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Uma centralidade esquecida…

por Correio da Guarda, em 24.10.22

 

Em 2007, aquando da comemoração do centésimo aniversário da inauguração do Sanatório Sousa Martins, o Governo de então, através do Ministro da Saúde (Correia de Campos), anunciava a continuidade da Maternidade da Guarda. Isto após a polémica surgida com um anunciado plano de reestruturação das maternidades, articulado com a constituição do Centro Hospitalar da Beira Interior, que integraria os hospitais da Guarda, Covilhã e Castelo Branco.

O Ministro da Saúde garantia que o Hospital da Guarda iria manter a sua maternidade, “por ser a de maior atividade de toda a Beira Interior”, deixando em aberto o futuro dos blocos de partos dos hospitais da Covilhã e de Castelo Branco, com a justificação (na altura) de que não era "uma matéria da competência do Governo", mas sim das respetivas administrações hospitalares.

Alicerçando as suas afirmações no projeto de requalificação que estava já anunciado, o ministro acrescentaria, nessa mesma sessão realizada nesta cidade, que "ao Governo não parece legítimo atrasar a Guarda por amor ao distrito irmão mais do Sul"…

Estávamos em 2007. Hoje, e como é do conhecimento dos leitores, o possível encerramento da Maternidade da Guarda volta à ordem do dia, após a proposta de encerramento da Comissão de Acompanhamento de Resposta às Urgências de Ginecologia/Obstetrícia. Após esta notícia, e conhecidas reações mais ou menos exacerbadas, o atual Ministro da Saúde (numa entrevista à RTP) assegurou que até ao final deste ano nenhuma maternidade vai encerrar… E em 2023?...

Ao fazermos uma retrospetiva das últimas décadas, e apesar das sucessivas promessas políticas, a Guarda tem “adoecido” progressivamente em matéria de saúde (para ficarmos por aqui…), numa área onde foi já cidade de referência nacional e internacional, escola de formação credenciada…Ironia do destino, tanto mais que se completam amanhã, 25 de outubro, 71 anos após a morte de uma personalidade que a cidade guarda na memória.

À última rainha de Portugal, D. Amélia, se deve aquele que foi, na primeira metade do século passado, um dos principais ex-libris da Guarda da saúde. De facto, o Sanatório Sousa Martins ficará perenemente ligado à Rainha D. Amélia, pelo eminente papel que teve na sua criação; empenhada nas causas sociais, dispensou particular atenção aos doentes e aos mais desfavorecidos.

Maria Amélia Bourbon e Orléans nasceu em Twickenham, arredores de Londres em 28 de setembro de 1865 (curiosamente o futuro marido, D. Carlos, nasceu também no mesmo dia, dois anos antes). A filha mais velha de Filipe de Orleans (conde de Paris e chefe da Casa Real de França) e de Isabel de Montpensier, que se encontravam, à altura, exilados em Inglaterra, apenas foi viver para França no ano de 1871. Nos anos seguintes, Amélia de Orleans viajou com frequência e frequentou os principais palácios das monarquias europeias; personagem culta, apreciava o teatro, a ópera, a pintura e a leitura, convivendo, em Paris, com os escritores mais eminentes da época.

Em 1886 conheceu D. Carlos, herdeiro da coroa portuguesa, de quem veio a ficar noiva, nesse mesmo ano; o casamento ocorreu em 22 de maio, em Lisboa, onde cedo manifestou as suas preocupações face ao flagelo da denominada “peste branca”. A sua atenção às questões culturais manifestou-se por diversas formas sendo a criação do Museu dos Coches Reais, em 1905, uma das mais expressivas traduções dessa postura. Amélia de Orleans viveu em Portugal entre 1886 e 1910, num período social e politicamente muito complexo, em que soube superar muitas contrariedades e definir uma estratégia de auxílio às camadas sociais com menores recursos. A Assistência Nacional aos Tuberculosos, de que o Sanatório da Guarda foi a primeira unidade hospitalar, constituiu, nesta matéria, uma das obras mais relevantes da Rainha D. Amélia.

Rainha D. Amélia.jpg

Para a tuberculose como para outros tantos males, há meios na ciência para, se não os conjurar, ao menos diminuir os seus estragos e remediar os seus efeitos”, como afirmou, em 1900, numa das suas intervenções públicas. Na sua cruzada contra a tuberculose, a Rainha procurou, por vários meios, canalizar recursos financeiros para combater a doença; a receita da venda do livro “O Paço de Sintra”, escrito a seu pedido pelo Conde de Sabugosa, e que foi ilustrado com desenhos feitos por D. Amélia, foi um dos muitos contributos para essa causa, de que o Sanatório da Guarda foi um destacado pilar.

A vida da Rainha ficou tristemente marcada pelo regicídio ocorrido, em Lisboa, em 1 de fevereiro de 1908, de que resultou a morte do Rei D. Carlos e do herdeiro D. Luís Filipe, Príncipe da Beira; com a aclamação de D. Manuel II, como Rei de Portugal, a 6 de maio de 1908, D. Amélia passou a colaborar nos atos da governação. Em julho de 1910, a Rainha, na qualidade de Presidente da ANT, veio de novo à cidade mais alta de Portugal, numa visita, muito discreta, ao Sanatório e à filha do Conde de Tarouca, que ali estava internada. Implantada a República, em 5 de outubro de 1910, a Rainha D. Amélia foi forçada ao exílio; começa por se instalar em Woodnorton (Inglaterra), residência do irmão, e em janeiro de 1911 passou a viver em Richmond Hill. No Verão de 1921 mudou-se para França; a nova residência situava-se em Chesnay (nas proximidades do Palácio de Versalhes), numa mansão designada por Château de Bellevue. Em 1939 foi convidada por Salazar para vir para Portugal, mas a Rainha não aceitou e passou os anos da segunda guerra mundial em França, onde não esqueceria as suas ligações ao nosso país, tendo hasteado mesmo a bandeira portuguesa na sua residência. Seis anos depois, em maio de 1945, veio a Portugal e foi recebida de forma apoteótica; entrou na fronteira de Vilar Formoso a 17 de Maio de 1945, na véspera de se comemorarem trinta e oito anos após a inauguração do Sanatório Sousa Martins.

A Rainha D. Amélia faleceu, em Chesnay (Versalhes) na manhã de 25 de outubro de 1951; o seu corpo seria transladado para Portugal, em Março de 1952, tendo ficado no Panteão Nacional. A Câmara Municipal da Guarda não esqueceu a importância que ela teve para a cidade e decidiu, a 5 de dezembro de 1951, atribuir o nome da última rainha de Portugal ao troço da estrada nacional nº 18 que ladeava o Sanatório e o extremo da Rua Batalha Reis.

Ao evocarmos esta efeméride estamos a relembrar um capítulo da história guardense, onde a luta pela existência de estruturas e serviços de saúde foi inquestionável, gerando uma centralidade que muitos ignoram ou esquecem; atitude que demonstrou ser possível a afirmação citadina, mesmo em conjunturas pouco favoráveis, por diferenciados fatores.

 

Helder Sequeira 

 

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publicado às 00:05

Pela cidade...

por Correio da Guarda, em 17.10.22

Alunas n.jpg

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publicado às 21:55

A Europa dos Escritores

por Correio da Guarda, em 15.10.22

 

"Leitura Infinita de 'As Cidades Invisíveis' de Italo Calvino" foi o tema da conferência proferida nesta quinta-feira, 13 de outubro, por Marco Lucchesi, na Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço. 

Esta iniciativa, promovida pela Câmara Municipal da Guarda, inseriu-se no Ciclo de Conferências Internacionais "A Europa dos Escritores". As conferências são também dirigidas aos jovens estudantes, havendo duas sessões na sala 'Tempo e Poesia' da BMEL: uma às 15h00 para o público mais jovem e outra às 18h00 para o público em geral e ambas com entrada livre.

O Ciclo de Conferências Internacionais: A Europa dos Escritores aborda temas da história das culturas e das cidades da Europa a partir de perspetivas relacionadas com obras literárias e dos seus autores, dando diretamente a palavra aos próprios escritores, mas também aos investigadores nas áreas da história das civilizações, da arte ou da teoria da cultura. Este Ciclo tem ainda em agenda, no dia 17 de novembro, uma conferência sobre as 'Representações da Guarda na obra de Augusto Gil', com a presença de Helder Sequeira e Thierry Proença dos Santos; no dia 13 de dezembro com Nuno Júdice com o tema 'A Cidade e a Poesia'.

A Europa dos Escritores é uma organização do Município da Guarda / Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço, com a coordenação ciêntifica de Jorge Maximino, em parceria com o Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, e conta com a colaboração do Instituto Politécnico da Guarda, dos Agrupamentos de Escolas da Sé e Escolas Afonso de Albuquerque da Guarda, da Rede Nacional de Bibliotecas Públicas e da Rede Intetermunicipal de Bibliotecas das Beiras e Serra da Estrela.​

 

fonte: CMG

 

 

 

 

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publicado às 12:42

Capela do Mileu

por Correio da Guarda, em 10.10.22

MILEU_Capela GRD HS.JPG Capela do Mileu, Guarda.

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publicado às 00:03

Ao encontro da Guarda...

por Correio da Guarda, em 03.10.22

 

“Discover Guarda” é uma nova proposta para (re)descobrir toda uma região onde a história, os monumentos de arquitetura militar, igrejas, o ambiente, a paisagem e a cultura cimentam toda uma identidade. “Uma região com tanto para descobrir e viver”, como é referido na capa de apresentação nova plataforma digital.

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Este é um trabalho da autoria de Carlos Martins que há dois anos começou a trabalhar neste projeto, o qual teve subjacente a preocupação em reunir “diversas informações relativas à Guarda” e sobretudo as fotografias que este guardense registou ao longo dos últimos dez anos.

“Queria um site que contivesse as informações organizadas e de fácil acesso. Com tantas informações e variáveis para gerir, foram muitas as vezes fiz e refiz tudo de raiz…. Muitas horas de trabalho…”, refere Carlos Martins

Adianta, entretanto, que este é um projeto em que aproveitou “para desenvolver vários tipos de conhecimento, tais como a programação informática, design gráfico, fotografia e cultural.”

O autor do Discover Guarda esclarece “que já tem muitas informações, mas também é bem certo que muitas outras faltam e faltarão. Este é um projeto inacabado que tem como objetivo ir desenvolvendo ao longo do tempo”.

Um trabalho sem dúvida com grande mérito e de inquestionável utilidade para quem quer (re)descobrir, sentir e viver esta região ímpar. Parabéns, Carlos Martins.

 

Helder Sequeira

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publicado às 00:01

Varanda...

por Correio da Guarda, em 02.10.22

Varanda _Guarda _HS .jpg 

Guarda. Rua da Fraternidade.

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publicado às 16:21

Encontros Alma por Almeida

por Correio da Guarda, em 01.10.22

 

A oitava edição dos “Encontros Alma por Almeida” está a decorrer naquela vila desde ontem e até amanhã, 2 de outubro.

ALMEIDA-HS.jpg

Os “Encontros Alma por Almeida” são uma iniciativa anual da Associação de Desenvolvimento das Encostas da Fonte Santa (ADEFS), organizados com o objetivo de despertar o interesse pelo património ambiental/ rural/cultural de Almeida enquanto espaço capaz de sensibilizar e motivar cidadãos do mundo a participarem na sua preservação/valorização e na sua dinamização económica.

Em cada ano têm um programa específico pretendendo-se, com o deste ano, proporcionar um encontro entre pessoas, ou com o nome Almeida ou de descendência almeidense ou com outras ligações a Almeida.

A edição de 2022 foca-se num projeto: “os Almeidas por Almeida”. O programa pode ser consultado aqui.

 

 

 

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publicado às 12:00


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