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O recente Festival do Cobertor de Papa, realizado na localidade de Maçainhas de Baixo (Guarda) alertou a comunidade regional para o risco de extinção de um ecossistema enraizado nestas terras beirãs.
O cobertor de papa é uma manta tradicional da zona da Serra da Estrela, produzida – há vários séculos – a partir da lã churra (mais macia) que é retirada de ovelhas autóctones (ovelha mondegueira).
Após o necessário tratamento, a lã é tecida em teares artesanais e de acordo com métodos tradicionais, associando cores e desenhos com perfil diferenciador. O processo termina com o esticar dos cobertores nas “râmbolas” onde secam, ao ar livre, e adquirem o seu aspeto final.
Existem o cobertor branco com três listas castanhas, a manta barrenta ou manta do pastor, a manta lobeira ou manta espanhola, o cobertor branco, o cobertor bordado à mão e o cobertor de papa em várias cores (com o seu conhecido pelo comprido).
O seu uso não se fica apenas pela utilização como elemento de conforto térmico (na cama o seu pelo denso e pesado facilita a transpiração durante o sono e puxa a humidade para a superfície exterior do cobertor), mas passa também por distinto complemento de decoração de interiores.
A Associação Genuíno Cobertor da Papa, sediada naquela localidade, tem nos seus objetivos a produção daquele autêntico produto e a garantia da sua autenticidade, estando atualmente empenhada em alcançar a certificação daquele cobertor. O declínio da indústria da lã e o surgimento de fibras sintéticas originaram um cenário onde quase se desenhou a sua extinção.
O processo de certificação – em curso – exige, obviamente, muito trabalho e as indispensáveis verbas, incompatíveis com os recursos financeiros daquela associação, como aliás foi sublinhado no decorrer do festival anteriormente mencionado.
Elisa Pinheiro, que desenvolveu trabalhos de pesquisa sobre o cobertor de papa, assinalou-o como “produto final de um longo processo que plasma uma densidade de memórias, sejam elas as dos homens que os produziram, sejam daqueles que, ao longo dos tempos, os consumiram, uns e outros unidos pelos fios de lã que os teceram, num tempo longo da nossa história dos lanifícios”, sublinhando o seu enquadramento “em práticas ancestrais que importa salvaguardar”. Deste modo, é urgente preservá-lo, defender a sua autenticidade, a par de permanentes ações de valorização e promoção.
Este não é um trabalho simples, pois há que equacionar múltiplas realidades e condicionantes, como sejam a necessidade da existência de mais rebanhos de ovelhas autóctones – o que implica olhar com objetividade para a realidade agrícola, para as dificuldades relacionadas com a criação e alimentação dos animais, para o número de pessoas que se dedicam ao pastoreio e ao ciclo da produção de queijo, para as consequências das alterações climáticas que têm condicionado as áreas de pastagens e aumentado as dificuldades ao nível económico/financeiro) – , mais gente a trabalhar no campo e a saber valorizar/rentabilizar as potencialidades endógenas, uma maior consciencialização de todos no que concerne à qualidade e valor dos nossos produtos regionais, optando pela sua compra e incrementando a economia local/regional.
O incentivo e apoio a projetos (como este da revitalização do genuíno cobertor de papa, cuja produção é feita, naturalmente, numa escala consentânea com a dimensão dos recursos atuais, e em função da evolução do número de encomendas) não devem ficar apenas pelas amáveis palavras de circunstância, pelas manifestações de simpatia nas redes sociais ou pela presença (também importante, claro) em ações de sensibilização ou divulgação.
É fundamental o apoio das entidades em cuja área de competência ou influência se pode inscrever a ajuda necessária (e justa), a ação dos media na informação e divulgação dos produtos genuinamente regionais, a necessária transmissão aos mais jovens do saber fazer, o envolvimento da investigação académica, uma atitude ativa dos consumidores na preferência daquilo que tem alta qualidade e matriz tradicional e portuguesa.
Helder Sequeira
in O INTERIOR, 27/09/2023
A Rádio Altitude é uma emissora associada a muitas vozes e rostos, a sonhos, diferenciados contributos, afetos e ideias. Emílio Aragonez (com quem trabalhei largos anos) é uma grata referência no historial desta estação.
Emílio Aragonez – que hoje comemora mais um aniversário – foi, durante décadas, uma das vozes mais populares das emissões radiofónicas feitas, em onda média, a partir da cidade mais alta de Portugal.
Nascido no ano de 1934 (21 de setembro), em Portalegre, António Emílio Carrajola Aragonez veio para a Guarda com a idade de cinco anos; posteriormente, face às contingências resultantes da atividade profissional do pai, foi viver para Cascais, Pinhel, Peniche e Seia, após o que ocorreu o regresso definitivo à Guarda.
Com onze anos começou a trabalhar na Ourivesaria Correia, na Guarda. “Fui para lá ganhar 80 escudos por mês e passados dois meses fui aumentado para cem”. As aulas no Liceu ficaram para trás, pois os horários não eram compatíveis com o trabalho; o estudo circunscreveu-se ao período da noite. Emílio Aragonez frequentou o Colégio de S. José, a Escola Comercial e Industrial e a Escola dos Gaiatos, nesta cidade.
Aos dezoito anos abriu o seu primeiro estabelecimento comercial, na Rua 31 de Janeiro. Três anos depois mudou-se para a Rua do Campo, instalando-se no antigo espaço da Espingardaria Sport, que pertencera a um antigo chefe da Polícia; iniciava-se um ciclo de atividades na área da relojoaria e ótica; contudo, circunstâncias diversas contribuíram, muitos anos depois, para o abandono da vida comercial e empresarial. Ficou, deste modo, aberto o caminho para uma dedicação total ao jornalismo e à rádio.
Desde os dezanove anos que mantinha, aliás, uma permanente paixão pela Rádio Altitude, onde começou a colaborar no início da década de cinquenta. “Foi aberto concurso para pessoas externas ao Sanatório, concorri e fui admitido. Para mim era um desafio. Trabalhava durante o dia e à noite ia para a Rádio, a apresentar discos pedidos, que eram imensos. Contudo isto representava o início da concretização de um sonho, de estar ligado à rádio e à informação”.
Nos primórdios da sua atividade radiofónica teve por companheiros alguns dos internados no Sanatório Sousa Martins. “Havia, naturalmente, muito receio deste contacto com os doentes”, temor a que não escapava a própria cidade. Nessa época, as emissões da Rádio Altitude eram à noite, tendo depois passado a existir um espaço na hora do almoço. “Comecei também a fazer algumas das emissões desse horário, mas o trabalho mais alargado era aos fins-de-semana, dado que alguns doentes faltavam; havia um que tinha um programa desportivo, outro era responsável por um programa vocacionado para as questões culturais e um outro realizava o “Vento do Norte”, que foi um programa muito polémico”.
Predominavam os programas de discos pedidos, os quais registavam uma permanente avalanche de solicitações, cujo atendimento se ia prolongando por semanas sucessivas. “Eram tantos os pedidos e o espaço tão reduzido que era colocado um disco num dia e outros em programas posteriores. Por vez para se ouvirem quatro dedicatórias tinha de se esperar um mês”, lembra Emílio Aragonez, mais tarde rendido ao fascínio das reportagens.
Nesse período, e anos subsequentes, havia regras rígidas relativamente às emissões radiofónicas e, como aconteceu até ao 25 de Abril de 1974, a polícia política estava sempre atenta, e atuante. Mesmo assim, Emílio Aragonez desvaloriza essa interferência. “As notícias que eram transmitidas, nos primeiros tempos, eram baseadas nos jornais e estes já tinham passado pela censura”. O que não impediu diversas chamadas de atenção por parte do Administrador ou Diretor da Rádio, e a deslocação, por duas vezes, às instalações de P.I.D.E., contudo sem quaisquer consequências.
A seguir ao 25 de Abril, a estação viveu momentos de grande agitação e geraram-se tentativas de “tomar o Altitude”. “Alguns dias após a data da revolução cheguei a estar 24 horas sem poder sair da Rádio, por imposição do MFA, onde esteve uma força militar comandada pelo alferes Pardalejo”. Ainda hoje não tem uma explicação cabal para esse facto.
Pessoa de improviso fácil, e anotações rápidas, Emílio Aragonez assegurava os diretos da rádio de uma forma atrativa, suscitando o interesse informativo, curiosidade e audição atenta. A Rádio foi, sem reservas, uma grande afeição da sua vida, feita de trabalhos, desencontros, incompreensões silêncios, amarguras e felicidade; vida simultaneamente enraizada em convicções e em princípios, passando ao lado, de eventuais críticas ou atitudes injustificadas.
Ao longo de décadas deu voz à notícia, trouxe à luz da ribalta questões tantas vezes ignoradas; desencadeou o confronto de opiniões, denunciou injustiças, foi porta-voz de múltiplas aspirações de terras e gentes. “Estive, sempre, na vanguarda da informação, sem nunca hipotecar a minha consciência profissional nem trair os meus princípios”.
Emílio Aragonez assumiu o jornalismo e a rádio sem nunca esquecer a função social subjacente; o que, aliás, foi sempre reconhecido pelos ouvintes, a quem nunca negou a sua presença, e voz, mesmo em situações nas quais motivos de ordem pessoal, o cansaço ou a doença aconselhavam repouso. “Muitas vezes acabava por dormir na Rádio, nomeadamente quando vinha às tantas da noite de alguma reportagem e tinha de abrir a emissão no dia seguinte”.
O nascimento de Emílio Aragonez para a rádio, e a projeção que alcançou através desta emissora, ocorreu na época das emissões em onda média, quando a frequência modulada estava longe de ser uma realidade na estação CSB-21, o indicativo atribuído à Rádio da mais alta cidade portuguesa.
Emílio Aragonez disse-nos ter havido um largo período “em que os outros tinham um certo receio de levantar os problemas. Eu dei sempre a cara, mesmo sabendo que iria sofrer dissabores; não só eu como a minha família.” Embora a faceta de jornalista seja a mais conhecida, era um intransigente defensor da música portuguesa, presença constante nos espaços radiofónicos por ele animados (é o caso do popular programa Domingo a Domingo), sem cair no gosto medíocre.
A sua aparência descontraída, porventura mesmo descuidada, reflexo da sua peculiar forma de ser e do desprendimento pelos bens materiais, não raro originava humorísticos episódios, partilhados depois nos círculos de colegas e amigos, os quais facilmente lhe reconhecem mais virtudes do que defeitos.
A Rádio Altitude representa para Emílio Aragonez “praticamente uma vida toda. Uma pessoa que entra para ali aos 19 anos e fica lá até aos 68 obviamente que representa tudo”, dizia-nos há algum tempo atrás. “Esqueci-me muitas vezes que tinha família, esqueci-me dos amigos e vivia para o Altitude. Era tudo para mim!...”.
Emílio Aragonez, hoje desligado da atividade radiofónica devido à sua idade é uma memória viva da Rádio e da Guarda – das suas estórias e tradições – igual a si próprio, referência de um tempo cúmplice das ondas hertzianas, quais laços de solidariedade com a cidade e a Beira Serra.
Parabéns, Emílio Aragonez. Feliz dia de Aniversário.
Hélder Sequeira
O Circuito das Beiras, prova desenhada por Tavares de Melo, passou hoje pela Guarda, onde terminou a etapa iniciada em Castelo Branco. Amanhã será também na cidade mais alta de Portugal que será dada a partida para o percurso até Coimbra.
Esta iniciativa tem por objetivo recriar a primeira prova automobilística por etapas, vencida por José Caetano Tavares de Melo há 120 anos, e percorrer um total de 440 quilómetros ao longo de Coimbra, Castelo Branco, Guarda e Coimbra. A caravana é composta por viaturas clássicas.
O Circuito das Beiras é uma organização do Clube Escape Livre, que conta com o apoio das Câmaras municipais da Guarda, de Coimbra – onde se iniciou o circuito – e de Castelo Branco. O trajeto desta prova é igual ao percorrido em 1903.
Em Sortelha (concelho do Sabugal) vai decorrer de 15 a 17 de setembro a décima primeira edição do evento “Muralhas com história” que levará os visitantes até ao reinado de D. Afonso III (O Bolonhês) Rei de Portugal e dos Algarves.
“A viagem ao quotidiano medieval será complementada com recriação histórica, mercado medieval, acampamento militar, ofícios e vivências, cetraria e animais da quinta, ritmos medievais, artes circenses, torneios de armas a pé e a cavalo, jogos medievais e animação contínua ‘pera cá e pera lá”, como refere a organização.
Trata-se de uma iniciativa da Câmara Municipal do Sabugal em parceria com as Aldeias Históricas de Portugal, Junta de Freguesia de Sortelha e Associações Locais. Este ano a atividade de recriação histórica conta com ‘Sê-lo Verde’, uma iniciativa do Fundo Ambiental, “que vem reforçar o compromisso assumido pela Câmara Municipal em implementar uma estratégia ambientalmente mais sustentável”.
A pulseira de acesso ao evento tem um custo de 2 euros, sendo gratuita para crianças até aos 12 anos (inclusive), desde que acompanhadas por um adulto. Podem ser adquiridas online, aqui, e nos diversos pontos de venda associados (FNAC, Worten, El Corte Inglés, CTT Correios, Quiosques Serveasy, entre outro) ou durante o evento, na bilheteira local. O programa está disponível no site do município sabugalense.
O Conselho Mundial de Geoparks da UNESCO, reunido ontem em Marrocos, propôs, por unanimidade, o Cartão Verde ao Estrela Geopark, revalidando a classificação. A informação foi divulgada na página do Estrela Geopark.
A Associação Geopark Estrela (AGE) é uma associação de direito privado, sem fins lucrativos, com objetivos de utilidade pública e com sede em Manteigas. Tem com objetivos promover e realizar ações tendentes a um desenvolvimento socioeconómico, cultural e ambiental, sustentável e equilibrado dos municípios e da região Serra da Estrela, nomeadamente através da gestão da área classificada de “Geopark Mundial da UNESCO”; conservar, promover e valorizar o seu património cultural, natural e geológico; prromover um turismo sustentável; potenciar o desenvolvimento de atividades económicas locais e fomentar as atividades tradicionais; realizar ações de proteção, conservação e divulgação do património natural, com especial ênfase no Património Geológico e, entre outros, colaborar com entidades, públicas ou privadas, que se integram no âmbito das atribuições do Geopark.
Fonte e foto: Estrela Geopark
Na cidade de Seia vai decorrer, de 5 e 13 de outubro, a 29ª edição do CineEco – Festival Internacional de Cinema Ambiental da Serra da Estrela. O festival terá lugar na Casa Municipal da Cultura e este ano assenta numa maior aposta em obras cinematográficas.
O CineEco é um evento cultural de natureza internacional de temática ambiental, organizado pelo Município de Seia desde 1995 de forma ininterrupta. Em todas as edições e em todas as secções ou atividades a entrada é gratuita, prestando um serviço público.
É o único festival de cinema exclusivamente ambiental em Portugal e um dos festivais de cinema de ambiente mais antigos do mundo. Através das experiências multiculturais, o CineEco ajuda a descrever e compor um panorama do pensamento mundial atual sobre estas questões e proporciona aos espetadores momentos de conhecimento e reflexão, com a ambição de gerar comportamentos transformadores e de participação.
Concorreram cerca de 300 filmes dos vários cantos do mundo, tendo sido selecionados 66, de 27 países diferentes.
No festival, é já frequente poder assistir-se a antestreias nacionais ou mundiais de alguns filmes dedicados ao tema ambiental, como aconteceu com EO de Jerzy Skolimowski em 2022, ou mesmo a filmes que se revelaram depois ser o primeiro filme candidato a Óscar, como foi o caso de Ice Merchants de João Gonzalez, em 2022.
Ao longo de cada edição, para além das várias secções competitivas, organiza um conjunto de atividades, onde se incluem conversas com realizadores, exposições, ações de educação ambiental com escolas, entre outros, contribuindo para uma cidadania ativa no domínio do desenvolvimento sustentável e valorização do território e enriquecimento do conhecimento ambiental e cinematográfico.
Realiza ao longo do ano, uma vasta rede de extensões por todo o país, proporcionando ao público filmes desta temática, constituindo-se como um dos muitos fatores diferenciadores do festival.
O CineEco é membro fundador da Green Film Network, uma plataforma de 39 festivais de cinema ambiental, sendo organizado pelo Município de Seia e conta com o Alto Patrocínio do Presidente da República e do Departamento de Ambiente das Nações Unidas. Conta ainda com a Lipor como patrocinador principal e com o apoio financeiro da DGArtes.
Em Maçainhas (Guarda) termina hoje, 3 de setembro, o Festival do Cobertor de Papa, organizado pela Associação Genuíno Cobertor de Papa, em colaboração com a autarquia guardense, Junta de Freguesia e associações culturais. A iniciativa ocorre no âmbito dos Festivais de Cultura Popular do Município da Guarda.
Este Festival do Cobertor de Papa pretende divulgar e salvaguardar aquele produto através de um programa que integra debates, ateliers, exposições, mostra de artes e ofícios e música tradicional.
A Associação Genuíno Cobertor de Papa, constituída legalmente no ano de 2018 e com sede em Maçainhas de Baixo, tem como objetivo produzir o autêntico cobertor de papa e garantir a sua autenticidade.
O cobertor de papa é uma manta tradicional da Serra da Estrela, sendo produzida a partir da lã churra, proveniente das ovelhas autóctones (ovelha mondegueira) tratada e tecida em teares artesanais, segundo métodos tradicionais, “que fazem dele um produto de autenticidade reconhecida, desde a matéria-prima, técnicas de manufatura e cores e desenhos, fiel às tradições e à cultura popular.”
Fonte e foto: Museu da Guarda/CMG
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