiava a circulação de gentes e bens que percorriam a via colimbriana, o principal eixo de penetração no planalto beirão”, como sustentou Helena da Cruz Coelho. A Guarda assumiu, deste modo, uma posição estratégica de vital importância na defesa da linha fronteiriça da época, protagonizando a centralidade de toda a vasta região envolvente, sobre a qual afirmava a sua influência direta; a sua notoriedade como polo urbano foi reforçada com transferência (entre 1201 ou 1202) da sede do Bispado da Egitânia, cimentando assim o seu estatuto de cidade.
Esta reorganização da jurisdição religiosa apoiou os propósitos régios ao nível do fortalecimento e valorização da zona fronteiriça. Com a conquista de Silves (que viria a perder algum tempo depois) em 1196, D. Sancho passou a intitular-se Rei de Portugal e dos Algarves.
A sua permanência no trono foi atravessada por diversas contendas militares, fomes e pestes, em especial no período entre 1192 e 1210. As lutas com o vizinho reino de Leão e sobretudo os constantes prélios com os almóadas (dinastia marroquina que dominava as terras da Península Ibérica sob alçada muçulmana) ocuparam muitos anos do reinado deste monarca português, que teve ainda de se debater com alguns sérios problemas levantados pelo clero (vejam-se os conflitos com D. Martinho Rodrigues, Bispo do Porto, e também com D. Pedro Soares, Bispo de Coimbra, com os quais se reconciliou no último ano do reinado).
A célebre cantiga de amigo “Muito me tarda / o meu amigo na Guarda”, foi durante muito tempo associada a D. Sancho I que a teria, segundo alguns autores, dedicado a D. Maria Pais Ribeiro (a célebre Ribeirinha, de quem teve seis filhos); os estudos mais recentes afastam-no da sua autoria dessa poesia, embora seja verdade que não foi alheio às necessidades de incremento cultural, como o comprova o apoio dado a alguns elementos do clero que estudaram além-fronteiras. D. Sancho I faleceu em Coimbra em 26 de março de 1211, tendo sido sepultado no Mosteiro de Santa Cruz.
Em dia de feriado municipal não poderíamos deixar de lembrar o segundo rei de Portugal. De referir que, tradicionalmente, e após o abandono da data de 3 de maio, o feriado municipal da Guarda era comemorado a 26 de novembro, evocando assim o nascimento, oficial, da cidade. A divergência sobre a data de atribuição da carta de foral foi expressa, pela primeira vez, num artigo (de Manuel Luís dos Santos) publicado, em 1985, no jornal "Notícias da Guarda".
A partir dessa altura alargou-se o interesse pelo estudo da questão e não faltaram argumentos sobre a prevalência de 26 de novembro; por outro lado, a favor do dia 27 deste mesmo mês os argumentos manifestaram igualmente a sua solidez.
De facto, o documento medieval da outorga da carta de foral refere que "foi feita esta carta em Coimbra no dia Quinto antes das Calendas de Dezembro de 1237, no ano do nosso reinado." Assim, e como foi sustentado pelos investigadores que defenderam a nova data, o dia V antes das Calendas de Dezembro é o dia 27 de novembro de 1237, o que convertido à data cristã (menos 38 anos) cai sobre o ano de 1199.
A data de 27 de novembro acabou, assim, por ser institucionalizada, há alguns anos atrás, como feriado municipal, que deve ser vivido e sentido por todos os guardenses.
Parabéns, Guarda!
Hélder Sequeira
A Cidade Natal vai abrir na Guarda no próximo domingo, dia 1 de dezembro. O percurso começa no Jardim José de Lemos pelas 17h00 com a Parada de Natal.
O referido jardim estará decorado com a criatividade da comunidade educativa do Concelho (Educação Pré-escolar e 1.º Ciclo do Ensino Básico – rede pública e privada), das Instituições de Solidariedade Social do Concelho e do Conselho Municipal de Juventude da Guarda com cenografias de Natal e iluminado sob o tema Entre Luz e Magia, um Natal com Alegria! A Parada de Natal segue até à entrada da Rua do Comércio e já na Praça Luís de Camões será apresentado um Espetáculo Multimédia, num convite à população guardense para um momento de evocação das tradições da época na cidade e no concelho. Será também o momento da ligação da iluminação de Natal na cidade.
A animação de rua será garantida pelos Grupos Fanfarra NemFáNemFum, Coro Gospel Saint Dominic Gospel Choir e Projeto Soldadinhos de Natal. Na Praça Luís de Camões vai também voltar a arder o tradicional Madeiro de Natal, ponto de encontro de centenas de guardenses na tarde de consoada, 24 de dezembro. O fogo acende-se pelas 16h00. A tradição será cumprida na companhia da Fanfarra Funk You BB.
O ambiente festivo da época vai também estender-se às freguesias do concelho com os Concertos de Natal na Aldeia, de 30 de novembro a 21 e dezembro. A música vai chegar através dos projetos 'Natal Tradicional' por Sara Vidal e Rogério Pires, 'Violoncelos de Natal' com direção artística de Pedro Serra Silva, e 'O Natal da nossa terra' por Maria Mendes, Margarida Pacheco e Luís Salomé.
As igrejas da cidade (São Miguel da Estação, Capela Nossa Senhora do Mileu e Misericórdia) recebem os concertos de Natal entre os dias 1 e 22 de dezembro, com a participação dos Cavaquinhos da Póvoa do Mileu, Grupo Vox Angelis, Grupo Coral de Maçainhas e Orfeão do Centro Cultural da Guarda. Nesta quadra natalícia, a Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço, o Teatro Municipal e o Museu da Guarda prepararam também atividades para desafiar a criatividade dos mais novos, como teatro, oficinas e contos.
No dia 27 de dezembro, o Café Concerto do Teatro Municipal da Guarda (TMG) será palco da Farwell Party 2024 - Festa de despedida do Ano Velho. Será uma noite de convívio e dança ao som de música de diferentes géneros e épocas para receber, em antecipação, o ano de 2025.
A Alta Passagem de Ano 2024/2025 acontece na Praça Luis de Camões com a Banda Eskorzo (Espanha), a Banda Prós & Contras e os DJ Two Brothers.
Depois do Natal, no dia 26 de dezembro, Aldeia Viçosa volta a cumprir a tradição secular do Magusto da Velha, com as castanhas a serem lançadas do cimo da torre da igreja em homenagem a uma benemérita da freguesia.
No Dia de Reis, a 6 de janeiro, o TMG recebe o espetáculo 'Vamos Cantar as Janeiras!', com direção artística de Tiago SAMI Pereira. As coletividades do concelho da Guarda voltam a subir ao palco do grande auditório para o tradicional Cantar das Janeiras, que este ano contará com a participação de 24 grupos. Nos dias 8 e 9 de janeiro será a vez da comunidade escolar cumprir a tradição, numa iniciativa dirigida aos alunos do 1.º ciclo e JI dos ensinos públicos e privados do concelho da Guarda. O programa pode ser consultado aqui.
O espírito de Natal está ainda em destaque com o concurso 'Montras ou Espaço Exterior de Natal 2024' promovido pelo Município em parceria com o NERGA, através do qual os estabelecimentos comerciais foram desafiados a decorar as montras e espaços exteriores com adereços, cores e brilhos caraterísticos daquela que é a considerada a época mais bonita do ano. O prémio é de 1000 euros para a montra vencedora, 500 euros para a segunda classificada e 250 euros para o terceiro lugar. A votação será feita exclusivamente online, através da plataforma da Câmara da Guarda, no sítio da internet.
Fonte: CMG
Na Galeria de Arte do Teatro Municipal da Guarda vai ser inagurada amanhã, pelas 17h30, a exposição "Imagem e Cidade – Os Mapas e a Urbe Projetada”.
Esta exposição tem a curadoria de Dulce Helena Borges e Aires Almeida que comentam ser uma mostra com «elementos gráficos, aerofotográficos, escritos, documentais, e outros instrumentos comunicacionais, dão corpo à exposição que se apresenta."
Acrescentam que "consubstanciam estes elementos projetos pensados para construir a cidade os quais permitem fazer, sem juízos de valor político, social ou ideológico, uma leitura diacrónica de um parcial retrato urbanístico, arquitetónico e infraestrutural da cidade nas décadas imediatamente anteriores à revolução de Abril e nos anos subsequentes da mesma".
Esta exposição integra-se no programa comemorativo do 50º aniversário da Revolução dos Cravos, ficando aberta ao público até 25 de abril de 2025.
António Manuel Gomes é um conceituado médico psiquiatra e igualmente um exímio artífice de palavras que florescem em textos de inegável recorte literário. Este clínico guardense – homem culto, observador atento, dialogante – nunca se negou a desafios ao nível da intervenção cívica e cultural, numa manifesta expressão de exemplar cidadania. Avesso a holofotes, nem sempre a sua atividade teve a justa e merecida visibilidade. “O reconhecimento, não o nego, afaga a alma e dá consistência à identidade” diz nesta entrevista ao CORREIO DA GUARDA quando questionado sobre a distinção que vai receber no dia da Cidade da Guarda, na próxima quarta-feira, a 27 de novembro. Homenagem que faz questão em distribuir com “os outros que são parte de mim”. Ao CG afirma que a escolha da Medicina não foi resultado de um “chamamento ou vocação”, mas cedo compreendeu que “não me tinha enganado no destino”. Considerando que “os êxitos, fracassos e problemas, são inerentes à vida de um médico”, António Manuel Gomes classifica, “em termos sincréticos” como “muito positivo um longo período do SNS em que as turbulências eram claramente menores e a relação interpessoal tinha outra densidade humana.”
Nascido nas Vendas da Vela, em outubro de 1954, António Manuel Gomes estudou na Covilhã e em Coimbra, trabalhou no Hospital Psiquiátrico do Lorvão, dirigiu o Departamento de Psiquiatria do Hospital Sousa Martins, integrou os corpos sociais da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários Egitanienses, foi fundador do grupo de Teatro à Vela e do grupo coral Recanto do Canto, tendo encenado três peças de teatro e sido o autor de contos e textos publicados em jornais e revistas.
Estudou a partir dos 7 anos na Covilhã. Qual a razão que o levou a ir para essa cidade?
Os meus pais sempre residiram na Covilhã. Foi por acaso e urgência que nasci nas vendas da vela, em casa dos meus avós maternos, onde a minha mãe se encontrava naquele dia, com 24 anos, e aconchegada no ninho original.
Fiz a quarta classe numa obra da fundação Melo e Castro, designada Associação Protectora da Infância Desvalida. Este longo e expressivo nome, resultava do facto de a escola dar resposta aos filhos das operárias e operários dos lanifícios; ao tempo já tinha cantina para as crianças.
Devo às preocupações do meu pai com o meu ingresso na escola primária, a descoberta de um tal professor Manuel Poeta. Conseguiu que eu entrasse naquela instituição onde, de resto, pelas mesmas razões de excelência do docente, também tive alguns filhos de industriais como colegas. Foi determinante no meu futuro escolar. Quando concluí a quarta classe foi-me atribuído o prémio de melhor aluno pela fundação Melo e Castro.
Foi ainda na Covilhã que concluí o sétimo ano do liceu, sendo na altura o único aluno que dispensou do exame de admissão ao ensino superior em todas as disciplinas.
Como via, nessa altura, a cidade da Guarda? Que contraponto fazia com a Covilhã?
As minhas deslocações à Guarda eram esporádicas. A viagem na camioneta do Tonico começava na Covilhã e acabava nas Vendas da Vela. Ainda assim recordo a Guarda como uma cidade aconchegada, de humanidade sadia, como uma extensão rural e telúrica que o meu avô me tinha ensinado.
A Covilhã, era um uivo de sirenes quase permanente. O corrupio dos operários e operárias, ora saindo, ora entrando, nas dezenas de fábricas de lanifícios, dava às ruas e às travessas um alarido enérgico e contagiante que me enchia a estreita paisagem da janela de casa.
O que representou a sua ida para Coimbra e como foi a adaptação à vida académica da cidade? A vivência na residência do Colégio de São Teotónio é um período com boas recordações?
As lágrimas de despedida de casa secaram depressa. Não ia só. Éramos vários colegas de liceu, dispersos por vários cursos, e já tínhamos laços consistentes. A residência universitária do colégio de São Teotónio deu-nos um conforto e um acréscimo de novas relações; as maluqueiras coletivas e as discussões no refeitório são ainda hoje retalhos da minha memória distante que muito prezo.
A Universidade de Coimbra, em 1972, mantinha o luto académico que já vinha dos 4 anos anteriores. Não havia praxe nem queima das fitas; as capas e batinas concentravam-se num número muito exíguo de estudantes e as conotações conservadoras eram vorazes.
O ambiente académico era propício ao incremento de atividades culturais? Como viveu Coimbra em termos culturais?
Viver Coimbra antes, durante e depois do 25 de abril, foi um privilégio que tocou a poucos, mas calhou-me a mim.
O antes já era uma surdina de palavras proibidas e irreversíveis cujo contágio era imparável. Um dia, ao sair da minha primeira aula teórica de química médica, juntamente com mais três colegas, saiu do Nívea (Volkswagen da polícia) um agente que veio junto de nós e nos mandou dispersar. Éramos quatro e íamos almoçar à cantina. Era a própria polícia que, paradoxalmente, nos tirava a ingenuidade e incentivava à resistência.
O durante foi uma flutuação frenética entre a incredulidade e a esperança; mas o primeiro 1º de Maio tornou-se o grande clamor da irreversibilidade.
O depois, na academia, traduzia o país. As paixões despontavam numa fragmentação política de marcado pendor à esquerda. As derivas tornavam-se evidentes e as discussões descomprimidas e abertas inundavam as mesas dos cafés e as reuniões gerais de estudantes. No cinema, no teatro e nas palavras escritas, surgia um mundo novo até então desconhecido pela maioria de nós.
Quais as leituras e as músicas que ouvia mais nessa época? Os seus gostos alteraram-se?
As músicas eram partilhadas por todos e as descobertas eram permanentes. Woodstock operou uma viragem nos gostos e na liberdade. Os cantores de intervenção, portugueses e estrangeiros, eram obrigatórios nas noitadas de alegria e copos. Lembro-me de um opúsculo clandestino com letras do Manuel Alegre musicadas que era obrigatório em todos os encontros.
Ainda a propósito do poeta, sintonizávamos a rádio Argel, antes da revolução, e lá estava a sua voz inconfundível. Os meus gestos caminharam com o tempo e a idade, e ainda hoje são feitos de muitas partilhas e descobertas. Não fiquei ancorado nos deslumbramentos de juventude, mas ainda hoje são referências que partilho com os meus netos, e eles também gostam.
O que recorda de mais positivo e de mais negativo na sua passagem pela Universidade de Coimbra?
Vivi em Coimbra dos 17 aos 34 anos. Ao tempo, a academia era um amplo espaço de convívios e estímulo. A Praça da República era o grande pátio da universidade. Por ali deambulavam as figuras de referência das várias faculdades. Este borbulhar era fascinante, e todas as conversas nos guindavam para novos planos de descoberta e liberdade. Mesmo na discórdia, estava instalada uma alegria inaugural que contagiava a comunicação.
De negativo, talvez recorde momentos de tensão estudantil desencadeados por processos de manipulação e radicalismo, levados a cabo por correntes ideológicas múltiplas onde o padrão de alienação se instalava de modo acrítico e obstinado.
Formou-se em Medicina e especializou-se em Psiquiatria? Porquê esta opção?
Fui para a medicina por uma espécie de acordo de grupo entre alguns colegas de liceu. Não me lembro de sentir um chamamento ou vocação; mas cedo percebi que não me tinha enganado no destino.
A psiquiatria aconteceu pela influência específica e incentivo do doutor Manuel Lousã Henriques. Era uma referência de Coimbra em termos psiquiátricos, culturais e humanistas. Tive a sorte de o ter como assistente de psiquiatria quando fazia a cadeira, e quando acabava a aula ninguém tinha dado pelo passar do tempo. Aconselhou-me o Lorvão.
A partir da especialização como foi o seu percurso profissional? Que êxitos e que problemas registou, sucintamente, ao longo do período em que exerceu a sua atividade, no SNS? E que importância teve a sua passagem pelo Hospital do Lorvão?
A especialização decorreu no hospital psiquiátrico do Lorvão, onde 3 jovens psiquiatras residentes tiveram, pela abrangência, pelo entusiasmo, pelo arejamento e pela inovação, uma influência determinante na minha formação.
Os êxitos, fracassos e problemas, são inerentes à vida de um médico. Mas, em termos sincréticos, sinto como muito positivo um longo período do SNS em que as turbulências eram claramente menores e a relação interpessoal tinha outra densidade humana.
O facto de ter pertencido às gerações que prestaram o serviço médico à periferia, enraizou para sempre uma crença no recém-implantado SNS. Mas o curso dessa crença tem vindo a desagregar-se. As razões não cabem aqui nem são lineares; mas, o resultado final insatisfaz os doentes e desanima os profissionais de saúde. Não sei quando nem como nos vamos reencontrar.
O Hospital da Guarda diferenciou-se na área da Psiquiatria? As instalações condicionaram/condicionam a atividade médica?
Quando há 37 anos fui convidado, com o Paulo e o Antídes, para abrir um serviço de psiquiatria na guarda, a decisão não foi demorada. Inicialmente na Praça velha, como centro de saúde mental, sem serviços de internamento próprio, desenvolvíamos consultas em articulação com os 14 centros de saúde do distrito e os casos urgentes eram encaminhados para o internamento do Lorvão.
Quando passámos a ocupar as atuais instalações do departamento de psiquiatria, integrados no hospital Sousa Martins, sempre sentimos a casa e a causa como nossas. Fomos muitos e sucessivos a arregaçar as mangas. Talvez por isso nunca nos sentimos condicionados nem num espaço exíguo.
A psiquiatria tornara-se centrífuga e ainda continuamos a visitar no seu domicílio mais de 300 doentes por mês, em todo o distrito.
Que projetos não viu concretizados, em termos hospitalares?
Volvidos 37 anos, com novas realidades e ambições, lamento, sem hesitação, que não se tenha construído um novo departamento.
Como vê, atualmente, a saúde mental em Portugal? Há falta de recursos humanos e de unidades de tratamento e acompanhamento?
Penso, como em tudo, que já estivemos pior. Ainda assim há muitas assimetrias e a resposta não é linear.
A maior densidade populacional; novas patologias sociais de desenraizamento e deslaçamento afetivo; défice crescente de comunicação corpo a corpo; imputação de responsabilidades e deveres aos outros; eu sei lá… Mais do que problemas de saúde mental, há um caldo doentio que nos circunda e inquieta. Às vezes não são os percursos é o modo como se recorre aos recursos.
Acha que a recente pandemia agravou os problemas no contexto da saúde mental? Aumentou a conflitualidade social?
Nos idosos a pandemia teve um efeito devastador. Para além da morte, e sobretudo nos doentes institucionalizados, o embate nas funções cognitivas e motoras foi imenso e irreversível.
Nos restantes grupos etários, com a plasticidade inerente a cada idade, houve um claro acréscimo das doenças ansiosas e depressivas com fenómenos de antecipação e medo. As fobias obsessivas em menor expressão, assim como as patologias paranóides.
Quanto à conflitualidade social, sinto-a hoje teimosamente residente e sem carecer de pandemias para se alimentar.
Como aconteceu a sua ligação aos Bombeiros da Guarda? Que balanço faz desse período?
Foi o Pedro Lopes e o Álvaro Guerreiro que me convidaram para integrar uma direção. Depois fiquei mais de vinte anos. É uma casa que ficou a fazer parte de mim como de muitos outros que por lá passaram.
Os bombeiros são simultaneamente homens e mulheres com um imenso espírito de solidariedade e entrega, como “vidrinhos” de uma sensibilidade ressentida. É como se uma cristalização da adolescência lhes ficasse agarrada à pele. É essa mistura mágica que faz aquela casa e o sentido a que se propõe.
Acha que o voluntariado está em crise?
Esta pergunta acrescenta novas nuances à resposta anterior. A crescente e necessária profissionalização dos bombeiros para que se ajustem à sempre velha e nova realidade do fogo, conduziu ao decréscimo do voluntariado tradicional.
Ainda assim continuo a acreditar nesta determinação estruturalmente humana. Enquanto houver uma criança de olhos desorbitados deslumbrada com a enormidade elegante dum carro de bombeiros, o voluntariado terá sempre um fogo interior que o move. E todas as formas de voluntariado carecem desse fogo interior que anule o individualismo e o alheamento.
Está profundamente ligado à criação do grupo de “Teatro à Vela” e do grupo coral “Recanto do Canto”. O que representaram para si, e para a Vela, estes dois grupos e qual a projeção que tiveram?
O que representaram para Vela, talvez não me caiba a mim a avaliação. É preciso que o tempo aglutine a distância e as memórias. O que representou para mim é um desassossego enorme de vivências e emoções. Vou aglutinar-me: tinha regressado de Coimbra com a família; a Vela ainda lambia as feridas de cisões políticas estéreis; o Álvaro era mordomo e desafiou me a escrever uma peça; lembrei-me da adolescência na quinta dos meus avós; do Padre Amarelo me vir buscar para entrar no teatro; fui à procura dos “velhos” que eu tinha visto em palco quando garoto; todos me disseram que sim; esbocei o projeto e li-o em grupo; no final vi algumas lágrimas, talvez estivesse certo; depois foi meter no palco avós, filhos e netos; a Taverna comportava a vida; transformou-se numa peregrinação de alegria que nos ultrapassou (e a mim, sobretudo).
O Recanto do Canto veio mais tarde como um complemento de disciplina e organização. O Mário Barreiros e a sua tranquilidade gentil levaram-nos a quatro vozes numa polifonia que mais tarde emudeceu, mas ainda a oiço na memória.
Escreveu e encenou três peças de teatro. O que significa para si o teatro e como vê hoje, à distância de alguns anos, estas peças e o sucesso que alcançaram?
Sim. A Taverna (en)cantada; o Sagrado e o profano e a Cesta de fantoches. A Taverna durou mais de doze anos e somou cinquenta e quatro representações em vários pontos do país. Éramos saltimbancos de alegria. Ver avós, filhos e netos, no mesmo palco, era uma gratificação extraordinária. Três dos que então chamávamos bando de estorninhos, começaram com seis anos e são hoje atores profissionais. Disse muitas vezes que era melhor plantar um alfobre do que comprar couves.
O teatro é ver num palco uma amostra da vida ou a própria vida; com a luz e a sombra; o delírio e a crueza; o amor e a indiferença; a esperança e a solidão; nós e os outros ou, sobretudo, o que os outros têm de nosso e nós temos dos outros. O teatro é sobretudo esta escola de estética com poesia por dentro do corpo.
Sinto hoje que, quando escrevi a Taverna, era um artesão ingénuo dos afetos e ainda hoje, por entre as penumbras do tempo, não me sinto muito diferente de mim.
E como vê, hoje, a cultura na Guarda e no interior do país?
Se me reportar há trinta e sete anos, quando vim de Coimbra, a decadência é notória ainda que com algumas flutuações. Então esta cidade fervilhava e nunca me senti órfão de Coimbra.
Assisti na Guarda a múltiplas manifestações culturais na sua mais diversa expressão. Esta dinâmica tinha o dedo e a obstinação do Américo Rodrigues. Há razões também de natureza demográfica e de modificação de hábitos.
As redes sociais não nos grudavam aos pequenos ecrãs como uma crescente clausura de alienados. Ao tempo, a desoras, com um grupo de amigos, para beber um fino no Zé da Praça ou no Caçador, era preciso ter a sorte de um lugar.
Ainda “permanece amante das palavras vadias”, como referia numa sua nota biográfica?
Permaneço, ainda que com menor densidade de momentos que há umas décadas atrás. Talvez me tornasse mais seletivo e conciso.
Normalmente escrevo por impulso e obedeço a chamamentos interiores ligados às coisas da vida (ou à vida das coisas). Isolo-me numa casa antiga, com a lareira por dentro da salamandra de inverno e com uma grande amplitude de músicas de referência a flutuar no espaço.
Depois é começar a ligar a filigrana das palavras com a delicadeza que elas merecem: são por natureza muito solidárias e atraem-se com a mesma multiplicidade de sentimentos que os humanos. Às vezes fazem-me chorar e isso significa que se agarraram a mim pela ponta dos dedos
Possui uma diversidade de contos e textos publicados em jornais e revistas. Para quando uma obra que reúna essa produção? E para quando um livro novo?
Nunca esteve nos meus horizontes a publicação. Mesmo quando saiu o “Litoral” foi um desafio teimoso do João Luís Neca, do Bando de Palmela.
Julgo ter sido o Vergílio Ferreira que um dia escreveu que mesmo aqueles que escrevem para a gaveta, estão sempre à espera que um dia lh’a abram. Eu escrevi muito para a gaveta e era a minha mulher que a arrumava e organizava. Mais tarde o meu filho disciplinou-me no computador, mas continua a ser a minha gaveta informática.
Sem falsa modéstia, é o momento em que escrevo - à mão - que me seduz e alimenta; depois, muito raramente revisito o que escrevi; tenho medo do desconsolo. Nos últimos tempos, por “encomenda” de um estorninho da Taverna, o Pedro Sousa do Acert de Tondela e dos Gambuzinos e Peobardos, tenho escrito textos para teatro, e não me desagrada a publicação oral.
Escrevia no seu livro “Litoral”: “quando regressei às origens nada de mim morreu. Vendo bem, aconteci de outra maneira”. A ligação ao seu Avó contribui para esse regresso? Que memórias guarda desses primeiros anos da sua infância?
E continuo a acontecer de outra maneira porque a vida nos chama de muitas encruzilhadas e distâncias. O regresso de Coimbra foi o fecho do triângulo. Nasci na quinta. Na Covilhã era uma criança urbana; pedia autorização para ir brincar para o Jardim com os amigos; Eu e o João éramos os acólitos da missa da tarde na igreja de São Francisco; o padre Lemos (que depois deixou de o ser) emprestou-nos, aos dois, com conhecimento dos pais, um livro sobre educação sexual para crianças; era o tempo do Vaticano II; mais tarde, pelas dezassete horas, já eu e o João tínhamos extorquido, às respetivas mães, vinte cinco tostões cada um, para jogar snooker no Ginásio Clube.
No fim de semana e nas férias lá vínhamos na camioneta do Tonico para a quinta. O meu avô era um pedagogo nato. Dotado de uma subtileza invulgar tinha o humor clarividente de Monsieur de la Palisse que denunciava a essência por detrás do óbvio. Com ele, desde muito pequeno, aprendi todos os trabalhos e ciclos rurais. Muito pequeno, saltei um dia para um cesto de uvas de mesa e comecei a pisá-las, imitando os homens no balceiro; indiferente ao meu orgulho, o meu avô passou por mim e disse à minha mãe: ó Clementina vai lá ver o Tó! E mais aqui não cabe do Homem que me ensinou a dimensão das pequenas coisas que ainda hoje preenchem a essência mais nobre do meu pensamento.
O que continua a representar para si a Vela, globalmente entendida?
A Vela era o meu lado rural e telúrico. Quando mais tarde, já na faculdade, me afundei nos livros do Torga (com quem um dia falei), tinha encontrado por inteiro o lado granítico da existência.
Os sítios do silêncio nos lilases do crepúsculo. E ainda hoje, quando olho para a Serra do Seixo, vejo o dedo gordo e indicador do meu avô a ensinar-me onde o Sol se punha no pino do verão; depois começava a pôr-se cada vez mais abaixo – dizia. Eu viria a aprender o que era um solstício; o meu avô não precisava disso para nada.
A Vela continua a ser isto: um mosaico imenso de memórias à solta e, claro os amigos com quem continuo a entusiasmar-me na liberdade livre de uma boa conversa.
O que pensa desta homenagem que lhe faz o Município da Guarda?
Ouvi um dia a Jairzinho, jogador de excelência da seleção canarinha campeã do mundo, que falar sobre nós é indigesto. O reconhecimento, não o nego, afaga a alma e dá consistência à identidade. Mas foi com muitos outros, no trilho profissional; nas aventuras culturais; na partilha mais abrangente da vida; foi com os outros que são parte de mim, que esta homenagem é parte deles.
H.S. /Correio da Guarda
Na próxima segunda-feira, dia 25 de novembro, vai ser reposto, na linha ferroviária da Beira Alta, o serviço de transporte de passageiros entre Celorico da Beira e Vilar Formoso,
"A reabertura desta ligação decorre da fase mais avançada de execução das empreitadas de modernização da Linha da Beira Alta entre Celorico da Beira e Guarda, que permite assegurar a reposição da circulação de comboios, com maiores níveis de qualidade, conforto e segurança ao serviço dos utilizadores do transporte ferroviário de passageiros", de acordo com informação divulgada pela IP.
As ligações aos comboios dos serviços Intercidades e Regional, no percurso Coimbra-Guarda, continuam a ser asseguradas através de serviço rodoviário de substituição.
“A Guarda e a sua Gente” é o título de uma pequena antologia, editada em 1988, baseada nas obras de Augusto Gil. Uma publicação que resultou do empenho de José Carreira Amarelo em contribuir para incrementar o interesse dos guardenses pela produção literária do autor da “Balada da Neve”.
“Os grandes homens enobrecem o berço em que nasceram pelas suas obras e agigantam-se nas cinzas em que repousam pela memória do seu povo. Augusto Gil é uma memória da Guarda.” Palavras que José Careira Amarelo deixou na introdução do referido livro, onde sublinhou o “preito de homenagem ao trovador sem escola”. No ano seguinte, e numa edição do Museu da Guarda anotou “Augusto Gil – cartas de amor”, missivas “nem breves nem secas como as que Camilo escreveu, mas manifesto clarão do lirismo e do estilo” do poeta que a cidade mais alta tem na galeria das suas personalidades mais ilustres.
Neste breve apontamento não é nosso objetivo falar de Augusto Gil, mas de José Miguel Carreira Amarelo; um distinto sacerdote, excecional professor, incansável investigador, dedicado estudioso da cultura regional, cidadão solidário, observador atento da comunidade onde exerceu a sua atividade. José Carreira Amarelo nasceu na aldeia de Marmeleiro (concelho da Guarda) em 22 de outubro de 1934 e faleceu no dia 12 de dezembro de 2000, em Coimbra. Para além da sua, reconhecida e apreciada atividade como sacerdote – cidadão simples, com uma grande humanidade e uma permanente disponibilidade para o próximo – sobressaiu também como docente e como homem de cultura.
Sempre discreto, declinava os protagonismos mediáticos ou as luzes da ribalta, optando antes pela entrega ao trabalho quotidiano, nas várias frentes do seu labor. “O Padre Amarelo era um homem excecional – e por qualidades de humildade e amor. Não lhe faltava perspicácia e sentido do dever e da responsabilidade, que, afinal, integravam o perfil de equilíbrio e de alguém principalmente atento aos outros. No entanto – eis a sua riqueza – desequilibrava-se. Não imitava os homens comuns – nem podia. Tímido, escrupuloso, vocacionado – chamado pela vocação de ser inteiro e bom”, como referiu o escritor Manuel Poppe, num dos seus livros.
Na área do ensino a presença de José Miguel Amarelo ficou bem marcada, como podem confirmar múltiplos e insuspeitos testemunhos; aliás, ao longo do seu percurso académico deixou indeléveis marcas da sua forma de ser e outrossim do seu saber, entregando-se à descoberta constante dos valores e expoentes culturais desta região. “O Dr. Amarelo estava interiormente convencido de que a Igreja só foi aceite quando se voltou para a cultura que constituiu a sua riqueza e atração. A história o confirma desde os seus começos, com a fundação das escolas paroquiais e episcopais e as primeiras universidades. Talvez por isso e por outros motivos aliou a sua missão eclesial a um trabalho honesto de intelectual persistente e inovador”, realçava Júlio Pinheiro (seu amigo, docente e também sacerdote) na publicação de homenagem editado pela (à altura) Escola Superior de Educação (ESE) do IPG, em dezembro de 2003.
O teatro popular foi uma das temáticas que o entusiasmou, com particular incidência nas tradições de Pousade, freguesia do concelho da Guarda; nos dois volumes editados sobre o teatro popular, procurou, (como escreveu na apresentação do primeiro dos dois volumes) “salvar do naufrágio do esquecimento e da perda uma pequena parcela da nossa cultura popular e regional.”
“A Paixão”, “Acto de Adão e Eva”, “O Nascimento de Jesus Cristo”, “A Morte de Antípatro”, “A Vingança de Enoe” e “Mártires da Germânia” são elucidativos exemplos dessas representações populares que sustentaram o seu objetivo de revelar “a perenidade e prevalência do teatro de cariz popular a par de outro de carácter institucional”, convicto da subsistência, no país, de “representações populares dramáticas de carácter didático e formativo, de índole religiosa e profana, ora com objetivos apenas recreativos, ora com fins satíricos e moralizadores.”
Carreira Amarelo “ficará sempre como um exemplo, um homem de exceção, pelo seu desejo de saber, pela sua capacidade de ação, pelo seu espírito de serviço, pela sua procura de unificação, pela irradiação de uma bondade sem limites”, anotou Júlio Pinheiro. “Ele defendia os desprotegidos, ajudava os humildes em pequenas coisas que para eles eram cheias de dificuldades, quase intransponíveis, como ir às repartições, ou escrever cartas para o estrangeiro em várias línguas”. Um exemplo “de inteireza, de bondade e verdade”, considerou, por seu turno, Manuel Poppe.
Nestas breves notas , aproveitamos para relembrar que depois de ter deixado a Direção da Escola Superior de Educação, do Instituto Politécnico da Guarda, onde lecionou, desenvolvia uma cuidada investigação sobre “As Pastorais dos Bispos da Guarda”; tema da tese de doutoramento que se preparava – antes da sua morte – para discutir.
Este trabalho (que constitui um importante documento histórico-cultural da região, mormente sobre o período temporal escolhido) não deve ficar esquecido; é importante que mereça (como defendemos já há duas décadas…) a adequada e merecida divulgação, pois, para além do seu valor específico, perpetuará a memória do seu autor e será um ato de justiça perante o demorado e meticuloso trabalho que precedeu a sua redação.
Naturalmente que não cabe nestas despretensiosas notas, nem é esse o intuito, a descrição do perfil de José Carreira Amarelo; todos quantos com ele conviveram, trabalharam ou se cruzaram certamente que não o esquecem, mas é igualmente importante que, coletivamente, valorizemos o seu exemplo, o seu contributo cívico e cultural. É um dever de memória…
Hélder Sequeira
A Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte, I.P. (CCDR-NORTE, I.P.) propôs ao Património Cultural, I.P. a classificação do Sítio Arqueológico do Prazo, localizada em Freixo de Numão, no concelho de Vila Nova de Foz Côa, distrito da Guarda.
“Esta medida visa proteger um notável património da região do Douro Superior, testemunho de uma villa romana e de uma basílica cristã medieval, entre outros valores, e criar as condições para a sua conservação e valorização”, explica o Vice-Presidente da CCDR NORTE para a Cultura e o Património, Jorge Sobrado.
Descoberta em meados do século XX durante o plantio de amendoeiras, a estação arqueológica foi alvo de intensa investigação durante os anos 80 e 90 do século passado e início do século XXI, impulsionada pelos trabalhos do arqueólogo António Sá Coixão.
O Prazo é um complexo arqueológico composto de materialidades notáveis, testemunho da forma como diferentes grupos humanos se apropriaram e construíram esta paisagem, desde a época pré-histórica até à história recente. De entre os vestígios conhecidos destacam-se, pela sua monumentalidade, os vestígios da villa romana (séculos I-IV d.C.) a par da Basílica e cemitério medievais (séculos IV-XIII). Parte dos materiais arqueológicos recuperados durante as diversas campanhas de escavação podem também ser visitados no Museu da Casa Grande, em Freixo de Numão.
A classificação do Prazo tem como objetivo garantir a preservação do sítio, assegurando que intervenções futuras e atividades na área respeitem o valor histórico e cultural do local, assim como as condições da sua justa valorização cultural, comunitária e turística. A proposta tem por base os estudos arqueológicos produzidos, dos quais resulta a inequívoca importância desta estação no contexto da Arqueologia no Norte de Portugal.
Para a CCDR NORTE, a salvaguarda e valorização deste sítio é um contributo relevante para a promoção patrimonial e cultural do Douro e de toda a Região Norte.
Fonte: CCDR NORTE
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