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A Câmara Municipal da Guarda e a Comissão Vitivinícola Regional da Beira Interior (CVRBI) vão promover, de 15 a 17 de julho, um novo projeto de promoção de vinhos e do território, designado "Guarda Wine Fest".
O evento, a realizar na Alameda de Santo André, reunirá cerca de 40 produtores de vinho da Beira Interior, a que se juntam representações de duas Denominações de Origem (DO) vizinhas – o Douro e o Dão. De recordar que no distrito da Guarda convivem as três DO, que estão na base de muitos dos mais entusiasmantes vinhos portugueses, por entre nomes incontornáveis e novos valores.
Os produtores representados apresentarão não só as novidades que estão a lançar no mercado, mas também vinhos icónicos, reconhecidos da generalidade dos consumidores. "Uma oportunidade única de interpelar os autores, captando mais facilmente castas e entendimentos de viticultura e de enologia, viajando no copo por uma multiplicidade de paisagens e lugares especiais", como referido a propósito desta iniciativa.
Nas 'Conversas sobre Vinho', especialistas convidados e provadores da Revista de Vinhos conduzirão os participantes pelos segredos de 'terroirs' de altitude, onde o granito, o xisto e até algum quartzo dão chão a grandes vinhos – pelo equilíbrio entre finura e textura, pela boa acidez natural que eleva o potencial de envelhecimento, pela propensão para harmonizações gastronómicas diversificadas.
O evento convidará dois conceituados chefes de cozinha a protagonizar sessões de show cooking, onde a mestria das técnicas culinárias exponenciará a autenticidade ímpar de produtos autóctones. Em simultâneo, três espaços de restauração estarão em funcionamento durante o evento, com propostas pensadas para exponenciar o melhor de dois mundos – vinho e gastronomia.
Fonte: CMG
O Dia Internacional dos Museus é hoje assinalado.
Criado em 1977 pelo Conselho Internacional de Museus (ICOM), este dia (18 de maio) pretende promover, junto da sociedade, uma reflexão sobre o papel dos museus no seu desenvolvimento.
Em 2022 o Dia Internacional dos Museus é assinalado sob o tema “O Poder dos Museus”, tendo subjacente a intenção de explorar o potencial dos museus para produzir mudanças positivas nas suas comunidades. Este objetivo desenvolve-se em três vertentes: o poder de alcançar a sustentabilidade; o poder de inovar nas áreas da digitalização e acessibilidade; o poder de reforçar a comunidade através da educação.
Em Portugal, nas últimas décadas, aumentou significativamente, o número de museus; o distrito da Guarda não ficou fora dessa tendência. A pandemia veio, entretanto, a colocar fortes constrangimentos aos museus, que perderam visitantes e receitas, obrigando à adoção de diferenciadas estratégias e planos.
Claro que a designação de museu implica ter em conta o perfil e as características da instituição museológica. De acordo com o ICOM, por museu deve entender-se “uma instituição permanente, sem fins lucrativos, que adquire, conserva, investiga, comunica e exibe para fins de estudo, educação e lazer, testemunhos materiais do homem e do seu meio”.
É inquestionável que o museu assume, cada vez mais, um eminente papel pedagógico e didático, afirmando-se, simultaneamente, como um eficaz meio de comunicação. Numa sociedade onde, face às transformações económicas, se dá uma maior atenção à ocupação dos tempos livres, ao turismo e à cultura, compreende-se que seja reforçado o papel dos museus como centros de conhecimento e de ofertas plurifacetadas, aproveitadas pela escola.
As conceções hodiernas do museu têm conduzido, nas últimas décadas, à criação de novos e inovadores espaços museológicos, de temáticas diferenciadas, e outrossim a uma nova prática na forma de expor os objetos e de os fazer “falar”. A nova museologia abriu promissores horizontes, mais abrangentes do grande público.
De um modo geral, as comunidades locais não geram mecanismo e atitudes de salvaguarda dos seus valores patrimoniais, já que do texto legal à atuação prática medeia, como sabemos, uma enorme distância. É que, muitas vezes, falta o primeiro impulso ou a consciência clara do caminho a seguir. É fundamental, neste contexto, desenvolver uma forte sensibilização, das pessoas e entidades, para que não se percam os valores existentes, assegurando a sua transmissão e conhecimento às gerações futuras.
O Museu está no centro deste processo e daí que o seu desenvolvimento tem de passar pelo apoio do público, do cidadão. O empenho e envolvimento dos amigos dos museus assegurará uma imagem diferente destas instituições junto da comunidade. O museu não é, hoje, “um mercado do tempo livre”, na elucidativa expressão de Francisca Hernández Hernández, mas um lugar de convivência e de encontro, na aceção mais lata da palavra. Assim, é fundamental que se amplie o número dos amigos dos museus e se valorizem, cada vez mais, estas instituições.
Nunca será demais sublinhar que “os museus são um importante meio de intercâmbio cultural, enriquecimento de culturas e desenvolvimento de compreensão mútua, cooperação e paz entre os povos”. Hoje, mais do que nunca, importa destacar a cooperação e a paz.
O Dia Internacional dos Museus é celebrado numa data particularmente importante para a Guarda; tenhamos em conta a inauguração do Sanatório Sousa Martins, em 18 de maio em 1907. Uma efeméride de que falamos já neste jornal e a qual gostaríamos de articular com a temática que temos estado a abordar. É que a ideia e a proposta de um Museu do Sanatório Sousa Martins parecem ter ficado pelo caminho…pesem os esforços e a investigação desenvolvida, mormente por Dulce Helena Borges (cujo trabalho é de toda a justiça relembrar).
Exposição sobre o Sanatório, realizada no Museu da Guarda (1994), dirigido, então, por Dulce Helena Borges.
Será oportuno recordar que, no ano 2000, uma comissão mandatada pela Administração do Hospital da Guarda efetuou o levantamento do espólio que seria destinado a um Museu do Sanatório Sousa. O que seria, desde logo, instituição única, com estas características, a nível nacional.
O trabalho desenvolvido, nessa altura, nos vários edifícios permitiu identificar e inventariar muitos objetos e equipamentos que pertenceram à antiga unidade de tratamento da tuberculose. A relação do material identificado, bem como as atas das reuniões da referida comissão foram oportunamente entregues à direção da unidade hospitalar em referência. Há anos, chegou a ser anunciada, na Guarda a criação do Museu da Saúde, que teria um âmbito nacional. Tempo depois, em Lisboa, foi assinado um protocolo entre o Instituto Nacional de Saúde “Doutor Ricardo Jorge” e a Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica com vista à implementação de um Museu da Saúde.
Face às mudanças físicas e estruturais operadas nos vários edifícios existentes no Parque da Saúde (e nas intenções que têm sido anunciadas, mas como intenções valem o que valem…), urge acautelar, salvaguardar, o espólio ainda existente, definindo séria e responsavelmente um espaço condizente; honrando também a memória de clínicos cuja atividade profissional engrandeceu a Guarda.
Por várias vezes aqui acentuámos a importância que tem o conhecimento de personalidades ligadas à Guarda, quer pelo nascimento, quer por laços afetivos ou profissionais. O reencontro com essas pessoas e a salvaguarda da sua memória e obra, viabiliza uma valorização citadina, numa simultânea homenagem a quem protagonizou a afirmação e o engrandecimento da cidade.
Fará, assim, todo o sentido recordar médico Lopo José de Figueiredo de Carvalho, a propósito do aniversário do seu nascimento, ocorrido no passado dia 3 de maio; um distinto clínico que está ligada à cidade da Guarda e ao Sanatório Sousa Martins, de que foi o primeiro diretor. Ainda no Parque da Saúde, o outrora denominado pavilhão novo, que ladeia atualmente a Av. Rainha D. Amélia, completa o 69º aniversário; foi inaugurado, a 31 de maio de 1953, ainda com Ladislau Patrício a dirigir o Sanatório.
Pavilhão D. António de Lencastre, um dos edifícios do Sanatório Sousa Martins (Guarda)
Neste Dia Internacional dos Museus, que evoca o poder da instituição museológica, não será despropositado desafiar entidades, investigadores e cidadãos a refletirem e agirem no sentido de não ser apagada uma importante página da história da Guarda do passado século, bem como da história da saúde e da tuberculose em particular.
Hélder Sequeira
O centésimo décimo quinto aniversário da inauguração do Sanatório da Guarda ocorre hoje, dia 18 de maio.
Esta instituição, recorde-se, foi uma das principais instituições de combate e tratamento da tuberculose em Portugal.
A designação de “Cidade da Saúde”, atribuída à Guarda, em muito se fica a dever à instituição que a marcou indelevelmente, ao longo de sete décadas, no século passado.
A Guarda foi, nessa época, uma das cidades mais procuradas do nosso país; a afluência de pessoas deixou inúmeros reflexos na sua vida económica, social e cultural.
A sua apologia como localidade “eficaz no tratamento da doença” foi feita por distintas figuras, pois era “a montanha mágica” junto à Serra. Muitas pessoas (provenientes de todo o país e mesmo do estrangeiro) subiam à cidade mais alta de Portugal com o objetivo de usufruírem do clima de montanha, praticando, assim, uma cura livre, não sendo seguidas ou apoiadas em cuidados médicos.
As deslocações para zonas propícias à terapêutica “de ares”, e a consequente permanência, contribuíram para o aparecimento de hotéis e pensões. Isto porque não havia, no início, as indispensáveis e adequadas unidades de tratamento; uma situação que originou fortes preocupações nas entidades oficiais.
No primeiro Congresso Português sobre Tuberculose, o médico Lopo de Carvalho tinha já destacado os processos profiláticos usados na Guarda.
Este médico foi um dos mais empenhados defensores da criação do Sanatório guardense (do qual viria a ser o primeiro direto), que seria inaugurado, a 18 de maio de 1907, com a presença do rei D. Carlos e da Rainha D. Amélia.
O fluxo de tuberculosos superou, largamente, as previsões, fazendo com que os pavilhões construídos se tornassem insuficientes perante a procura. O Pavilhão 1 teve de ser aumentado um ano depois, duplicando a sua capacidade.
Um novo pavilhão foi acrescentado, em 1953, aos três já existentes. O Sanatório Sousa Martins ganhou, consequentemente, maior dimensão e capacidade de tratamento dos tuberculosos.
Anotar a vergonhosa realidade dos antigos pavilhões e a passagem dos 115 anos após a inauguração deste Sanatório, não é um mero exercício de memória ritualista. É evidenciar o estado lastimoso em que se encontra o património físico de uma instituição com merecido relevo na história da saúde em Portugal.
Um Santório ligada à solidariedade, à cultura e à história da radiodifusão sonora portuguesa, mercê da emissora aqui criada (Rádio Altitude).
Como já tínhamos escrito, é mais do que tempo para soluções e iniciativas concretas, em prol da reabilitação e aproveitamento desta memória, agonizante, no centro da cidade mais alta de Portugal.
Hélder Sequeira
Por várias vezes acentuámos a importância que tem o conhecimento de personalidades ligadas à Guarda, quer pelo nascimento, quer por laços afetivos ou profissionais.
Como escrevemos, uma cidade, para além dos seus cartazes monumentais e artísticos mais emblemáticos, pode projetar-se por múltiplas referências a pessoas, que mercê das suas qualidades ou trabalho, nos mais variados campos, devem figurar da galeria de figuras ilustres.
O reencontro com essas personalidades e a salvaguarda da sua memória e obra, viabiliza uma valorização citadina, numa simultânea homenagem a quem protagonizou a afirmação e o engrandecimento da cidade.
Fará, assim, todo o sentido recordar – no dia do aniversário do seu nascimento - o médico Lopo José de Figueiredo de Carvalho; uma personalidade que está indissociavelmente ligada à cidade da Guarda e ao Sanatório Sousa Martins, de que foi o primeiro diretor.
Natural de localidade de Tojal (concelho do Satão), onde nasceu a 3 de maio de 1857, Lopo de Carvalho frequentou a Universidade de Coimbra e licenciou-se em Medicina no ano de 1883. Aluno brilhante, no final do curso foi convidado, pela sua Faculdade, a iniciar o doutoramento, proposta que declinou.
Nesse mesmo ano foi trabalhar para a Meda, como médico municipal; aí exerceu a sua atividade profissional, durante dois anos, prosseguida mais tarde na Guarda, passando ainda o seu percurso como clínico pelos Açores (Graciosa) e por Lisboa.
Com a fixação na Guarda (onde residiu até à sua morte) passou também a exercer as funções de professor do Liceu, à semelhança do que aconteceu com outras conhecidas figuras guardenses da época; cedo dedicou à causa da luta contra a tuberculose e a empenhar-se, ativamente, na criação de estruturas vocacionadas para o tratamento daquela doença, assim como no estabelecimento de normas e regulamentos sanitários.
“A defesa contra a tuberculose está regulamentada convenientemente, há muito tempo, na cidade da Guarda e em todo o distrito; o essencial é cumprir-se a lei e isso é da exclusiva competência das autoridades (…). É esta cidade a única no país que regulamentou a sua defesa contra a tuberculose. Os primeiros aparelhos de Trillat (pelo formol sobre pressão), para a desinfecção das casas e das roupas, que vieram para o nosso país foram adquiridos pela Câmara da Guarda por proposta minha”, escreveu aquele médico na resposta a acusações que lhe foram dirigidas por alguns articulistas da imprensa local, cujo entendimento sobre a importância do Sanatório divergia das ideias de Lopo de Carvalho e de quantos o acompanhavam na afirmação e desenvolvimento daquela unidade de saúde.
O primeiro diretor do Sanatório respondia aos seus críticos dizendo que “a higiene não se pode fazer somente em artigos de jornais e ofícios burocráticos. Para se fazer higiene é preciso gastar-se muita água e dinheiro”.
A “Curabilidade da Tuberculose Pulmonar”, trabalho apresentado no Congresso de Medicina de Lisboa, foi uma das suas mais aplaudidas intervenções em reuniões científicas, na maioria das quais levantou a bandeira das potencialidades da Guarda como cidade da saúde. Aquando do “Congresso de Tuberculose” realizado em Londres, em 1901, foi convidado por Sir William Broadbent para a vice-presidência honorária daquele evento científico.
Os seus esforços, conjugados com o apoio recebido da Assistência Nacional aos Tuberculosos, a que presidia a Rainha D. Amélia, conduziram à construção do Sanatório da Guarda, inaugurado em 18 de Maio de 1907.
Lopo de Carvalho seria agraciado, pelo Rei D. Carlos, com a Comenda de S. Tiago. “É de todo o ponto merecida a distinção, que recai sobre um verdadeiro homem de ciência, tisiólogo eminente, que tem sido, no nosso país, um dos mais denodados combatentes contra a tuberculose”, noticiou o Diário Ilustrado. Redator do jornal “Estudos Médicos”, assim como de “Coimbra Médica”, Lopo de Carvalho colaborou também com as publicações “Movimento Médico”, “Revista de Medicina e Cirurgia” e “Medicina Contemporânea”.
O seu consultório funcionou no edifício conhecido (na atual Rua Vasco da Gama) por Dispensário o qual doou, em 1932, ao Instituto de Assistência Nacional aos Tuberculosos; na rua que ostenta o seu nome existe uma casa que Leopoldina Lopo de Carvalho (a esposa deste médico) doou à cidade, com finalidades específicas; destinado, inicialmente a Arquivo Distrital nela funcionou um Jardim Infantil com o nome da benemérita senhora; hoje, o edifício ameaça ruína…
Lopo José de Carvalho (pai de outro conceituado clínico e professor universitário, Fausto Lopo de Carvalho) faleceu na Guarda a 6 de julho de 1922.
O jornal Distrito da Guarda, a propósito do seu falecimento, escreveu que “o nome do Dr. Lopo de Carvalho não se perde no passado; o que se perde é a sua inteligência e os seus vastos conhecimentos científicos”. O mesmo periódico, passados alguns anos, destacava os serviços “prestados a esta terra” pelo referido clínico. “E no estrangeiro, onde foi por várias vezes, tomando parte de congressos, ou em viagens de estudo, conhecia-se o seu nome em todas as estâncias de cura de tuberculose. Conhecia-se e admirava-se porque, nesta especialidade, o médico distinto pairava muito acima do normal”.
De entre os trabalhos publicados refiram-se “Seroterapia na Tuberculose Pulmonar”, “Uma Epidemia da Febre Tifóide”, “As causa da Febre Tifóide em Portugal” e “Tuberculosos Curados”, este em co-autoria com Amândio Paul, que lhe sucedeu na direção do Sanatório Sousa Martins.
Relembrar Lopo de Carvalho é reler uma importante página da história da Guarda do passado século, bem como da história da saúde e da tuberculose em particular.
Hélder Sequeira
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