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Dia Mundial do Rádio

por Correio da Guarda, em 13.02.24

 

Hoje assinala-se o Dia Mundial do Rádio, data que foi assim designada, em 2011, pelos estados-membros da UNESCO. No ano seguinte esta escolha seria validada pela Assembleia Geral das Nações Unidas.

A opção por 13 de fevereiro fica a dever-se ao facto de ter sido nesse dia, em 1946, que a Rádio das Nações Unidas emitiu pela primeira vez um programa em simultâneo para um grupo de seis países.

Nesse mesmo ano, recorde-se, ocorriam na Guarda as primeiras experiências de radiodifusão sonora que estiveram na origem da Rádio Altitude. Assinalar esta efeméride é, também, exercer o dever de memória e relembrar o pioneirismo da mais alta cidade portuguesa no campo da radiodifusão sonora.

Estúdio da Rádio Altitude_onda média - HS.jpg Estúdio da Rádio Altitude (1979), emissão em onda média. 

 

Este ano, o tema do Dia Mundial do Rádio sublinhou “um século de informação, entretenimento e educação”, iluminando “o passado notável, o presente relevante e a promessa de um futuro dinâmico”, como foi referido numa nota informativa divulgada pela da UNESCO. “(…) A oportunidade oferecida pelo marco de mais de 100 anos do rádio merece ser propagada a todo volume. O centenário é uma ocasião para celebrar com orgulho as amplas virtudes e a potência contínua deste meio. O momento é oportuno, pois o rádio enfrenta desafios cada vez maiores em relação aos números de audiência e receita obtidas por plataformas digitais, redes sociais, divisões digitais e geracionais, ventos contrários da censura e, para alguns meios de comunicação, dívidas sufocantes, bem como dificuldades económicas exacerbadas por um mercado de publicidade fraco”. Um cenário sobre o qual já escrevemos recentemente.

A propósito da comemoração, em 2024, do Dia Mundial do Rádio, a UNESCO acentuou a “história indelével” deste meio de comunicação e seu “poderoso impacto nas notícias, teatro, música, desportos”, não deixando de aludir ao “valor utilitário atual do rádio como uma rede de segurança pública relativamente gratuita e portátil durante emergências”. Uma mais-valia a que não se tem dado a devida atenção, talvez pela confiança que se tem colocado noutras redes de transmissão, as quais, por várias vezes (grandes fogos florestais, por exemplo) demonstraram fragilidades. As emissoras de rádio, apoiadas e apetrechadas com os adequados geradores de emergência seriam, podem ser, mais uma eficaz antena para a proteção civil.

Por outro lado, para a comemoração do Dia Mundial do Rádio foi igualmente apontado como mote de reflexão “o valor democrático contínuo do rádio para servir como um catalisador de base para a conexão entre grupos carentes, incluindo imigrantes, religiosos, minorias e populações atingidas pela pobreza; e como um termómetro instantâneo da opinião pública expressa por meio dos auspícios da liberdade de expressão no espaço público”. A UNESCO, no texto divulgado a propósito do Dia Mundial do Rádio, considerou ser “uma conquista notável para um importante meio de comunicação de massa manter sua relevância após 100 anos e ainda ser uma força para a liberdade de expressão, alegria e conhecimento. Ao contarmos com orgulho sua história, vamos dar as boas-vindas ao futuro do rádio no próximo século.”

Celebrando o Rádio, este dia mundial teve entre os seus objetivos a consciencialização do público e dos media sobre o valor do serviço público de áudio, e o alerta para a importância do incremento de estações livres, independentes, pluralistas capazes de reforçarem o seu papel e poder no quadro de uma rede de cooperação internacional; facilitada hoje pelas tecnologias da informação e por uma diversificada gama de equipamentos, que garantem novas potencialidades, num tempo de enormes dificuldades e desafios, sobretudo nas regiões com menor densidade populacional.

Contudo, o tempo presente continua a ser do rádio, interventivo que saiba construir e lutar pelo futuro. Deverá ser também o tempo de darmos uma nova e objetiva atenção às estações de radiodifusão existentes no interior de Portugal. É também o tempo de serem apoiadas as estações que, apesar das múltiplas dificuldades continuam a emitir. Apoiar estas emissoras – como já tivemos a oportunidade de escrever noutras ocasiões – é um imperativo moral e ato de justiça, pelo seu papel de serviço público que desenvolvem em prol das populações. Em apontamentos anteriores falámos já das dificuldades crescentes com que, nos últimos nos, se têm vindo a debater as estações de rádio.

O debate em torno do perfil da rádio, na atualidade e no futuro, tem suscitado posturas diferenciadas, mas convergentes quanto à sua continuidade. Para alguns, a rádio tem de resistir à tentação de perder a sua credibilidade na concorrência diária que enfrenta com as redes sociais e media socias. Essa credibilidade passa pelo rigor e salvaguarda permanente da sua função informativa, pela ação ao nível do entretenimento, nas várias vertentes.

Tendo em consideração a constante evolução tecnológica e as tendências dos consumidores, é também defendido que caminhamos para a existência de menos rádios físicas e mais virtuais. Mas não se esqueça que a humanização da rádio é fundamental; as pessoas não podem ser afastadas do processo evolutivo e do plano radiofónico. Temas de reflexão que se juntam aos apresentados pela UNESCO a propósito do Dia Mundial do Rádio que se assinala hoje, como já dissemos.

O importante é que a o rádio seja de todos os dias, pois este meio de comunicação deve continuar a ser indissociável das nossas vidas.

 

Hélder Sequeira

 

 

 

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publicado às 08:30

Laços radiofónicos...

por Correio da Guarda, em 24.12.22

 

A quadra natalícia remete-nos para diversas celebrações, festividades, manifestações, reencontros e espírito familiar. Contudo suscita a lembrança do início da radiodifusão sonora.

Faz-nos recuar até 1906, à noite de 24 de dezembro, data em que foi emitido o primeiro programa de rádio do mundo. Pelo menos assim ficou registada a transmissão protagonizada por Reginald Fessenden, a partir de Brant Rock, nos Estados Unidos da América do Norte.

Previamente enviou uma mensagem, em morse, aos navios que se encontravam ao largo do oceano, alertando-os para uma mensagem importante.

Esta não teve como suporte o característico som da telegrafia sem fios, mas uma voz bem audível que lhes desejou um Natal Feliz. Nos recetores ouviram-se as notas musicais de um tema de Haendel, o trecho natalício Holly Night – tocado em violino – e a leitura de algumas passagens da Bíblia.

A emissão foi, para quem a escutou em alto mar, um imprevisto e distinto presente de Natal. A radiodifusão sonora deu, nesse momento, o seu primeiro passo através de um equipamento embrionário do sistema para emissão de voz pela telegrafia sem fios. O termo rádio, entendido como meio de comunicação, era inexistente nessa época, mas o conceito estava já subjacente nesse momento histórico e especial que desencadeou a abertura de novos horizontes.

No ano seguinte, Lee de Forest associou o telefone sem fios ao equipamento da marinha, viabilizando a escuta (em várias estações costeiras) dos sons emitidos por um fonógrafo.

Decorridos cento e dezasseis anos, a rádio continua a escutar o mundo, a esbater distâncias, a informar, a assegurar o entretenimento, a envolver pessoas independentemente do lugar onde se encontrem.

Estão já distantes os tempos dourados do da onda média que, noutros contextos económicos, sociais e tecnológicos se afirmou de forma inquestionável, assumindo-se como elo de ligação entre populações urbanas e rurais; remetendo para múltiplas realidades.

A Guarda faz parte da história da radiodifusão portuguesa, tendo escrito brilhantes páginas no capítulo das emissões em onda média, mercê do projeto radiofónico (Rádio Altitude) que nasceu no interior dos muros do Sanatório Sousa Martins e é um exemplo de longevidade.

A rádio é magia diária que importa revitalizar com ideias novas, adequação tecnológica, perceção atenta dos gostos e exigências dos ouvintes. As emissões radiofónicas passam hoje, em larga medida, pelo meio digital, num cada vez mais recorrente recurso às modernas aplicações e tecnologias. Atualmente deixa de fazer sentido o argumento de alguns que não acompanham, com regularidade, as emissões de rádio devido às más condições de receção, na tradicional sintonia.

Esquecem, ou querem esquecer, que a realidade é diferente. Evidenciam comodismo, equacionado mais como inconsistente justificação no alheamento perante a notícia, o acontecimento.

Estúdio - Home Studio  - fot Helder Sequeira.jpg

É um facto que a rádio – a sua forma de estar e responder – evoluiu e, felizmente, acaba por estar ainda mais perto e envolvendo de forma invisível o nosso quotidiano. Presença entendida como plena confirmação de que o meio rádio não pereceu perante o digital e as novas tecnologias; antes encontrou novos pilares de sustentabilidade e de maior interação com o seu público.

A generalidade dos equipamentos que usamos no dia-a-dia, como o telemóvel, o tablet ou outras expressões da materialização do progresso tecnológico, facilitam-nos e proporcionam o encontro com a rádio; para além das emissões em direto não se podem esquecer as vantagens proporcionadas pelo podcast.

Neste contexto, para além de acrescentarmos que esta é uma das novas virtualidades exploradas pela rádio, é oportuno anotar a necessidade da atempada disponibilização desses conteúdos.

É mais um fator determinante para a mudança de paradigma do perfil das estações locais, com afirmação de uma nova escala de audiências, independentemente da sua referência geográfica.

A rádio evoluirá garantidos que sejam conteúdos de interesse atual aferidos pelo profissionalismo e qualidade; conteúdos enquadrados em propostas que fidelizem e aumentem a audiência, sejam memória e atenta interpretação do presente; com rigor, objetividade.

A rádio aproxima-nos, convida – como no seu início – a partilhar o espírito do Natal, a despertar as nossas responsabilidades individuais na construção de uma sociedade mais fraterna, solidária, dinâmica.

Feliz Natal e um venturoso 2023!...

 

Helder Sequeira

 

 

 

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publicado às 20:00

Rádios: um importante papel social

por Correio da Guarda, em 16.02.22

 

No passado domingo, 13 de fevereiro, foi assinalado o Dia Mundial da Rádio. A designação desta data surgiu em 2011 na sequência da decisão dos estados-membros da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura – UNESCO. No ano seguinte, esta escolha seria validada pela Assembleia Geral das Nações Unidas.

A opção por 13 de fevereiro prende-se com o facto de ter sido neste dia, em 1946, que a Rádio das Nações Unidas emitiu, pela primeira vez, um programa em simultâneo para um grupo de seis países. De anotar que por esse ano ocorriam na Guarda, no interior do Sanatório Sousa Martins, as primeiras experiências de radiodifusão sonora, as quais estiveram na origem da Rádio Altitude (RA).

Evocarmos esta data é, também, exercer o dever de memória para com o pioneirismo da Guarda no campo da radiodifusão sonora; pioneirismo materializado num projeto definido, oficialmente, em 1948 com o início das emissões regulares desta emissora; estação que continua a emitir (agora em frequência modulada e não em onda média, como acontecia à época) a partir da mais alta cidade do país.

Emílio Aragonez no Estúdio da RA - decada de 70

É importante que a Guarda, a região e o país não esqueçam esta marca informativa, incontornável quando se evoca a história da rádio em Portugal; até porque estamos a falar de uma emissora que foi uma verdadeira escola de rádio e jornalismo, um espaço de aprendizagem prática, de criatividade, de superação constante dos desafios diários.

A polivalência de funções por que passavam profissionais e colaboradores traduziu-se numa maior capacidade de responder às solicitações do dia a dia da rádio, dos ouvintes, da região. A RA é uma emissora de muitas vozes e rostos, de sonhos, de diferenciados contributos, afetos, ideias, de originalidades, de presença e solidariedade. A sua génese, longevidade, o percurso ímpar e a matriz beirã conferem-lhe, no panorama das rádios portuguesas, um estatuto especial.

Hoje, e falando no geral, as emissões radiofónicas passam, em larga medida, pelo meio digital, num recurso cada vez mais ligado às modernas aplicações e tecnologias. A rádio, a sua forma de estar e responder evoluiu e, felizmente, acaba por estar ainda mais perto, envolvendo o nosso quotidiano; a sua presença pode ser avaliada como plena confirmação de que o meio rádio não pereceu perante o digital e as novas tecnologias. A rádio encontrou novos pilares de sustentabilidade e de maior interação com o seu público.

A generalidade dos equipamentos que usamos diariamente, desde logo o telemóvel, o tablet ou outras expressões da materialização do progresso tecnológico, facilitam-nos e proporcionam o encontro com a rádio, mas para além das emissões em direto não se podem esquecer as vantagens proporcionadas pelo podcast. Neste contexto, para além de evidenciarmos que esta é uma das novas virtualidades a explorar pela rádio, convém aludir à mudança de paradigma do perfil da rádio local.

Helder Sequeira - Rádio Altitude - HS .jpg

Contudo, a eminente função social da rádio deve continuar a prevalecer, mesmo face ao desenvolvimento das tecnologias da informação. A pluralidade de novos canais e plataformas de informação criou cenários completamente distintos, onde se torna imprescindível uma atitude de inequívoco profissionalismo, objetivos claros, qualidade de conteúdos, planos adequados e uma atenção permanente aos constantes desafios tecnológicos.

Esgotados muitos dos modelos tradicionais e modificados os graus de atenção e exigência por parte dos ouvintes, torna-se necessário aferir constantemente os projetos e acentuar o espírito criativo, empreendedor. Os desafios da Rádio são imensos; na atualidade não é apenas no plano das ondas hertzianas que tem de ser posicionada a proposta radiofónica: a rádio tem de assegurar uma estratégia rigorosa e clara e assertiva no vasto horizonte da emissão online.

O fortalecimento da sua presença será sustentado, em larga medida, pela atenção à realidade social, económica, cultural e política da região onde a rádio está sediada. As pessoas, para além do entretenimento ou companhia que a rádio lhes proporciona, querem boas condições de audição, uma informação rápida, em cima da hora ou do acontecimento de proximidade; como têm defendido vários investigadores da área dos media, “a força do jornalismo numa emissora de rádio local é o instrumento que lhe dá a sensação de plenitude local e regional”.

Os ouvintes anseiam igualmente por um interlocutor atento, objetivo e credível, uma rádio com gente dentro, de entrega a um serviço público, solidário, afetivo; uma rádio que questione, esclareça, atue pedagogicamente, aponte erros, noticie triunfos, sinta e transmita o pulsar dos territórios, chame a si novos públicos.

Sabemos – por um conjunto de razões, mormente de ordem económica e financeira – que não é um trabalho fácil, mas o êxito constrói-se com competência, perseverança, humildade, diálogo, criatividade e sentido de responsabilidade. Em especial numa época que atravessa ainda a pandemia; esta, como sabemos, implicou profundas e radicais transformações em muitos setores; originou mudanças de estratégias, alterou métodos de trabalho, questionou sobre os caminhos a seguir no futuro. A comunicação social, mormente a rádio, não ficou imune. Daí a necessidade de refletir, objetivamente, sobre as medidas a adotar e igualmente e outrossim sobre os conteúdos programáticos a distinguir ou a criar, pensando no global em não em restritos setores de audiência.

Temos vindo a assistir a uma mudança de opções por parte das pessoas ao nível dos destinos de lazer, dos objetivos pessoais, das condições de segurança sanitária e mesmo dos percursos profissionais. A rádio não pode ficar indiferente a esta nova realidade e deve assumir, também neste plano, o seu importante papel informativo e pedagógico.

A Rádio é memória, que deve exercitar em respeito pelos ouvintes, honrando o compromisso da sua missão, no âmbito do quadro legal estabelecido e salvaguardando sempre os direitos fundamentais.

Lembro que “Rádio e Confiança” foi o tema proposto este ano, pela UNESCO para a comemoração deste Dia Mundial da Rádio; aquela organização da ONU justificou que este meio é um dos mais confiáveis e acessíveis, segundo diversos relatórios internacionais.

Estúdio de Rádio -  Animadora de Emissão - fot

O tempo presente continua a ser da rádio! De uma rádio cada vez mais interventiva que saiba ler o presente e construir o futuro; deverá ser também o tempo para uma nova e objetiva atenção às estações de radiodifusão existentes no interior do país.

Muitas das rádios foram perdendo o dinamismo inicial, esbatendo a identidade, afastando-se do quadro legislativo que definiu os seus objetivos, reduzindo-se – em tantos e conhecidos casos – a uma humilde função de retransmissão de outros canais.

É também o tempo de serem apoiadas as estações que, apesar das múltiplas dificuldades continuam “no ar”, sendo apenas lembradas aquando de datas comemorativas, como a que foi assinalada a 13 de fevereiro.

Apoiar estas emissoras é um imperativo moral e ato de justiça, pelo seu papel de serviço público que desenvolvem em prol das populações.

 

Hélder Sequeira 

(in O Interior, 16.fev.2022)

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publicado às 18:05

Carlos Martins: a Rádio na vida e na memória

por Correio da Guarda, em 01.02.22

 

 

Embora o trabalho na Rádio não tenha sido a sua atividade principal, Carlos Martins não esquece a marca que as emissões radiofónicas lhe deixaram. “Na rádio fiz sempre o que gostava de fazer. Senti-me realizado. A grande marca teve a ver com as pessoas que faziam a rádio… uma grande família.” Hoje, afastado desse meio, considera que “uma rádio sem pessoas que a escutem é uma rádio com fim à vista”.

Natural da Vela (concelho da Guarda) veio estudar para a cidade quando tinha dez anos; no final da década de 70 iniciou a sua colaboração na Rádio Altitude (RA) , antes de, no início dos anos 80, ter começado a sua atividade profissional no ramo dos Seguros. “Atualmente continuo a exercer a minha atividade como independente e acumulando a situação de pré-reforma [da companhia a que esteve ligado]”, disse-nos Carlos Martins.

Olhando para a cidade onde reside, diz ao CORREIO DA GUARDA que “é urgente fixar empresas na Guarda para criarem empregos fixando os que cá estão e trazer outros do litoral.”

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Como surgiu a Rádio na tua vida?

Era presidente da Associação Estudantes da Escola Secundária Afonso Albuquerque e na altura decidimos propor à Rádio Altitude um programa semanal de 30m onde abordaríamos a actividade estudantil e outros assuntos de interesse para a classe.

Eram colaboradores habituais a Fátima Vitória, a Hermínia Whanon, o Américo Rodrigues e eu. Após um ano de emissões o programa “Rádio Estudantil” termina.

Algum tempo depois, e algures na cidade da Guarda, encontrei o Dr. Virgílio Arderius, elemento da direção da RA, que após uma troca de palavras me propôs fazer um programa sobre livros e literatura. Numa conversa, de corredor, (na Escola Secundária Afonso Albuquerque) com o António José Fernandes e com o António José Teixeira (actual diretor da Informação na RTP) abordei a proposta que me tinha sido apresentada; o António José Teixeira ficou entusiasmado com a ideia e assim, os três, decidimos fazer o programa “Nós e os Livros”.

Como tudo tem um fim também o “Nós e os livros” acabou, sendo que foi um projecto interessantíssimo que nos motivou e de que maneira… A partir daí eu passei para as emissões regulares e o António José Teixeira enveredou pela informação da Rádio Altitude.

 

Como foram as primeiras experiências radiofónicas?

Nas emissões regulares da Onda Média, do Altitude, lembro-me que o primeiro programa que coloquei no ar foi um espaço radiofónico com muita audiência e patrocinado por uma marca de automóveis. Os ouvintes pediam para ouvir as suas músicas preferidas através do telefone 232.

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Quem recordas desses tempos? E como era o ambiente de trabalho?

Nos anos 70 e 80 a rádio era tão importante como qualquer outra instituição da Guarda. O Altitude estava lá e tinha a informação pretendida.

A camaradagem, as relações pessoais eram como a de uma grande família. 

 

Os colaboradores da RA eram convidados, com frequência, para apresentação de espetáculos no distrito. Que lembranças dessa experiência?

As Festas da Cidade da Guarda, os Festivais da Canção de Manteigas, Festivais de Folclore e muitos outros espectáculos contaram com a minha colaboração e de muitos outros colegas da rádio. Ter um apresentador que fosse locutor da Rádio Altitude, na opinião dos organizadores, era sinal de um bom espectáculo em perspectiva.

Recordo aqui uma das peripécias com a “nossa 4L”… fazíamos uma deslocação a Manteigas para mais um festival. Na ida a viagem correu mais ou menos bem (?). No regresso, a altas horas da noite, a viatura movimentava-se, mas a uma velocidade reduzida na estrada sinuosa e em mau estado. Estávamos todos apreensivos com o facto de a gasolina estar a baixar muito rapidamente no reservatório estarmos longe da Guarda.

Depois de 2 horas de viagem conseguimos chegar à entrada da cidade e aí ficou o veículo sem pinga de combustível. No dia seguinte o Antunes Ferreira foi com a Renault 4L ao mecânico e este verificou que a mesma apenas estaria a trabalhar com um ou dois cilindros. A “máquina” tinha razão para não andar e gastar muito combustível...

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Qual foi o período mais desafiante na tua passagem pela RA?

Com a OM e com o FM nos anos 90, depois de ter passado algum tempo pela F, já com a direção do Helder Sequeira; acumulei as funções comerciais e as de locutor (animador de emissão).

 

A parte técnica era também uma das tuas preferências. Colaboravas, com frequência, com o Dr. Martins Queirós, sobretudo a partir de 1990, e também com o Antunes Ferreira. O que recordas? Que episódios gostarias de recordar para os leitores?

Com a frequência modulada no ar, o Dr. Martins Queirós entendeu que a mudança do emissor de Onda Média para um local mais próximo da antena era mais que urgente.

À noite, e depois das 21h, acompanhava o grande obreiro da RA nos trabalhos técnicos para a mudança do emissor. Este trabalho nocturno demorou alguns meses.

Finalmente foi possível mudá-lo e colocá-lo num local amplo e adequado para o efeito. Na altura estava apto a construir um emissor de raiz, tal foi a formação ministrada pelo médico Martins Queirós.

 

Que marca te deixou a Rádio Altitude?

Na rádio fiz sempre o que gostava de fazer. Senti-me realizado. A grande marca teve a ver com as pessoas que faziam a rádio… uma grande família.

 

Qual o programa que te deixou mais saudades?

Não podia ser outro, senão o “Sons da Madrugada”. Diariamente das 7 às 9h, inicialmente com o João Logrado, Helder Sequeira e eu, mais tarde o João foi substituído pelo Albino Bárbara.

Era o nosso despertar…

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Achas que hoje é difícil fazer rádio no interior? E nos tempos da onda média?

As ferramentas atuais são outras. Tudo é mais fácil. O problema está na publicidade, fonte de receita das rádios; esta é cada vez mais diminuta e os pequenos empresários estão com dificuldades económicas.

Não é de estranhar que algumas rádios tenham fechado.

Nos anos 70 e 80 a concorrência era menor. O Altitude não tinha dificuldade em encontrar clientes para publicitar. Em qualquer loja ou casa era a rádio preferida. Existiam audiências consideráveis das emissões.

 

Que desafios se colocam, atualmente, às rádios locais?

Os custos com o pessoal são o maior desafio, as taxas, os custos da energia e a falta de apoios também não ajudam.

Muitas são as rádios que tiveram de reduzir o pessoal, funcionando a maior parte do tempo de forma automática. O contacto com o ouvinte deixa de existir e como tal as audiências evaporam-se. Há tanto por onde escolher…

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Achas que rádio, em geral, tem futuro?

Tudo irá depender da ligação rádio/ouvinte. Uma rádio sem pessoas que a escutem é uma rádio com fim à vista.

É importante prender os ouvintes às emissões, ouvi-los e ter uma programação virada para os temas do quotidiano.

 

O que gostarias de ouvir nas rádios da região?

Pessoalmente gosto de estar informado. Gosto de uma informação credível, de qualidade.

 

O que fazes atualmente?

Afastei-me por razões pessoais da rádio. Depois de trinta e tal anos nos seguros, estou actualmente na situação de pré-reforma.

Como não sou pessoa para ficar parado, abri um escritório de Mediação de seguros na Rua Francisco Pissarra de Matos na Guarda, com a marca da empresa onde trabalhei a Ageas.

 

O que representa para ti a Guarda?

Desde os meus 10 anos que estou na Guarda. Foi aqui que fiz os meus estudos e desenvolvi a minha actividade profissional na área dos seguros. A rádio completava-me.

As pessoas da região cativaram-me. Apesar de fria, o calor humano, as amizades, os desafios, marcam-nos para sempre.

 

Como gostarias de ver a Guarda do futuro?

No futuro imediato é necessário criar condições para a fixação dos nossos jovens. Se estes forem embora para o litoral e para as grandes cidades, a Guarda fica a perder.

É urgente fixar empresas na Guarda para criarem empregos fixando os que cá estão e trazer outros do litoral.

A localização da Guarda, as duas auto estradas e as duas linhas férreas fazem da cidade um ponto estratégico de desenvolvimento, para isso o governo central tem de olhar pelo interior ou não fosse a Guarda a Porta da Europa!

 

 

 

 

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publicado às 11:48

António Arede: a Rádio é uma paixão

por Correio da Guarda, em 12.10.21

 

António Arede nasceu para a rádio (por quem continua a nutrir uma grande paixão) na Guarda; precisamente na estação emissora que em 1948 começou a emitir oficialmente na cidade mais alta de Portugal.

A sua atividade radiofónica começou em 1973/74 na Rádio Altitude, tendo passado depois pela Rádio Renascença entre 1975 e 1990. No tempo das rádios-piratas iniciou a colaboração no RCI desde a sua criação, projeto que acompanhou nas diversas fases de expansão até à passagem para as instalações atuais.

Respeitado no meio rádio e do jornalismo pela sua larga experiência e pela sua exigência em termos de rigor e qualidade dos trabalhos que produz, António Arede é igual a si próprio, com inquestionável competência e saber, elevado sentido de humanidade e grande cordialidade.

Do seu percurso profissional destaca-se ainda a passagem pela RDP/Centro (Antena 1) e, mais recentemente pelo grupo Media Capital Rádios - Rádio Clube Português, Rádio Clube e pela M80 Rádio.

Com 65 anos, António Arede continua a fazer e a viver a rádio, sempre com a mesma entrega e paixão, abrindo igualmente porta para outra atividade que o tem entusiasmado, de que fala ao CORREIO DA GUARDA. “Hoje passo música dos anos 80 em todo o lado. Cada noite é um sucesso!...”

António Arede - estúdio da Rádio Altitude .jpg

Quem é o António Arede?

Jornalista, 65 anos de idade, apaixonado pela rádio e comunicação, tendo também a atividade de Dj como complemento.

 

És um apaixonado pela rádio e pelo jornalismo. Quando começou essa vocação?

Em finais de 1973, então pela mão do correspondente da RTP em Viseu, José Ayres, que pelos seus conhecimentos no meio conseguiu a minha entrada como colaborador da Rádio Altitude para a área da animação, na altura locução.

 

Nos tempos do liceu o som e a música envolveram-te em atividades. Que recordações gostarias de deixar aqui?

A criação, em 1973, de um núcleo de rádio no liceu, que transmitia música nos intervalos das aulas, através de um sistema interno de som, com colunas instaladas nos recreios e sala dos professores.

Tratava-se do grupo Geração de 60, que também implementou no liceu um grupo de Teatro e um jornal com o mesmo nome (Geração de 60), que na época era impresso em tipografia.

Ainda fiz parte do grupo de Teatro como ator e mais tarde como sonoplasta, uma vez que sentia queda para essa área.

 

Nessa época a inclinação era mais para a Rádio ou para o Jornalismo?

Na época a inclinação era mais para a área da rádio (animação), visto que o conceito de jornalista de rádio ainda não estava criado, as notícias eram lidas de recortes de jornais por alguém que tivesse a melhor voz.

 

A imprensa não suscitou tanto a tua atenção? Porquê?

Na altura não sentia interessa pela imprensa escrita, também porque nunca pensei vir a ser jornalista, e mesmo como jornalista sempre privilegiei o sector rádio, tirando uma pequena experiência na imprensa (jornal Notícias da Tarde, do Grupo JN) e a Agência de Noticias ANOP.

 

Desde cedo tiveste o teu próprio estúdio, com equipamento diversificado, e já distinto na época. Fala-nos dessa época e do trabalho que foi desenvolvido.

Em 1973 estava mais virado para a locução em rádio…era um mundo para mim; depois com o avançar dos anos, em 1975/76, tornei-me correspondente da Rádio Altitude em Viseu.

Foi a partir daí que desenvolvi as minhas próprias instalações criando um sistema para envio do som para a rádio via telefone com mais qualidade, facto que veio a evidenciar-se mais tarde também com a minha entrada para a Rádio Renascença, em 1976; estação que viria a abraçar através da influência do Antunes Ferreira (da Rádio Altitude) e do José Ayres de Viseu.

António Arede - na Rádio Altitude .jpg

Há algum equipamento, adquirido, que te tenha deixado um entusiamo especial? Gravadores de bobines…?

Tenho ainda alguns gravadores de cassetes da época… uns funcionam, outros não; um pequeno OB (como se chamava na altura) para tratamento do som no envio pelo telefone e uma máquina de bobines, que pouco usava na altura, tirando a TANDBERG de fita, portátil, da Rádio Altitude ou a UHER da Rádio Renascença.

 

Recordas-te dos teus primeiros vinis? Quais eram os cantores ou grupos preferidos?

Tudo o que tocava na altura. Eu comprava muita música de vinil, singles e Lps…todo o dinheiro que os meus pais me davam eu investia em música…ainda hoje possuo uma discoteca de milhares de exemplares em vinil e também agora em Cds

Quanto aos grupos preferidos da época, não posso deixar de referenciar os Beatles, os Rolling Stones, Creedence Clearwater Revival, Led Zeepllin, Pink Floyd,entre outros .

 

 

Ainda conservas os teus primeiros vinis? E cassetes?

Conservo tanto os vinis como as cassetes. Aliás no estúdio de radiodifusão que possuo atualmente, embora seja um estúdio moderno já com equipamento digital, também tem gravadores de cassetes a funcionarem, de onde destaco os velhinhos Marantz profissionais portáteis PM222.

Estúdio de António AREDE.jpg

Por essa altura acompanhavas, com frequência o José Ayres (que além de distinto fotógrafo trabalhava para a RTP). Qual foi a influência dele na tua atividade no campo da comunicação social?

Teve toda a influência. Aliás foi através dele que entrei no mundo da rádio e da comunicação…Foi a sua influência que conseguiu a abertura de portas na Rádio Altitude, a minha porta de entrada na Comunicação Social.

Outro homem muito importante para a minha integração foi o Antunes Ferreira que, desde o primeiro momento, me deu a mão e me ensinou bastante, tendo sido a influência para a minha entrada na Rádio Renascença.

AREDE RADIO RENASCENÇA.jpg

 

Como surgiu, e quando, a tua ligação com a Rádio Altitude?

Como já expliquei a minha ligação com a Rádio Altitude surge em finais de 1973 princípios de 1974… recordo-me que o meu programa que era gravado, começou ainda no tempo da censura.

Na altura a RA tinha dois administradores, o Antunes Ferreira e o Carvalhinho que era quem censurava os textos dos programas, e as notícias que iam ao microfone, pela voz do Vaz Júnior

 

Quais foram os teus primeiros trabalhos informativos para a Rádio Altitude?

Não me recorda já bem do ano, mas talvez em 1976. Eu ficava fascinado com a forma como se trabalhava... as gravações dos RMs (registos magnéticos) na “Ferrograph” (máquina profissional de fita magnética), onde se inseriam sem qualquer critério de importância de alinhamento as gravações a incluir nos noticiários do RA.

FERROGRAPH - foto.jpg

Foi reformada a redação talvez pelo ano de 1977/78 e foi criada uma redação em Viseu. Na altura tomávamos conta das notícias o Helder Sequeira, o Francisco Carvalho, o Emílio Aragonez, o António Jose Teixeira e eu.

Viseu enviava um pequeno noticiário com notícias da região que era inserido no noticiário das 12h30. Como a Rádio emitia em Onda Média, ouvia-se bem na região de Viseu, o que justificou a criação de uma segunda redação.

Eu gravava em minha casa as intervenções dos correspondentes da região de Viseu e inseria nos noticiários da Guarda, com outras noticias de Viseu ....depois a redação da Guarda prosseguia o noticiário

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Asseguravas a cobertura informativa, quase diária, para os noticiários da Rádio Altitude. Como tinhas estruturada a tua rede de correspondentes e as tuas fontes de informação?

Criei então uma rede, que contemplava um correspondente em cada concelho, embora na prática só intervinham com a sua voz gravada os correspondentes de zonas onde a rádio entrava e era ouvida.

Os correspondentes eram a minha fonte de informação...depois havia a imprensa regional da época e os contactos na polícia e no hospital…tudo era tido em conta.

 

Que equipamentos utilizavas e como era feito o envio para os estúdios na Guarda?

O envio era feito pelo telefone através de um OB, muito rudimentar, construído por mim, embora mais tarde utilizasse o Shure da Rádio Renascença, uma vez que estava a trabalhar também com eles na área da informação.

Aquilo era uma pequena caixinha que se ligava através de duas pinças à caixa do telefone…depois punha-se o gravador em formato de gravação para amplificar a voz e o som lá saia com qualidade, muito diferente do som normal de telefone…(também servia para gravar os correspondentes) porque recebia e enviava pelo mesmo modo …mais tarde vieram os híbridos telefónicos e tudo ficou mais simples

 

Asseguravas também a cobertura do desporto?

Penso também que sim, embora só as notícias…que eram depois escrutinadas pela equipa do desporto do RA, mas não fazia relatos

 

Em Viseu a tua atividade dinamizou várias iniciativas, que tiveram como palco o Rossio e a Feira de São Mateus. O que recordas desse período?

O aniversario do meu programa de rádio no Altitude…o “Tempo de Juventude” que era gravado em Viseu nos estúdios da Electro Carmo, que a empresa criou para eu poder gravar em Viseu as emissões.

Na festa da aniversário que decorreu no Pavilhão da Feira de S Mateus foram envolvidas várias associações de Viseu e contou com teatro, folclore e grupos musicais.

A Rádio Altitude decidiu, então, vir a Viseu nesse dia com o Antunes Ferreira e o Luís Coito para me entregarem pessoalmente nesse espetáculo a medalha dos 25 anos do RA.

 

Quais os/as colegas que recordas dessa época, em Viseu e na Guarda?

Na Guarda o Abel Vergílio, o Vaz Júnior, o António Pinheiro, o Emílio Aragonez, o Antunes Ferreira, o Luís Coito, o Luís Coutinho, o Padre Vergílio Arderius, o Francisco Carvalho e o Helder Sequeira, entre outros.

 

As pessoas identificavam-no no exterior, reconheciam a tua voz? Como era a reação das pessoas?

Tinha uma voz que era agradável, e as pessoas identificam-me pela voz …eu era o magrinho da voz forte

 

O teu percurso na Rádio passa também pela Guarda onde tiveste funções diretivas no Altitude. Era a época das novas estações de rádio e de novos desafios. O que significou para ti esse tempo?

Foi uma grande experiência para mim ter vindo da RDP para a direção da Rádio Altitude, a convite da então Governadora Civil da Guarda, Marília Raimundo e do Helder Sequeira… Na altura ainda funcionava a onda média, mas já tinham o FM, e eu criei duas programações distintas, uma para FM outra para Onda Média.

Vim também a dirigir a informação da rádio, criando uma agenda de serviços para cobertura de acontecimentos, mas os tempos eram outros… havia outras ferramentas…surgiram os primeiros computadores então oferecidos pela Governadora Civil que vieram facilitar em muito a missão.

Os jornalistas escreviam as notícias à mão, mais tarde na máquina de escrever e por fim nos computadores onde se podia guardar tudo…foi a revolução; na técnica também deixamos de gravar em fita para passar a gravar em computador o que simplificou as coisas.

 

Como vias a relação entre a Rádio e a Cidade/Região? Há algum episódio que te tenha marcado?

 

A Rádio Altitude tinha muito prestígio na cidade e na região. A voz do Altitude era respeitada por todos.

As pessoas ligavam para a rádio para dar a conhecer este ou aquele acontecimento…até nos acidentes era para nós que as vezes ligavam primeiro.

 

Para além do Altitude há também uma ligação profissional a outras estações, nomeadamente à Rádio Renascença? Fala-nos dessa atividade e das estações onde ocorreu o teu trabalho como jornalista.

 

Como já referi anteriormente a minha ligação à RR passa pelo Altitude…fui indicado pelo Antunes Ferreira, quando a RR criou a equipa nacional de correspondentes distritais.

A RA era o correspondente na Guarda da Rádio Renascença e eu era o Correspondente de Viseu.

 

Até agora qual foi a tua experiência mais positiva na rádio?

A mais positiva foi o ter de assegurar a direção geral de uma rádio em Viseu (Rádio No Ar) e reformatar toda a programação, criando tipologias de programas de acordo com o publico alvo /ouvintes do segmento rádio.

Ao organizar a equipa, consegui aperceber-me das vocações de cada um e todos foram colocados no lugar certo, executando as funções para as quais estavam vocacionados (animação, jornalismo/noticiários/ reportagem de rua, e entrevista em estúdio), pelo que o resultado final foi fabuloso. A rádio subiu as audiências e começou a faturar em publicidade.

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A rádio do passado e do presente: diferenças, semelhanças, desafios?

Eu penso que no meio rádio no passado havia mais criatividade.

Os programas eram de autor, pensados e idealizados com muito cuidado. Escolhia-se criteriosamente a música a passar e os textos para complementar a produção dos conteúdos. Hoje as rádios passaram a ser playlists musicais...e são quase todas iguais nos conteúdos, o que é mau…faltam os programas de autor

 

Hoje é mais fácil o acesso à produção de programas de rádio?

É tudo mais fácil, devido às ferramentas existentes… as novas tecnologias. Hoje pode fazer-se rádio na Web a partir de casa, com pouco equipamento e muita qualidade. A informática veio revolucionar o meio rádio.

 

Atualmente, e sem perderes a tua ligação à música dos anos da tua geração, tens também trabalhado como DJ. Como surge esta faceta?

A atividade de DJ surge numa altura em que entro para o Grupo Media capital rádios, - Rádio Clube Português – Rádio Clube (projeto de rádio informativa) e M80 Rádio. Foi aqui que despertei a vocação de DJ ao ver os colegas de Lisboa a passarem música em festas da Rádio.

Aproveitei a minha passagem por Lisboa e tirei lá o curso de Dj no Centro de Formação para DJs da Pioneer (i4DJ). Tirei dois cursos e hoje passo música dos anos 80 em todo o lado. Cada noite é um sucesso!... Sou requisitado para muitas atuações, tendo os meses quase sempre fechados com datas para tocar, aos fins de semana.

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É um trabalho que gostas de fazer?

Adoro pelo contacto com as pessoas, …depois é o tipo de música que faz mexer toda a gente.

 

Que outras coisas gostas de fazer nos teus tempos livres?

Oiço muito rádios estrangeiras temáticas, para ver as tendências e os estilos, gosto muito de ler, procuro estar ao par das inovações tecnológicas do meio rádio, e ver televisão, noticias, filmes e música. 

 

Como vês hoje a Guarda? Acompanhas o que se passa aqui?

Não estou muito a par do que passa na Guarda atualmente, mas devo confessar que gosto muito das pessoas da Guarda… sempre me trataram muito bem e souberam respeitar o meu valor.

 

Achas que as cidades da Guarda e Viseu estão mais próximas?

Acho que sim, mas no campo político a aproximação devia traduzir-se em cooperações mais alargadas que fomentassem mais valias para ambas as cidades.

 

H.S.

 

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publicado às 23:07

Uma prolongada agonia…

por Correio da Guarda, em 20.05.21

 

O dia 18 de maio de 1907 constituiu uma das mais imponentes jornadas festivas da Guarda, marcada por um expressivo envolvimento coletivo que importa recordar a propósito da passagem (nesta última terça-feira), do 114º aniversário da inauguração do Sanatório Sousa Martins.

Nesse longínquo dia de 1907 abriu-se um novo período da história citadina; se, por um lado, a Guarda ficou dotada com um moderno Hospital, tutelado pela Misericórdia, por outro iniciou, através do Sanatório, uma eminente atividade médica e assistencial que colocou a cidade mais alta de Portugal nos roteiros internacionais das estruturas de saúde vocacionadas para o combate à tuberculose.

O fluxo de tuberculosos superou, largamente, as previsões, fazendo com que os edifícios do Sanatório Sousa Martins se tornassem insuficientes perante a procura; este era aconselhado a todos quantos sofriam de “tuberculose pulmonar, anemia, fraqueza organica, impaludismo, etc.”, como noticiava a imprensa local.

O impacto económico e cultural destas duas instituições (Sanatório Sousa Martins e do Hospital da Misericórdia da Guarda, a que seria atribuído o nome do então Provedor, Dr. Francisco dos Prazeres) fez-se sentir ao longo de várias décadas, como tem sido reconhecido e evidenciado em vários trabalhos.

Na cidade conjugaram-se, nessa época, uma série de fatores que viabilizaram a concretização do sonho de alguns, alicerçado numa sólida determinação e na multiplicidade de atos solidários, apesar dos circunstancialismos político-sociais do Portugal do início do século XX.

É interessante verificar o tácito entendimento entre representantes de diferentes posturas ideológicas em função do momento festivo que a cidade ia viver, tanto mais que o ato inaugural destas unidades de saúde era engrandecido com a presença do Rei D. Carlos e da Rainha D. Amélia. A Guarda, como foi afirmado na imprensa local, não podia abdicar dos seus pergaminhos de cidade fidalga e hospitaleira.

A inauguração (inicialmente prevista para 28 de abril e depois para 11 de Maio) dos três pavilhões que integravam o Sanatório ocorreu a 18 de maio de 1907, com a presença do rei D. Carlos e da Rainha D. Amélia que materializou nesta instituição de tratamento da tuberculose a homenagem a Sousa Martins, atribuindo-lhe o nome daquele clínico, cuja ação e dinamismo ela tinha já evocado numa intervenção pública, no seio da Associação Nacional aos Tuberculosos, realizada em 1889.

Aos dezoito dias do mês de Maio de mil novecentos e sete, num dos edifícios recentemente construídos no reduto da antiga Quinta do Chafariz, situada à beira da estrada número cinquenta e cinco, nos subúrbios da cidade da Guarda, estando presentes Sua Majestade a Rainha Senhora Dona Amélia (...), procedeu-se à solenidade da abertura da primeira parte dos edifícios do Sanatório Sousa Martins e da inauguração deste estabelecimento da Assistência Nacional aos Tuberculosos, fundada e presidida pela mesma Augusta Senhora (...)”. Assim ficou escrito no auto que certificou a cerimónia inaugural da referida estância de saúde.

O jornal A Guarda, num texto intitulado “A inauguração do Sanatório Souza Martins – impressões d’um forasteiro” relatou que D. António de Lencastre começou por ler “o seu relatório. Não se ouve quasi nada. Só se sabe que cita Hipocrates e elogia Souza Martins. O discurso tem todo o ar d’um relatório. Vê-se que está escrito à machina em quatro folhas de papel branco. Ha numeros à mistura (...) Vem depois Lopo de Carvalho, cuja voz também sumida não nos deixa ouvir bem” todo o seu discurso.

Nesse mesmo dia, cerca das 15 horas, o Rei D. Carlos e a Rainha D. Amélia foram inaugurar o novo edifício do Hospital da Misericórdia da Guarda, na atual rua Dr. Francisco dos Prazeres. Na capela da nova unidade hospitalar, teve lugar a cerimónia da bênção do edifício, pelo Arcebispo-Bispo da Guarda, “seguindo os monarcas para a enfermaria dos homens onde o sr. Provedor na presença de numerosa assistencia leu um bem elaborado relatório sobre a construcção das obras do novo hospital”.

Sanatório - Pavilhão D. António de Lencastre -

Hoje, o estado de abandono e degradação dos antigos pavilhões do Sanatório Sousa Martins não dignifica uma cidade que se quer afirmar pela história e anseia ser capital europeia da Cultura. Tal como aconteceu da data festiva atrás referida, é urgente uma união de esforço e a procura dos melhores planos no sentido de serem recuperados, salvaguardados e utilizados esses edifícios seculares.

Anotar a passagem dos 114 anos após a inauguração do Sanatório Sousa Martins não é cair em exercício de memória ritualista, mas apelar – uma vez mais – para a preservação do património físico de uma instituição, indissociável da História da Medicina Portuguesa, da solidariedade social, da cultura (pelos projetos que criou e desenvolveu) e da radiodifusão sonora portuguesa (na Guarda continua a emitir a Rádio Altitude, a mais antiga emissora local no nosso país); serve também para recordar o historial de uma instituição que continua a ter no Hospital Sousa Martins uma sequência assistencial e referência evidente nestes tempos de pandemia

O Parque da Saúde da Guarda não pode continuar a ter no seu seio uma memória agonizante de um Sanatório que constitui um incontornável ex-libris da nossa cidade. (Hélder Sequeira)

 

In "O Interior", 20/5/2021

 

 

 

 

 

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publicado às 12:47

Uma vida nas ondas da rádio

por Correio da Guarda, em 27.04.21

 

José Luís Dias nasceu em Buffalo (EUA) em 1962 tendo vindo para a Guarda dez anos depois. Foi nesta cidade que fez as primeiras amizades e se entusiamou pela eletrónica, consolidando a sua paixão pela rádio e pelas comunicações. O Bonfim, na Guarda, é o seu bairro citadino de eleição, até pelo facto de aí ter vivido até 1986.

Fundador da Rádio Beira Alta (Seia), esteve também na génese da Rádio Cidade Oppidana (que emitiu na Guarda, no quadro das rádios livres) e colaborou com a Rádio Altitude, Rádio Clube de Monsanto e Rádio Mangualde.

 

Como surgiu a Rádio na tua vida?

É uma historia interessante; ainda criança, vivia nos Estados Unidos, fazia, com os meus amigos, muitos passeios de bicicleta e em várias ocasiões ia para as proximidades do local onde estavam as antenas emissoras de duas grandes rádios da cidade onde nasci: a WKBW, com 50 KW e a WGR com 10 KW (ambas em Onda Média)...

Uma boa meia dúzia de torres e um edificio monumental... espreitávamos pelas janelas e viam-se alguns dos equipamentos... fascinou-me esta visão da tecnologia.

Mais tarde, já em Portugal, enquanto frequentava a escola primária, bem antes da "Revolução dos Cravos", a minha professora de então resolveu levar-nos a duas visitas de estudo: em primeiro lugar, ao edifício da Emissora Nacional (hoje a RTP-Guarda), onde fomos recebidos pelo encarregado das instalações, que nos mostrou um estúdio com uma mesa de som bastante antiquada e depois os dois emissores (era um Collins de 1 KW e um Gates de 10KW)... Algumas semanas depois, foi a visita à Rádio Altitude... Aí, sim, se eu já tinha um fascino pela rádio e a sua tecnologia, foi o "click" definitivo.

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Como foram as primeiras experiências radiofónicas?

Possívelmente como a de todos os que fazemos ou fizemos rádio, na altura: umas experiências, num estúdio improvisado e equipamentos muito rudimentarers e amadores... eu, que já tinha queda para a electrónica, "engendrei" mais algumas coisas... Entre elas, um pequeno emissor de FM que emitia umas centenas de metros e um emissor de Onda Média, a válvulas, com peças reutilizadas de radios antigos...

 

E quando surgiu o primeiro contacto com a Rádio Altitude, e de que forma?

Como já referi, o primeiro contacto com a Rádio Altitude foi durante uma visita de estudo que decorreu ainda nos meus anos de escola primária; um primeiro contacto fascinante, considero-me feliz por ter acontecido, entrando no edifício, sendo-nos mostrado tudo, inclusivé, o emissor... Fascinou-me ver como se fazia rádio ao vivo, a rádio com gente dentro, ver o que já ouvia em casa quase diariamente.

 

Que marca te deixou a Rádio Altitude? Influenciou o teu percurso radiofónico?

Uma marca definitiva, forte, impulsionadora, foi na Rádio Altitude que, em 1978, aos 16 anos, pela "mão" daquele que considero o meu mentor, Emilio Aragonez, comecei a fazer rádio "a sério", foi o "Espaço Jovem", integrado na emissão da noite das 6ªs feiras, o "Intercâmbio 6".

Foi-me ensinado a trabalhar com equipamento de radiodifusão, a ter uma conversa natural e fluída com os ouvintes, a colocar a voz correctamente entre discos (sim, rodava discos, sabia fazer o "pre list"e "cue"), a respeitar quem nos ouve e, sobretudo, a manter os olhos bem abertos em relação aos níveis de áudio... não havia processamento, o único remédio era mesmo não deixar saturar os níveis, o "VUímetro” da consola não passava para o vermelho... algo que, ainda hoje, respeito.

 

Como surgiu o projeto da Rádio Beira Alta?

O projecto Rádio Beira Alta surge desse gosto pela rádio, por um lado, pelo facto de eu não ter sido integrado na Rádio Altitude, apesar dos esforços, o que, se tivesse acontecido, poderia ter alterado todo um projecto de vida... Também porque em Seia (e em praticamente todo o país) não havia nenhuma rádio e as existentes (A RA e a Emissora das Beiras (Caramulo)) não terem um sinal capaz, ainda não se falava de "rádio livre".

A génese da rádio ainda foi na Guarda, onde vivi até 1986; fui juntando meios rudimentares (2 gira-discos de categoria caseira, antigos, um gravador de cassetes e um painel com uns quantos botões e interruptores), mas no Verão, quando vinha de férias até Seia, lá acarretava tudo e fazia com que a RBA emitisse em Onda Média e FM, com esses meios rudimentares... a minha familia materna é daqui, a casa (onde moro e onde a Rádio esteve a emitir até ao seu fecho em 2003) está situada no alto da encosta, em Aldeia da Serra, local ideal para colocar antenas e obter um grande alcance.

O hábito manteve-se, entretanto mais meios foram sendo adquiridos (para o meu estúdio na Guarda e o estúdio daqui), até que em 1986, tudo se juntou...

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O que significou para ti o fim desse projeto?

O fim do projecto RBA foi triste, tendo em conta as circunstâncias; em 2003, a realidade social e economica do concelho e da região já era alarmante, tendo em conta o fecho das fábricas de lanifícios, onde milhares tinham o seu "ganha-pão" e, por consequência, a diminuição brutal da actividade economica, elevado índice de desemprego e a respectiva perda de mercado publicitário...

A rádio já estava a manter-se com dinheiros particulares, não era sustentável por muito mais tempo... Depois, o "embróglio" administrativo e legislativo que prejudicou a renovação do alvara... O fecho foi ordenado pela ANACOM em 30 de Junho, a RBA deixou de emitir... Mas não desapareceu... 18 anos depois, tudo existe, ainda, e funcional: os estúdios, os equipamentos, os arquivos musicais... Até a pequena torre onde estão ainda as antenas...

 

O que se seguiu, em termos radiofónicos?

Uma onda de sorte: soube, por dois amigos e ex-colaboradores, que a Rádio Mangualde, fruto de uma remodelação e entrada de uma nova direcção, estava no processo de admissão de colaboradores a tempo inteiro, enviei o meu currículo e fui chamado para uma entrevista...

Estavamos no dia 15 de Agosto de 2003, fui chamado à rádio, éramos 7 candidatos às diversas posições, os directores conversaram comigo, já era conhecido de alguns deles, coloquei as minhas condições e ficaram de me contactar posteriormente para me transmitirem a sua decisão.

Mal tinha chegado a casa, estava o telefone a tocar: eram eles, pensavam que ainda estava em Mangualde, voltei à rádio e fui convocado a estar presente no dia seguinte pelas 7 da manhã para começar a aprender o funcionamento. Para mim era tudo novo: um estúdio já sem gira-discos, sem gravadores, mas com um computador e um software de emissão... Tive apenas três dias para encaixar a "novidade" e depois disso... seguiram-se quase 10 anos nos 107.1, nas manhãs, mas também noutras tarefas, a cooperativa aproveitou-se do meu "know-how" para melhorar a casa e manter a manutenção dos equipamentos, inclusivé, cheguei a reparar o emissor, afectado por uma descarga atmosférica... infelizmente, também por motivos económicos (corria o ano de 2013) a rádio teve, também, o seu fim... Em 2014, fui contactado por um antigo colaborador da RBA, o Filipe Borges, que tinha celebrado um contrato com a cooperativa da Antena Livre (Gouveia), sabendo da minha situação e sabendo bem das minhas qualidades, convidou-me a fazer parte da equipa de arranque do novo projecto, não só para fazer rádio mas para o ajudar a coordenar toda a casa, no geral.

Aceitei o desafio e em Junho de 2014 já estava no ar a "nova" Antena Livre" e uma nova filosofia para a rádio: estúdios repartidos por vários concelhos, os meus, da RBA, tornaram-se no “Centro de Produção de Seia”...  infelzmente, não se pode realizar o alemejado e prometido contrato, tendo eu saído no final de um ano de colaboração, em Agosto de 2015... Considero esta data aquela em que “pendeurei em definitvo os auscultadores”.

Felizmente, a minha passagem deixou marcas, muito do que lá se faz, ainda hoje, é a continuidade das ideias implementadas durante a minha passagem .

 

Qual o programa que foi mais importante para ti?

Tenho vários que podem muito bem situar-se nessa categoria: o primeiro de todos, "Espaço Jovem" (ainda na Altitude), depois, ja na RBA mas também com emissão nas "Radios Livres" Radio Clube de Monsanto, Radio Cidade Oppidana e Rádio Elmo, o "Stereonoite", as emissões da manhã, na RBA, na Rádio Magualde e na Antena Livre e, o programa que tem a minha preferência, não só pela longevidade mas também pelo conteúdo musical que possui, "nascido" na RBA em 1983, depois levado por mim para a Rádio Mangualde e, depois, ainda antes de integrar a Antena Livre, para 3 emissoras de rádio (hoje são 11 FMs e 2 na internet), o "Filhos da Noite".

 

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É difícil fazer rádio no interior?

É. O interior é cada vez mais desertifacado, esquecido pelo governo central e penalizadado economicamente, não existem, logo à partida, muitas rádios para nos integrarmos profissionalmente... e nas que existem, os meios financeiros são escassos, longe vão os tempos da "carolice" que criaram esses projectos... por outro, devido ao envelhecimento das populações residentes, temos de fazer rádio para elas, muitas rádios não possuem arquivo suficiente de música desses tempos e algum desse material é proveniente da Internet, em arquivos de som com qualidade duvidosa, ou não têm ninguém para os passar... digo sempre.

Tive a felicidade de ter começado numa rádio que tem esses arquivos, ter trabalhado com eles, ter tido uma rádio que adquiriu arquivos semelhantes e ao longo destes anos me tenho servido desses arquivos para as minhas emissões, "obrigando-me" a conhecer as historias de quem canta, das canções, dos discos em si, porque quem ouve, nessas idades, quer mais do que música, quer companhia; as rádios locais são muitas vezes a sua única companhia, o locutor é, inúmeras vezes, a extensão da sua família.

 

Que desafios se colocam, atualmente, às rádios locais?

Imensos, direi mesmo, terríveis, pesados, alguns escusadamente impostos... O maior de todos é mercado publicitário, a sua maior é muitas vezes a única fonte de receitas, mesmo com rádios a fecharem, o mercado que fica não se direciona às que se mantém no ar... outro factor, talentos, sem finanças saudáveis, não há dinheiro para salários, logo, as vozes das rádios muitas vezes limitam-se a serem de gentes locais, não assalaridas ou um ou outro assalariado, mas mal pago (salário mínimo em quase todos os casos).

Os piores e mais temidos são os direitos a pagar: a "investida louca" das organizações que cobram os tão mal legislados "Direitos Conexos", usando-se de táticas de "bullying" para imporem as suas regras, igualmente da autoridade que nem devia existir (ERC) pelas mordormias pagas a quem detém cargos e executa funções que poderiam bem melhor, e mais economicamente, serem desempenhadas pela ANACOM.

Portugal não pode dar-se ao luxo de ter duas entidades com “quase” as mesmas funçõe... e, sem dúvida, a própria legislação da rádio, tantas vezes alterada, já, que impede a liberdade de decisão a quem dirige os projectos, obrigando a 24 horas de emissão, com o respectivo desgaste de equipamentos e avolumar de consumos de energia, as quotas de música portuguesa e a complicação da sua formatação (sub-quotas definidas, que obrigam a uma actualização constante dos dados), isto para não falar de que muita dessa musica é de facto "intragável" para a idade de quem ouve; por fim, a mudança de atitude das novas gerações, consumidoras de "playlists" pre-formatadas na Internet, numa pen ou cartão memória, sem intervalos, sem noticias, sem publicidades, afastando-as das realidades, tornado-as mais pobres na aquisiçao de informação daquilo que lhes rodeia... tudo somado, uma montanha de dificuldades... mas a "resilência" de quem dirige as rádios tem procurado resistir a todas estas contrariadades, com sucesso... até agora...

 

A rádio tem futuro?

Sim, tem, as novas tecnologias vão permitir melhorar qualitativamente a forma como se ouve rádio, sim, esse único meio gratuito e universal de difundir música, informação e cultura.

As "velhinhas" Onda Longa, Média e Curta podem ser renovadas com a utilização da tecnologia "DRM", aliando as qualidades destas frequências, de grande alcance, particularmente à noite, bem maior que o FM, permitindo uma escuta de qualidade FM em ondas que, até agora, têm um som de inferior qualidade motivado mais pelos regulamentos internacionais em vigor do que a tecnologia actual... por outro lado, a Internet, um meio não universal e "pago", mas que abre a janela das rádios ao mundo, com interação, em alguns casos, vários canais de rádio e, já em muito, aquilo que já se denomina de "radiovisão", aliando o vídeo ao áudio, neste caso, rádio.

 

Quais os teus atuais projetos?

De momento, o único grande projecto que mantenho com dedicação é um programa de duas horas, semanal, "Filhos da Noite", emitido em 10 rádios FM e duas rádios na Internet, mas que procuro ainda expandir, de distribuição gratuita, o seu conteúdo é de música dos anos 60, 70 e 80, não portuguesa por opção, mas inclui tudo aquilo que, não sendo inglês, também passou pela rádio nessa altura - gandes canções italianas, francesas, alemãs, holandesas - e, durante os meses de Abril e Maio, o destaque vai para o Eurovisão da Canção, desde inícios até meados dos anos 80.

Pela dedicação que tenho aos arquivos de música do passado, continuo a frequentar feiras de antiguidades e usados para continuar a adicionar material musical para o programa porque na Internet não se arranja e, se existe, tem fraca qualidade, sendo o disco o melhor suporte musical. Também, dar assitência em regime de “freelancer” a rádios que me solicitem apoio e o uso dos meus conhementos para resolver problemas (de momento, são os casos da Rádio Imagem e Antena Livre), por fim, no meu trabalho actual, na Fundação Aurora Borges, uma IPSS, em Santa Marinha (Seia), para além de outras tarefas que desempenho, a continuação da dedicação dada à produção de conteúdos de video das reportagens efectuadas para o Jornal de Santa Marinha e a continuidade do programa de rádio “A Voz da Solidariedade”, produzido semanalmente na própria Fundação, em estúdio construido para o efeito e onde tenho a responsabilidade da sonoplastia.

 

O que representa para ti a Guarda?

Tudo! É a minha terra adoptiva, a cidade que me acolheu, onde tive os meus primeiros amigos, onde frequentei o ensino e aprendi tudo o que sei de electrónica, onde se formou e consolidou o meu amor pela radiodifusão e pelas comunicações, onde ainda hoje volto sempre que posso nem que seja para ir à padaria do Bonfim (meu bairro do coração) comprar o meu pão espanhol e, sempre, quando regresso, cai uma lágrima de emoção à chegada, assim como cai outra, quando a deixo...

 

 

 

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Rádio Altitude tem novo diretor

por Correio da Guarda, em 30.03.21

 

A Rádio Altitude (RA) vai passar a ser dirigida, a partir de amanhã, pelo jornalista Luís Batista Martins, diretor do semanário O Interior. O novo responsável, que substitui o jornalista Rui Isidro, acumulará as funções de diretor de informação e programas.

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Recorde-se, e como tivemos já a oportunidade de escrever, que esta estação emissora tem interessantes particularidades, originada no seio das experiências radiofónicas que ocorreram no Sanatório Sousa Martins, cerca de 1946.

Nessa altura, as rudimentares emissões circunscreviam-se ao pavilhão onde estava concentrado o grupo de doentes pioneiros deste projeto e apenas com a construção de novo emissor foi ganhando dimensão a aventura radiofónica. Em 1947, Ladislau Patrício (cunhado do poeta Augusto Gil), diretor do Sanatório, assinou, a 21 de Outubro, o primeiro regulamento desta emissora, onde estavam definidas orientações muito objetivas sobre o seu funcionamento.

Em finais desse ano as suas emissões já eram escutadas na malha urbana da Guarda, que seguiu, com particular entusiasmo, o início oficial das emissões regulares, assinalado a 29 de Julho de 1948; um ano depois (1949) foi-lhe atribuído o indicativo CSB 21, identidade difundida por várias décadas, a partir do alto da serra, “eterna como o sol que alumia o mundo”, na expressão Nuno de Montemor. Este escritor, diga-se, fez parte do grupo inicial de ouvintes da rádio. Sobre a rádio deixou, aliás, as suas impressões nas páginas de outro pilar informativo do Sanatório: o jornal Bola de Neve.

A propriedade do primeiro emissor pertenceu, inicialmente, à Caixa Recreativa do Internados no Sanatório Sousa Martins e, mais tarde, com a sua extinção, ao Centro Educacional e Recuperador da unidade hospitalar vocacionada para o tratamento da tuberculose. Com a criação do Centro Educacional e Recuperador dos Internados no Sanatório Sousa Martins (CERISSM) pretendeu-se auxiliar os doentes, especialmente no que dizia respeito “à sua promoção social e ocupação dos tempos livres”.

Aliás, foi no seio dos sanatórios que surgiram interessantes projetos radiofónicos – como seja a Rádio Pólo Norte, no Sanatório do Caramulo, e a Rádio Pinóquio, no Sanatório das Penhas da Saúde, Covilhã, para referirmos os mais próximos.

O CERISSM foi uma autêntica instituição de solidariedade; para além de viabilizar a afirmação e implantação da Rádio Altitude desenvolveu uma vasta obra assistencial, sob o impulso do médico Martins de Queirós, o quarto e último diretor do Sanatório da Guarda.

Em 1961, mediante autorização oficial, o RA passou a ter como suporte económico-financeiro as receitas publicitárias que em muito contribuiriam para o auxílio dos doentes mais carenciados.

As emissões evoluíram, ao longo das primeiras décadas em função das disponibilidades técnicas, dos recursos humanos e financeiros mas encontrando sempre no, crescente auditório, uma grande simpatia e um apoio incondicional.

Até 1980 a Rádio Altitude emitiu na frequência de 1495 Khz, em onda média (abrangendo não só o distrito da Guarda mas igualmente os distritos de Viseu e Castelo Branco e algumas das suas áreas limítrofes), altura em que a sua sintonia passou a ser feita no quadrante dos 1584 khz.

Após 1986, e com a liberalização do espectro radioelétrico passou também a desenvolver as suas emissões em frequência modulada, em 107.7 Mhz, a qual foi alterada, em 1991, para os 90.9 Mhz.

Em 1998, e depois de ter sido determinada a extinção do Centro Educacional e Recuperador dos Internados no Sanatório Sousa Martins, foi decidida a realização de uma consulta pública, com vista à “transmissão da universalidade designada Rádio Altitude”, considerada a “única estrutura em funcionamento do ex-CERISSM”.

A estação emissora entrou assim, com a sua aquisição por parte da Radialtitude–Sociedade de Comunicação da Guarda, num capítulo novo da sua existência, mantendo a ligação física ao antigo espaço sanatorial.

Como dissemos, esta é uma rádio muito particular, de afetos, de memórias, vivências, amizades, dedicação, de serviço público, de criatividade, de formação, do interior das Beiras, hoje rádio global, de futuro.

As emissões radiofónicas passam hoje, em larga medida, pelo meio digital, num cada vez mais recorrente recurso às modernas aplicações e tecnologias.

A rádio, a sua forma de estar e responder, evoluiu e, felizmente, acaba por estar ainda mais perto e envolvendo de forma invisível o nosso quotidiano. Presença entendida como plena confirmação de que o meio rádio não pereceu perante o digital e as novas tecnologias, antes encontrou novos pilares de sustentabilidade e de maior interação com o seu público.

A generalidade dos equipamentos que usamos no dia-a-dia, desde logo o telemóvel, o tablet ou outras expressões da materialização do progresso tecnológico, facilitam-nos e proporcionam o encontro com a rádio; mas para além das emissões em direto não se podem esquecer as vantagens proporcionadas pelo podcast. Neste contexto, para além de acrescentarmos que esta é uma das novas virtualidades exploradas pela rádio, convém sublinhar a mudança de paradigma do perfil da rádio local. Ainda neste ponto, não será despropositado afirmar que a Rádio Altitude nunca esteve confinada a um figurino de rádio local, nem a um certo significado pejorativo que muitos gostam de associar.

Recordemos que, enquanto existiram as emissões em onda média – e mercê das condições de rentabilização do seu emissor, da localização geográfica – o raio de abrangência englobou zonas muito diferenciadas e mais ou menos distantes desta cidade. Posteriormente, e uma vez mais potencializando as vantagens de emitir a partir da cidade mais alta do país, a rádio projetou as suas emissões muito para além das fronteiras traçadas nas páginas dos diplomas regulamentadores da atividade radiofónica; ou seja a identificação como rádio local nunca foi a mais justa, e a dimensão de regional será, em qualquer análise, sempre mais adequada quando se escreve sobre a história da radiodifusão.

Hoje, para além do estatuto conseguido por mérito próprio e pela sua ímpar longevidade, enquanto rádio que se afirmou a partir do denominado interior do país o Altitude atingiu uma nova escala. Aqui está, objetivamente, o contributo dado pela tecnologia. Caiu, e retomando, a linha de análise atrás encetada, o conceito de rádio local.

Mesmo assim, a Rádio continua a ter um relevante papel como consciência e memória regional; tem, decorrente da sua função social, uma missão importante na gestão da mudança de mentalidades, do esclarecimento do público, do confronto de ideias e da salvaguarda da memória.

Esta função social da rádio deve continuar a prevalecer, mesmo face ao desenvolvimento das tecnologias da informação. A pluralidade de novos canais de informação criou cenários completamente novos, onde se torna fundamental uma atitude de inequívoco profissionalismo, objetivos claros, estratégias adequadas e uma consciência permanente dos desafios tecnológicos.

Esgotados muitos dos modelos tradicionais e modificados os graus de exigência por parte dos ouvintes, torna-se necessário aferir permanentemente os projetos e acentuar o espírito criativo.

Este, considerando o contexto económico e social, é fundamental para uma afirmação qualitativa no espectro radiofónico nacional, onde pereceram já muitas estações surgidas aquando do florescimento das rádios locais.

LOGO da Rádio Altitude - Guarda.jpg

Os desafios da Rádio são imensos, no dia-a-dia; hoje não é apenas no plano das ondas hertzianas que tem de ser posicionada a proposta radiofónica; a rádio tem de assegurar uma estratégia rigorosa e clara no vasto horizonte da emissão on line. A rádio já não é, há muito, uma linha musical intercalada pela voz do animador de emissão, com a terminologia uniforme de muitas estações e reedição de programas que funcionavam como plataforma de troca de mensagens ou repositórios de modelos ultrapassados.

O fortalecimento da sua presença será sustentado, em larga medida, pela atenção à realidade social, económica, cultural e política da região onde a Rádio está sediada; as pessoas para além do entretenimento ou companhia que a rádio lhes proporciona querem uma informação rápida, sobre a hora ou o acontecimento que mais lhe diz respeito ou as afetam. E querem igualmente um interlocutor atento, objetivo e credível; querem uma rádio com gente dentro, de entrega a um serviço público, solidário, afetivo.

Uma rádio que questione, esclareça, atue pedagogicamente, aponte erros, noticie triunfos, sinta e transmita o pulsar da região, chame a si novos públicos.

Sabemos que não é um trabalho fácil mas o êxito constrói-se com competência. perseverança, criatividade e sentido de responsabilidade. ( Hélder Sequeira )

 

 

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publicado às 13:00

Nos primórdios da Rádio Altitude...

por Correio da Guarda, em 24.10.19

 

De entre as figuras que se destacaram na Guarda, da primeira metade do século XX, sobressai o médico Ladislau Fernando Patrício, nascido, nesta cidade, a 7 de dezembro de 1883 (faleceu em Lisboa na noite de Natal de 1967).

Ladislau Patrício, depois de concluídos os estudos secundários na Guarda, frequentou o ensino superior em Coimbra, onde conviveu com alunos das diversas Faculdades, alguns dos quais se distinguiram mais tarde, “pela vida fora, no campo das ciências, das artes, das letras e da política: António Sardinha, Alfredo Pimenta, Hipólito Raposo, Veiga Simões, Alfredo Monsaraz, Vicente Arnoso, Carlos Amaro, Cândido Guerreiro, Ramada Curto, João de Barros e outros”.

Ladislau Patrício - Capa de Livro.jpg

 

Concluiu a formatura em Medicina a 30 de setembro de 1908. Depois de uma passagem por Loulé, no ano seguinte regressou à Guarda. Em 1910 desempenhou as funções de Vice-Presidente da Comissão Executiva do Centro Republicano da Guarda, presidida por seu cunhado, o poeta Augusto Gil. Em vários artigos publicados na imprensa, sobretudo no jornal Actualidade, Ladislau Patrício denotava o seu ideal republicano e alertava para algumas dificuldades ao nível da consolidação do novo regime.

Por altura da primeira guerra mundial, o médico guardense foi nomeado diretor de um sanatório para soldados tuberculosos, instalado no antigo colégio dos Jesuítas, em S. Fiel, nas proximidades de Louriçal do Campo, onde esteve entre 1917 e 1919. Regressando à sua terra natal e à atividade clínica, começou a trabalhar, três anos depois no Sanatório Sousa Martin, instituição de que foi diretor, a partir de 1932 e até 1953.

Neste Sanatório, para além da atividade como clínico e diretor, mostrou o seu empenhado em apoiar e desenvolver, em finais da década de quarenta, a radiodifusão sonora no seio daquela unidade de tratamento da tuberculose. As experiências radiofónicas que se desenharam a partir de 1946 foram ganhando nova forma, consistência, despertando interesse e apoios. A necessidade de comunicar, de partilhar o tempo e de o tornar menos cruel naquele ambiente da doença, era cada vez mais acentuada.

No ano seguinte, com data de 21 de outubro, foi estabelecido um regulamento para a estação emissora da Caixa Recreativa do Sanatório Sousa Martins, onde estavam contempladas regras precisas para as emissões radiofónicas.

É Ladislau Patrício que aprova, enquanto diretor do Sanatório, esse documento, que publicámos no livro “O Dever da Memória – uma Rádio no Sanatório da Montanha” (2003). A “estação emissora da Caixa Recreativa denomina-se Rádio Altitude e destina-se a proporcionar aos doentes do Sanatório certas distracções compatíveis com a disciplina do tratamento.” Definia esse documento, de grande significado para essa estação emissora que passou a funcionar “sob administração directa da Comissão Administrativa, que nomeará um dos seus membros para Director dos respectivos serviços.”

De acordo com o referido regulamento, fundamental para o desenvolvimento de emissões regulares (a inauguração oficial da Rádio Altitude ocorreu a 29 de julho de 1948), “os produtores, locutores e operadores serão pessoas em condições suficientes de saúde para exercerem as respectivas funções e os nomes serão apresentados à Direcção do Sanatório para aprovação”.

Numa grelha que, à época, tinha como principal programa o “Simpatia”, preenchido “com os discos pedidos pelos radiouvintes” era regulamentado que “não deve exceder metade da emissão total, enquanto for organizado diariamente. (…) As dedicatórias que acompanhem os pedidos devem ser escritas por forma a facilitar a locução e não poderão ir além de 50 palavras, tratando-se de prosa, ou de 16 versos, se os solicitantes adoptarem poesia. (…) As dedicatórias deverão ser correctas e de harmonia com o carácter de relações existentes entre pessoas decentes e serão apresentadas até às 14 horas (…)”.

O médico Ladislau Patrício, que se afirmou também como como ensaísta e escritor, está indissocialvelmente ligado à história da radiodifusão em Portugal e da Rádio Altitude em particular. Recordar este documento, setenta e dois anos depois, é lembrar um distinto guardense e o apoio que deu a um projeto radiofónico que continua a dar voz à Guarda e região…

(Hélder Sequeira)

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publicado às 12:45

O dia da Rádio Altitude...

por Correio da Guarda, em 29.07.16

Rádio AL.jpg

     Hoje é dia da Rádio, da Rádio Altitude, de uma estação emissora muito particular originada no seio das experiências radiofónicas que ocorreram no Sanatório Sousa Martins, cerca de 1946. Nessa altura, as rudimentares emissões circunscreviam-se ao pavilhão onde estava concentrado o grupo de doentes pioneiros deste projeto; apenas com a construção de novo emissor foi ganhando dimensão a aventura radiofónica.

    No ano seguinte, Ladislau Patrício (cunhado do poeta Augusto Gil), diretor do Sanatório, assinou, a 21 de Outubro, o primeiro regulamento desta emissora, onde estavam definidas orientações muito objetivas sobre o seu funcionamento. Em finais de 1947 as suas emissões já eram escutadas na malha urbana da Guarda, que seguiu, com particular entusiasmo, o início oficial das emissões regulares, assinalado a 29 de Julho de 1948; um ano depois foi-lhe atribuído o indicativo CSB 21, identidade difundida por várias décadas, a partir do alto da serra, “eterna como o sol que alumia o mundo”,  na expressão Nuno de Montemor. Este escritor, diga-se, fez parte do grupo inicial de ouvintes da rádio. Sobre a rádio deixou, aliás, as suas impressões nas páginas de outro pilar informativo do Sanatório: o jornal Bola de Neve.

    A propriedade do primeiro emissor pertenceu, inicialmente, à Caixa Recreativa do Internados no Sanatório Sousa Martins e, mais tarde, com a sua extinção, ao Centro Educacional e Recuperador da unidade hospitalar vocacionada para o tratamento da tuberculose. Com a criação do Centro Educacional e Recuperador dos Internados no Sanatório Sousa Martins (CERISSM) pretendeu-se auxiliar os doentes, especialmente no que dizia respeito “à sua promoção social e ocupação dos tempos livres”.

   Aliás, foi no seio dos sanatórios que surgiram interessantes projetos radiofónicos – como seja a Rádio Pólo Norte, no Sanatório do Caramulo, e a Rádio Pinóquio, no Sanatório das Penhas da Saúde, Covilhã, para referirmos os mais próximos.

    O CERISSM foi uma autêntica instituição de solidariedade; para além de viabilizar a afirmação e implantação da Rádio Altitude desenvolveu uma vasta obra assistencial, sob o impulso do médico Martins de Queirós, o quarto e último diretor do Sanatório da Guarda.

     Em 1961, mediante autorização oficial, o RA passou a ter como suporte económico-financeiro as receitas publicitárias que em muito contribuiriam para o auxílio dos doentes mais carenciados. As emissões evoluíram, ao longo das primeiras décadas em função das disponibilidades técnicas, dos recursos humanos e financeiros mas encontrando sempre no, crescente auditório, uma grande simpatia e um apoio incondicional.

    Até 1980 o Rádio Altitude emitiu na frequência de 1495 Khz, em onda média (abrangendo não só o distrito da Guarda mas igualmente os distritos de Viseu e Castelo Branco e algumas das suas áreas limítrofes), altura em que a sua sintonia passou a ser feita no quadrante dos 1584 khz.

Edifício da RA - década de 80.JPG

      Após 1986, e com a liberalização do espectro radioelétrico passou também a desenvolver as suas emissões em frequência modulada, em 107.7 Mhz, a qual foi alterada, em 1991, para os 90.9 Mhz.

     Em 1998,e depois de ter sido determinada a extinção do Centro Educacional e Recuperador dos Internados no Sanatório Sousa Martins, foi decidida a realização de uma consulta pública, com vista à “transmissão da universalidade designada Rádio Altitude”, considerada a “única estrutura em funcionamento do ex-CERISSM”.

    A estação emissora entrou assim, com a sua aquisição por parte da Radialtitude–Sociedade de Comunicação da Guarda, num capítulo novo da sua existência, mantendo a ligação física ao antigo espaço sanatorial.

Helder.jpg

      Como dissemos, esta é uma rádio muito particular, de afetos, de memórias, vivências, amizades, dedicação, de serviço público, de criatividade, de formação, do interior das Beiras, hoje rádio global, de futuro.

    Parabéns, Rádio Altitude! Parabéns a todos quantos fizeram e fazem a Rádio! 

Estúdio.jpg

 

 

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publicado às 09:28


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