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Na Guarda terá lugar amanhã a última Feira de Antiguidades e Colecionismo deste ano.
Como habitualmente, este certame - organizado pela Câmara Municipal da Guarda - decorrerá na Praça Luís de Camões (Praça Velha).
Recorde-se que estas feiras, na edição de 2024, foram iniciadas no mês de Abril.
No Café Concerto do Teatro Municipal da Guarda (TMG) está patente, até ao próximo dia 19 de outubro, a exposição “Que força é essa, amigo”, de Marta Nunes.
Esta é uma exposição de ilustrações com inéditos e originais sobre a força que impulsionou a revolução de 25 de Abril de 1974.
“Quantas pessoas foram precisas para derrubar o regime, quantas conhecemos e tantas outras das quais nunca ouvimos falar, mas que lutaram todos os dias para que fosse possível voltar a viver em Liberdade. Sendo a Liberdade de todos, o que fazemos para a preservar? De que forma lutaremos se amanhã nos víssemos privados dessa Liberdade que temos? Qual a tua Liberdade e que força é essa?”. Interrogações suscitadas pelos trabalhos expostos no Café Concerto do TMG.
O Comando Territorial da GNR da Guarda está a desenvolver, até ao próximo dia 15 de novembro, a Operação “Censos Sénior 2024”.
De acordo com a informação divulgada pela GNR, o objetivo é sensibilizar a população mais idosa para comportamentos de segurança, que permitam reduzir o risco dos idosos se tornarem vítimas de crimes, nomeadamente em situações de violência, de burla e furto.
Esta operação está a ser implementada através das Secções de Prevenção Criminal e Policiamento Comunitário (SPCPC), com ações de patrulhamento e de sensibilização à população mais idosa. Os militares dos SPCPC já começaram a realizar ações de sensibilização, visitas a centros de dia e sinalização de idosos por toda a área de ação do Comando.
O Comando Territorial da Guarda da GNR na edição de 2023 da Operação “Censos Sénior” sinalizou 5 477 idosos “que vivem sozinhos e/ou isolados, ou em situação de vulnerabilidade, em razão da sua condição física, psicológica, ou outra que possa colocar em causa a sua segurança, tendo sido as situações de maior vulnerabilidade reportadas às entidades competentes, sobretudo de apoio social, no sentido de fazer o seu acompanhamento futuro.”
Foto (créditos): Comando Territorial da Guarda da GNR
Na Guarda, Parque Urbano do Rio Diz (zona do semicoberto), vai decorrer no próximo dia 5 de outubro, entre as 9 e as 13h a primeira edição do Mercado da Bagageira, uma iniciativa do município guardense que pretende promover a Economia Circular e que vai acontecer com uma periodicidade trimestral.
Este mercado tem como ideia base “trazer tudo o que não precisa e está a mais em casa ou na garagem e colocar dentro da mala do automóvel”. Das roupas aos acessórios, dos artigos de decoração ao mobiliário, dos livros aos brinquedos, discos ou até peças recicladas, tudo é válido para comprar, vender ou trocar.
Assim, é referido numa nota informativa, a Câmara Municipal da Guarda "promove a Economia Circular através da redução do consumo de novos produtos, reutilização, recuperação e reciclagem dos materiais e energia."
O objetivo é promover a exposição, compra, venda e troca de artigos em segunda mão, velharias, projetos originais e artigos reciclados, com a particularidade de serem transportados na bagageira de um automóvel. Os interessados em aderir à iniciativa, com venda de produtos, poderão fazê-lo através de formulário, disponível aqui.
"Até breve, tartaruga Toti" é o livro de Américo Rodrigues e Isabel Mota que será lançado em breve.
Este livro conta a história de um menino saotomense e uma tartaruga em vias de extinção e é escrito em santome (forro) e português. A publicação será entregue, gratuitamente, às escolas e jardins de infância de São Tomé e Príncipe através da Santa Casa da Misericórdia de STP.
Entretanto, para ser viabilizada a impressão deste livro os autores esperam contar com o apoio dos leitores, pelo que os donativos podem ser enviados (no prazo de quinze dias) para o mbway 910907727, indicando o nome e morada para posterior envio de um exemplar.
Os autores desejam que esta iniciativa não tenha ligações institucionais, daí que esperam reunir apoios solidários para concretizar o projeto.
No passado mês de fevereiro, Américo Rodrigues visitou São Tomé e Príncipe e foi convidado a contar uma história sua, no jardim de infância Baú dos Sonhos, na Madalena. As crianças receberam-no com alegria e ouviram com atenção e curiosidade “A bolota do Barroquinho”, o seu mais recente livro para crianças, do Américo.
No Jardim de Infância, o autor percebeu que os poucos livros infantis que havia (tal como o seu livro, que acabara de ler), não tinham nada a ver com a realidade e referências dos meninos e meninas de São Tomé.
Assim, Américo Rodrigues prometeu às crianças que iria escrever uma história para lhes oferecer, com personagens que lhes fossem familiares e cuja ação se passasse na ilha. Mais tarde, juntamente com Isabel Mota, visitou o projeto Tatô (desenvolvido por uma ONG que protege tartarugas) e acompanharam uma largada de tartarugas bebés para o mar. A partir daquela experiência surgiu a ideia para a história que o Américo tinha prometido.
Quando os dois autores chegaram a Portugal começaram a escrever a história da Tartaruga Toti. O entusiasmo e as ideias à volta do projeto foram crescendo e decidiram convidar um pintor de São Tomé, Osvaldo Reis, para ilustrar a história; Leonor Varo aceitou fazer o design do livro.
Sentindo que o livro “continuava a querer crescer” e resolveram pedir ao Professor Ayres Veríssimo Major (que dedica a vida à preservação das línguas originárias de São Tomé e que é responsável por um dicionário de santome) que traduzisse o texto.
O santome (forro), com uma gramática própria, é falada apenas na casa de algumas pessoas. As línguas autóctones foram-se perdendo, fruto da colonização que as quis apagar da memória coletiva e que fez com que as pessoas sentissem vergonha de as falar. Diante de tudo isto, os autores resolveram tornar este livro bilíngue, o que o torna uma publicação pioneira.
No próximo dia 10 de outubro, a cidade de Seia será palco da 30.ª edição do CineEco, um dos festivais de cinema ambiental mais antigos do mundo e o único em Portugal. Durante nove dias, a serra da Estrela, no coração de Portugal, será o cenário de uma intensa imersão nas problemáticas ambientais globais, com especial destaque para as alterações climáticas, cujas consequências moldam e influenciam o futuro do nosso planeta.
O festival inicia-se na noite de 10 de outubro com o CinceConcerto A Pedra Sonha Dar Flor, um filme realizado por Rodrigo Areias, acompanhado por uma performance de música ao vivo por Dada Garbeck. Ao longo dos dias seguintes, serão exibidas mais de 60 obras cinematográficas oriundas de 27 países, complementadas por atividades dedicadas à sensibilização ambiental, incluindo workshops, sessões de networking, debates com realizadores e várias manifestações artísticas.
“O CineEco reforça a cada edição o seu papel como promotor de uma programação cultural diversificada e de elevada qualidade ao mesmo tempo que fomenta a educação ambiental e contribui para o desenvolvimento de uma consciência ecológica mais profunda, tanto entre os residentes como entre os visitantes e participantes do festival. A participação ativa dos realizadores é crucial para alcançar estes objetivos”. É referido numa nota informativa enviada ao Correio da Guarda.
Este ano, mais de 16 realizadores e outras pessoas ligadas aos filmes em exibição, marcarão presença em Seia, durante a semana do Festival.
Destacam-se, entre eles: Petr Lom, realizador de I Am the River and The River is Me, e Nemanja Voljinovic de Bottlemen da Competição Internacional de Longas-Metragens; Rita Nunes e Miguel Nunes, realizadora e ator do filme O Melhor dos Mundos, Margarida Gramaxo, realizadora de Lindo, e Carlos Martínez-Peñalver de À Procura da Estrela, filmes incluídos na Competição de Longas-Metragens em Língua Portuguesa; e Marina Garcia Abreu, realizadora de Lobos e The Soul of Jasmine, ambos na Competição Internacional de Curtas e Médias-Metragens. Entre os convidados, sobressai a presença de Luís Filipe Rocha, um dos nomes proeminentes do Cinema Novo português e autor de Cerromaior, que será exibido este ano no contexto da Sessão de Clássicosl 'Ecos da montanha e da planície'.
Ainda no âmbito desta Sessão estará presente no Festival Sérgio Dias Branco, Professor Associado de Estudos Fílmicos na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, para um debate após a exibição do clássico Trás-os-Montes, de António Reis e Margarida Martins Cordeiro.
O filme Silvestres de Carolina Castro Almeida e Miguel Cortes Costa, uma sessão fora de competição, será exibido no dia 14 de outubro, às 14h30, e servirá de mote para uma conversa com os realizadores sobre a importância da biodiversidade urbana. Silvestres leva-nos numa viagem pela criação de um prado de flores silvestres no coração de Oeiras, com o objetivo de combater o declínio dos polinizadores. O filme retrata também outros esforços fascinantes, como a captura de uma coruja-das-torres que habita as estruturas históricas da Quinta do Marquês, simbolizando a resiliência da vida selvagem em ambientes urbanos. Silvestres oferece um retrato vibrante de uma cidade moldada pelo legado agrícola do Marquês de Pombal e pelo poder da ação coletiva, convidando o público a refletir sobre a harmonização entre o desenvolvimento urbano e o mundo natural nas suas próprias comunidades.
O Painel de Jurados conta com um conjunto de pessoas com ligação ao cinema e/ou ao ambiente. O júri da Competição Internacional de Longas-Metragens é composto por: Ágata de Pinho, atriz, escritora, realizadora e protagonista de filmes; André Guiomar, sócio fundador da produtora de cinema Olhar de Ulisses, realizador e produtor de filmes documentais; e Filipa Rosário, especialista em cinema português, investigadora auxiliar no Centro de Estudos Comparatistas da Universidade de Lisboa e coordenadora do GT Paisagem e Cinema da AIM – Associação dos Investigadores da Imagem em Movimento. Por seu lado, o júri das competições Internacional de Curtas e Médias-Metragens e Panorama Regional é constituído por: Carolina Castro Almeida, ilustradora, motion designer, animadora e produtora audiovisual, além de cofundadora da Lengalenga Filmes; Carlos Teófilo, professor aposentado, advogado e um rosto de Seia desde sempre ligado ao CineEco; e Nuno Barros, biólogo e representante da LIPOR, patrocinador principal do CineEco.
Já o júri das competições de Longas-Metragens em Língua Portuguesa e Curtas e Médias-Metragens em Língua Portuguesa conta com: Bárbara Bergamaschi Novaes, professora, realizadora e investigadora ítalo-brasileira, além de crítica de cinema, associada à ABRACCINE, e gestora de comunicação de ciência na ICNOVA -FCSH-NOVA de Lisboa; Cátia Biscaia, fotógrafa premiada, professora universitária, diretora do Leiria Film Fest – Festival Internacional de Curtas-Metragens, produtora, argumentista, assistente de imagem e realizadora; e Miguel Cortes Costa, biólogo de formação, é operador de câmara, co-realizador do filme Malcata: Conto de uma Serra Solitária (2020), que venceu o prémio Youth Television Award no CineEco, e de Silvestres (2024), em exibição nesta edição do festival, e fundador da Lengalenga Filmes, em conjunto com Carolina Castro Almeida.
Entre as atividades paralelas, destaque ainda para a apresentação de dois livros. No dia 15 de outubro, às 17h, na Biblioteca Municipal de Seia, Filipa Rosário e José Duarte apresentam a obra UM OLHAR PORTUGUÊS: Cinema e Natureza no Século XXI sobre a relação entre cinema e natureza. Já no dia 17 de outubro, às 15h, no mesmo local, será apresentado o livro Memórias, de Amândio Silva, cuja ligação forte a Seia e ao CineEco sempre foi marcada pela presença assídua no Festival ao longo de vários anos. Por sua vez, e porque este é um ano de homenagem às pessoas do território onde nasceu este evento pioneiro, a 30.ª edição do CineEco representa esta relação singular das gentes de Seia e a sua ligação com a natureza na comunicação do festival, estendida à instalação “30 edições. 30 rostos”, que estará na praça do Município, no decorrer do festival.
O CineEco – Festival Internacional de Cinema Ambiental da Serra da Estrela é o único festival de cinema em Portugal dedicado à temática ambiental, no seu sentido mais abrangente, que se realiza em Seia, anualmente em outubro e de forma ininterrupta, desde 1995, por iniciativa do Município de Seia.
Uma animação da Letónia, um cineconcerto português e a antestreia nacional do novo documentário do aclamado realizador norte-americano Oliver Stone completam a programação de filmes da 30.ª edição do CineEco – Festival Internacional de Cinema Ambiental da Serra da Estrela, A produção letã Flow, uma animação já premiada no Festival de Annecy e exibida no Festival de Cannes, junta-se à Competição Internacional de Longas-Metragens do CineEco 2024.
No encerramento, a 18 de outubro, o aclamado realizador norte-americano Oliver Stone contribui com mais uma das suas provocações, Energia Nuclear Já, que será exibido pela primeira vez em Portugal na Casa Municipal da Cultura. Neste documentário, que estreou no Festival de Veneza, o realizador propõe um novo olhar sobre a tecnologia atómica, para além dos fantasmas de aniquilação da Guerra Fria, e defende a energia nuclear como uma alternativa limpa e viável à crise energética global, abordando a temática a partir de uma perspetiva contemporânea e provocadora. Inspirado no livro Bright Future: How Some Countries Have Solved Climate Change and the Rest Can Follow de Joshua S. Goldstein, o documentário promete gerar debate e reflexão.
“O CineEco oferece ao público em geral um cinema de qualidade e cinematografias pouco conhecidas e alternativas em relação ao mercado tradicional.” Acrescenta a organização. O festival é organizado pelo Município de Seia e conta com o Alto Patrocínio do Presidente da República e do Departamento de Ambiente das Nações Unidas. Conta ainda com a Lipor como patrocinador principal e com o apoio financeiro da DGArtes. A curadoria do CineEco é de Cláudia Marques Santos, Daniel Oliveira e Tiago Fernandes Alves.
Uma equipa composta por alunos apoiados pela Associação Desenvolver o Talento (ADoT), com sede na Guarda ganhou o primeiro prémio “Novas Fronteiras da Engenharia_Alunos”, referente a ano 2024. Os alunos Rodrigo Rebelo Gonçalves (Escola Secundária Fernando Namora, Condeixa-a-Nova), Rodrigo Gaspar (Escola Secundária Campos Melo, Covilhã) e Rodrigo Cabral (Conservatório de Música da Covilhã), conquistaram o primeiro prémio deste concurso que é promovido pela Ordem dos Engenheiros Centro.
Os estudantes, que desenvolvem atividades na Associação Desenvolver o Talento (ADoT), Guarda, apresentaram o projeto intitulado “Junk4R - Aplicação baseada em Inteligência Artificial para o Design Sustentável de Artigos de Mobiliário ou de Decoração,” recebendo o prémio de 1200 Euros.
A Associação Desenvolver o Talento (ADoT), com sede na Guarda, apoia jovens com capacidades de excelência, não só da Guarda, mas de todos o País, promovendo atividades regulares ligadas à programação e robótica.
O projeto “Junk4R” promove a abordagem dos 4R – Reduzir, Reutilizar, Reciclar e Recuperar. A partir da submissão da imagem de um objeto, peça ou artigo sem uso ou descartável, das indicações do artigo de mobiliário ou decoração que se pretende criar e do seu estilo, é gerado pela aplicação o prompt a ser usado nas ferramentas de IA abertas do OpenAI, por uma biblioteca externa que facilita o uso da conexão entre a aplicação e o API. Estas ferramentas sugerem soluções criativas e sustentáveis, assim como as instruções detalhadas para transformar objetos considerados lixo em peças úteis e esteticamente agradáveis.
Para a ADoT, “este prémio representa não apenas um reconhecimento do talento e dedicação dos alunos, mas também a importância de iniciativas educacionais que incentivam a aplicação de tecnologias emergentes em prol da sustentabilidade e do desenvolvimento sustentável.”
No Museu da Guarda terá hoje lugar, a partir das 18 horas, a terceira “Conversa Aberta” sobre Médicos Ilustres na Guarda será dedicada ao médico Ladislau Patrício, terceiro diretor do Sanatório Sousa Martins.
Ladislau Patrício foi um distinto médico, apreciado escritor, humanista, acérrimo defensor da Guarda, biógrafo do poeta Augusto Gil (seu cunhado). Este, clínico que integrou a estrutura diretiva da Ordem dos Médicos, foi o proponente da criação da especialidade de Tisiologia.
A “Conversa Aberta” terá como moderador e palestrante Hélder Sequeira, que é o autor do livro "Ladislau Patrício - guardense, médico e escritor", publicado em 2004, e que é o primeiro volume da coleção "Gentes da Guarda".
Esta conversa aberta é promovida pela Secção Sub-Regional da Guarda da Ordem dos Médicos, em parceria com o Museu da Guarda.
Ladislau Fernando Patrício nasceu na Guarda, a 7 de dezembro de 1883. Com a implantação da República, este clínico teve uma fugaz passagem pela vida política; em 1910 aparece como Vice-Presidente da Comissão Executiva do Centro Republicano da Guarda, presidida por seu cunhado, o poeta Augusto Gil. Em 1911 esteve à frente dos destinos do município guardense.
De 1932 até de dezembro de 1953 dirigiu o Sanatório Sousa Martins. Na sequência de uma proposta do médico guardense foi criada, no âmbito da Ordem dos Médicos, a especialidade de Tisiologia, “com o acordo unânime dos membros do Conselho Geral”. Um dos seus principais sonhos concretizou-se em 31 de maio de 1953, com a inauguração do Pavilhão Novo do Sanatório Sousa Martins (paralelo à atual Avenida Rainha D. Amélia), um “edifício gigantesco com 250 metros de comprido e com 350 leitos destinados exclusivamente a doentes pobres”. Ladislau Patrício faleceu em dezembro de 1967.
O “Bacilo de Kock e o Homem” é uma das suas obras, de cariz científico mais divulgadas, a qual se integra na Biblioteca Cosmos, dirigida por Bento de Jesus Caraça; “Altitude: o espírito na Medicina” é outro dos mais significativos trabalhos de Ladislau Patrício.
Carlos Caetano, historiador e investigador na área de História da Arte, afirmava-nos recentemente (em entrevista ao Correio da Guarda) que “o património tem sido vítima da indiferença de quase todos (autoridades civis e eclesiásticas incluídas) mas também do snobismo cultural de muitos eruditos, que só têm tido olhos para as chamadas obras-primas”. Acrescentava, depois que “o património é um lastro urbanístico e construtivo (e imaterial também) que tem que ser visto na sua globalidade, o que nunca foi feito – nem na Guarda nem, entre nós, praticamente em lado nenhum, infelizmente”.
Natural de Trancoso, Carlos Caetano conhece muito bem a realidade distrital, onde tem desenvolvido uma variada e meticulosa investigação que lhe confirma a evidência. “O distrito e a diocese da Guarda detêm um património de uma valia inestimável, que se manifesta em obras de todo o tipo e em muito grande parte desconhecidas e ignoradas ou então desvalorizadas pelos historiadores”. Aludindo ao “extraordinário património religioso, militar e civil que o passado nos legou”, confessa que é difícil fazer escolhas ou distinções, mas lembra todo um “património urbanístico sensacional de cidades, vilas e aldeias do distrito, constituído por inúmeros conjuntos urbanos fabulosos e sempre esquecidos – conjuntos urbanos cuja valia urge reconhecer e conservar na sua dignidade e na sua harmonia tão ferida ou ameaçada, às vezes por intervenções feitas com as melhores intenções…”.
A ação urgente e pragmática das entidades que tutelam o património é um dos sublinhados que faz nessa entrevista, onde defende que “a curto, médio e longo prazo, há que intervir também a nível educativo, de uma forma informal ou sistemática, visando uma efetiva educação artística com uma forte componente patrimonial – um desígnio pedagógico dos mais prementes e dos mais difíceis de alcançar.”
No decorrer das investigações efetuadas, na nossa zona, tem tido várias surpresas, face a importantes peças do nosso património, de “uma valia inestimável, que se manifesta em obras de todo o tipo e em muito grande parte desconhecidas e ignoradas ou então desvalorizadas pelos historiadores e até por alguns eruditos locais. Destaquem-se os fragmentos de marcos miliários reciclados para novas funções: para poiais dos cântaros no chafariz de Cavadoude ou para servir de pia de água benta na igreja do Codesseiro. Surpresa absoluta, as magníficas traves mudéjares de início do século XVI que sobreviveram do forro quinhentista (hoje perdido) desta mesma igreja. Outra surpresa absoluta foi o conjunto extraordinário de igrejas leonesas que sobrevivem na Raia (Castelo Rodrigo, Escarigo, Mata de Lobos…), com características morfológicas únicas.”
Outra surpresa, destacou ainda, prende-se com “a abundância e a valia extraordinária de escultura pré-barroca, manifestada em relevos e em imagens de vulto, alguma dela atribuída a mestres alemães e sobretudo flamengos quinhentistas, alguns já identificados”; outrossim os dois “chafarizes extraordinários da Vela, presentemente remontados no terreiro fronteiro ao Lar da Misericórdia local, que faziam parte do conjunto que integrava o chafariz de Santo André, colocado na Alameda homónima da Guarda ainda na primeira metade do século passado. Ora, todo este conjunto de chafarizes, verdadeiramente monumental, fazia parte de um jardim barroco que há-de ter sido sumptuoso e que integrava mesmo uma extraordinária e raríssima “casa de fresco” que chegou até nós e que é a única que conhecemos na Beira Alta. Quanto às esculturas dos chafarizes da Vela, pela erudição, pelas pretensões, pela singularidade da sua iconografia e pelo refinamento da factura, parece poderem ser atribuídas aos grandes mestres que criaram e modelaram o Escadório do Bom Jesus de Braga, como espero mostrar em lugar próprio.”
O nosso património não pode ser arrumado para um canto, esperando melhores momentos ou aguardando predisposições pessoais e políticas, sob a oportunidade de agendas eleitorais, sempre com argumentos financeiros subjacentes no contraponto com outras necessidades prioritárias.
Claro que resolver problemas equacionados como prioridade para a comunidade regional não significa haver impedimento de, paralelamente, as entidades ou instituições responsáveis se empenharem na procura das melhores soluções e da sua concretização. Veja-se, a título de exemplo, o que tem sucedido com o património construído do Sanatório Sousa Martins; um progressivo, constrangedor e reprovável adiamento da salvaguarda dos antigos e emblemáticos pavilhões que integravam aquela reputada unidade de tratamento da tuberculose. E sim, o Sanatório Sousa Martins foi um ex-libris da Guarda, e não os seus pavilhões individualmente considerados, como ouvíamos recentemente pela voz de quem tem obrigação de conhecer, minimamente, a história do Sanatório da Guarda…
Ao longo das últimas cinco décadas houve muitas propostas e soluções apresentadas; assim não é por falta de diagnóstico, mas de tratamento, que a “saúde” dos pavilhões Rainha D. Amélia e D. António de Lencastre (na foto) não mereceu a mais que justa, premente e justificada atenção.
É contra esta indiferença – como era realçado no início deste apontamento de hoje – que temos de agir, sem tibiezas, em prol da salvaguarda e promoção do nosso património, globalmente entendido; numa atuação inequívoca, assente num espírito de diálogo crítico e construtivo, recusando o anonimato, mas privilegiando a frontalidade e seriedade. É fundamental que deixemos de ser “socialmente, uma coletividade pacífica de revoltados” nas expressivas palavras de Miguel Torga.
Saibamos valorizar o nosso património, conhecer o passado para melhor compreendermos e vivermos o presente, garantindo o seu legado para o futuro.
Hélder Sequeira
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