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Avelãs da Ribeira. Guarda.
A valorização da oliveira e do azeite de territórios como o do Vale da Teixeira, nas proximidades da Guarda, tem sido defendida em diversas iniciativas, algumas das quais recentemente realizadas.
Como foi sublinhado, nomeadamente nas Jornadas do Azeite que no passado mês foram realizadas na Vela (Guarda), a riqueza desta zona continua a estar nas suas terras, no fruto das suas oliveiras de onde é extraído o “ouro líquido”, cartaz de outras freguesias do Vale da Teixeira.
A oliveira, que tem já um dia no calendário, é indiscutivelmente, um ex-libris deste território do interior. O Dia Internacional da Oliveira foi assinalado a 26 de novembro, na sequência da recomendação da UNESCO (organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), na sua 206ª sessão realizada em Paris, no ano de 2020.
A importância do Dia Internacional da Oliveira vai muito para além do aspeto cultural, acentuando também o papel desempenhado por essa árvore na proteção ambiental; a sua presença no solo evita a desertificação, protege contra a erosão e aumenta a fixação do dióxido de carbono na atmosfera, contribuindo para proteção da camada de ozono.
É uma árvore cultivada em vários continentes e contribui, diretamente, para o desenvolvimento económico de 57 países, assim como para preservação de recursos naturais. De recordar que os ramos da oliveira estão presentes na bandeira da ONU, como simbolismo da união das nações.
Na Grécia antiga, a oliveira era respeitada como árvore sagrada, carregando significados como paz, sabedoria, abundância e glória dos povos. Em Portugal a oliveira mais antiga do país está situada em Mouchão, Mouriscas, perto de Abrantes; calcula-se que tenha cerca de 3350 anos.
A oliveira é uma árvore com história, marca de uma zona onde se cruzaram vários povos e civilizações, estando mesmo presente na heráldica, nomeadamente da Ramela, uma das freguesias envolvidas nas recentes atividades da sua evocação e do azeite.
Riqueza de um território onde podemos aliar a história, a tradição, uma cultura secular que encontra aqui novos desafios e caminhos. Estudos recentes indicam que Portugal pode ser uma referência na “olivicultura moderna”, estimando-se também que possa alcançar dentro de uma década o estatuto de terceiro maior produtor mundial de azeite. Importa, pois, ganhar o futuro e trabalhar em cooperação, sem adiamentos. “As pessoas e as ideias, como as árvores, são uma harmonia com a hora e o lugar”, como escrevia Vergílio Ferreira.
Dar continuidade a iniciativas como as que decorreram sob o signo da oliveira e do azeite, ampliando outras ações embrionárias e materializar projetos que não tiveram a desejada aplicação prática, mormente na área da olivicultura, é fundamental; sensibilizando proprietários, produtores, populações, instituições, associações com vista à valorização da origem do azeite, da salvaguarda e reforço da tradição, da defesa da qualidade e autenticidade, estimulando a produtividade, implementando plataformas e circuitos de comercialização. Estas iniciativas podem e devem articular-se com as outras atividades (aliadas a uma multiplicidade de ações culturais que se podem juntar, convocando os vários escalões etários e instituições públicas ou privadas), sempre num trabalho em rede. Há que ter determinação. “Tudo é ousado para quem a nada se atreve”, como escreveu Pessoa.
O Azeite é um elemento fundamental na “Dieta Mediterrânica” que recuperou as tradições alimentares dos habitantes da bacia do Mediterrâneo (Portugal, Espanha, França, Itália e Grécia, entre outros). A investigação feita aponta para as vantagens de uma dieta rica em azeite, que pode explicar os baixos níveis de colesterol no sangue e reduzidos índices de doenças cardiovasculares dos povos mediterrânicos, comparativamente aos habitantes da América do Norte e da Europa Central. O azeite atua positivamente contra a gordura, diminui o risco de enfarte cardíaco, contribui para a prevenção de doenças cancerígenas; é importante para um bom equilíbrio alimentar.
Neste território de proximidade vivemos sob o signo da oliveira, árvore sobre a qual António Manuel Gomes escreveu um belíssimo texto, dado a conhecer num espetáculo integrado nas Jornadas do Azeite, realizadas na Vela. “Venho dos lugares mais distantes da memória. Agarrei-me à terra com uma esperança sem fim (…). Seguro uma identidade sábia e serena que retira a pressa ao tempo.” Uma localidade que teve e tem o seu tempo, páginas de história para conhecer.
A Vela já foi uma vila, ainda que por escasso tempo. Fez história, é história. Sucintamente, anotamos que em 2 de janeiro de 1459, D. Afonso V outorgou a jurisdição civil e criminal da Vela a Álvaro de Sousa, mordomo-mor do rei, como já o fora seu pai (Diogo Lopes de Sousa), e elevou esta localidade à categoria de vila.
“Esta prerrogativa concedia-lhe o direito de a ter a “per si forca, picota como villa per si issemtamente a nenhu luguar sobieita”. Determinava o monarca que Álvaro de Sousa poderia colocar na nova vila os tabeliães que lhe aprouvesse e “que eles se chamem seus”, apesar de existirem algumas ordenações do reino que afirmassem encontrarem-se esses funcionários dependentes directamente da coroa. Este privilégio tinha apenas um carácter vitalício (…)”, como descreveu o historiador Humberto Baquero Moreno. “(…) A reação da cidade da Guarda à elevação da Vela à categoria de vila e à perca da jurisdição sobre a mesma, não se fez esperar por muito tempo. Representou uma viva e imediata contestação à deliberação tomada pela coroa (…)”, acrescentava num trabalho publicado sobre esta aldeia do concelho da Guarda.
Em 6 de junho de 1459 o Rei promulgou um diploma que anulou o documento assinado em 2 de janeiro de 1459. “Ficava assim a Vela privada da sua categoria de vila, situação em que permaneceu teoricamente durante uns escassos seis meses (…)”. E o referido investigador evidenciava que a reação das gentes da Guarda muito tinha a ver com a “riqueza do solo da aldeia (…). A emancipação da Vela conduziria inevitavelmente a um despovoamento da Guarda, na medida em que a maior parte dos residentes desta cidade possuía os seus bens nessa aldeia, sem os quais não poderia subsistir.”
Retomando as palavras iniciais, acrescentaremos que na zona referenciada, há vários caminhos para o desenvolvimento económico e social deste nosso território, onde existem potencialidades, condições climatológicas privilegiadas, campo para linhas de investigação histórica, sociológica e cultural.
Este é um território de esperança em que devemos acreditar, que devemos valorizar, que devemos viver e fruir sob o signo da oliveira, num cenário de harmonia entre passado, presente e futuro…
Hélder Sequeira
In O Interior | 20 dez 2023
Ocorre amanhã, 27 de novembro, o 824º aniversário da atribuição de foral, por D. Sancho I, à cidade da Guarda.
Após o abandono da data de 3 de maio como dia do feriado municipal da Guarda a efeméride era assinalada a 26 de novembro, evocando assim o nascimento, oficial, da cidade. A divergência sobre a data de atribuição da carta de foral foi expressa, pela primeira vez, num artigo (de Manuel Luís dos Santos) publicado em 1985 no jornal "Notícias da Guarda".
A partir dessa altura alargou-se o interesse pelo estudo da questão e não faltaram argumentos sobre a prevalência de 26 de novembro; por outro lado, a favor do dia 27 deste mesmo mês os argumentos manifestaram inquestionável solidez.
De facto, o documento medieval da outorga da carta de foral refere que "foi feita esta carta em Coimbra no dia Quinto antes das Calendas de Dezembro de 1237, no ano do nosso reinado." Assim, e como foi sustentado pelos investigadores que defenderam a nova data, o dia V antes das Calendas de Dezembro é o dia 27 de novembro de 1237, o que convertido à data cristã (menos 38 anos) cai sobre o ano de 1199.
A data de 27 de novembro acabou, assim, por ser institucionalizada, há alguns anos atrás, como feriado municipal.
Se é verdade que a outorga da carta de foral constitui um marco de referência na história desta terra, a sua origem (luso-romana, visigótica ou medieval) é uma questão à qual não foi dada ainda resposta definitiva e segura; sabe-se, isso sim, que lusitanos, romanos e visigodos deixaram por aqui traços indeléveis da sua passagem, testemunhos diversificados, igualmente espalhados pelo distrito.
O ano de 1199 marca um período novo e mais conhecido da história guardense. Através da carta de foral os habitantes recebiam diversos privilégios e o incentivo ao povoamento desta zona, desejado pelo monarca português.
À carta de foral da Guarda, bem como a outro importante documento conhecido por "Costumes da Guarda”, dedicou Alexandre Herculano a sua atenção, sendo realçado o contributo para o conhecimento do período medieval português.
HS
O programa comemorativo do 824º aniversário da Guarda pode ser consultado aqui.
O Centro Cultural da Guarda comemora hoje - com uma sessão a decorrer a partir das 16 horas - o seu 61º aniversário. É uma instituição que continua a desenvolver o seu projeto, intervindo no quotidiano citadino através das suas várias valências.
Compreenderemos melhor a sua eminente função cultural e social se recuarmos à primeira metade do século XX e remetermos os leitores do CG para panorama cultural da Guarda, nesse época; período onde foram registadas distintas fases, entre as quais se evidenciaram o teatro e a música; nesta última área destacaram-se os Orfeões Egitaniense e o Egitânia, bem como a Banda do Regimento de Infantaria 12 que animava as tardes de domingo na Praça Velha e, depois, no jardim José de Lemos, conhecido por Campo.
No ano de 1956 nasceu uma delegação do Movimento Pró-Arte (organização lisboeta dedicada, essencialmente, à música) que despertou muito interesse nos meios intelectuais, propondo-se oferecer música de qualidade. O Montepio Egitaniense acolheu esta delegação, tendo sido criado um curso de música, destinado a todos os interessados.
Começou, por essa altura, a germinar a ideia de uma nova estrutura vocacionada para a cultura. Como foi realçado, “a criação do Centro Cultural da Guarda foi um sonho lindo, tornado realidade por um grupo de guardenses apaixonados pela música, presididos e orientados pelo Dr. Mendes Fernandes e galvanizados pelo entusiasmo e persistência do Dr. Virgílio de Carvalho”.
Foi este grupo que, sensibilizando a direção do Montepio Egitaniense, passou a dispor de um salão onde promoveu audições musicais, abertas ao público, empenhando-se, igualmente, no desenvolvimento de uma ação formativa. A atividade da delegação da Pró-Arte não teve a continuidade desejada e surgiram alguns interregnos.
Após um período de alguma estagnação, em termos de atividade, os dinamizadores do referido núcleo cultural concluíram, definitivamente, pela necessidade de uma instituição que funcionasse como plataforma impulsionadora de projetos e incrementasse a formação musical. O Dr. Virgílio de Carvalho presidiu à Comissão Promotora do Centro Cultural. Os estatutos do Centro Cultural da Guarda foram apresentados, para a devida aprovação ministerial, em 17 de novembro de 1962.
A história do Centro Cultural é o somatório da ação e empenho de muitas personalidades e outrossim dos contributos dos seus associados, em especial aqueles que intervieram, ativa e diretamente, nas atividades das várias secções. A identidade desta instituição guardense tem sido, ao longo destes 56 anos, preservada e suportada pelas pedras basilares do lema que o CCG adotou desde o seu nascimento.
O seu percurso assenta, assim, numa convergência de esforços mas muito deve a personalidades que, com a sua cultura, saber, entusiamo e capacidade de realização souberam manter e revitalizar um projeto de grande alcance cultural e social; tiveram uma consciência clara das dificuldades mas não desistiram nem perderam a esperança.
Parabéns por mais um aniversário e pela defesa do lema “Pela Guarda, pela Arte, pela Cultura”.
Helder Sequeira
Na Guarda decorreu hoje o tradicional batismo dos caloiros, integrado na semana de receção aos novos alunos promovida pela Associação Académica da Guarda.
Esta atividade, como é habitual, teve lugar na Alameda de Santo André.
O futuro da rádio – alicerçado em pilares de competência, profissionalismo e experiência – passa pela sua reinvenção e perceção da sua inconfundível magia.
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